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— Só um minutinho, Casey. O que você está aprontando?

— O que quer dizer?

— Conheço-a melhor do que ninguém. Está tramando alguma coisa.

Casey hesitou, insegura, perguntando-se se realmente devia revelar a trama do First Central. "Não há motivo para fazê-lo", tranqüilizou-se. "Se o Ian obtiver o crédito e conseguir se safar, serei a primeira a saber. Ele prometeu. Aí, o Linc poderá cobrir os seus dois milhões com Gornt, e eles poderão recom-prar para cobrir as vendas a descoberto, e ter um lucro imenso. Ao mesmo tempo, Ian, Linc e eu entramos no mercado em baixa e obteremos o nosso próprio lucro, enorme. Serei a primeira a saber, depois do Murtagh e do Ian. Ian prometeu. É, foi, sim. Mas, será que posso confiar nele?"

Sentiu uma onda de náusea invadi-la. "Será que a gente pode confiar em alguém, comercialmente, aqui ou em outro lugar qualquer? Homem ou mulher?"

Na noite anterior, durante o jantar, confiara nele. Influenciada pelo vinho e pela comida, contara-lhe sobre o seu relacionamento com Linc, e o trato que haviam feito.

— É dureza, não? Para vocês dois?

— Sim e não. Ambos éramos maiores de idade, Ian, e eu queria ser algo mais do que apenas a sra. Linc Bartlett, mãe-amante-criada-lavadeira-de-pratos-lavadeira-de- fraldas-escrava-deixada-em-casa. Isso é o que acaba matando qualquer mulher. Ela é sempre abandonada. Em casa. Então, a casa acaba se tornando uma prisão, e isso a deixa maluca, o fato de ficar aprisionada até que a morte nos separe! Já vi isso acontecer muitas vezes.

— Alguém tem que cuidar da casa e das crianças. Cabe ao homem ganhar o dinheiro. Cabe à mulher...

— É. Na maioria das vezes. Mas não para mim. Eu não estou preparada para aceitar isso, e não acho que seja errado desejar um tipo de vida diferente. Sou eu quem ganha o sustento da minha família. O marido de minha irmã morreu, ela e os filhos precisam de ajuda. Minha mãe e meu tio estão velhinhos. Sou instruída, preparada, melhor do que muita gente no ramo. O mundo está mudando, tudo está mudando, Ian.

— Como já disse, não aqui, graças a Deus!

Casey lembrou-se de como já estava pronta para dar o troco na mesma moeda, mas mordeu a língua da antiga Casey e, ao invés disso, perguntou:

— Ian, e quanto à Bruxa? Como foi que ela conseguiu? Qual o segredo dela? Como se tornou superior aos outros?

— Os cordões da bolsa ficavam nas mãos dela. Totalmente. Ah, claro que concedia posição e prestígio externos a Culum e aos tai-pans seguintes, mas ela cuidava dos livros, contratava e despedia através dele... era a força daquela família. Quando Culum estava morrendo, foi fácil persuadi-lo a fazê-la tai-pan. Ele lhe entregou o carimbo da Struan, o carimbo da família, todas as rédeas e todos os segredos. Mas, sabiamente, ela manteve tudo em segredo, e depois de Culum só escolhia aqueles a quem podia controlar, e nem uma só vez deu a nenhum deles os cordões da bolsa, ou poder real, até que ela própria estivesse à morte.

— Mas dominar através dos outros será suficiente?

— O poder é o poder, e não creio que importe, contanto que se domine. Para uma mulher, depois de uma certa idade, o poder só vem através do controle do dinheiro. Mas você está certa quanto ao dinheiro do dane-se. Hong Kong é o único lugar no mundo onde você pode consegui-lo e mantê-lo. Com dinheiro, dinheiro grosso, pode-se ser igual a qualquer outro. Até mesmo Linc Bartlett. A propósito, gosto dele. Gosto muito dele.

— Eu o amo. Nossa parceria funcionou, Ian. Acho que tem sido boa para o Linc... ah, como espero que sim! Ele é o nosso tai-pan, e não estou tentando tomar o seu lugar. Só quero ter êxito como mulher. Ele tem me ajudado tremendamente, claro que tem. Sem ele, eu jamais teria conseguido. Assim somos sócios comerciais, até o meu aniversário, no dia 25 de novembro deste ano. É o Dia D. É quando ambos decidiremos.

— E...?

— Não sei, sinceramente não sei. Ah, eu amo o Linc mais do que nunca, porém não somos amantes.

