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Por um momento, a Senhora Macura encarou-a com os olhos escuros, então voltou-se para a garota magra, empurrando-a para os fundos da loja.

— Vá até a cozinha, Luci, e prepare um bule de chá para estas boas damas. O da vasilha azul. A água já está quente, graças à Luz. Vá logo, garota. Largue isto e feche essa boca. Rápido, rápido. Vasilha azul, não se esqueça. Meu melhor chá — disse ela, voltando-se para Nynaeve tão logo a garota desapareceu por uma porta nos fundos. — Eu moro aqui mesmo na loja, sabe, e minha cozinha é ali atrás. — A mulher alisava as saias de modo nervoso, o polegar e o indicador da mão direita formando um círculo. O anel da Grande Serpente. Ao que parecia, não seria necessário inventar uma desculpa para o vestido.

Nynaeve repetiu o sinal e, após um instante, Elayne também o fez.

— Sou Nynaeve, e esta é Elayne. Vimos seu sinal.

A mulher se agitou como se fosse sair voando.

— O sinal? Ah, sim. Claro.

— Então? — indagou Nynaeve. — Qual é a mensagem urgente?

— Não deveríamos falar sobre isso aqui… hã… Senhora Nynaeve. Alguém pode entrar. — Nynaeve duvidava muito. — Conto tudo enquanto tomamos uma bela xícara de chá. Eu já disse que é o melhor que tenho?

Nynaeve e Elayne se entreolharam. Se a Senhora Macura estava tão relutante em dar a notícia, era porque deveria ser algo realmente estarrecedor.

— Se formos lá para trás — sugeriu Elayne —, ninguém vai conseguir nos ouvir.

Seu tom de voz majestoso fez a costureira encará-la. Por um momento, Nynaeve pensou que aquilo sobrepujaria o nervosismo da mulher, mas, no instante seguinte, a tola costureira já voltara a gaguejar.

— O chá vai ficar pronto em um minuto. A água já está quente. Costumávamos receber chá taraboniano aqui na cidade. Por isso é que estou aqui, suponho. Não pelo chá, claro. Por todo o comércio que havia, e por todas as notícias que iam e vinham com os carroções. Elas… vocês são mais interessadas em epidemias de doenças ou em um novo tipo de enfermidade, mas eu mesma acho isso interessante. Eu me interesso um pouco… — Ela tossiu e se apressou a continuar. Se alisasse o vestido com mais força, abriria um buraco na roupa. — Me interesso um pouco pelos Filhos, claro, mas elas… vocês… não estão muito interessadas neles, para falar a verdade.

— Para a cozinha, Senhora Macura — instruiu Nynaeve, com firmeza, assim que a mulher parou para respirar. Se a notícia deixava a costureira tão apavorada, não queria protelar nem mais um minuto para ouvi-la.

A porta nos fundos se abriu o suficiente para que se entrevisse o rosto ansioso de Luci.

— Está pronto, senhora — anunciou a mulher, ofegante.

— Por aqui, Senhora Nynaeve — indicou a costureira, ainda esfregando a frente do vestido. — Senhora Elayne.

Um pequeno corredor passava por uma escada estreita e levava a uma minúscula cozinha de teto com vigas trançadas, onde uma chaleira fervendo repousava na lareira e havia estantes altas por toda parte. Panelas de cobre estavam penduradas entre a porta dos fundos e uma janela que dava para um quintal com cerca alta de madeira. A mesinha no meio do cômodo continha um bule amarelo brilhante, um jarro verde de mel, três xícaras de cores diferentes, que não combinavam, e uma vasilha de cerâmica azul com a tampa ao lado. A Senhora Macura pegou a vasilha, tampou-a e apressou-se a colocá-la em uma estante onde havia outras duas dúzias de vasilhas de todas as cores e tons.

— Sentem-se, por favor — convidou ela, enchendo as xícaras. — Por favor.

Nynaeve sentou-se ao lado de Elayne, e a costureira dispôs o chá diante delas e girou para pegar colherinhas de estanho em uma das estantes.

— E a mensagem? — indagou Nynaeve, assim que a mulher ocupou a cadeira diante delas.

Como a Senhora Macura estava nervosa demais para tocar na própria xícara, Nynaeve pôs um pouco de mel na dela e tomou um gole. A bebida estava quente, mas deixava na boca um gostinho de frescor mentolado. O chá quente talvez acalmasse os nervos da mulher, isso se alguém conseguisse fazê-la beber.

— Tem um gosto bom — murmurou Elayne, por cima da borda da xícara. — Que chá é este?

