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— Ah, santo Deus, Robert...

— Alô, amigão — disse Robert Armstrong suavemente.

— Ah, Deus, Robert, obrigado, obrigado, estou de cabeça para cima, oh, obrigado, obrigado...

Era difícil falar, e ele se sentia fraco, completamente sem forças, mas era maravilhoso apenas estar ali, fora do pesadelo, o rosto do amigo indistinto mas real. E fumando. "Estou fumando? Ah, estou. É, acho que me lembro de que o Robert me deixou um maço de cigarros, mas esses demônios chegaram, o encontraram e o tiraram de mim, na semana passada... graças a Deus pelo cigarro... Quando é que foi, no mês passado, na semana passada, quando? É, eu me lembro, mas Robert voltou de novo, e me deixou fumar em segredo no mês passado. Não foi no mês passado?"

— Ah, que gosto bom, tão bom, e a paz, nenhum pesadelo, Robert, nada de enxergar sangue Iá em cima, o teto inundado, não ficar deitado Iá em cima, mas aqui embaixo, não estar no inferno, oh, obrigado, obrigado...

— Tenho que ir, agora.

— Ah, Deus, não se vá! Eles podem voltar. Não vá, sente-se, fique, por favor, fique. Olhe, vamos conversar, é, é isso, conversar, você queria conversar... não vá embora. Por favor, converse...

— Está certo, velho amigo, então converse. Não vou embora enquanto estivermos conversando. O que quer me contar, hem? Claro que ficarei enquanto você fala. Fale-me de Ning-tok e do seu pai. Você não voltou para vê-lo?

— Ah, sim, voltei para vê-lo uma vez, é, pouco antes de ele morrer. Meus amigos me ajudaram, eles me ajudaram. Foi só um dia, meus amigos me ajudaram... faz tanto tempo...

— O Ian foi com você?

— Ian? Não, foi... foi o Ian? Não consigo lembrar... Ian, o tai-pan? Alguém foi comigo. Foi você, Robert? Ah, comigo em Ning-tok? Não, não foi você ou o Ian, foi John Chancellor, de Ottawa. Ele também odeia os soviéticos, Robert, eles são os grandes inimigos. Até mesmo na escola, e o demônio

Chang Kai-chek e seus assassinos Fong-fong e... e... Ah, estou tão cansado e tão contente em vê-lo...

— Fale-me de Fong-fong.

— Ah, ele. Era um homem mau, Robert, ele e todo o seu grupo de espiões eram contra nós, a República Popular da China, e pró-Chang, eu sei; não se preocupe, logo que li o... O que está me perguntando, hem?

— Foi aquele cretino do Grant, não foi?

— Foi, foi, sim, e eu quase desmaiei quando ele soube que eu era... eu... onde estava, ah, sim, mas eu detive Fong-fong imediatamente... Ora se não!

— A quem contou?

— Ao Tsu-yan. Sussurrei a Tsu-yan. Ele agora está de volta a Pequim... Ah, ele ocupava uma posição altíssima, embora não soubesse quem eu realmente era, Robert, sempre fiz tudo muito escondido... É, depois foi na escola, meu pai me mandou depois que o velho Sh'in foi assassinado... os bandidos vieram e o chicotearam até a morte na praça da aldeia, porque era um de nós, um do povo, um do povo do presidente Mao, e quando morei em Hong Kong fiquei com... com o Tio... ia à escola e ele me dava aulas à noite... Posso dormir, agora?

— Quem era o seu tio, Kar-shun, e onde morava?

— Não... não me lembro...

— Então, preciso ir. Na semana que vem eu volto...

— Não, espere, Robert, espere, era Wu Tsa-fing, no... no Quarto Beco, em Aberdeen... número 8, 8 de sorte, quinto andar. Está vendo, lembrei! Não vá!

— Muito bem, amigo, muito bem. Esteve na escola em Hong Kong por muito tempo?

Robert Armstrong manteve a voz suave e bondosa, o coração condoído do amigo do passado. Estava atônito ao ver que Brian cedera tão fácil e rapidamente.

