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O coxear de Luca diminuiu conforme ele se aproximou, os olhos em Galad, cautelosos. E em Uno, aliás, embora já tivesse visto o caolho em duas outras ocasiões.

— Nana, eu quero falar com você — anunciou, com a voz tranquila. — A sós.

— Não iremos com você, Mestre Luca — informou ela.

— A sós — insistiu ele, tomando-a pelo braço e puxando-a para longe.

Nynaeve olhou para trás para dizer aos demais para não interferirem, mas logo descobriu que não era necessário. Elayne e Birgitte seguiam apressadas em direção à parede de lona que circundava o conjunto itinerante, e, apesar de olharem de relance para ela e para Luca, os quatro homens estavam absortos em uma conversa. Ela bufou alto. Belos homens aqueles, que viam uma mulher ser maltratada e não moviam um dedo.

Nynaeve sacudiu o braço para soltá-lo e foi andando a passos largos ao lado de Luca, as saias de seda farfalhando.

— Suponho que você queira o dinheiro, agora que estamos indo. Bem, é justo que você o tenha. Cem marcos de ouro. Embora eu ache que devesse dar um desconto pelo carroção e pelos cavalos que estamos deixando. E por nossa contribuição. Nós com certeza incrementamos seu número de clientes. Morelin e Juilin andando lá no alto, eu com as flechas, Thom…

— Você acha que eu quero o ouro, mulher? — questionou ele, investindo contra ela. — Se eu quisesse, já teria pedido desde o dia em que atravessamos o rio! Eu pedi? Você alguma vez se perguntou por que não?

A contragosto, ela deu um passo para trás e cruzou os braços, séria. E imediatamente desejou não tê-lo feito. A postura mais do que enfatizava seu decote. Foi a teimosia que manteve seus braços onde estavam — Nynaeve não iria deixá-lo pensar que estava constrangida, principalmente porque estava —, mas, para sua surpresa, os olhos de Luca permaneceram nos dela. Talvez estivesse doente. O homem nunca deixara de cravar os olhos em seu decote antes, e, se Valan Luca não estava interessado em seus seios nem em seu ouro…

— Se não é por causa do ouro, então por que quer conversar comigo?

— Enquanto eu voltava da cidade — explicou ele, hesitante, seguindo-a —, fiquei pensando que agora você finalmente iria embora. — De novo, Nynaeve se recusou a recuar, mesmo quando Luca ficou diante dela e a encarou fixamente. Pelo menos ele ainda estava olhando para seu rosto. — Não sei do que você está fugindo, Nana. Às vezes, quase acredito na sua história. Morelin com certeza tem um quê de nobreza, pelo menos. Mas você nunca foi a criada de uma lady. Nesses últimos dias, parte de mim ficou esperando encontrar vocês rolando no chão e arrancando os cabelos uma da outra. E talvez com Maerion no meio. — Ele deve ter notado algo no rosto dela, porque tratou de pigarrear e prosseguir mais do que depressa. — A questão é que eu posso arranjar outra pessoa em quem Maerion atire. Você grita mesmo tão bonito que qualquer um pensaria que está mesmo aterrorizada, mas… — Ele tornou a pigarrear, ainda mais nervoso, e recuou. — O que estou tentando dizer é que eu quero que você fique. Existe um mundo enorme aí fora, milhares de cidadezinhas à espera de um espetáculo como o meu, e o que quer que esteja perseguindo você nunca vai encontrá-la se estiver comigo. Um pessoal de Akima e umas outras pessoas de Sillia que não foram expulsas para o outro lado do rio, estão se juntando a mim. O espetáculo de Valan Luca vai ser o maior que o mundo já viu.

— Ficar? Por que eu ficaria? Eu lhe disse desde o início que nós só queríamos chegar em Ghealdan, e nada mudou.

— Por quê? Ora, para ser mãe dos meus filhos, é claro. — Ele segurou uma das mãos dela. — Nana, seus olhos me sugam a alma, seus lábios inflamam meu coração, seus ombros fazem meu pulso acelerar, seu…

Ela o interrompeu, afobada.

— Você quer se casar comigo? — perguntou Nynaeve, incrédula.

