"Deus nos livre das mulheres americanas!
"Ayeeyah, vai custar bem caro a Lincoln Bartlett ter ousado nos impingir... esta criatura", prometeu a si mesmo. "Que ousadia!"
Apesar disso, sua mente calculava o valor espantoso do negócio que lhes estavam oferecendo. "Significa pelo menos cem milhões de dólares americanos, potencialmente, ao longo dos próximos anos", disse a si mesmo, com a cabeça girando. "Isso dará à Casa Nobre a estabilidade de que precisa.
"Ah, que dia feliz!", rejubilava-se. "E um co-financiamento de dólar por dólar! Incrível! Que burrice dar-nos isso tão depressa sem exigir nem uma concessãozinha em troca! Burrice, mas o que se pode esperar de uma mulher burra? Ayeeyah, a costa do Pacífico se entupirá de todos os produtos de espuma de poliuretano que faremos... para embalagem, construção, pertences de cama e material isolante. Uma fábrica aqui, uma em Formosa, outra em Cingapura, uma em Kuala Lumpur, e uma última, inicialmente, em Jacarta. Ganharemos milhões, dezenas de milhões. E quanto à agência de arrendamento de computadores, ora, com o aluguel que esses idiotas estão nos oferecendo, dez por cento menos do que a lista de preços da IBM, menos a nossa comissão de sete e meio por cento... bastava pechinchar um pouco que teríamos concordado de bom grado com cinco por cento... já no próximo fim de semana posso vender três em Cingapura, uma aqui, outra em Kuala Lumpur, e uma para aquele armador pirata na Indonésia, com um lucro limpo de sessenta e sete mil e quinhentos dólares cada, ou quatrocentos e cinco mil dólares com seis telefonemas. E quanto à China...
"E quanto à China...
"Ah, todos os deuses, grandes, pequenos e muito pequenos, ajudem este negócio a se concretizar, e darei dinheiro para um novo templo, uma catedral, em Tai-ping Shan", prometeu, cheio de fervor. "Se a China não ficar muito em cima, ou pelo menos facilitar um pouquinho, poderemos fertilizar os arrozais da província de Kwantung e depois de toda a China, e durante os próximos doze anos esta transação significará dezenas de centenas de milhões de dólares, dólares americanos, não dólares de Hong Kong!"
A idéia de tanto lucro diminuiu sua ira consideravelmente.
— Acho que esta proposta pode ser a base para uma discussão posterior — disse, acabando de ler. — Não acha, Andrew?
— Acho. — Gavallan largou a carta. — Ligarei para eles depois do almoço. Quando seria conveniente para o Sr. Bartlett... e para a senhorita, naturalmente... nos encontrarmos?
— Hoje à tarde... quanto mais cedo melhor... ou amanhã, a qualquer hora, mas Linc não virá. Cuido de todos os detalhes, é o meu serviço — disse Casey, vivamente. — Ele determina a política a ser seguida... e assinará formalmente os documentos finais... depois que eu os tiver aprovado. Afinal, esta é a função do comandante supremo, não é?
Abriu-lhes um sorriso de orelha a orelha.
— Marcarei uma hora e deixarei recado no seu hotel — disse Gavallan.
— Quem sabe poderíamos marcar a hora agora... e já liquidar esse assunto?
Com azedume, Gavallan olhou para o relógio. Quase hora do almoço, graças a Deus.
— Jacques... qual a melhor hora para você, amanhã?
— Na parte da manhã é melhor do que à tarde.
— E para o John também — disse Phillip Chen. Gavallan pegou o telefone e discou.
— Mary? Ligue para Dawson e marque hora para amanhã às onze, incluindo o Sr. De Ville, o Sr. John Chen e a srta. Casey na entrevista. No escritório deles. — Desligou o aparelho. — Jacques e John Chen cuidam de todos os nossos assuntos corporativos. John tem experiência com problemas americanos, e Dawson é o perito. Mandarei um carro apanhá-la às dez e meia.
— Obrigada, mas não precisa se incomodar.
— Como queira — disse ele, cortesmente. — Talvez seja hora de pararmos para almoçar.
Casey falou:
— Ainda temos um quarto de hora. Vamos começar a debater como gostariam do nosso financiamento? Ou, se preferirem, podemos mandar buscar uns sanduíches e seguir trabalhando.
