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Couladin cruzando a Espinha do Mundo com certeza era grave, e Rand o seguindo era só um pouco menos. Estavam indo a toda rumo a Passo de Jangai, marchando desde a primeira luz até depois do crepúsculo, e Melaine afirmou que logo a alcançariam. As condições em Cairhien já eram suficientemente severas sem abrigar a guerra entre os Aiel. E uma nova Guerra dos Aiel decerto aconteceria se ele tentasse pôr em prática seu plano maluco. Maluco. Ainda não, com certeza. Rand precisava, de alguma forma, se agarrar à sanidade.

Faz quanto tempo desde que eu vivia preocupada sobre como iria protegê-lo?, pensou com amargura. E agora eu só quero que ele fique são para lutar a Última Batalha. Não era só por isso, mas era por isso também. Rand era o que era. Que a Luz me queime, eu sou tão má quanto Siuan Sanche ou qualquer uma delas!

Mas foi o que Egwene tinha a dizer sobre Moiraine que a deixou chocada.

— Ela o obedece? — perguntou, incrédula.

Egwene assentiu vigorosamente, usando aquele ridículo cachecol Aiel.

— Ontem à noite eles tiveram uma discussão, já que ela ainda está tentando convencê-lo a não cruzar a Muralha do Dragão. Até que Rand disse para ela ficar do lado de fora até se acalmar. Moiraine parecia que ia engolir a própria língua, mas acabou saindo. Ficou do lado de fora, à noite, por uma hora.

— Isso não está certo — opinou Melaine, arrumando o xale com firmeza. — Os homens não têm nada que ficar dando ordens para Aes Sedai e nem para Sábias. Nem mesmo o Car’a’carn.

— Com certeza não — concordou Nynaeve, depois precisou manter a boca bem fechada para evitar que ficar de queixo caído consigo mesma. O que me importa se Rand a fizer dançar conforme a música dele? Ela já fez todas nós dançarmos várias vezes conforme a música dela. Mas não era certo. Eu não quero ser Aes Sedai, só quero aprender mais sobre a Cura. Quero continuar a ser quem eu sou. Deixem que ele fique mandando nela! Continuava não sendo certo.

— Pelo menos ele agora fala com ela — ponderou Egwene. — Antes, Rand ficava completamente ácido se ela parasse a dez pés dele. Nynaeve, ele está com o ego mais inflado a cada dia.

— Na época em que eu achava que você se tornaria Sabedoria depois de mim — disse Nynaeve, com ironia —, eu lhe ensinei a desinflar egos. Vai ser bom para Rand se você fizer isso, mesmo que ele tenha se transformado no maior touro do pasto. Principalmente porque ele é mesmo o maior. Me parece que reis e rainhas podem agir como tolos quando se esquecem o que são, sendo apenas quem são, mas são ainda pior quando só se lembram do que são, se esquecendo de quem são. A maioria deles precisava de alguém cuja única função fosse lembrá-los de que eles comem, suam e choram igualzinho a qualquer fazendeiro.

Melaine enrolou o xale em torno de si, parecendo não ter certeza se concordava ou não, mas Egwene disse:

— Eu tento, mas às vezes ele nem parece ser o mesmo, e, até quando parece, sua arrogância é uma bolha resistente demais para ser estourada.

— Faça o melhor que puder. Ajudar Rand a permanecer ele mesmo talvez seja a melhor coisa que alguém poderia fazer. Por ele e pelo resto do mundo.

As palavras causaram silêncio. Ela e Egwene certamente não gostavam de falar sobre a possibilidade de Rand enlouquecer, e Melaine não tinha como pensar diferente.

— Tenho outra coisa importante para lhe contar — continuou Nynaeve, após alguns instantes. — Acho que os Abandonados estão tramando algo.

Não era a mesma coisa que contar sobre Birgitte. Nynaeve fez parecer que ela mesma havia visto Lanfear e os demais. Na verdade, Moghedien era a única que seria capaz de reconhecer ao vivo, e talvez Asmodean, embora só o tivesse visto uma vez, e à distância. Esperava que nenhuma das duas pensasse em perguntar como ela sabia quem era quem, ou por que pensava que Moghedien pudesse estar se esgueirando. No fim das contas, o problema não surgiu de nada disso.