— Casar? — Ele pareceu atônito. — Bem… é… quero. Claro que quero. — Sua voz voltou a soar grave, e Luca pressionou os dedos de Nynaeve contra os lábios. — Vamos nos casar na primeira cidade em que pudermos. Nunca pedi nenhuma outra mulher em casamento.

— Eu acredito — respondeu ela, em um sussurro. Nynaeve fez certo esforço para soltar a mão. — Fico sensibilizada com a honra, Mestre Luca, mas…

— Valan, Nana. Valan.

— Mas sou a obrigada a declinar. Estou prometida para outra pessoa. — Bem, de certo modo, ela estava. Lan Mandragoran até podia pensar que seu anel era só um presente, mas ela o via de outra maneira. — E estou indo.

— Eu deveria amarrá-la e levá-la comigo. — A sujeira e os rasgões estragaram um pouco o floreio extravagante da capa quanto ele endireitou a postura. — Com o tempo, você se esqueceria desse sujeito.

— Se quiser tentar, eu mando Uno lhe dar uma surra que vai fazer você ter preferido ser fatiado feito linguiça. — Aquilo não serviu muito para desanimá-lo. Nynaeve investiu contra o peito dele com um dedo em riste. — Você não me conhece, Valan Luca. Não sabe nada a meu respeito. Meus inimigos, esses que você desconsidera com tanta facilidade, fariam você arrancar a pele fora e dançar só com os ossos, e ainda ficaria grato se fosse só isso que eles fizessem. Agora eu preciso ir. Não tenho tempo para ficar ouvindo suas asneiras. Não, não diga mais nada! Minha decisão está tomada, e não vou mudar de ideia, então pode parar de tagarelar.

Luca soltou um suspiro profundo.

— Você é a única mulher para mim, Nana. Deixe os outros homens ficarem com essas dramáticas chatas e seus suspiros tímidos. Um homem saberia que tem que caminhar sobre fogo e domar uma leoa com as próprias mãos para se aproximar de você. Todo dia uma aventura, e toda noite… — O sorriso que ele abriu quase lhe rendeu uma bofetada no pé do ouvido. — Vou encontrá-la de novo, Nana, e você vai me escolher. Eu sinto isso bem aqui. — Batendo no peito de um jeito teatral, ele girou a capa de modo ainda mais pretensioso. — E você também sabe disso, minha caríssima Nana. Aí no seu coração, você sabe.

Nynaeve não sabia se balançava a cabeça ou se ficava boquiaberta. Homens eram loucos. Todos eles.

Luca insistiu em escoltá-la de volta ao carroção de braços dados, como se estivessem em um baile.

Caminhando a passos largos em meio ao alvoroço de tratadores de cavalos correndo para engatar as parelhas e o estrépito de homens gritando, cavalos relinchando, ursos grunhindo e leopardos rugindo, Elayne se viu resmungando sozinha de um jeito que fazia frente a qualquer dos animais. Nynaeve não tinha moral para falar sobre ela exibir as pernas. Elayne havia reparado em como ela se empertigara com a chegada de Valan Luca. E como respirara fundo. Tinha feito o mesmo com Galad, aliás. Não era que ela gostasse de usar aquelas calças. Eram confortáveis, verdade, e mais frescas que as saias. Agora entendia por que Min preferia usar roupas masculinas. Quase. Precisava superar a sensação de que o casaco era na verdade um vestido que mal cobria o quadril. Até então, conseguira. Não que pretendesse contar isso a Nynaeve, com aquela língua ferina dela. A mulher deveria ter se dado conta de que Galad ignoraria o custo de manter sua promessa. E Elayne a alertara várias vezes a respeito dele. E envolver o Profeta! Nynaeve simplesmente agira sem pensar.

— Você falou alguma coisa? — perguntou Birgitte.

Ela erguera a saia com um braço para acompanhar seu passo, desnudando sem a menor vergonha as pernas com as sandálias azuis brocadas até bem acima dos joelhos, e aquelas meias transparentes de seda não escondiam tanto quanto calças.

Elayne ficou imóvel.

— O que você acha das minhas roupas?

— Proporcionam liberdade de movimento — opinou a outra mulher, com sensatez. Elayne aquiesceu. — Claro que é bom que seu traseiro não seja muito grande, apertadas como são…