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— Você prometeu, Nynaeve. — Os reluzentes olhos azuis estavam tão inflexíveis quanto gelo. — As regras pré-estabelecidas dizem que não devemos permitir que ninguém saiba o que habita Tel’aran’rhiod. Quebrei muitas delas só por falar com você, muitas outras por lhe ajudar, porque não consigo ficar parada vendo sua batalha contra a Sombra. Já travei essa batalha em muito mais vidas do que consigo me recordar, mas vou respeitar o máximo de regras que puder. Você precisa manter sua promessa.

— Claro que vou manter — respondeu a antiga Sabedoria, indignada —, a menos que você me libere dela. E eu realmente peço que…

— Não.

E Birgitte se foi. Em um momento, a mão de Nynaeve estava pousada em uma manga branca de casaco, e, no instante seguinte, no ar. Alguns dos xingamentos que entreouvira de Thom e Juilin percorreram sua mente, do tipo que a faria brigar com Elayne caso a garota os tivesse decorado, e mais ainda se os usasse. Não havia razão para chamar por Birgitte outra vez. Ela provavelmente não viria. Só restava a Nynaeve torcer para que a mulher respondesse na próxima vez em que ela ou Elayne a chamassem.

— Birgitte! Eu vou manter a minha promessa, Birgitte!

Ela ouviria. Na próxima vez que se encontrassem, talvez a mulher soubesse de algo sobre as atividades de Moghedien. Nynaeve quase torcia para que não fosse o caso. Se fosse, no entanto, significaria que Moghedien realmente estava espionando Tel’aran’rhiod.

Sua tola! “Se não vigiar as cobras, não poderá reclamar quando uma picar você.” Nynaeve realmente queria um dia conhecer Lini, a antiga babá de Elayne.

O vazio da vasta câmara a oprimia, todas aquelas grandes colunas polidas e aquela sensação de estar sendo observada das sombras entre elas. Se realmente houvesse alguém lá, Birgitte teria notado.

Nynaeve percebeu que analisava o vestido de seda na altura dos quadris e, para tirar o pensamento de olhos inexistentes, se concentrou na peça de roupa. Quando Lan a vira pela primeira vez, ela estava vestindo boas peças de lã de Dois Rios, e, quando ele professara seu amor, um vestido bordado simples, mas Nynaeve queria que Lan a visse em vestidos como aquele. Não seria indecente, se fosse ele a observá-la.

Um espelho comprido apareceu, refletindo sua imagem enquanto ela se virava para um lado e para outro, até mesmo espiando por cima do ombro. O tecido amarelo era bem justo, de certa forma revelando tudo o que cobria. O Círculo das Mulheres de Campo de Emond a teria chamado de lado para uma boa conversa a sós, sendo ela a Sabedoria ou não. Porém, o vestido era muito bonito. Ali, sozinha, podia admitir que se acostumara mais do que um pouco a usar algo daquele tipo em público. Você gostou, brigou consigo mesma. Você é assanhada do mesmo jeitinho que Elayne parece estar ficando! Mas era bonito. E talvez não tão obsceno quanto sempre dissera. O decote não se abria até a altura dos joelhos, como o da Primeira de Mayene, por exemplo. Bom, talvez os vestidos de Berelain não fossem tão decotados assim, mas ainda eram bem mais cavados do que exigia a respeitabilidade.

Já ouvira falar sobre o que as domanesas costumavam usar. Até as tarabonianas chamavam aquilo de indecente. Bastou pensar a respeito para a seda amarela se refazer em caimentos ondulados, com um cinto estreito de ouro trançado. E o tecido ficou transparente. Seu rosto enrubesceu. Muito transparente. Na verdade, quase sem nenhuma opacidade. O vestido fazia mais do que sugerir. Se Lan a visse usando aquilo, não ficaria tagarelando que seu amor por ela não tinha esperança e que não lhe daria trajes de luto como presente de casamento. Bastaria uma olhadinha para o sangue dele pegar fogo. Ele iria…

— O que, sob a Luz, é isso que você está vestindo, Nynaeve? — perguntou Egwene, escandalizada.

