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Não sabia se aquilo era verdade ou não, mas, apesar do próprio desejo por um banho e lençóis limpos, Nynaeve não iria deixar barato que Elayne tivesse se dirigido a Thom para dar sugestões sobre a viagem. Foi só quando as palavras já tinham saído de sua boca que percebeu que havia se rendido a Thom e Juilin. Um dia não vai ser problema. Ainda falta muito até Tar Valon.

Desejou que tivesse insistido em um navio. Com uma embarcação rápida, como um forcador do Povo do Mar, teriam chegado a Tear em um terço do tempo que levaram para atravessar Tarabon, desde que contassem com bons ventos. E, com uma boa Chamadora de Ventos dos Atha’an Miere, isso não teria sido problema. Ela ou Elayne poderiam ter dado conta do serviço, aliás. Os tairenos sabiam que as duas eram amigas de Rand, e Nynaeve imaginava que ainda suassem em bicas com medo de ofender o Dragão Renascido. Teriam fornecido carruagens e escolta para a jornada até Tar Valon.

— Encontrem um lugar para acamparmos — disse ela com relutância. Deveria ter insistido em um navio. Àquela altura, provavelmente já estariam de volta à Torre.

9

Um sinal

Nynaeve teve que admitir que Thom e Juilin haviam escolhido um bom local para o acampamento: um matagal esparso que crescia em uma encosta a leste, coberta de folhas secas, a apenas uma milha de Mardecin. Tupelos e uma espécie de salgueiro pequeno com galhos retorcidos escondiam o carroção da estrada e da cidade, e um riacho de dois pés de largura brotava de algumas pedras no topo da colina e corria até um leito de lama seca duas vezes mais largo. Água suficiente para seus propósitos. Era até um pouco mais fresco debaixo das árvores, onde batia uma brisa suave e agradável.

Depois que os homens deram água e amarraram os cavalos dos carroções em um local onde os animais pudessem se alimentar da grama esparsa, jogaram uma moeda para decidir quem cavalgaria o castrado até Mardecin para comprar o necessário. Jogar a moeda virara um ritual dos dois. Thom, cujos dedos ligeiros estavam habituados a realizar truques de mágica, nunca perdia quando jogava a moeda, de forma que agora apenas Juilin o fazia.

Thom ganhou mesmo assim, e, enquanto tirava a sela de Sorrateiro, Nynaeve enfiou a cabeça sob o assento do carroção e levantou uma das tábuas do piso com a faca do cinto. Além de dois pequenos cofres dourados contendo as joias dadas de presente por Amathera, várias bolsas de couro cheias de moedas repousavam na reentrância. A Panarca fora mais do que generosa em seu desejo de vê-los pelas costas. Em comparação, os outros objetos pareciam até insignificantes: uma caixinha escura de madeira polida, simples e sem entalhes, e uma bolsa de camurça que parecia conter um disco. A caixa armazenava os dois ter’angreal que haviam recuperado da Ajah Negra, ambos relacionados a sonhos, e a bolsa… Aquela era a recompensa de Tanchico. Um dos selos da prisão do Tenebroso.

Por mais que Nynaeve quisesse descobrir aonde mais Siuan Sanche as mandaria caçar a Ajah Negra, o selo era o verdadeiro motivo de sua pressa de chegar a Tar Valon. Retirando moedas de uma das bolsas gorduchas, evitou tocar a que continha o disco. Quanto mais tempo passava em posse daquilo, maior era sua vontade de entregar o objeto à Amyrlin e se ver livre dele. Às vezes, quando estava próxima ao disco, Nynaeve pensava sentir o Tenebroso tentando se libertar.

Deixou Thom partir com um punhado de prata e uma advertência veemente para procurar frutas e verduras. Se não desse instruções, era capaz de o homem só comprar carne e feijão. O andar manco de Thom ao guiar o cavalo para a estrada a fez franzir o cenho. Uma lesão antiga, e para a qual não havia nada mais a fazer, dissera Moiraine. Aquilo a irritava tanto quanto o mancar em si. Nada a fazer.

Nynaeve partira de Dois Rios para proteger os jovens de sua aldeia, raptados durante a noite por uma Aes Sedai. Fora para a Torre na esperança de que pudesse cuidar deles, ainda querendo derrubar Moiraine pelo que ela fizera. O mundo mudara desde então. Ou talvez apenas sua visão de mundo tivesse mudado. Não, não fui eu que mudei. Ainda sou a mesma, todo o resto é que está diferente.

