Actualmente, o Universo não está a expandir-se de uma maneira inflacionária. Portanto, tem de haver um mecanismo qualquer que elimine o enorme efeito da constante cosmológica e assim modifique a taxa de expansão acelerada para uma taxa desacelerada pela gravidade, como a que temos agora. Na expansão inflacionária, pode esperar-se que eventualmente a simetria entre as forças seja quebrada :, tal como a água sobre-arrefecida acaba sempre por gelar. A energia extra do estado de simetria não quebrada seria então libertada e voltaria a aquecer o Universo até uma temperatura imediatamente abaixo da temperatura crítica para a simetria entre as forças. O Universo continuaria então a expandir-se e a arrefecer tal como o universo padrão do *big bang*, mas haveria agora uma explicação para o facto de o Universo estar a expandir-se exactamente à taxa crítica e de diferentes regiões terem a mesma temperatura.
Na proposta original de Guth, supunha-se que a transição de fase ocorria repentinamente um pouco como o aparecimento de cristais de gelo em água muito fria. A ideia era que "bolhas" da nova fase de simetria quebrada se tinham formado na fase antiga, como bolhas de vapor em água a ferver. As bolhas expandir-se-iam e juntar-se-iam umas às outras até todo o Universo se encontrar na nova fase. O contratempo era, como eu e outros sublinhámos, que o Universo estava a expandir-se tão depressa que, mesmo que as bolhas crescessem à velocidade da luz, afastar-se-iam umas das outras e assim nunca se poderiam juntar. O Universo ficaria num estado não uniforme, onde algumas regiões conservariam ainda simetria entre as diferentes forças. Tal modelo de universo não corresponderia ao que vemos.
Em Outubro de 1981, fui a Moscovo, para uma conferência sobre a gravidade quântica. Depois da conferência dirigi um seminário sobre o modelo inflacionário e os seus problemas, no Instituto Astronómico Sternberg. No público estava um jovem russo, Andrei Linde, do Instituto Lebedev de Moscovo, que disse que a dificuldade de as bolhas não se juntarem podia ser evitada se as bolhas fossem tão grandes que a nossa região do Universo estivesse toda contida numa só. Para isto resultar, a quebra de simetria devia ter ocorrido muito lentamente dentro da :, bolha, o que é absolutamente possível segundo as teorias da grande unificação. A ideia de Linde de uma quebra lenta de simetria era muito boa, mas mais tarde cheguei à conclusão de que as bolhas precisavam de ter sido maiores do que o Universo! Mostrei que afinal a simetria teria sido quebrada por toda a parte ao mesmo tempo, em vez de apenas dentro das bolhas. Isto conduzia a um universo uniforme, tal como o observamos. Fiquei muito excitado com a ideia e discuti-a com um dos meus alunos, Ian Moss. Como amigo de Linde, fiquei bastante embaraçado quando mais tarde me enviaram o seu trabalho através de uma revista cientifica, perguntando-me se tinha qualidade para ser publicado. Respondi que havia essa falha acerca de as bolhas serem maiores que o Universo, mas que a ideia fundamental de uma quebra lenta de simetria era muito boa. Recomendei [no entanto] que o artigo fosse publicado tal como estava porque Linde levaria alguns meses a corrigi-lo, visto que tudo o que ele mandasse para o Ocidente teria de passar pela censura soviética que não era muito hábil nem muito rápida com os artigos científicos. Entretanto, escrevi um curto artigo, juntamente com Ian Moss, que foi publicado na mesma revista, em que chamávamos a atenção para o problema da bolha e mostrávamos como podia ser resolvido.