Eles a fitaram, aparvalhados.
— Trabalhar durante o almoço?
— Por que não? É um velho costume americano.
— Graças a Deus não é costume aqui — disse Gavallan.
— É — exclamou Phillip Chen, com brusquidão.
Ela sentiu a desaprovação deles cair sobre si como um manto, mas nem ligou. Que fossem todos à merda, pensou, com irritação, depois forçou-se a mudar de atitude. "Escute, idiota, não deixe esses filhos da puta pegarem no seu pé!" Sorriu meigamente:
— Se quiserem parar agora para almoçar, para mim tudo bem.
— Ótimo — disse Gavallan imediatamente, e os outros deram um suspiro de alívio. — Começamos a almoçar às doze e quarenta. Talvez queira retocar a maquilagem antes.
— Quero, sim, obrigada — falou, sabendo que eles a queriam longe dali, para poderem discutir a sua pessoa... e depois a transação. "Podia ser diferente", pensou, "mas não vai ser. Não. Vai ser como sempre. Vão apostar para ver quem será o primeiro a me comer. Mas não vai ser nenhum deles, porque eu não quero nenhum deles no momento, embora sejam atraentes, cada um ao seu modo. Esses homens são iguais a todos os outros que já conheci. Não querem amor, querem apenas sexo.
"Exceto Linc.
"Não pense em Linc nem no seu amor por ele, nem em como esses anos foram terríveis. Terríveis e maravilhosos.
"Lembre-se da sua promessa.
"Não pensarei em Linc e no amor.
"Não até o dia do meu aniversário, daqui a noventa e oito dias. No nonagésimo oitavo dia termina o sétimo ano, e, graças ao meu querido, terei o meu dinheiro do não enche, seremos realmente iguais e, se Deus quiser, teremos a Casa Nobre. Será este o meu presente de casamento para ele? Ou o dele para mim?
"Ou um presente de despedida?"
— Onde fica o toalete das senhoras? — perguntou, levantando-se, e todos ficaram de pé, bem mais altos do que ela, exceto Phillip Chen, que era uns dois centímetros e meio mais baixo. Gavallan indicou-lhe o banheiro.
Linbar Struan abriu a porta para ela, e fechou-a às suas costas. Depois, abriu um sorriso.
— Aposto mil que esta você não consegue, Jacques.
— Mais mil — disse Gavallan. — E dez que você não consegue, Linbar.
— A aposta está valendo — disse Linbar —, desde que ela passe um mês aqui.
— Está ficando muito devagar, hem, meu velho? — disse Gavallan. Depois, virou-se para Jacques. — E então?
O francês sorriu.
— Aposto vinte que você, Andrew, jamais conseguirá dobrar com o seu encanto a senhorita, e levá-la para a cama... e quanto a você, pobre jovem Linbar, cinqüenta contra o seu cavalo de corrida, que terá o mesmo resultado.
— Gosto da minha égua, pelo amor de Deus. Noble Star tem grande chance de ser vencedora. É a melhor do nosso estábulo.
— Cinqüenta.
— Cem, e posso pensar no seu caso.
— Não desejo nenhum cavalo a esse preço. — Jacques sorriu para Phillip Chen. — O que acha, Phillip?
Phillip Chen se levantou.
— Acho que vou para casa, deixando vocês, garanhões, com os seus sonhos. O gozado é que estão todos apostando que os outros não conseguirão... nenhum apostou que conseguirá.
Novamente, todos riram.
— Que burrice dar-nos o extra, não? — comentou Gavallan.
— O negócio é fantástico — disse Linbar Struan. — Puxa vida, tio Phillip, é fantástico!
— Como o derrière dela — falou De Ville, como um connaisseur. — Hem, Phillip?
Simpaticamente, Phillip Chen assentiu e saiu da sala, mas, ao ver Casey entrar no toalete das senhoras, pensou: "Ayeeyah, e quem ia querer esse monte de carne?"
Dentro do banheiro, Casey olhou à sua volta, estupefata. Era limpo, mas cheirava a ralos velhos, e havia baldes empilhados uns sobre os outros, e alguns estavam cheios de água. O chão era ladrilhado, mas estava molhado e sujo. "Já tinha ouvido dizer que os ingleses não primam pela higiene", pensou, enojada, "mas aqui na Casa Nobre? Puxa! Espantoso!"