Agora tudo o que podia fazer era proteger a si mesma. Rand era o que era, e não haveria volta. Egwene seguia avidamente o próprio caminho, sem deixar que nada ou ninguém a impedisse, mesmo que tal caminho a levasse a um precipício. Mat aprendera a só pensar em mulheres, farras e apostas. Nynaeve, para seu desgosto, às vezes se pegava simpatizando com Moiraine. Ao menos Perrin tinha voltado para casa, segundo Egwene, que ouvira isso de Rand. Talvez o aprendiz de ferreiro estivesse em segurança.

Caçar a Ajah Negra era bom, correto e recompensador — e também aterrorizante, embora ela tentasse encobrir essa parte; era uma mulher feita, não uma garotinha que se escondia debaixo do avental da mãe. Mesmo assim, aquela não era a principal razão para estar disposta a continuar batendo a cabeça na parede, tentando aprender a usar o Poder, quando, na maior parte do tempo, não conseguia canalizar mais do que Thom. A razão era o Talento chamado Cura. Como Sabedoria de Campo de Emond, fora gratificante convencer o Círculo das Mulheres de seu ponto de vista — em especial porque a maioria delas tinha idade para ser sua mãe, e porque, sendo pouco mais velha que Elayne, Nynaeve havia sido a Sabedoria mais jovem de Dois Rios —, e fora ainda mais gratificante ver que o Conselho da Aldeia obedecia, homens teimosos como eram. A maior satisfação, entretanto, sempre viera de descobrir a combinação certa de ervas para Curar uma enfermidade. Curar com o Poder Único… Já fizera isso uma vez, toda atrapalhada, Curando o que suas outras habilidades jamais poderiam dar conta. A alegria sentida fora tamanha que a fizera chorar. Um dia, pretendia Curar Thom e vê-lo dançar. Um dia, Curaria até aquela ferida na lateral do corpo de Rand. Certamente não havia nada que não pudesse ser Curado, não se a mulher manejando o Poder fosse suficientemente determinada.

Quando se virou, depois de observar Thom partir, Nynaeve viu que Elayne enchera o balde que ficava pendurado debaixo do carroção e estava se ajoelhando para lavar as mãos e o rosto, uma toalha em volta do pescoço para manter o vestido seco. Era algo que também desejava muito fazer. Naquele calor, era agradável se lavar de vez em quando com a água fresquinha de um riacho. Diversas vezes, não houvera outra água que não a dos barris amarrados ao carroção, e aquela era mais necessária para beber e cozinhar do que para se lavar.

Juilin estava sentado com as costas apoiadas em uma das rodas do carroção, o bastão de madeira clara e sulcada, da grossura de um polegar, descansando ao lado. Estava de cabeça baixa, aquele chapéu bobo caído de forma precária sobre os olhos, mas Nynaeve não estava disposta a confiar nem em um homem adormecido àquela hora da manhã. Havia coisas que ele e Thom não sabiam, coisas que era melhor que não soubessem.

O espesso tapete de folhas de tupelo estalou quando ela se sentou perto de Elayne.

— Você acha que Tanchico foi mesmo tomada? — Esfregando lentamente um pano ensaboado pelo rosto, a outra mulher não respondeu. Nynaeve tentou de novo. — Acho que as “Aes Sedai” que aquele Manto-branco mencionou éramos nós.

— Pode ser. — A voz de Elayne estava calma, com um tom de realeza. Seus olhos eram de um azul gélido. Não encarou Nynaeve. — E pode ser que relatos do que fizemos tenham se misturado com outros boatos. É bem possível que Tarabon já tenha um novo rei e uma nova Panarca.

Nynaeve manteve o temperamento sob controle e as mãos bem longe da trança. Em vez disso, apertou os joelhos. Você está tentando fazer as pazes. Cuidado com o que diz.

— Amathera foi difícil, mas não desejo nada de ruim a ela. Você deseja?

— Uma mulher bonita — disse Juilin —, especialmente em um daqueles vestidos de serviçais tarabonianas, e com um belo sorriso. Achei que ela… — O homem viu que Elayne e Nynaeve o encaravam e, mais que depressa, puxou o chapéu de volta para baixo, fingindo dormir de novo. As duas se olharam, e Nynaeve sabia que ela e Elayne pensavam o mesmo. Homens.