Logo no dia seguinte ao do meu regresso de Moscovo, parti para Filadélfia, onde ia receber uma medalha no Instituto Franklin. A minha secretária, Judy Fella, tinha usado o seu considerável encanto para persuadir a British Airways a oferecer-nos, a mim e a ela, duas passagens de graça num *Concorde*, a título publicitário. Contudo, atrasei-me no caminho para o aeroporto por causa da chuva e perdi o avião. Mas acabei por chegar a Filadélfia e receber a minha medalha. Pediram-me depois que dirigisse um seminário sobre o universo inflacionário. Passei a maior parte do seminário a falar sobre os problemas do modelo inflacionário, :, tal como em Moscovo, mas no fim mencionei a ideia de Linde de uma quebra lenta de simetria e as minhas correcções. Na assistência estava um jovem assistente da Universidade da Pensilvânia, Paul Steinhardt, que no fim conversou comigo sobre a inflação. Em Fevereiro seguinte enviou-me um artigo escrito por ele e por um aluno, Andreas Albrecht, em que propunham qualquer coisa muito semelhante à ideia de Linde da quebra lenta de simetria. Disse-me mais tarde que não se lembrava de me ter ouvido descrever as ideias de Linde e que tinha visto o trabalho dele somente quando estava quase a chegar ao fim do seu.
No Ocidente, ele e Albrecht, juntamente com Linde, são considerados autores conjuntos do que se chama "o novo modelo inflacionário", baseado na ideia da quebra lenta de simetria. (O antigo modelo inflacionário era a sugestão original de Guth de uma súbita quebra de simetria com a formação de bolhas).
O novo modelo inflacionário foi uma boa tentativa para explicar o motivo pelo qual o Universo é como é. No entanto, eu e outros demonstrámos que, pelo menos na sua forma original, previa muito maiores variações na temperatura da radiação de fundo de micro-ondas do que as que são observadas. Trabalhos posteriores também lançaram dúvidas sobre se podia haver uma transição de fase no começo do Universo do tipo necessário. Na minha opinião pessoal, o novo modelo inflacionário está morto como teoria científica, embora muita gente pareça não ter ouvido falar da sua morte e continue a escrever trabalhos como se ele fosse viável. Um modelo melhor, chamado modelo inflacionário caótico, foi proposto por Linde em 1983. Neste não existe qualquer transição de fase ou sobre-arrefecimento. Em vez disso, há um campo de spin 0, que, devido a flutuações quânticas, teria tido valores elevados em algumas regiões do Universo inicial. A energia do :, campo nessas regiões comportar-se-ia como uma constante cosmológica. Teria um efeito gravitacional repulsivo e levaria, portanto, essas regiões a expandirem-se de uma maneira inflacionária. À medida que se expandiam, a energia do campo diminuiria lentamente até que a expansão inflacionária se transformava numa expansão como a do modelo quente do *big bang*. Uma dessas regiões viria a ser aquilo que agora designamos por Universo observável. Este modelo tem as vantagens dos primeiros modelos inflacionários, mas não depende de uma fase de transição duvidosa e pode, além disso, fornecer dimensões razoáveis para as flutuações da temperatura do fundo de micro-ondas concordantes com a observação.
Este trabalho sobre modelos inflacionários mostrou que o estado actual do Universo podia ter surgido de um número bastante elevado de configurações iniciais diferentes. Isto é importante, porque mostra que o estado inicial da parte do Universo que habitamos não teve de ser escolhido com grande cuidado. Portanto, podemos, se quisermos, utilizar o princípio antrópico fraco para explicar o motivo por que o Universo tem o aspecto que hoje tem. O que não pode ser, no entanto, é que cada configuração inicial tenha conduzido a um Universo como o que observamos. Podemos mostrá-lo considerando um estado muito diferente para o Universo na actualidade, digamos um estado muito irregular. Podemos utilizar as leis da física para imaginar o Universo no passado a fim de determinar a sua configuração inicial. Segundo os teoremas de singularidade da relatividade geral, continuaria a ter havido a singularidade do *big bang*. Se imaginarmos a evolução desse universo segundo as leis da física, acabamos com o estado irregular e heterogéneo com que cor 1eçamos. Portanto, deve ter havido configurações iniciais que não dariam origem a um Universo como o que vemos hoje. Até o modelo inflacionário não nos diz por que motivo :, a configuração inicial não era de molde a produzir qualquer coisa muito diferente do que a que observamos. Teremos de nos voltar para o princípio antrópico para obter uma explicação? Terá sido apenas uma questão de sorte? Pareceria uma causa perdida, uma negação de todas as nossas esperanças de compreendermos a ordem subjacente do Universo.