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— Onde ele surge como Black John Balsam, o excêntrico local. Mas o que ele queria? Por que as moedas? E o sacrifício humano? Cagliostro era uma fraude, um vigarista. Tudo que ele queria era uma boa vida. Matar não parece ser o estilo dele.

Fortunato entregou para ela o Bruxas e feiticeiros, de Daraul.

— Vamos descobrir. A menos que você tenha algo melhor pra fazer.

— Inglaterra — disse Eileen. — Mil setecentos e setenta e sete. Foi quando aconteceu. Foi apresentado aos maçons em 12 de abril, no Soho. Em seguida, a maçonaria tomou conta da sua vida. Ele inventou os Maçons Egípcios como uma espécie de ordem superior, começou a distribuir dinheiro, induzindo cada maçom de alto posto que podia.

— O que causou tudo isso?

— Ele fez uma espécie de viagem pelo interior da Inglaterra e voltou – abre aspas – um homem mudado – fecha aspas. Seus poderes mágicos aumentaram. De aventureiro se transformou num místico autêntico.

— Tudo bem — disse Fortunato. — Agora ouça isto aqui. Este é Tolstói sobre a maçonaria: “O primeiro e principal objeto da nossa ordem… é a preservação e a manutenção da posteridade de certo mistério importante… um mistério do qual talvez dependa o destino da humanidade”.

— Que inferno! Isso está começando a me assustar — Eileen comentou.

— Tem mais uma parte. A coisa que está por trás da moeda de Balsam é uma divindade suméria chamada TIAMAT. É de onde Lovecraft tirou o Cthulhu. Algum tipo de monstro imenso, amorfo, de além das estrelas. Lovecraft provavelmente criou sua mitologia a partir de documentos secretos do pai. O pai de Lovecraft era maçom.

— Então, você acha que é tudo sobre isso. Sobre esse tal de TIAMAT.

— Juntando as peças — disse Fortunato. — Suponha que o segredo maçônico tenha algo a ver com o controle de TIAMAT. Cagliostro aprende o segredo. Seus irmãos maçons não usarão seu conhecimento para o mal, então Cagliostro forma a própria ordem, para seus próprios objetivos.

— Trazer essa coisa para a Terra.

— Exato — respondeu Fortunato. — Trazê-lo para a Terra.

Eileen finalmente parou de sorrir.

Enquanto conversavam, escureceu. A noite estava fria e clara, e Fortunato conseguiu ver as estrelas pela claraboia da sala de estar. Desejou poder apagá-las.

— Está tarde — disse Eileen. — Tenho que ir.

Ele não havia pensado na partida dela. O trabalho do dia o deixou cheio de energia nervosa, a sensação da caça. A mente dela o excitou e ele queria que ela a abrisse para ele — seus segredos, suas emoções, seu corpo.

— Fique — disse ele, com cuidado para não usar seus poderes, para aquilo não soar como uma ordem. — Por favor. — Sentiu um frio no estômago quando pediu.

Ela se levantou, vestiu o suéter que havia deixado no braço da poltrona.

— Tenho que… digerir tudo isso — disse ela. — Simplesmente muita coisa acontecendo de uma vez. Desculpe. — Ela não olhava para ele. — Preciso de mais tempo.

— Vou com você até a Eighth Avenue — disse ele. — Você pode pegar um táxi lá.

O frio parecia irradiar das estrelas, um tipo de ódio pela vida. Ele arqueou os ombros e afundou as mãos nos bolsos. Poucos segundos depois, sentiu o braço de Eileen em volta de sua cintura e ele a puxou para perto enquanto andavam.

Pararam na esquina da Eighth com a 19th, e um táxi apareceu quase imediatamente.

— Não diga — Eileen falou para ele. — Eu tomarei cuidado.

A garganta de Fortunato estava muito apertada para falar o que ele queria. Pôs uma das mãos atrás do pescoço dela e a beijou. Seus lábios eram tão suaves que ele começou a se afastar antes de perceber quanto se sentiu bem. Virou as costas e ela ainda estava lá, em pé. Ele a beijou novamente, com mais força, e ela cambaleou na direção dele por um segundo, então se afastou.

