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Localizou o seu verbete.

"Terra: Praticamente inofensiva."

Quase imediatamente, a tela se converteu em um monte de mensagens do sistema.

- Aí vem - disse ele.

"Por favor, aguarde" - diziam as mensagens. "Os verbetes estão sendo atualizados via Subeta Net. Esse verbete está sendo revisado. O sistema ficará fora do ar por dez segundos." No final do beco, uma limusine cinza-metálico passou devagar.

- Olha - disse a garota -, se te pagarem, me procura. Estou no horário de trabalho e tem gente ali precisando de mim. Tenho que ir.

Ela ignorou os protestos semi-articulados de Ford e o deixou sentado desanimadamente na lata de lixo, preparando-se para assistir a uma boa parte de sua vida profissional ser varrida eletronicamente para o éter.

Lá fora, na rua, as coisas haviam se acalmado um pouco. A batalha policial movera-se para os outros setores da cidade, os poucos membros sobreviventes da banda de rock haviam reconhecido as suas diferenças musicais e decidido seguir carreiras solo e o grupo de atores de rua reaparecera, saindo da cantina italiana com o animal de carga, prometendo levá-lo a um bar onde ele seria tratado com algum respeito. Um pouco além, a limusine cinza-metálico estava silenciosamente estacionada à beira da calçada. A garota correu até ela.

***

Ford Prefect ficou para trás, imerso na escuridão do beco, com o rosto banhado pelo brilho verde da tela. Os seus olhos iam ficando cada vez mais arregalados de espanto. Lá onde nada mais esperava encontrar senão um verbete apagado, removido, havia, pelo contrário, um fluxo contínuo de dados - textos, diagramas, figuras e imagens, descrições emocionantes sobre o surfe nas praias australianas, iogurte nas ilhas gregas, restaurantes a serem evitados em Los Angeles, transações monetárias a serem evitadas em Istambul, clima a ser evitado em Londres, bares para freqüentar em qualquer lugar do mundo. Páginas e mais páginas. Estava tudo lá, tudo o que ele escrevera.

Com a testa profundamente franzida em perplexa incompreensão, consultava o Guia freneticamente, parando aqui e ali em vários pontos.

Dicas para alienígenas em Nova York: Aterrissem onde quiserem, no Central Park, em qualquer lugar. Ninguém vai se importar - aliás, não vão nem mesmo perceber. Como sobreviver: Arrume um emprego como motorista de táxi imediatamente. Ser um motorista de táxi significa levar as pessoas para qualquer lugar que elas queiram ir, em grandes máquinas amarelas chamadas táxis. Não se preocupe se você não souber como a máquina funciona, não falar a língua, não entender a geografia ou mesmo a física básica da área e tiver grandes antenas verdes saindo de sua cabeça. Acredite, esta é melhor maneira de permanecer despercebido.

Se o seu corpo for realmente esquisito, tente exibi-lo na rua em troca de dinheiro. Formas de vida anfíbias de qualquer um dos mundos nos sistemas Stagnos, Nodjent e Nausália irão apreciar particularmente o East River, que, ao que parece, é mais rico em adoráveis nutrientes vitais do que a melhor e mais virulenta gosma já produzida em laboratório.

Lazer: Essa é a melhor parte. É impossível divertir-se mais sem eletrocutar os seus centros de prazer...

Ford clicou no botão, vendo que agora estava escrito "Modo de Execução Preparado" em vez do já antiquado "Acesso em Espera", que há muito havia substituído o espantosamente préhistórico "Desligar". Aquele era um planeta que ele vira ser completamente destruído, e havia visto com seu próprio par de olhos, ou melhor, não havia visto, já que ficara cego diante da irrupção infernal de ar e luz, mas havia sentido com seu próprio par de pés quando o solo começou a sacudir como um martelo sob eles, dando solavancos, rugindo e sendo arrancado pelos tsunamis de energia que jorravam das asquerosas naves amarelas dos vogons. E finalmente, cinco segundos após o que havia determinado ser o último momento possível, sentiu a suave náusea revolvente da desmaterialização, enquanto ele e Arthur Dent eram teleportados pela atmosfera como uma transmissão esportiva.

