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— Precisamos ir para o sul — anunciou Siuan, perto de seu ombro dando-lhe um susto. Não a vira entrar. — Agora.

Pelo brilho em seus olhos azuis, estava claro que Siuan descobrira alguma coisa. Se ia compartilhar a informação era outra questão. Na maior parte do tempo, a mulher parecia pensar que ainda era a Amyrlin.

— Não temos como chegar em nenhum lugar com estalagens antes de a noite cair — avisou Min. — Podíamos pegar uns quartos e passar a noite aqui.

Era tentadora a ideia de voltar a dormir em uma cama, em vez de debaixo de cercas-vivas e em montes de feno, mesmo que fosse precisar dividir o colchão com Leane e Siuan. Logain queria alugar quartos para todos, mas a antiga Amyrlin controlava o dinheiro, mesmo quando era Logain que o distribuía.

Siuan olhou ao redor, mas todos no salão que não encaravam Leane estavam escutando a cantora.

— Não é possível. Eu… Eu acho que alguns Mantos-brancos devem estar fazendo perguntas sobre mim.

— Dalyn não vai gostar disso — sussurrou Min, com toda a calma.

— Então não fale para ele. — Siuan balançou a cabeça para o grupo em torno de Leane. — Apenas diga a Amaena que precisamos ir. Ele vai nos seguir. Só vamos torcer para que os demais também não sigam.

Min sorriu com ironia. Siuan podia até dizer que não ligava para o fato de Logain — Dalyn — ter assumido o comando, basicamente ignorando-a sempre que ela tentava obrigá-lo a alguma coisa, mas ainda estava determinada a fazer o homem voltar a obedecê-la.

— O que é um Engate de Nove Cavalos, aliás? — perguntou ela enquanto se levantava. Havia ido até a entrada em busca de alguma pista, mas a placa acima da porta continha apenas o nome. — Já vi de oito, de dez, mas nunca de nove.

— Nesta cidade — respondeu Siuan, empertigada —, é melhor não perguntar. — Um rubor súbito a fez achar que a mulher sabia muito bem do que se tratava. — Vá buscá-los. Temos um longo caminho pela frente, e nenhum tempo a perder. E não deixe ninguém ouvir.

Min bufou baixinho. Com o sorrisinho no rosto de Leane, nenhum daqueles homens sequer a enxergaria. Queria saber como Siuan atraíra a atenção dos Mantos-brancos. Era a última coisa de que precisavam, e a antiga Amyrlin não costumava cometer deslizes. Também queria saber como fazer Rand olhar para ela da forma que aqueles homens olhavam para Leane. Se passariam a noite inteira cavalgando, e ela suspeitava que sim, talvez Leane pudesse lhe dar algumas dicas.

Capítulo 12

Um Velho Cachimbo

Uma lufada de vento levantando poeira em uma rua de Lugard bateu no chapéu de veludo de Gareth Bryne, varrendo-o da cabeça direto para baixo de um dos carregadíssimos carroções. Uma roda com aro de ferro prensou o chapéu contra o barro duro da rua, deixando para trás apenas um destroço achatado. Ele encarou o objeto por um momento, depois seguiu em frente. Já estava mesmo ficando puído da viagem, disse a si mesmo. O casaco de seda também já estava empoeirado antes mesmo de chegar a Murandy. Escová-lo já não adiantava grande coisa, isso quando o homem se dava ao trabalho de fazê-lo. Àquela altura, parecia mais marrom do que cinza. Era melhor encontrar algo mais simples. Não estava a caminho de um baile.

Desviando-se dos carroções que ribombavam nos sulcos rua abaixo, ele ignorou os xingamentos que os condutores lhe dirigiam — qualquer integrante decente de esquadrão faria melhor até dormindo — e entrou em uma estalagem de telhado vermelho chamada O Banco do Carroção. A pintura na placa dava ao nome uma interpretação explícita.

O salão era igual a todos os salões que já vira em Lugard: condutores de carroções e guardas de mercadores espremidos junto a funcionários de estábulos, ferradores, trabalhadores, todo tipo de homem, todos falando ou gargalhando o mais alto que podiam enquanto bebiam o máximo que aguentavam, uma das mãos na caneca e a outra acariciando as atendentes. Neste ponto, não era muito diferente de salões e tavernas de várias outras cidades, embora a maioria delas fosse consideravelmente mais tranquila. Uma jovem curvilínea trajando uma blusa que parecia prestes a cair saltava e cantava em cima de uma mesa em uma das laterais do salão, supostamente acompanhando a música de duas flautas e uma sabiola de doze cordas.

