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A tensão de Dunross era grande.

— Acho que todos precisamos de uma bebida — falou Alastair Struan. — Com sua permissão, servirei — acrescentou para Dunross, com formalismo incomum. — Phillip?

— Sim, tai-pan. Eu...

— Não. Ian é o tai-pan, agora.

Alastair Struan serviu o champanha e entregou a primeira taça a Dunross.

— Obrigado — disse Dunross, saboreando o gesto de cortesia, sabendo que nada mudara. — À Casa Nobre — falou, erguendo a taça.

Os três homens beberam, depois Alastair Struan pegou um envelope.

— Aqui está o meu pedido de demissão das sessenta e tantas presidências, gerências e diretorias que automaticamente fazem parte do cargo de tai-pan. Sua nomeação, em meu lugar, é igualmente automática. Conforme o hábito, passo a ser o presidente da nossa subsidiária de Londres... mas você pode cancelar a nomeação na hora em que quiser.

— Está cancelada — disse Dunross, imediatamente.

— Como queira — murmurou o velho, mas seu pescoço estava roxo.

— Acho que seria mais útil à Struan como vice-presidente da junta diretora do First Central Bank de Edimburgo.

Struan ergueu os olhos, vivamente.

— Como?

— É um dos nossos cargos, não é?

— É, sim — concordou Alastair Struan. — Mas por que isso?

— Vou precisar de ajuda. A Struan vai começar a vender ações ao público no ano que vem.

Os dois homens o fitaram, atônitos.

— O que?

— Vamos vender ações ao pú...

— Há cento e dezenove anos somos uma firma particular! — rugiu o velho. — Puta que o pariu, já lhe disse cem vezes que esta é a nossa força, sem nenhum acionista ou estranho amaldiçoado metendo o bedelho nos nossos assuntos privados! — O rosto dele estava afogueado, e lutava para controlar a raiva. — Você nunca presta atenção?

— Sempre. E cuidadosamente — disse Dunross, numa voz sem emoção. — O único meio de sobrevivermos é nos transformarmos em empresa de capital aberto... somente assim obteremos o capital de que precisamos.

— Fale com ele, Phillip... veja se lhe enfia algum juízo nessa cabeça!

Nervosamente, o representante nativo perguntou:

— Como isso afetará a Casa de Chen?

— O nosso sistema formal de representação nativa está terminado neste momento. — Viu o rosto de Phillip Chen perder a cor, mas continuou: — Tenho um plano para você... por escrito. Não muda nada... e muda tudo. Oficialmente, você ainda será o representante nativo da companhia; extra-oficialmente, operaremos de modo diferente. A principal mudança é que, ao invés de ganhar cerca de um milhão por ano, em dez anos sua participação lhe dará vinte milhões, e em quinze anos, cerca de trinta.

— Impossível! — exclamou Alastair Struan.

— O nosso patrimônio líqüido hoje é de cerca de vinte milhões de dólares americanos. Daqui a dez anos será de duzentos milhões, e daqui a quinze, com sorte, será de quatrocentos milhões, e nosso giro anual ficará perto de um bilhão.

— Você enlouqueceu — disse Struan.

— Não. A Casa Nobre vai se transformar numa companhia internacional, e os dias de companhia comercial de Hong Kong acabaram para sempre.

— Lembre-se do seu juramento, por Deus! Nossa sede fica em Hong Kong!

— Não me esquecerei. A seguir: qual a responsabilidade que herdei de Dirk Struan?

— Está tudo no cofre. Escrito num envelope lacrado onde se lê "O legado". Há também as "Instruções aos futuros tai-pans", da Bruxa.

— Onde fica o cofre?

— Atrás do quadro na Casa Grande. No escritório. — Alastair Struan apontou, com azedume, para um envelope ao lado do relógio sobre a lareira. — Ali está a chave especial, e a combinação atual do cofre. Naturalmente, você a mudará. Ponha os números numa das caixas de depósito particulares do tai-pan no banco, para o caso de um acidente. Dê a Phillip uma das duas chaves.

Phillip Chen falou:

— De acordo com nossos regulamentos, enquanto você for vivo o banco não pode me dar permissão para abri-la.

— A seguir: Tyler Brock e os filhos, aqueles sacanas, foram eliminados há quase cem anos.

