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Também não era isso.

Passou por cima de uma antepara e foi dar em um corredor maior. De um dos lados do corredor vinha uma fumaça acre; então ele foi para o outro lado. Chegou até um monitor de observação inserido na parede por trás de grossas lâminas de plexiglas, que ainda assim estavam bastante arranhadas.

- Será que dá para desligar isso? - pediu a Ford Prefect, que estava agachado diante dele, em meio a uma pilha de equipamentos de vídeo que ele usurpara de uma vitrine em Tottenham Court Road, após ter arremessado um pequeno tijolo através do vidro, e também a uma quantidade indecente de latinhas de cerveja vazias.

- Psst! - sussurrou Ford, olhando com uma concentração maníaca para a tela. Estava assistindo a Sete homens e um destino.

- Só um pouquinho - insistiu Arthur.

- Não! - gritou Ford. - Estamos chegando na melhor parte! Escuta, eu finalmente consegui resolver tudo, as voltagens, conversões de linha, tudo, e essa é a melhor parte!

Com um suspiro e uma dor de cabeça, Arthur sentou-se ao lado dele e assistiu à melhor parte. Ouviu os brados, gritos e uivos de Ford o mais placidamente que pôde.

- Ford - disse ele, finalmente, quando o filme terminou e Ford estava caçando Casablanca em uma pilha de fitas -, como é possível...

- Esse é o melhor - disse Ford. - Esse é o filme que me fez voltar. Você sabia que nunca consegui vê-lo inteiro? Eu sempre perco o final. Eu revi pela metade na véspera do ataque dos vogons. Quando eles destruíram tudo, pensei que nunca mais fosse ver o final. Ei, o que aconteceu com aquela história toda, afinal?

- Coisas da vida - disse Arthur, e apanhou uma cerveja.

- Ah, isso de novo - disse Ford. - Imaginei que pudesse ser algo assim. Eu prefiro coisas assim - disse ele quando o Bar do Rick apareceu na tela. - Como é possível o quê?

- O quê?

-Você começou a dizer "como é possível...".

- Como é possível, se você detesta tanto a Terra, que você... ah, deixa pra lá, vamos assistir ao filme.

- Isso aí - concordou Ford.

capítulo 40

Não há muito mais para contar.

Para além do que costumava ser conhecido como os Ilimitados Campos de Luz de Flanux, antes que os Feudos Confinantes Cinzentos de Saxaquine fossem descobertos pouco depois deles, encontram-se os Feudos Confinantes Cinzentos de Saxaquine. Nos Feudos Confinantes Cinzentos de Saxaquine encontra-se a estrela Zarss, em torno da qual orbita o planeta Preliumtarn, onde fica a terra de Sevorbeupstry, e foi à terra de Sevorbeupstry que Arthur e Fenchurch finalmente chegaram, um pouco cansados da viagem.

E em meio à terra de Sevorbeupstry chegaram à Grande Planície Vermelha de Rars, limitada ao sul pelas Montanhas de Quentulus Quazgar, no extremo das quais, de acordo com as últimas palavras de Prak, encontrariam em letras flamejantes de dez metros de altura a Mensagem Final de Deus para Sua Criação.

Segundo Prak, se a memória de Arthur fosse correta, o lugar era vigiado pelo Lajéstico Vantraconcha de Lob e foi, de certa maneira, o que descobriram. O Lajéstico Vantraconcha de Lob era um homenzinho usando um chapéu esquisito que vendeu um ingresso para eles.

- Mantenham-se à esquerda, por favor - disse ele -, à esquerda - instruía o sujeito, passando por eles em uma motoneta.

Perceberam que não eram os primeiros a passar por ali, pois o caminho pela esquerda para a Grande Planície estava gasto e salpicado de barraquinhas. Em uma delas compraram uma caixa de chocolate que havia sido cozinhado em um forno numa caverna da montanha, caverna essa que era aquecida pelo fogo das letras que formavam a Mensagem Final de Deus para Sua Criação. Em outra barraquinha, compraram alguns cartões-postais. As letras haviam sido embaçadas com tinta em spray, "para não estragar a Grande Surpresa!", conforme dizia no verso do postal.