Bryne não tinha um bom ouvido para música, mas fez uma breve pausa para apreciar a canção da moça. Ela teria recebido elogios em qualquer campo de soldados onde ele já estivera. Mas, na verdade, seria igualmente popular mesmo que não cantasse uma nota sequer. Usando aquela blusa, teria arrumado um marido em pouquíssimo tempo.

Joni e Barim já estavam no local, o porte físico de Joni sendo suficiente para lhes garantir uma mesa, apesar do cabelo já ralo e da bandagem que ainda usava em torno das têmporas. Estavam ouvindo a garota cantar. Ou ao menos olhando para ela. Bryne tocou o ombro de cada um e meneou a cabeça na direção da porta lateral que conduzia ao pátio do estábulo, onde um rabugento cavalariço vesgo lhes entregou os cavalos por três moedas de prata. Cerca de um ano antes, Bryne poderia ter comprado um cavalo decente por não muito mais. Os problemas a oeste e em Cairhien estavam gerando um caos no comércio e nos preços.

Ninguém falou até terem passado pelos portões da cidade e já estarem em uma estrada pouco usada, rumo ao norte. Era pouco mais que uma trilha larga e poeirenta cujas curvas levavam ao rio Storn. Foi só então que Barim se pronunciou.

— Passaram aqui ontem mesmo, milorde.

Bryne também ficara sabendo. Três belas jovens viajando juntas, claramente forasteiras, não tinham como passar por uma cidade como Lugard sem serem notadas. Pelos homens, pelo menos.

— Elas e um camarada de ombros largos — continuou Barim. — Parece que pode ser aquele Dalyn, o sujeito que tava com elas quando puseram fogo no estábulo do Nen. Em todo caso, seja lá quem for, ficaram um pouco na O Engate de Nove Cavalos, mas só pra beber um tantinho e ir embora. A domanesa que os rapazes tavam me falando quase criou confusão só por ficar sorrindo e se encostando aqui e ali, mas ela mesma tratou de acalmar tudo com o mesmo sorriso. Que me queime, mas eu gostaria de conhecer uma domanesa.

— Você descobriu em que direção eles seguiram, Barim? — perguntou Bryne, paciente. Não conseguira saber essa parte.

— Ah, não, milorde. Mas ouvi que uma porção de Mantos-brancos tem passado por aqui, todos indo para o oeste. O senhor acha que o velho Pedron Niall pode estar planejando alguma coisa? Talvez em Altara?

— Isso não é mais da nossa conta, Barim. — Bryne sabia que sua paciência falhara um pouco desta vez, mas Barim já era um companheiro de longa data e não se doeria muito com o rompante.

— Eu sei para onde eles foram, milorde — afirmou Joni. — Para o oeste, pela Estrada de Jehannah. E foram correndo, pelo que escutei. — O homem soava confuso. — Milorde, encontrei dois guardas de mercadores, uns rapazes que trabalhavam nas Guardas, e tomei uns copos com eles. O que aconteceu foi que eles estavam em um pardieiro chamado A Viagem de Boa Noite, quando aquela Mara veio e pediu trabalho como cantora. Ela não conseguiu, não queria mostrar as pernas do jeito que as cantoras da maioria desses lugares fazem, e quem é que pode condenar a mulher? Aí ela foi embora. Pelo que Barim me contou, foi logo depois disso que todos eles partiram para o oeste. Eu não gosto disso, milorde. Ela não é o tipo de garota que procuraria trabalho em um lugar como aquele. Acho que ela está tentando se ver livre daquele camarada, o Dalyn.

Estranhamente, apesar do galo na cabeça, Joni não tinha qualquer animosidade com relação às três jovens. Desde que haviam partido da propriedade, ele opinava com frequência que as garotas estavam passando por algum tipo de apuro e precisavam ser resgatadas. Bryne suspeitava que, se conseguisse alcançar as jovens e levá-las de volta para suas terras, Joni lhe pediria que deixasse suas filhas ficarem responsáveis por cuidar das meninas.