Não fora um equívoco, não podia ter sido. A Terra fora destruída definitivamente. Definitivamente definitiva. Evaporada no espaço.

E no entanto ali - ativou novamente o Guia -estava o verbete que ele próprio escrevera sobre como conseguir se divertir em Bournemouth, Dorset, na Inglaterra, do qual sempre se orgulhara, pois era uma das invenções mais barrocas que já tinha escrito. Releu o texto e balançou a cabeça, em completo espanto.

Subitamente descobriu qual era a resposta para o problema e a resposta era esta: algo muito estranho estava acontecendo algo muito estranho estava acontecendo, pensou ele, queria que estivesse acontecendo com ele.

Guardou o Guia de volta na mochila e andou rapidamente de volta para a rua. Caminhando rumo ao norte, tornou a passar pela limusine cinza-metálico estacionada no meio-fio e pôde ouvir uma voz suave, vinda de uma porta entreaberta ali por perto, dizendo:

"Tudo bem, querido, está tudo bem, você precisa aprender a gostar disso. Pense na forma como toda a economia está estruturada..."

Ford sorriu, fez um desvio em torno do quarteirão vizinho, que agora estava ardendo em chamas, deparou-se com um helicóptero da polícia abandonado na rua, invadiu-o, colocou o cinto de segurança, cruzou os dedos e lançou-se inexperientemente no céu. Contorceu-se temerosamente por entre os altos prédios da cidade e, tendo se livrado deles, arremeteu através do véu de fumaça negra e avermelhada que pairava permanentemente sobre ela.

Dez minutos depois, com todas as sirenes do helicóptero ligadas e seu canhão de fogo contínuo atirando a esmo nas nuvens, Ford Prefect fez um pouso forçado entre as plataformas de lançamento e as luzes de aterrissagem no espaçoporto de Han Dold, onde a aeronave se assentou como um mosquito gigante, assustado e extremamente barulhento. Como não o havia danificado muito, conseguiu trocá-lo por uma passagem de primeira classe para a próxima nave a deixar o sistema. Acomodou-se em uma das suas enormes e voluptuosas poltronas massageadoras.

Aquilo ia ser divertido, pensou com os seus botões, enquanto a nave piscava silenciosa, atravessando as distâncias enlouquecedoras do espaço sideral e o serviço de bordo entrava em seu modo de plena e extravagante atividade total.

"Sim, obrigado", dizia ele para qualquer atendente sempre que apareciam para lhe oferecer qualquer coisa.

Sorriu com uma curiosa alegria maníaca enquanto navegava novamente pelo verbete sobre o planeta Terra que havia sido misteriosamente reintroduzido. Poderia, enfim, resolver um assunto inacabado e estava extremamente feliz por constatar que a vida havia subitamente lhe dado um objetivo sério a alcançar.

De repente pensou onde estaria Arthur Dent e se ele já sabia da novidade.

***

Arthur Dent estava a mil quatrocentos e trinta e sete anos-luz dali, em um Saab, bastante apreensivo.

Atrás dele, no banco traseiro, estava a garota que fizera com que ele enfiasse a cabeça na porta ao entrar no carro. Não sabia dizer se aquilo havia acontecido porque ela era a primeira fêmea da sua própria espécie que ele via há anos, ou o quê, mas ficara maravilhado com, com...

"Isso é ridículo", pensou ele. "Segure a sua onda", instruiu a si mesmo. "Você não está", prosseguiu Arthur, "conversando consigo mesmo no tom de voz mais firme possível em um estado normal e racional. Você acabou de pegar carona e atravessar cem mil anos-luz da galáxia, está muito cansado, um pouco confuso e extremamente vulnerável. Relaxe, não entre em pânico, concentre-se apenas em respirar profundamente." Virou-se no banco do carona.