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— Seu período acaba quando? — perguntou Egwene.

Cowinde agachou-se ainda mais, quase encolhendo-se sobre os joelhos.

— Sou uma gai’shain.

— Mas quando vai poder voltar ao seu ramo, ao seu forte?

— Sou uma gai’shain — repetiu a mulher, bem baixinho, olhando para os tapetes. — Se minha resposta lhe desagrada, me puna, mas é a única que posso dar.

— Não seja tola — retrucou Egwene, incisiva. — E endireite-se. Você não é um sapo.

A mulher de roupão branco obedeceu imediatamente, sentando-se nos calcanhares e, submissa, esperando outro comando. Aquela breve centelha de impetuosidade parecia nunca ter existido.

Egwene respirou fundo. A mulher encontrara sua maneira de lidar com a Desolação. Uma bobagem, mas nada que dissesse mudaria a situação. De qualquer maneira, já devia estar a caminho da tenda de vapor, e não envolvida em uma conversa com Cowinde.

Ao se lembrar da lufada fria, hesitou. O vento gélido fizera duas grandes flores brancas que repousavam em uma vasilha rasa se curvarem e se fecharem parcialmente. Eram de uma planta chamada segade, um vegetal coriáceo robusto, sem folhas e repleto de espinhos. Flagrara Aviendha segurando e encarando as flores naquela manhã. Ao vê-la, a Aiel se assustara e empurrara as flores para as mãos de Egwene, dizendo que as colhera para ela. Egwene supôs que Aviendha ainda guardasse características de uma Donzela da Lança demais para admitir que gostava de flores. Porém, parando para pensar, já vira a outrora Donzela adornando o cabelo ou o casaco com uma.

Você só está tentando adiar as coisas, Egwene al’Vere. Pare de se comportar com uma cabeça de lã! Você está sendo tão tola quanto Cowinde.

— Pode ir na frente — disse Egwene, que mal teve tempo de jogar o manto de lã sobre o corpo nu antes que a mulher abrisse a aba da tenda para ela e para aquela noite de gelar os ossos.

Lá no alto, as estrelas eram pontinhos bem nítidos na escuridão, e a lua minguante brilhava. O acampamento das Sábias era um aglomerado de duas dezenas de montículos a menos de cem passadas de onde uma das ruas pavimentadas de Rhuidean terminava em pedras e barro duro e rachado. As sombras do luar transformavam a cidade em estranhos picos e penhascos. Todas as tendas tinham as abas fechadas, e os cheiros de fogueira e comida se misturavam para preencher o ar.

As outras Sábias se reuniam ali quase diariamente, mas passavam as noites entre os próprios ramos. Várias até dormiam em Rhuidean. Mas Bair, não. Aquilo era o mais perto da cidade que ela estava disposta a chegar. Se Rand não estivesse lá, não havia a menor dúvida de que teria insistido para que o acampamento fosse nas montanhas.

Egwene apertou o manto ao redor do corpo e andou o mais rápido que podia. Pequeníssimos filetes de gelo se agarravam à barra do tecido e, a cada passo, roçavam suas pernas nuas. Para se manter à frente, Cowinde precisou puxar os roupões brancos até a altura dos joelhos. Egwene não precisava que a gai’shain lhe mostrasse o caminho, mas, como a mulher fora enviada para levá-la até lá, ficaria envergonhada e talvez ofendida caso Egwene não lhe permitisse fazê-lo. Apertando os dentes para que não batessem, desejou que a mulher corresse.

A não ser pela abertura para a saída da fumaça, que fora coberta, a tenda de vapor era igual a qualquer outra: baixa, larga e com todas as abas fechadas. Ali perto, uma fogueira queimara até só restarem algumas brasas que ainda luziam espalhadas sobre umas poucas pedras do tamanho da cabeça de um homem. Não havia luz suficiente para discernir o que era o montículo bem menor, encoberto pela sombra, que jazia ao lado da entrada da tenda, mas Egwene sabia que se tratava de roupas femininas dobradas minuciosamente.