— Vou te ligar — disse ela.

Ele observou o táxi até este virar a esquina e desaparecer.

A polícia o acordou às sete da manhã seguinte.

— Levamos um garoto morto para o necrotério — disse o primeiro policial. — Alguém quebrou seu pescoço no Mosteiro há uma semana. Sabe alguma coisa sobre isso?

Fortunato balançou a cabeça. Estava em pé na porta, segurando seu robe fechado com uma das mãos. Se entrassem, veriam o pentagrama pintado no assoalho de madeira maciça, o crânio humano na estante, a maconha na mesinha de centro.

— Alguns dos camaradas dele viram você lá — o segundo policial continuou.

Fortunato o encarou.

— Eu não estava lá — disse ele. — Vocês vão acreditar nisso.

O segundo policial concordou com a cabeça, e o primeiro fez menção de puxar a arma.

— Não — disse Fortunato. O primeiro policial não conseguiu desviar o olhar a tempo. — Você vai acreditar também. Eu não estava lá. Estou limpo.

— Limpo — o primeiro policial disse.

— Agora, vão — disse Fortunato, então eles saíram.

Ele se sentou no sofá, mãos trêmulas. Eles voltariam. Ou, mais provavelmente, mandariam alguém da divisão do Bairro dos Curingas que não seria afetado pelos seus poderes.

Não conseguiria voltar a dormir. Não que tenha dormido bem de qualquer jeito. Seus sonhos estiveram cheios de coisas com tentáculos tão grandes quanto a lua, bloqueando o céu, engolindo a cidade.

De repente, percebeu que o apartamento estava vazio. Não conseguia se lembrar da última vez que tinha passado a noite sozinho. Quase pegou o telefone e ligou para Caroline. Foi apenas um reflexo, e ele o reprimiu. O que queria era estar com Eileen.

Dois dias depois, ela telefonou novamente. Naqueles dois dias, ele esteve com ela no museu em Long Island duas vezes, na sua forma astral. Pairou pela sala, invisível para ela, apenas observando. Teria ido com mais frequência, ficado mais tempo, mas estava sentindo muito prazer com aquilo.

— É Eileen — disse ela. — Eles querem me iniciar.

Eram três e meia da tarde. Caroline estava na Berlitz, aprendendo japonês. Ela não apareceu muito por lá nos últimos tempos.

— Você mudou de ideia — disse ele.

— Precisei mudar. Dependemos disso.

— Quando será?

— Hoje à noite. Preciso estar lá às onze. Será numa igreja antiga no Bairro dos Curingas.

— Posso te ver?

— Acho que sim. Posso passar aí, se você quiser.

— Por favor. O mais rápido que puder.

Ele se sentou na janela e observou até o carro dela aparecer. Abriu a porta e esperou no patamar da escada. Ela passou por ele, entrando no apartamento, e se virou. Ele não sabia o que esperar. Fechou a porta e ela estendeu as mãos. Ele a envolveu nos braços e ela ergueu o rosto para olhá-lo. Ele a beijou e, em seguida, a beijou de novo. Os braços dela envolveram seu pescoço e apertaram.

— Quero você — disse ele.

— Também te quero.

— Vamos para a cama.

— Eu quero. Mas não posso. É… é uma má ideia. Faz tanto tempo para mim. Não posso simplesmente subir na cama com você e fazer todo tipo de atos sexuais tântricos estranhos. Não é o que eu quero. Você não pode nem gozar, pelo amor de Deus!

Ele passou os dedos pelos cabelos dela.

— Tudo bem. — Ele a segurou ainda por um tempo, depois a soltou. — Quer alguma coisa? Uma bebida?

— Café, se você tiver.

Ele colocou a água para ferver e moeu um punhado de grãos de café, olhando-a pelo balcão da cozinha.

— O que não consigo entender — disse ele — é por que não consigo nada da mente dessas pessoas.

— Você acha que estou inventando tudo isso?

— Sei que não está — disse Fortunato. — Eu saberia se estivesse mentindo.

Ela balançou a cabeça.

— Demora muito até a gente se acostumar com isso.