Nynaeve deu um salto, girando, e quando voltou a tocar o solo encarando Egwene e Melaine — claro que tinha que ser Melaine, embora nenhuma das Sábias fosse uma opção melhor —, o espelho sumira e ela estava usando um vestido escuro de lã de Dois Rios, grosso o bastante para os dias mais frios do inverno. Tão mortificada por ter levado um susto quanto pelo resto — principalmente por ter levado um susto —, trocou de vestido imediatamente, sem pensar, voltando ao delicado domanês, e passando depressa ao amarelo taraboniano.

O rosto de Nynaeve se inflamou. As duas provavelmente a achavam uma completa idiota. E na frente de Melaine, ainda por cima. A Sábia era bonita, com longos cabelos acobreados e olhos verdes límpidos. Não que Nynaeve desse a mínima para a aparência da mulher. Mas Melaine também estivera ali em seu último encontro com Egwene, e a provocara com relação a Lan. Nynaeve perdera a paciência com aquilo. Egwene afirmara que não se tratava de provocações, não entre as Aiel, mas Melaine tecera elogios aos ombros, às mãos e aos olhos de Lan. Que direito aquela raposa de olhos verdes tinha de ficar olhando para os ombros de Lan? Não que Nynaeve duvidasse da fidelidade dele. Mas Lan era homem, e estava longe dela, e Melaine estava lá perto, e… Com firmeza, ela pôs um ponto final naquela linha de raciocínio.

— Lan está…? — Parecia que seu rosto pegaria fogo. Você não consegue controlar a língua, mulher? Mas não iria e nem poderia recuar, não na presença de Melaine. O sorriso confuso de Egwene já era ruim o bastante, mas Melaine ousou exibir um olhar de compreensão. — Ele está bem? — Tentou manter uma atitude tranquila, mas acabou soando forçada.

— Ele está bem — respondeu Egwene. — Preocupado com a sua segurança.

Nynaeve deixou escapar o ar que nem percebera que estava segurando. O Deserto era um lugar perigoso, mesmo sem tipos como Couladin e os Shaido, e o homem não sabia o que significava ter cautela. E ele era que estava preocupado com a segurança dela? Será que aquele tolo achava que ela não era capaz de tomar conta de si mesma?

— Finalmente chegamos a Amadícia — contou, apressada, querendo disfarçar. A língua solta, e depois ainda suspira! Aquele homem roubou o meu bom senso! Olhando para o rosto das outras duas, não havia como dizer se conseguira. — Uma aldeia chamada Sienda, a leste de Amador. Mantos-brancos por toda parte, mas não nos olham com suspeita. É com outras pessoas que temos que nos preocupar.

Na presença de Melaine, Nynaeve tinha de ser cuidadosa, talvez até distorcer um pouco a verdade aqui e ali, mas contara para as duas sobre Ronde Macura e sua estranha mensagem, e sobre a mulher ter tentado drogá-las. Tentado, porque não conseguira admitir na frente de Melaine que a costureira havia conseguido. O que estou fazendo, Luz? Eu nunca menti para Egwene em toda a minha vida!

O suposto motivo — o retorno de uma Aceita que fugiu — certamente não podia ser mencionado, não diante de uma das Sábias. Elas achavam que Nynaeve e Elayne eram Aes Sedai completas. Mas precisava fazer com que Egwene, de alguma forma, soubesse a verdade.

— Deve ser por causa de algum plano qualquer relacionado a Andor, mas Elayne, você e eu temos questões em comum, Egwene, e acho que deveríamos ter tanto cuidado quanto Elayne. — A garota assentiu devagar. Sua expressão era de estupor, como não poderia deixar de ser, mas ela pareceu entender. — Ainda bem que o sabor daquele chá me deixou desconfiada. Imagine tentar dar raiz-dupla para alguém que conhece ervas tão bem quanto eu.

— Tramas dentro de tramas — murmurou Melaine. — Penso que a Grande Serpente seja um bom símbolo para vocês Aes Sedai. Algum dia, talvez vocês se engulam por acaso.

— Também temos novidades — informou Egwene.

Nynaeve não via motivos para a pressa da garota em falar. Eu com certeza não vou deixar esta mulher me fazer morder a isca e perder a cabeça. E certamente não ficaria com raiva por ela insultar a Torre. Soltou a mão da trança. O que Egwene tinha a dizer fez com que pusesse seu humor de lado.