Boa menina, pensou Nynaeve.

No entanto, as mãos da costureira só faziam tremer ao lado da xícara.

— Um chá taraboniano. De perto de Costa Sombria.

Com um suspiro, Nynaeve deu mais um gole para acalmar o próprio estômago.

— A mensagem — insistiu. — Você não pendurou aquele sinal para nos convidar para um chá. Qual é a notícia urgente?

— Ah, sim. — A Senhora Macura passou a língua nos lábios, encarou as duas, e falou bem devagar. — Chegou aos meus ouvidos há cerca de um mês, e com a ordem de que qualquer irmã que passasse por aqui a ouvisse a qualquer custo. — Ela lambeu os lábios de novo. — Todas as irmãs são bem-vindas de volta à Torre Branca. A Torre precisa estar unida e forte.

Nynaeve esperou pelo restante, mas a mulher se calou. Aquela era a mensagem urgente? Olhou para Elayne, que parecia afetada pelo calor. Caída na cadeira, encarava as próprias mãos sobre a mesa.

— Isso é tudo? — questionou Nynaeve, surpresa por se pegar bocejando. O calor também devia estar lhe afetando.

A costureira apenas a encarava atentamente.

— Eu perguntei… — começou Nynaeve, mas, de repente, sua cabeça ficou pesada demais para o pescoço. Elayne desmoronara na mesa, percebeu ela, os olhos fechados e os braços inertes. Nynaeve encarou horrorizada a xícara em suas mãos. — O que você deu para nós? — indagou, a fala enrolada. Aquele gosto mentolado permanecia em sua boca, mas a língua parecia inchada. — Diga! — Deixando a xícara cair, se levantou apoiando-se na mesa, os joelhos cambaleando. — Que a Luz a queime, o que era?

A Senhora Macura arrastou a cadeira para trás, saindo do alcance de Nynaeve, mas o nervosismo anterior deu lugar a um olhar calmo e satisfeito.

A escuridão tomou conta de Nynaeve. A última coisa que ouviu foi a voz da costureira:

— Segure ela, Luci!

10

Figos e ratos

Elayne percebeu que estava sendo carregada para o andar de cima pelos ombros e tornozelos. Os olhos se abriram, conseguia enxergar, mas controlava tão pouco o restante do corpo que ele parecia pertencer a outra pessoa. Até piscar era um gesto lento. A sensação era de que seu cérebro estava entupido de plumas.

— Ela está acordada, senhora! — esganiçou-se Luci, quase largando os pés de Elayne. — Está olhando para mim!

— Eu disse para você não se preocupar. — A voz da Senhora Macura veio de cima da cabeça da Filha-herdeira. — Ela não vai conseguir canalizar nem contrair um músculo, não com o chá de raiz-dupla no corpo. Descobri por acaso, mas com certeza veio a calhar.

Era verdade. O corpo de Elayne pesava feito uma boneca sem metade do estofamento, o traseiro batendo a cada degrau, e era tão capaz de canalizar quanto de fugir correndo. Sentia a Fonte Verdadeira, mas tentar agarrá-la era como tentar pegar uma agulha de cima de um espelho, e com os dedos dormentes. O pânico brotou, e uma lágrima escorreu por sua bochecha.

Talvez aquelas mulheres pretendessem entregá-la aos Mantos-brancos para execução, mas não acreditava que os Filhos da Luz tivessem preparado armadilhas na esperança de que uma Aes Sedai passasse por ali. Então sobravam os Amigos das Trevas, e quase com certeza servindo à Ajah Negra paralelamente à Amarela. Era certo que Elayne seria entregue à Ajah Negra, a menos que Nynaeve tivesse escapado. Mas, se quisesse fugir, não podia contar com mais ninguém. E não podia se mexer, nem canalizar. De súbito, percebeu que estava tentando gritar, mas produzindo apenas um choramingo fraco e gorgolejante. Interrompê-lo consumiu toda a força que ainda tinha.

Nynaeve sabia tudo sobre ervas, ou era o que afirmava. Por que não reconhecera aquele chá? Pare de se lamentar! A vozinha firme no fundo da mente soou parecidíssima com a de Lini. Um leitãozinho guinchando debaixo da cerca só atrai a raposa, quando deveria estar tentando fugir. Desesperada, ela se concentrou na simples tarefa de abraçar saidar. Aquela já fora uma tarefa simples, mas, naquele momento, bem poderia estar tentando agarrar saidin. Mesmo assim, continuou tentando. Era só o que podia fazer.