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Para Jane,

com agradecimentos

a Rick e Heidi, pelo empréstimo de seu evento estável,

a Mogens e Andy e a todo mundo em Huntsham Court,

por alguns eventos instáveis,

e especialmente a Sonny Mehta,

por permanecer estável em meio a todos os eventos.

Prólogo

Muito além, nos confins inexplorados da região mais brega da Borda Ocidental desta Galáxia, há um pequeno sol amarelo e esquecido.

Girando em torno deste sol, a uma distância de cerca de 148 milhões de quilômetros, há

um planetinha verde-azulado absolutamente insignificante, cujas formas de vida, descendentes de primatas, são tão extraordinariamente primitivas que ainda acham que relógios digitais são uma grande idéia.

Este planeta tem - ou melhor, tinha - o seguinte problema: a maioria de seus habitantes estava quase sempre infeliz. Foram sugeridas muitas soluções para esse problema, mas a maior parte delas dizia respeito basicamente à movimentação de pequenos pedaços de papel colorido com números impressos, o que é curioso, já que no geral não eram os tais pedaços de papel colorido que se sentiam infelizes.

E assim o problema continuava sem solução. Muitas pessoas eram más, e a maioria delas era muito infeliz, mesmo as que tinham relógios digitais.

Um número cada vez maior de pessoas acreditava que havia sido um erro terrível da espécie descer das árvores. Algumas diziam que até mesmo subir nas árvores tinha sido uma péssima idéia, e que ninguém jamais deveria ter saído do mar.

E, então, uma quinta-feira, quase dois mil anos depois que um homem foi pregado num pedaço de madeira por ter dito que seria ótimo se as pessoas fossem legais umas com as outras para variar, uma garota, sozinha numa pequena lanchonete em Rickmansworth, de repente compreendeu o que tinha dado errado todo esse tempo e finalmente descobriu como o mundo poderia se tornar um lugar bom e feliz. Desta vez estava tudo certo, ia funcionar, e ninguém teria que ser pregado em coisa nenhuma.

Infelizmente, porém, antes que ela pudesse telefonar para alguém e contar sua descoberta, aconteceu uma catástrofe terrível e idiota e a idéia perdeu-se para todo o sempre. Esta é a história dessa garota.

capítulo 1

Naquela noite escureceu cedo, o que era normal para aquela época do ano. Fazia frio e ventava bastante, o que também era normal.

Começou a chover, o que era particularmente normal.

Uma espaçonave aterrissou, o que não era.

Não havia ninguém que pudesse vê-la, exceto alguns quadrúpedes incrivelmente burros que não tinham a menor idéia do que pensar a respeito, ou mesmo se deviam pensar alguma coisa, ou comer aquela coisa, ou o que fosse. Fizeram então o que sempre faziam, que era sair correndo e tentar esconder-se um debaixo do outro, o que nunca dava certo. A nave deslizou das nuvens, aparentemente equilibrando-se em um único feixe de luz. De longe, dificilmente seria notada em meio aos relâmpagos e às nuvens carregadas, mas vista de perto era estranhamente bela - uma nave cinzenta, elegantemente esculpida: bem pequena.

É claro que ninguém pode saber ao certo o tamanho ou a forma das diferentes espécies, mas, se você considerasse as descobertas do último relatório do Censo Galáctico Central como um guia preciso de médias estatísticas, provavelmente chutaria que a nave era capaz de comportar cerca de seis pessoas, e estaria certo.

Provavelmente você acertaria de qualquer maneira. O relatório do Censo, como a maioria das pesquisas, havia custado uma fortuna e não dizia nada que as pessoas já não soubessem exceto que cada habitante da Galáxia tem 2,4 pernas e possui uma hiena. Já que isso obviamente não era verdade, todo o resto acabou sendo descartado. A nave deslizou silenciosa pela chuva, com as suas pálidas luzes envolvendo-a em agradáveis arco-íris. O seu zumbido, bem discreto, tornou-se gradualmente mais alto e intenso conforme a nave se aproximou do solo, transformando-se em uma forte vibração quando ela estava a uns 15 centímetros do chão. Finalmente aterrissou e ficou em silêncio. Uma escotilha se abriu. Um pequeno lance de escadas se desdobrou.

