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— Tai-pan, seu compromisso das onze horas chegou — disse a voz de Claudia, pelo interfone.

— Claudia, venha aqui um segundo. — Tirou da gaveta um envelope que continha mil dólares e entregou-lhe. — Dinheiro para as apostas, conforme o prometido.

— Ah, obrigada, tai-pan.

Havia vincos de preocupação no rosto alegre dela, e sombras sob o sorriso.

— Vai ficar na tribuna de Phillip?

— Vou, sim. Tio Phillip me convidou. Ele... parece muito abalado — disse ela.

— É por causa do John. — Dunross não tinha certeza se ela sabia. "Provavelmente sabe", pensou, "ou logo saberá. Não há segredos em Hong Kong. " — Quais os seus favoritos?

— Winner's Delight no primeiro, Buccaneer no segundo.

— Dois azarões? — Fitou-a. — Tem alguém de dentro dando as dicas para você?

— Ah, não, tai-pan. — Um pouquinho do seu bom humor normal voltou. — É só palpite.

— E no quinto?

— Não vou apostar no quinto, mas estou torcendo por Noble Star. — Claudia acrescentou, preocupada: — Há algo que eu possa fazer para ajudar, tai-pan? Qualquer coisa? A Bolsa de Valores e... temos que dar um jeito de massacrar o Gornt.

— Até que gosto do Gornt... é mesmo um fang-pi. — A obscenidade cantonense era pitoresca, e ela achou graça. — Agora, faça entrar a sra. Gresserhoff.

— Sim, sim, tai-pan — disse Claudia. — E obrigada pelo h'eung yau!

Dali a um momento, Dunross se levantou para receber sua visitante. Era a mulher mais bela que já tinha visto.

— Ikaga desu ka? (Como vai?) — perguntou, estupefato, no seu japonês fluente, imaginando como podia ter sido casada com Alan Medford Grant, cujo nome, Deus do céu, também parece que era Hans Gresserhoff.

— Genki, tai-pan. Domo. Genki desu! Anatawa? (Bem, tai-pan, obrigada, e o senhor?)

— Genki.

Ele curvou-se ligeiramente e não apertou a mão dela, embora tivesse notado que suas mãos e pés eram pequeninos, as pernas, longas. Conversando fiado por um momento, depois ela passou a falar em inglês, com um sorriso.

— O senhor fala japonês muitíssimo bem, tai-pan. Meu marido, ele não me contou que o senhor era tão alto.

— Quer um pouco de café?

— Obrigada... ah, mas deixe que eu vá buscar para o senhor, também. — Antes que pudesse detê-la, ela já se dirigira para a bandeja de café. Observou enquanto ela servia, delicadamente. Entregou-lhe a primeira xícara, com uma pequena reverência. — Por favor. — Riko Gresserhoff, ou Riko Anjin, mal chegava a um metro e meio, perfeitamente proporcionada, com cabelos curtos e um belo sorriso, e pesaria uns quarenta e um quilos. Sua blusa e a saia eram de seda castanho-avermelhada, bem-talhadas, e francesas. — Obrigada pelo dinheiro para as despesas que a srta. Claudia me deu.

— Não é nada. Nós lhe devemos, ao espólio do seu marido, cerca de oito mil libras. Terei pronto um cheque administrativo para a senhora amanhã.

— Obrigada.

— Estou em dívida para com a senhora, sra. Gresserhoff. Sabe...

— Por favor, chame-me de Riko, tai-pan.

— Muito bem, Riko-san. Sabe tudo a meu respeito, mas nada sei da senhora.

— É. Meu marido disse que eu lhe devia contar o que quisesse saber. Disse que, depois que me tivesse certificado de que era o tai-pan, devia entregar-lhe um envelope que trouxe da parte dele para o senhor. Posso trazê-lo mais tarde? — Novamente, o pequeno sorriso interrogativo. — Por favor?

— Irei agora com a senhora e o apanharei.

— Ah, não, seria muito trabalho. Talvez eu possa trazê-lo para o senhor depois do almoço. Por favor?

— De que tamanho é o envelope? As mãozinhas dela mediram o ar.

— É um envelope comum, mas não muito grosso. Pode pô-lo facilmente no bolso.

O mesmo sorriso, de novo.

— Quem sabe não gostaria de... escute — disse, encantado com a presença dela. — Daqui a um ou dois minutos mando o carro ir levá-la. A senhora pega o envelope e volta para cá. — A seguir, acrescentou, sabendo que ia bagunçar os lugares marcados, mas pouco se importando: — Quer nos fazer companhia no almoço, no hipódromo?

