Выбрать главу

— Por favor, que ela seja paciente particular. Eu prefiro, e o marido dela também.

Dunross ouviu o suspiro, e detestou-o.

— Muito bem — dizia o médico. — Tenho todos os seus telefones. Ligarei para o senhor tão logo o professor Klienberg tenha feito o seu exame e os testes estejam concluídos.

Dunross agradeceu e repôs o fone no gancho. "Oh, Kathy, pobre e querida Kathy!"

Quando se levantara, ao alvorecer, conversara com ela e com Penelope. Kathy dissera-lhe que estava se sentindo melhor, e que Samson fora muito encorajador. Penn lhe dissera, mais tarde, que Kathy estava com um ar muito cansado.

— A coisa não está com boa cara, Ian. Há alguma chance de você poder vir para cá por uma ou duas semanas, antes de 10 de outubro?

— Não no momento, Penn, mas nunca se sabe.

— Vou levar Kathy para Avisyard logo que ela sair do hospital. No máximo na semana que vem. Ficará melhor ali. O campo a fará melhorar, não se preocupe, Ian.

— Penn, quando chegar a Avisyard, quer ir até a Árvore dos Gritos por mim?

— O que aconteceu?

Ele ouviu a preocupação na voz dela.

— Nada, querida — falou, pensando em Jacques e Phillip Chen... "Como posso explicar isso?" — Nada de especial, o mesmo de sempre. Só queria que você dissesse alô à nossa Árvore dos Gritos verdadeira.

— O nosso jacarandá aí não está servindo?

— Não, está ótimo, mas não é a mesma coisa. Quem sabe você devia trazer uma muda para Hong Kong.

— Não. É melhor a deixarmos onde está. Só assim você tem que voltar para casa, não é, Ian?

— Posso fazer uma aposta por você, para hoje à tarde? Nova pausa.

— Dez dólares no cavalo que escolher. Eu apoiarei a sua escolha. Sempre apoiarei a sua escolha. Ligue para mim amanhã. Amo você... tchau.

Lembrou-se da primeira vez em que ela dissera "Amo você", e, depois, mais tarde, quando ele a pedira em casamento, todas as recusas, até que, finalmente, no meio de um pranto sentido, o motivo reaclass="underline"

— Ah, Deus, Ian, não sirvo para você. Você é de classe alta, eu não. Meu modo de falar, tive que aprender. É, no começo da guerra fui enviada para a zona rural... meu Deus, eu só tinha estado fora de Londres duas vezes, até então, em toda a minha vida, só até o litoral. Fui enviada para uma belíssima mansão em Hampshire, onde todas as outras garotas eram de uma das melhores escolas da classe alta. Byculla chamava-se a mansão. Houve uma confusão, Ian, e todo o meu colégio foi para outro lugar, só eu fui para Byculla, e foi só então que descobri que falava diferente, de modo diferente... está vendo, às vezes ainda me esqueço! Ah, Deus, não tem idéia de como foi horrível descobrir, tão garota, que eu era... vulgar, de fala vulgar, e que há diferenças tão ilimitadas na Inglaterra, no modo como falamos... o modo como falamos é uma coisa tão importante!

"Ah, como me esforcei para imitar as outras! Elas me ajudavam, e houve uma professora que foi maravilhosa para mim. Eu me joguei de cabeça na nova vida, na vida delas, e jurei me aperfeiçoar, e nunca mais voltar, nunca, nunca, nunca, e não vou. Mas não posso me casar com você, meu querido. Sejamos apenas amantes, jamais serei boa o bastante para você."

Mas, com o tempo, eles se casaram. Vovó Dunross a convencera. Penelope concordara, mas somente depois de ter ido sozinha até a Árvore dos Gritos. Nunca lhe contara o que havia dito.

"Tenho tanta sorte!", pensou Dunross. "Ela é a melhor mulher que um homem podia ter."

Desde que voltara da pista de corridas, ao amanhecer, ele trabalhara sem cessar. Meia centena de telegramas. Dúzias de telefonemas internacionais. Inúmeros locais. Às nove e meia ligara para o governador, contando a proposta de Tiptop.

— Terei que consultar o ministro — dissera Sir Geoffrey. — O mais cedo que poderei telefonar para ele será às quatro da tarde. Ian, isso deve ser mantido em segredo absoluto. Ah, meu Deus, Brian Kwok deve ser importantíssimo para eles!