Mais tarde, enquanto voltavam, na barca, ela sentira enorme vontade de fazer-lhe perguntas sobre Orlanda. Resolvera não fazer.

— Talvez eu devesse ter feito — resmungou em voz alta.

— O quê?

— Ah! — Voltou ao presente, encontrando-se na limu-sine, na balsa que levava a Hong Kong. — Desculpe, Linc, estava sonhando acordada.

Olhou para ele, e viu que continuava bonito como sempre, embora olhasse para ela friamente. "Você me atrai mais do que o Ian ou o Quillan", pensou. "E no entanto, agora, preferiria ir para a cama com qualquer um deles, e não com você. Porque você é um filho da mãe."

— Quer ir às últimas conseqüências? — dizia ele. — Quer pôr suas ações em votação contra as minhas?

Casey devolveu-lhe o olhar, furiosa. "Diga a ele para se foder", gritava-lhe a sua metade diabo, "precisa de você mais do que você dele, você tem as rédeas da Par-Con, sabe onde estão todos os podres, pode destroçar o que ajudou a criar." Mas sua outra metade lhe pedia cautela. Lembrou-se do que o tai-pan dissera sobre esse mundo dos homens, sobre o poder. E sobre a Bruxa.

Assim, baixou os olhos por um instante e deixou as lágrimas escorrerem. Imediatamente, notou a mudança nele.

— Puxa, Casey, não chore, desculpe... — dizia, estendendo os braços para ela. — Puxa, você nunca chorou antes... Escute, já cortamos um dobrado uma dúzia de vezes. Que nada! Umas cinqüenta vezes. Não há necessidade de ficar tão nervosa. Fizemos a Struan e Gornt se engalfinharem. No final não haverá diferença. Ainda seremos a Casa Nobre, mas no futuro o Gornt será o melhor, sei que estou certo.

"Mas não está mesmo", pensou, satisfeita, aconchegada a ele.

64

12h32m

Brian Kwok berrava, alucinado de terror. Sabia que estava na prisão e no inferno, e que aquilo já durava eternamente. Todo o seu mundo insano era um instante de luz cegante que nunca acabava, tudo cor de sangue, as paredes, piso, teto da cela cor de sangue, nem portas nem janelas, o chão cheio de sangue, mas tudo retorcido e de cabeça para baixo, pois, não sabia como, estava deitado no teto, todo o seu ser em tormento, tentando desesperadamente arrastar-se para a normalidade, e todas as vezes voltando a cair dentro do próprio vômito, depois, no instante seguinte, novamente a escuridão, vozes ásperas e estridentes que abafavam a do seu amigo, abafavam a de Robert, que implorava aos demônios que parassem, parassem, pelo amor de Deus parassem, depois novamente a luz de sangue ofuscante, alucinante, vendo as águas de sangue que não caíam, tateando desesperadamente, esticando-se para pegar as cadeiras e mesa que pousavam na água de sangue, mas caindo, sempre caindo, o chão tocando o teto, tudo errado, de cabeça para baixo, de lado, loucura, loucura, a invenção do demônio...

Luz de sangue, escuridão, risos, fedor e sangue de novo, indefinidamente...

Sabia que havia séculos estava delirando, suplicando-lhes que parassem, suplicando-lhes que o soltassem, jurando que faria qualquer coisa, mas que o soltassem, que não era ele a pessoa que buscavam, destinada ao inferno... "É um engano, é tudo um engano. Não, não é engano, eu era o inimigo, quem era o inimigo, que inimigo? Oh, por favor, deixem o mundo ficar na posição certa e deixem-me deitar onde devia estar deitado, Iá embaixo, onde, oh, Deus, Robert, Deus, me ajudem, me aju-deeemmm..."

— Pronto, Brian, estou aqui. Estou consertando tudo, estou sim, estou consertando tudo!

Escutou as palavras compassivas que ecoavam em meio à confusão, abafando as risadas. O sangue que o envolvia desapareceu. Sentiu a mão do amigo, fresca e suave, e agarrou-se a ela, apavorado de que aquilo fosse um outro sonho dentro de um sonho. "Ah, meu Deus, Robert, não me deixe...

"Ah, Deus, é impossível! Olhe só! O teto está onde devia estar, e eu estou aqui, estou deitado na cama onde devia estar, e o quarto está apenas na penumbra, tudo está limpo, flores, persianas cerradas, mas flores e a água direitinho no vaso, e estou de cabeça para cima. Estou de cabeça para cima."