Inspirando o ar congelante, tirou os sapatos com pressa, deixou o manto cair e entrou na tenda o mais rápido que pôde. Após um instante de frio intenso, antes que a aba se fechasse atrás dela, o calor vaporoso a envolveu, fazendo brotar gotas de suor que a cobriram com um brilho instantâneo enquanto Egwene ainda arfava e tremia.

As três Sábias que vinham ensinando-a a caminhar nos sonhos estavam sentadas despreocupadamente, banhadas de suor, os cabelos até a cintura já úmidos. Bair conversava com Melaine, cujos belos olhos verdes e cabelos acobreados faziam intenso contraste com o rosto curtido e as longas mechas brancas da Sábia mais velha. Amys também tinha cabelos brancos, ou talvez fossem fios louros tão pálidos que pareciam brancos, mas não aparentava ser idosa. Tanto ela quanto Melaine eram capazes de canalizar — muitas Sábias não eram —, e Amys tinha um quê da aparência de idade indefinida típica das Aes Sedai. Moiraine, que parecia pequena e franzina ao lado das demais, também se mostrava imperturbável. Embora o suor escorresse pelo pálido corpo nu e fizesse os cabelos escuros grudarem-se à cabeça, ela parecia se recusar majestosamente a reconhecer que estava sem roupa. As Sábias manejavam finas peças de bronze curvadas chamadas staera, usadas para raspar o suor e a poeira do dia.

Bem no meio da tenda, Aviendha suava agachada ao lado de uma grande chaleira preta com pedras fuliginosas quentes e, com cuidado, utilizava um par de pinças para mover uma última pedra de uma chaleira menor para a maior. Assim que o fez, borrifou água nas pedras usando uma cuia, aumentando o vapor. Se deixasse o vapor diminuir muito, receberia no mínimo uma advertência severa. Na próxima reunião das Sábias na tenda de vapor, seria a vez de Egwene cuidar das pedras.

Com cautela, Egwene sentou-se ao lado de Bair, com as pernas cruzadas — em vez dos tapetes sobrepostos, só havia o chão rochoso, desconfortavelmente quente, rugoso e úmido —, e percebeu, chocada, que Aviendha apanhara com vara, e recentemente. Quando a Aiel, com todo o cuidado, tomou seu lugar ao lado de Egwene, o fez com o rosto tão duro quanto o chão, mas com uma expressão que não conseguia esconder o desconforto.

Era algo que Egwene não esperava. As Sábias exigiam rígida disciplina — maior até que a da Torre, o que não era nada fácil —, mas Aviendha trabalhava com absoluta determinação para aprender a canalizar. Não era capaz de caminhar nos sonhos, mas se esforçava para absorver cada arte das Sábias com o mesmo afinco com que se dedicara a aprender os atributos de uma Donzela. Claro que, após confessar que deixara Rand descobrir que as Sábias vigiavam seus sonhos, as mulheres a obrigaram a passar três dias cavando e depois tampando buracos da altura dos ombros, mas aquela fora uma das poucas vezes em que Aviendha parecera ter metido os pés pelas mãos. Amys e as outras duas sempre falavam tanto da jovem como modelo de subserviência delicada e força de vontade apropriada, que Egwene, mesmo sendo amiga de Aviendha, às vezes sentia vontade de gritar.

— Você demorou bastante — comentou Bair, mal-humorada, enquanto Egwene, calma, ainda procurava uma posição confortável. A voz da mulher era fina e esganiçada, mas soava como ferro. Ela continuou a raspar os braços com uma staera.

— Me desculpe. — Pronto, aquela docilidade já deveria bastar.

Bair bufou.

— Você só é Aes Sedai além da Muralha do Dragão. Aqui, é aprendiz, e uma aprendiz não se demora. Quando mando chamar Aviendha ou ordeno que faça alguma coisa, ela vem correndo, mesmo que eu só queira um alfinete. Você faria bem em seguir o exemplo.

Ruborizando, Egwene tentou soar humilde.

— Vou tentar, Bair.

Aquela fora a primeira vez que uma Sábia fizera tal comparação na frente das demais. Egwene olhou de relance para Aviendha e ficou surpresa ao vê-la imersa em pensamentos. Às vezes, desejava que sua “quase-irmã” nem sempre fosse um exemplo tão bom.