— É, a linhagem masculina legítima foi eliminada. Mas Dirk Struan era vingativo, e sua vingança se estende além da sepultura. Há uma lista atualizada dos descendentes de Tyler Brock no cofre. É bem interessante lê-la, não é, Phillip?

— É, sim.

— Os Rothwells e os Tomms, Yadegar e sua prole, você conhecia. Mas Tusker está na lista, embora não o saiba, e Jason Plumm, e lorde Depford-Smyth, e, principalmente, Quillan Gornt.

— Impossível!

— Gornt não apenas é tai-pan da Rothwell-Gornt, nossa principal inimiga, como também é um descendente direto e secreto de Morgan Brock, direto, embora ilegítimo. É o último dos Brocks.

— Mas ele sempre alegou ser bisneto de Edward Gornt, o mercador da China americano.

— Ele descende mesmo de Edward Gornt. Mas Sir Morgan Brock era na verdade o pai de Edward, e Kristin Gornt, sua mãe. Ela era uma americana da Virgínia. Naturalmente, tudo ficou em segredo... a sociedade não perdoava mais facilmente então do que agora. Quando Sir Morgan se tornou o tai-pan da Brock, em 1859, mandou buscar esse filho ilegítimo da Virgínia, comprou-lhe uma sociedade na velha firma mercantil americana Rothwell e Companhia, em Xangai, e depois ele e Edward dedicaram-se a nos destruir. Quase o fizeram... sem dúvida causaram a morte de Culum Struan. Mas depois, Lochlin e a Bruxa Struan arrasaram Sir Morgan e destroçaram a Brock e Filhos. Edward Gornt nunca nos perdoou, e seus descendentes também jamais o farão. Aposto que têm, igualmente, um pacto com o seu fundador.

— Ele sabe que sabemos?

— Não sei. Mas é inimigo. A árvore genealógica dele está no cofre, junto com todas as outras. Foi meu avô quem a descobriu, por acaso, durante a Guerra dos Boxers, os fanáticos chineses, em 99. A lista é muito interessante, Ian. Uma pessoa em especial, para você, chefe da...

Uma súbita rajada violenta sacudiu o prédio. Um dos enfeites de marfim caiu de cima da mesa de mármore. Nervosamente, Phillip Chen botou-o em pé. Todos fitaram os janelões, vendo os seus reflexos se retorcerem de modo nauseante enquanto as rajadas distendíam as enormes vidraças.

— Tai-fun! — resmungou Phillip, com o suor aflorando à pele.

— É.

Esperaram com a respiração presa que o "Vento do Demônio" cessasse. Essas rajadas súbitas de vento e chuva apareciam de todos os pontos da bússola, a esmo, às vezes a uma velocidade de duzentos e oitenta quilômetros por hora. No seu rastro vinha sempre a devastação.

A violência passou. Dunross foi até o barômetro, examinou-o e deu-lhe uma leve batida: 980,3.

— Ainda está caindo — falou.

— Meu Deus!

Dunross apertou os olhos, fitando as janelas. Agora, as marcas de chuva eram quase horizontais.

— O Lasting Cloud devia aportar amanhã à noite.

— É, mas agora ficará rondando algum lugar perto das Filipinas. O comandante Moffatt é matreiro demais para ser apanhado — comentou Struan.

— Não concordo. Moffatt gosta de cumprir os horários. Este tufão não estava programado. Você... ele devia ter recebido ordens. — Dunross bebericou o seu champanha, pensativo. — É melhor que o Lasting Cloud não seja apanhado.

Phillip Chen percebeu a fúria latente.

— Por quê?

— Estamos com o nosso novo computador a bordo, e mais dois milhões de libras em motores a jato. Não segurados... pelo menos os motores não estão.

Dunross lançou um olhar para Alastair Struan.

Defensivamente, o homem mais velho falou:

— Foi inevitável para não perder o contrato. Os motores são destinados a Cantão. Sabe que não podemos segurá-los, Phillip, já que vão para a China Vermelha. — E acrescentou, irritado: — Eles têm... bem... donos sul-americanos, e não há restrições de exportação da América do Sul para a China. Mesmo assim, ninguém está disposto a segurá-los.