— Você tem andado pelo Mundo dos Sonhos? — Os olhos verdes de Melaine estavam gélidos.

Nynaeve a encarou com o mesmíssimo olhar, apesar do balançar de cabeça pesaroso de Egwene.

— Eu não tinha como ver Rahvin e os outros sem fazer isso, tinha?

— Você sabe pouco e tenta demais, Aes Sedai. Não deveriam ter lhe ensinado nem o pouco que você sabe. Falando por mim, às vezes me arrependo até de termos concordado com estes encontros. Mulheres sem treinamento não deveriam ter permissão de entrar em Tel’aran’rhiod.

— Eu já aprendi sozinha muito mais coisas do que você me ensinou. — Nynaeve se esforçou para manter a voz tranquila. — Aprendi sozinha a canalizar e não vejo por que Tel’aran’rhiod deva ser diferente.

Foi apenas uma raiva teimosa que a fez dizer aquilo. Aprendera sozinha a canalizar, verdade, mas não muito bem e sem saber o que estava fazendo. Antes da Torre Branca, havia Curado algumas vezes, mas sem consciência disso, até Moiraine lhe provar. Suas professoras na Torre tinham dito que era por isso que ela precisava estar com raiva para conseguir canalizar. Assustada, escondera de si mesma sua habilidade, e apenas a fúria era capaz de sobrepujar aquele medo enterrado por tanto tempo.

— Então você é uma daquelas que as Aes Sedai chamam de bravias. — Houve certa inflexão na última palavra, mas, fosse desdém ou pena, Nynaeve não gostou. Na Torre, o termo raramente era elogioso. Claro que não havia bravias entre os Aiel. As Sábias que eram capazes de canalizar encontravam todas as garotas que nasciam com a centelha, aquelas que mais cedo ou mais tarde desenvolveriam a capacidade de canalizar, mesmo que nem tentassem aprender. Também afirmavam encontrar toda e qualquer garota sem a centelha que, se instruída, pudesse aprender. Nenhuma Aiel morrera tentando aprender sozinha. — Você conhece os perigos de aprender o Poder sem orientação, Aes Sedai. Não pense que os perigos do sonho são menores. São tão grandes quanto, e talvez ainda maiores para quem se aventura sem ter conhecimento.

— Eu sou cuidadosa — afirmou Nynaeve com voz firme. Não tinha ido até ali para ser repreendida por aquela Aiel megera de cabelo ensolarado. — Sei o que estou fazendo, Melaine.

— Não sabe nada. Você é tão cabeça-dura quanto esta outra aqui era quando veio até nós. — A Sábia lançou a Egwene um sorriso que realmente pareceu afetuoso. — Nós domamos o excesso de exuberância dela, e agora Egwene aprende tudo rápido. Embora ainda cometa muitas falhas. — O sorriso satisfeito de Egwene desapareceu. Nynaeve suspeitou que fora aquele sorriso que fizera Melaine acrescentar a última frase. — Se você deseja caminhar nos sonhos — prosseguiu a Aiel —, venha até nós. Nós também iremos domar seu entusiasmo e lhe ensinar.

— Eu não preciso ser domada, muito obrigada — retrucou Nynaeve com um sorriso educado.

Aan’allein vai morrer no dia em que souber que você está morta.

Gelo perfurou o coração de Nynaeve. Aan’allein era como os Aiel chamavam Lan. Na Língua Antiga, significava Homem Único, ou Homem Sozinho, ou Homem Que É Um Povo Inteiro. Traduções exatas da Língua Antiga costumavam ser difíceis. Os Aiel tinham um enorme respeito por Lan, o homem que jamais desistiria de sua guerra contra a Sombra, o inimigo que destruíra sua nação.

— Você usa truques sujos na guerra — resmungou.

Melaine arqueou uma das sobrancelhas.

— Estamos em guerra? Se estivermos, então fique sabendo que, na batalha, só existe ganhar ou perder. Regras que proíbem machucar o outro são para jogos. Quero que você prometa que não vai fazer nada em um sonho sem primeiro consultar uma de nós. Sei que Aes Sedai não podem mentir, então quero ouvi-la prometer.