— Ah, mas... mas teria que mudar de roupa e... ah, obrigada, não, iria lhe causar muito transtorno. Não poderia entregar a carta mais tarde, ou amanhã? Meu marido falou que só a entregasse nas suas mãos.

— Não precisa mudar de roupa, Riko-san, está linda. Ah, tem um chapéu?

Ela o fitou, perplexa.

— Como disse?

— É, bem, é costume nosso que as senhoras usem chapéus e luvas para as corridas. É um costume bobo, mas a senhora tem? Um chapéu?

— Tenho. Toda senhora tem um chapéu, naturalmente. Ele sentiu uma onda de alívio.

— Ótimo, então está tudo acertado.

— Bem, se é isso o que o senhor quer... — Levantou-se. — Posso ir, agora?

— Não, se tiver tempo, por favor, sente-se. Durante quanto tempo foram casados?

— Quatro anos. Hans... — Hesitou. Depois, falou com firmeza: — Hans mandou que eu lhe dissesse, mas só ao senhor, caso ele morresse e eu viesse para cá, como vim, que lhe dissesse que o nosso foi um casamento de conveniência.

— Como?

Ela enrubesceu um pouco, mas continuou:

— Por favor, desculpe, mas ele mandou que eu lhe dissesse. Foi uma conveniência para ambos. Consegui cidadania e passaporte suíços, e ele obteve alguém para cuidar dele quando ia à Suíça. Eu... não queria me casar, mas ele me pediu muitas vezes e... enfatizou que isso me protegeria quando ele morresse.

Dunross sobressaltou-se.

— Ele sabia que ia morrer?

— Acho que sim. Disse que o contrato de casamento era apenas de cinco anos, e que não devíamos ter filhos. Levou-me a um advogado de Zurique, que redigiu o contrato para cinco anos. — Abriu a bolsa, os dedos trêmulos, mas não a voz, e tirou de Iá um envelope. — Hans mandou que eu lhe entregasse isso: são cópias do contrato, minha certidão de nascimento e casamento, o testamento e a certidão de nascimento dele. — Pegou um lenço de papel e apertou-o contra o nariz. — Desculpe, por favor.

Cuidadosamente, desamarrou o barbante que envolvia o envelope e tirou de Iá uma carta.

Dunross aceitou-a. Reconheceu a letra de Alan.

"Tai-pan: Esta confirmará que minha mulher Riko Gresserhoff — Riko Anjin — é quem alega ser. Eu a amo de todo o meu coração. Ela merece e merecia alguém bem melhor do que eu. Se ela precisar de ajuda... por favor, por favor, por favor."

Estava assinada por Hans Gresserhoff.

— Não mereço marido melhor, tai-pan — disse numa vozinha triste e confiante. — Ele foi bom para mim, muito bom. E lamento que esteja morto.

Dunross a fitava.

— Ele estava doente? Sabia que ia morrer de alguma moléstia?

— Não sei. Nunca me contou. Um dos seus pedidos antes de... antes de eu me casar com ele, era que não lhe fizesse perguntas, não perguntasse aonde ia, por quê, ou quando ia voltar. Devia aceitá-lo como era. — Um ligeiro arrepio a percorreu. — Era muito difícil viver assim.

— Por que concordou em viver assim? Por quê? Sem dúvida não era necessário, não?

Riko hesitou de novo.

— Nasci no Japão, em 1939, e fui ainda bebê com meus pais para Berna... meu pai era um funcionário subalterno na embaixada japonesa ali. Em 1943, voltou ao Japão, mas deixou-nos em Genebra. Nossa família é... nossa família era de Nagasáqui. Em 1945 meu pai morreu, toda a nossa família morreu. Não havia motivo para voltar, e minha mãe quis ficar na Suíça. Por isso fomos morar em Zurique com um homem bom, que morreu há quatro anos. Ele... eles pagaram meus estudos e me sustentaram, e formávamos uma família feliz. Durante muitos anos eu soube que não eram casados, embora fingissem, e eu também. Quando ele morreu, não deixou dinheiro, ou deixou muito pouco. Hans Gresserhoff era conhecido desse homem, meu padrasto. O nome dele era Simeon Tzerak. Era uma pessoa deslocada, tai-pan, um apátrida nascido na Hungria que fora morar na Suíça. Antes da guerra era contador em Budapeste, ao que dizia. Minha mãe combinou meu casamento com Hans Gresserhoff. — Então, ergueu os olhos do tapete e olhou para ele. — Foi... foi um bom casamento, tai-pan, pelo menos eu me esforcei muito para ser o que meu marido e minha mãe queriam que eu fosse. Meu giri, meu dever, era obedecer a minha mãe, neh?