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"Ou será que o americano não é nenhum visitante, mas alguém que mora aqui em Hong Kong?

"Será Rosemont? Ou Langan? Ambos seriam perfeitos.

"Tantas perguntas!

"Por exemplo: quem é o quarto homem? Quem é o 'Super-vip', acima de Philby? Aonde levarão todas essas pistas? Ao Burke's Peerage? Ou a um castelo, ou quem sabe a um palácio?

"Quem é essa misteriosa sra. Gresserhoff que atendeu ao segundo telefonema de Kiernan, e depois sumiu como um anel de fumaça?

"E quanto às malditas pastas? E quanto ao maldito Alan M. Grant e o maldito Dunross, tentando ser danado de esperto? ..."

Era quase meia-noite. Dunross e Casey estavam sentados lado a lado, felizes, na parte da frente envidraçada de uma das barcas da Balsa Dourada que se dirigia Confiantemente para o seu ancoradouro no lado de Kowloon. Era uma bela noite, embora as nuvens ainda estivessem baixas, amontoadas. Lonas protetoras contra tempestades ainda fechavam a parte aberta dos tombadilhos, mas, ali onde estavam, a vista era boa, e uma brisa gostosa e salgada entrava por uma das janelas abertas.

— Vai chover de novo? — perguntou ela, rompendo o silêncio confortável.

— Vai, sim. Mas estou torcendo para que a chuva forte não caia antes do fim da tarde de amanhã.

— Você e suas corridas! São assim tão importantes?

— Ah, sim, para todos os yan de Hong Kong. Para mim, sim e não.

— Vou apostar toda a minha fortuna na sua Noble Star.

— Eu não faria isso — disse ele. — Sempre se deve limitar uma aposta.

Casey lançou-lhe um olhar.

— Algumas apostas a gente não limita.

— Algumas apostas a gente não pode limitar — disse ele, corrigindo-a com um sorriso. Com naturalidade, deu-lhe o braço, e voltou a pousar a mão no colo. O contato agradou aos dois. Era a primeira vez que realmente se tocavam. Durante todo o passeio que tinham dado do Hotel Mandarim às barcas, Casey tivera vontade de tomar-lhe o braço. Mas lutara contra o impulso, e agora fingia não notar que estavam de braços dados, embora, instintivamente, se houvesse aproximado dele mais uma fraçãozinha.

— Casey, você nunca acabou de contar a história de George Toffer... despediu-o?

— Não, não o despedi, pelo menos não do jeito que imaginava. Quando obtivemos o controle acionário, fui até a sua sala. Claro que ele estava louco da vida, mas, àquela altura, eu já tinha descoberto que ele não era o herói que alegava ser, e mais outras coisinhas. Ele apenas agitou uma das minhas cartas sobre o dinheiro que me devia na minha cara, e berrou que eu jamais o teria de volta, jamais. — Ela deu de ombros. — É verdade, mas fiquei com a companhia dele.

— O que aconteceu com ele?

— Ainda está por aí, passando a perna em alguém. Escute, vamos parar de falar nele. Causa-me indigestão.

— Deus a livre! — riu-se ele. — Que noite fantástica, não é?

— É. — Haviam jantado impecavelmente no Dragon Room, no alto do hotel. Chateaubriand, batata palha, salada e creme brülée. O vinho era château-lafite. — Comemoração? — perguntara ela.

— Só um obrigado pelo First Central de Nova York.

— Ah, Ian! Concordaram?

— Murtagh concordou em tentar.

Levaram apenas alguns segundos para acertar os termos baseados na concordância do banco com o financiamento que

Casey estabelecera como possíveclass="underline" cento e vinte por cento do custo dos dois navios, um fundo de crédito de cinqüenta milhões.

— Tudo isso coberto pela sua garantia pessoal? — perguntara Murtagh.

— Sim — respondera, comprometendo o seu futuro e o de sua família.

— Nós... eu acredito que com a bela administração da Struan o senhor obterá lucro, portanto o nosso dinheiro está seguro e... mas, sr. Dunross, temos que manter isso secreto como o diabo. Nesse meio tempo, vou dar a minha cantada — dissera Murtagh, tentando disfarçar o nervosismo.