A mente do cliente agora estava aberta, pronta para que ele a desmontasse. Manteve os olhos fitos na casca de homem que jazia na cama, encorajando-o a lembrar-se para que os outros que escutavam secretamente pudessem registrar todos os fatos, números, locais e nomes, as verdades e meias verdades do agente infiltrado que jorravam e continuariam a jorrar até que Brian Kar-shun Kwok não passasse de um bagaço. E sabia que continuaria a sondar, lisonjear ou ameaçar, ficar impaciente ou zangado, fingir que ia embora ou xingar o carcereiro que vinha interromper, e mandar que ele se retirasse, se necessário. Com Crosse e Sinders controlando o interrogatório, ele não passava de um instrumento, como Brian Kwok fora, um instrumento para outros que se haviam utilizado de sua mente e de seus talentos para seus próprios propósitos. O papel dele era apenas servir de intermediário, manter ò cliente falando, trazê-lo de volta à razão quando ficasse incoerente, ser seu único amigo e esteio nesse universo irreal, aquele que trazia à tona a verdade... como, por exemplo, John Chan-cellor, de Ottawa. Quem seria? Onde se encaixava? Ainda não sabia.

"Arrancaremos agora tudo o que o cliente tem", pensou. "Arrancaremos dele todos os seus contatos, mentores, inimigos e amigos. Pobres do Fong-fong e dos rapazes! Jamais os veremos de novo... a não ser que apareçam como agentes do outro lado. Que negócio podre e nojento é este, vendendo os amigos, trabalhando com o inimigo, que, todos sabem, quer vê-lo escravizado."

— ... em Vancouver foi uma maravilha, uma maravilha, Robert. Lá havia uma moça que... é, e quase me casei com ela, mas o Tok Sensato, o Sensato era o meu 489, morava na... é, morava na Pedder Street, no Bairro Chinês, e era dono do Restaurante Hoho-tok... é, Tok Sensato disse que o presidente Mao estava acima de qualquer quai loh... Ah, como eu a amava, mas ele disse que foram os quai loh que violentaram a China durante anos... Você sabe que é verdade, é verdade ...

— Sim, é verdade — disse ele, para agradá-lo. — O Tok Sensato era o seu único amigo no Canadá?

— Ah, não, Robert, tenho dúzias deles...

Armstrong escutava, espantado com a riqueza de informações sobre o funcionamento interno da Real Polícia Montada Canadense, e a extensão da infiltração comunista chinesa nas Américas e na Europa, especialmente no litoral ocidental. — Vancouver, Seattle, San Francisco, Los Angeles, San Diego... em qualquer lugar onde houvesse um restaurante, loja ou atividade comercial chinesa havia o potencial de pressão, de fundos, e principalmente de conhecimento.

— ...e o Wo Tuk, na Gerrard Street, em Londres, é o centro onde eu... quando eu... Ah, minha cabeça dói, e tenho tanta sede...

Armstrong deu-lhe a água, que continha estimulante. Quando ele ou Crosse achassem que era o momento preciso, o cliente receberia o chá chinês de sabor delicado de sua predileção, para mitigar-lhe a sede. Continha o soporífero.

Então, cabia a Crosse e Sinders decidir o que se seguiria: mais interrogatório, mais Quarto Vermelho ou o fim do exercício, e então, cuidadosamente, a volta gradativa do cliente à realidade, com muita cautela, para não haver danos permanentes.

"Cabe a eles a decisão", pensou. "Sinders agiu bem em pressionar enquanto ainda temos tempo. O cliente sabe demais. Foi muito bem treinado, e se tivéssemos que devolvê-lo sem arrancar o que sabe, bem, isso seria uma irresponsabilidade. Temos que levar vantagem."

Armstrong acendeu dois cigarros e tragou profundamente o seu. "Vou parar de fumar no Natal. Agora não dá, não com todo esse horror." Tinham sido os gritos chorosos de Brian Kwok, tão cedo, cerca de vinte minutos depois de ter sido colocado no quarto pela segunda vez, que o haviam derrubado. Estivera olhando pelas vigias com Crosse e Sinders, observando a insanidade de tentar alcançar o teto que era o chão que era o teto, atônito por ver alguém tão forte, tão bem-treinado quanto Brian Kwok dobrado tão rapidamente.

— É impossível — murmurara.

— Pode estar fingindo — disse Sinders.

— Não — dissera Crosse. — Não, é real. Eu sei.

— Não acredito que possa ser dobrado com tanta facilidade.

— Acreditará, Robert. — E então, quando Brian Kwok fora carregado para aquele quarto limpo e agradável, e o Quarto Vermelho fora esfregado e limpo, Roger Crosse dissera: — Vamos Lá, Robert, experimente. Assim saberá.