Surgiu uma luz na abertura, uma luz brilhante irradiando na noite encharcada, e sombras moveram-se lá dentro.

Uma figura alta surgiu na luz, olhou à sua volta, hesitou e então desceu correndo pelos degraus, carregando uma grande sacola de compras debaixo do braço. Virou-se e acenou bruscamente. A chuva já começava a correr pelo seu cabelo.

- Obrigado - gritou ele -, muito obriga...

Foi interrompido pelo estrondo súbito de um trovão. Olhou para cima, apreensivo, e, lembrando-se subitamente de algo, começou a vasculhar a grande sacola plástica de compras, descobrindo que estava furada no fundo.

Na sacola estava escrito em letras garrafais (para qualquer um que pudesse decifrar o alfabeto centauriano) Mega Mercado Duty Free, Porto Brasta, Alpha Centauri. Faça Como o Elefante Vinte e Dois de Valor Inflacionado no Espaço -Ladre!

- Espere! - gritou a figura, acenando para a nave.

Os degraus, que já estavam se recolhendo para dentro da escotilha, pararam e se desdobraram novamente, permitindo que ele voltasse à nave.

Alguns segundos depois, ele surgiu novamente, trazendo uma toalha surrada e puída, que jogou dentro da sacola.

Tornou a acenar para a nave, colocou a sacola debaixo do braço e correu para abrigar-se sob as árvores, deixando para trás a espaçonave, que já tinha começado a decolar. Os relâmpagos que cortavam o céu fizeram a figura parar por um momento e depois correr adiante, cuidando para evitar as árvores. Movia-se rapidamente, escorregando aqui e ali, encurvando-se sob a chuva que caía agora ainda mais concentrada, como se arrancada à força do céu.

Os seus pés chapinhavam na lama. Trovões roncavam acima das colinas. Ele secava inutilmente o rosto e avançava aos tropeções.

Mais luzes.

Não eram relâmpagos desta vez, e sim luzes mais difusas e fracas, que bailavam lentamente no horizonte e desapareciam.

A figura parou novamente ao vê-las e depois andou ainda mais rápido, dirigindo-se para o local onde haviam aparecido.

O terreno então começou a ficar mais íngreme, inclinando-se para cima e, uns três metros depois, a figura deparou-se com um obstáculo. Parou para examinar a barreira e depois jogou para o outro lado a sacola que estava carregando e pôs-se a escalar. Mal a figura havia tocado o solo do outro lado quando, surgida da chuva, veio uma máquina ao seu encontro, luzes irradiando através de uma torrente de água. A figura recuou enquanto a máquina avançava sobre ela. Tinha a forma de uma gota, como a de uma pequena baleia surfando. Além do design arrojado, era cinza, arredondada e movia-se a uma velocidade aterradora.

A figura instintivamente ergueu as mãos para se proteger mas foi atingida apenas por um jorro de água quando a máquina passou veloz por ela e sumiu na escuridão. Alguns relâmpagos cruzando o céu iluminaram brevemente a máquina, o que deu à figura encharcada à beira da estrada uma fração de segundo para ler uma pequena placa na traseira da máquina, antes que desaparecesse.

Para a sua incrédula surpresa, estava escrito na placa: MEU OUTRO CARRO TAMBÉM

É UM PORSCHE.

capítulo 2

Rob McKenna era um pobre coitado e sabia disso porque várias pessoas haviam chamado a sua atenção para esse fato ao longo dos anos e ele não via motivos para discordar, exceto o motivo mais óbvio, o fato de que gostava de discordar das pessoas, especialmente daquelas de quem não gostava, o que incluía, pela última contagem, todo mundo. Deu um suspiro e enfiou a mão para reduzir uma marcha.

A colina começava a ficar mais íngreme e o seu caminhão estava pesado, cheio de controles termostáticos de radiador dinamarqueses.