— Ou quem sabe apenas outra concessão conveniente para a entrega do dinheiro.

— Ian, não acredito que o ministro vá concordar com uma troca.

— Por quê?

— O governo de Sua Majestade pode considerá-lo um precedente, um mau precedente. Eu consideraria.

— O dinheiro é vital.

— O dinheiro é um problema temporário. Infelizmente, os precedentes são eternos. Esteve na pista?

— Sim, senhor.

— Que tal os cavalos?

— Pareciam todos em grande forma. Aleksei Travkin disse que Pilot Fish é o nosso maior concorrente, e que a pista vai estar macia. Noble Star está ótima, mas nunca correu em pista molhada.

— Vai chover?

— Sim. Mas talvez tenhamos sorte, senhor.

— Esperemos que sim. Que tempos terríveis, Ian. Enfim, essas coisas nos são enviadas para nos provar, não é? Vai ao enterro do John?

— Vou, senhor.

— Eu também. Coitado...

No enterro, de manhã, Dunross dissera palavras gentis sobre John Chen para não desmoralizar a Casa de Chen, e todos os ancestrais dos Chens que haviam servido bem e durante muito tempo à Casa Nobre.

— Obrigado, tai-pan — dissera Phillip Chen, simplesmente. — Sinto muito, mais uma vez.

Mais tarde, dissera em particular a Phillip Chen:

— Sentir muito não nos ajuda a sair da armadilha em que você e seu filho nos colocaram. Nem a resolver o problema do maldito Quatro Dedos e a terceira moeda.

— Eu sei, eu sei! — dissera Phillip Chen, torcendo as mãos. — Eu sei, e a não ser que possamos conseguir de volta as ações estamos arruinados, estamos todos arruinados! Oh ko, depois que você anunciou a alta, comprei e comprei, e agora estamos arruinados.

Dunross dissera vivamente:

— Temos o fim de semana, Phillip. Agora, escute-me, merda! Você vai pedir o troco de cada favor que lhe devem. Quero o apoio de Lando Mata e Tung Pão-Duro até a meia-noite de domingo. Pelo menos vinte milhões.

— Mas, tai-pan, não...

— Se isso não estiver nas minhas mãos até a meia-noite de domingo, quero o seu pedido de demissão na minha mesa até nove horas. Você não será mais o nosso representante nativo, seu filho estará excluído, e toda a sua linhagem estará excluída para sempre, e escolherei um novo representante, de outra linhagem.

Então, soltou pesadamente a respiração, odiando o fato de que Phillip Chen e John Chen — e provavelmente Jacques de Ville — houvessem traído a sua confiança. Foi até a bandeja e serviu-se de um pouco de café. Naquele dia, o gosto não lhe parecia bom. Os telefones não paravam de tocar, a maior parte dos telefonemas sobre o próximo colapso do mercado de capitais, do sistema bancário. Havergill, Johnjohn, Richard Kwang. Nada da parte do Pão-Duro, Lando Mata ou Murtagh. O único momento alegre fora o seu telefonema para David MacStruan, em Toronto:

— David, quero você aqui para uma reunião na segunda-feira. Pode...

Foi interrompido por um berro de alegria.

— Tai-pan, já estou a caminho do aeroporto. Bom...

— Agüente as pontas, David!

Explicara o seu plano de transferir Jacques para o Canadá.

— Oh, meu rapaz, se fizer isso, serei seu escravo para sempre!

— Vou precisar de mais do que escravos, David — dissera, cuidadosamente.

Fez-se uma longa pausa, e a voz do outro lado tornou-se mais dura.

— Qualquer coisa que quiser, tai-pan, já tem. Qualquer coisa.

Dunross sorriu, animado ao pensar no primo distante. Deixou o olhar vagar pela janela. O porto estava nublado, o céu pesado e escuro, mas ainda não havia chuva. "Ótimo", pensou, "contanto que não chova até depois de terminado o quinto páreo! Depois das quatro, pode chover. Quero esmagar Gornt e Pilot Fish e, oh, Deus, que o First Central libere o meu dinheiro, ou o Lando Mata ou o Pão-Duro ou a Par-Con! Sua aposta está coberta", disse a si mesmo, estoicamente, "de todas as maneiras possíveis. E Casey? Também estará tentando me lograr, como o Bartlett? E como o Gornt? E quanto a..."