— Por favor, sr. Murtagh, a melhor cantada que puder. Que tal fazer-me companhia nas corridas amanhã? Lamento não poder convidá-lo para almoçar, pois minha tribuna já está abarrotada, mas eis aqui um passe, se estiver livre das duas e meia em diante.

— Puxa, tai-pan, está falando sério?

Dunross sorriu consigo mesmo. Em Hong Kong, ser convidado para a tribuna de um organizador ou administrador eqüivalia a ser apresentado à corte, e era igualmente útil.

— Por que está sorrindo, tai-pan? — perguntou Casey, mudando ligeiramente de posição, sentindo o calor dele.

— Porque, no momento, tudo vai bem no mundo. Pelo menos, todos os diversos problemas estão nos seus comparti-mentos.

Enquanto desembarcavam e saíam do terminal das barcas, explicou sua teoria. A única maneira de lidar com os problemas era a asiática: colocá-los em compartimentos individuais e ir pegando-os somente quando se estivesse pronto para eles.

— É uma boa, se for possível — disse ela, andando junto dele, mas agora sem tocá-lo.

— Se não for, a gente estoura... úlceras, ataques cardíacos, velhice antes do tempo, saúde estragada.

— A mulher chora, é sua válvula de escape. Chora, e depois se sente melhor.

Casey tinha chorado antes de sair do Vic para ir encontrá-lo. Por causa de Linc Bartlett. Parte raiva, parte frustração, parte desejo, parte necessidade... necessidade física. Fazia seis meses que tivera seu último caso, como sempre raro, casual e muito breve. Quando a necessidade ficava muito forte, ela ia viajar por alguns dias, para esquiar ou tomar sol, e escolhia aquele a quem permitia que entrasse na sua cama. Então, com a mesma rapidez, esquecia-se dele.

— Ah, mas não é muito ruim, Ciran-Chek — dissera-lhe a mãe certa vez —, ser assim tão insensível?

— Ah, não, mamãe querida — retrucara. — É uma troca justa. Gosto de sexo... quero dizer, gosto quando estou com disposição, embora tente ficar com disposição o menos freqüentemente possível. Amo o Linc, e só ele. Mas acho...

— Como pode amá-lo e ir para a cama com outra pessoa?

— Não, não é fácil, na verdade é horrível. Mas, mamãe, dou um duro danado trabalhando para o Linc, sem fins de semana ou domingos. Dou duro trabalhando para todos nós, para você, tio Tashjian, Marian e os meninos. Sou eu quem ganha o pão, agora que Marian ficou só, e adoro isso, gosto de verdade, você sabe que sim. Mas, às vezes, a barra fica pesada demais, portanto eu me afasto de tudo. E é então que escolho um parceiro. Sinceramente, mamãe, é só uma coisa biológica, não há diferença nesse setor entre nós e os homens. E agora que temos a bendita pílula, nós podemos escolher. Não é como no seu tempo, graças a Deus, minha querida...

Casey se afastou para evitar uma falange de pedestres que vinha na sua direção e deu um ligeiro encontrão em Dunross. Automaticamente, ela tomou-lhe o braço. Ele não o retirou.

Desde que tinha pedido igualdade, à tarde, e fora recusada... "Não, isso não é justo, Casey", disse com seus botões, "Ian não me recusou, apenas me disse a verdade, do seu ponto de vista. Do meu? Não sei. Não tenho certeza. Mas uma coisa que não sou é idiota. Esta noite me vesti com apuro, de modo um pouco diferente, pus perfume e realcei a maquilagem; e esta noite mordi a língua de três a trinta vezes e me contive, sem dar troco, agindo mais convencionalmente, dizendo meigamente: 'Que interessante!'

"E, de um modo geral, foi mesmo. Ele foi atencioso, divertido, receptivo, e eu me senti ótima. Ian é sem dúvida um homem e tanto! Perigoso e tão tentador!"

A larga escadaria de mármore que levava ao Vic estava bem à frente. Discretamente, ela soltou o braço dele, e sentiu-se mais ligada a ele pela sua própria compreensão.

— Ian, você é um homem sensato. Acha justo fazer amor com alguém... que a gente não ama?

— Como? — Levou um susto, que quebrou a sensação agradável que sentia. A seguir, falou, de brincadeira: — "Amor" é uma palavra ocidental, moça. Eu, eu sou chinês!