- A senhora sabe qual é a mensagem? - perguntaram a uma senhora franzina em uma das barracas.

- Ah, sim - respondeu ela, toda alegre -, sei sim!

Fez um gesto para que prosseguissem.

A cada trinta quilômetros, aproximadamente, havia uma pequena cabana de pedra com chuveiros e toaletes, mas a caminhada era penosa e o sol a pino torrava a Grande Planície Vermelha e a Grande Planície Vermelha ondulava no calor.

- Podemos alugar uma dessas motonetas? - perguntou Arthur em uma das barracas maiores. - Uma daquelas que o Lajéstico Vantrasei-lá-o-quê tinha.

- As motonetas não são para os devotos - respondeu a senhora que servia sorvetes.

- Tudo bem, está resolvido, não somos exatamente devotos. Apenas interessados - disse Fenchurch.

- Então vão ter que voltar agora - disse a senhora, severamente, e, quando eles contestaram, ela aproveitou para lhes vender bonés da Mensagem Final e uma fotografia dos dois abraçados na Grande Planície Vermelha de Rars.

Beberam refrigerantes à sombra da barraca e depois voltaram a se arrastar pelo sol.

- O nosso creme protetor está acabando - comentou Fenchurch alguns quilômetros depois.

- Podemos seguir até apróxima barraca ou voltar para a última, que está mais perto, mas aí

vamos ter que voltar tudo de novo.

Olharam para a frente e viram, lá longe, o minúsculo pontinho preto tremulando sob o sol; olharam para trás. Decidiram continuar andando.

Então descobriram que não só não eram os primeiros a fazer aquela jornada como não eram os únicos caminhando naquele exato momento.

Um pouco mais adiante deles, uma criatura atarracada e desajeitada se arrastava miseravelmente, avançando com penosa lentidão, meio mancando, meio rastejando. Andava tão devagar que eles logo alcançaram a criatura e puderam ver que era feita de um metal gasto, marcado e retorcido.

Gemeu para eles quando se aproximaram, despencando no chão quente, seco e coberto de poeira.

- Tanto tempo - gemeu ele -, ai, tanto tempo. E tanta dor, mas tanta, e tempo demais para lamentar essa dor. Se fosse apenas um ou outro, dava até para agüentar. Mas os dois juntos realmente acabam comigo. Ah, oi, você outra vez.

- Marvin? - disse Arthur bruscamente, agachando-se ao lado dele. - É você?

- Você continua imbatível quanto às perguntas superinteligentes, não? - gemeu ele.

- O que é isso? - perguntou Fenchurch num sussurro, alarmada e agachada atrás de Arthur, agarrando-se no seu braço.

- Um velho amigo meu - disse Arthur - Eu...

- Amigo! - resmungou o robô, tristemente. A palavra morreu em uma espécie de estalo e lascas de ferrugem saíram de sua boca. - Sinto muito, mas preciso de um tempinho para tentar lembrar o que essa palavra significa. Os meus bancos de memória já não são mais os mesmos, sabe, e qualquer palavra que caia em desuso por alguns poucos zilhões de anos tem que ser transferida para um banco de memória auxiliar. Ah, aqui está.

A cabeça danificada do robô estalou um pouco, como se estivesse pensando.

- Hum - disse ele -, que conceito peculiar.

Pensou mais um pouco.

- Não - disse ele, finalmente -, acho que nunca conheci um desses. Sinto muito, não posso ajudá-lo nisso.

Arranhou o joelho no chão, tentando se levantar apoiado nos cotovelos deformados.

- Existe alguma última tarefa que eu possa fazer por vocês? - perguntou ele, com uma voz trêmula e oca. - Um pedacinho de papel que talvez queiram que eu apanhe no chão para vocês?

Ou talvez preferissem que eu - continuou ele -, abrisse uma porta?

Girou a cabeça em seu pescoço enferrujado e lançou um olhar perscrutador para o horizonte distante.

- Não vejo nenhuma porta por aqui no momento - disse ele -, mas tenho certeza de que, se esperarmos o tempo necessário, alguém vai construir uma. E aí - disse ele, girando a sua cabeça lenta e penosamente para olhar Arthur mais uma vez -, eu poderia abri-la para você. Já estou bastante acostumado a esperar, sabe.