— Pug, que tal dois milhões de dólares americanos, junto com os papéis, às nove e meia de segunda-feira? Prova de boa fé.
Uma exclamação abafada percorreu o aposento. Havergill, Johnjohn, Southerby, Gornt, estavam todos estupefatos. Phillip Chen quase desmaiou. Involuntariamente, Havergill começou:
— Ian, não acha que nós, bem... Dunross virou-se bruscamente para ele.
— Por quê? Não acha o bastante, Paul?
— Oh, sim, claro, mais do que o bastante, mas, bem... Havergill foi parando de falar, sob o olhar de Dunross.
— Ah, por um momento... — Dunross se deteve, fingindo ter tido um súbito pensamento. — Ora, não precisa se preocupar, Paul, não o envolvi sem o seu consentimento, é claro. Tenho financiamento alternativo para essa transação, financiamento externo — continuou, com seu encanto suave.
— Como sabem, bancos japoneses e muitos outros estão ansiosos para se expandir na Ásia. Achei melhor, para manter tudo secreto e impedir os "vazamentos " habituais, obter o financiamento externamente até estar pronto para fazer o comunicado. Felizmente, a Casa Nobre tem amigos no mundo todo! Até logo mais, para todos!
Virou-se e saiu. Phillip Chen seguiu-o. Martin Haply dirigiu-se para o telefone, e então todos começaram a falar a um só tempo, dizendo "Não acredito, pombas, que o Ian tenha esse tipo de fundos externos..."
Em meio à confusão, Havergill perguntou a Johnjohn:
— Qual o banco japonês?
— Tomara eu soubesse. Se o Ian obteve o financiamento para essa... meu Deus, dois milhões de dólares americanos é o dobro do que precisaria oferecer.
Southerby, que esperava junto deles, enxugou a palma das mãos.
— Se o Ian fechar esse negócio, valerá dez milhões de dólares americanos no primeiro ano, no mínimo. — Deu um sorriso sardônico. — Bem, Paul, está parecendo que nós dois ficamos por fora dessa boca.
— É, é o que parece, mas não sei como o Ian pôde... e manter tudo tão secreto!
Southerby inclinou-se mais para junto dele.
— Nesse meio tempo — perguntou baixinho —, o mais importante: e quanto ao Tiptop?
— Nada, ainda nada. Não respondeu aos meus telefonemas, nem aos do Johnjohn. — Os olhos de Havergill pousaram em Gornt, que agora estava conversando em particular com Plumm. — E Quillan, o que fará agora?
— Terá que comprar logo cedo na segunda. Tem que fazê-lo. Agora tem, é perigoso demais deixar como está — disse Southerby.
— Concordo — falou Sir Luís Basílio, reunindo-se a eles. — Se o Ian pode dispor de tanto dinheiro, quem andou vendendo as ações dele a descoberto que se cuide. Por falar nisso, andamos comprando ações da General Stores para representantes, nesta última semana. Provavelmente o Ian, não? Ele tem que ter tomado uma posição, o sortudo!
— É — resmundou Johnjohn. — O que não consigo é descobrir... Santo Deus, e se agora ele vencer com Noble Star? Com uma sorte dessas, podia virar toda essa situação a seu favor! Sabe como são os chineses.
— É — falou Gornt, intrometendo-se, e espantando-os.
— Mas graças a Deus não somos todos chineses. Ainda temos que ver a cor do dinheiro.
— Ele tem que tê-lo... precisa tê-lo — falou Johnjohn.
— É uma questão de prestígio.
— Ah, prestígio. — Gornt tornou-se sarcástico. — Às nove e meia, não? Se ele fosse realmente esperto, teria dito meio-dia, ou três horas, assim teríamos passado o dia todo sem saber, e ele poderia ter-nos manipulado o dia todo. Mas, agora... — Gornt deu de ombros. — De qualquer modo eu ganho milhões, se não o controle.
Lançou um olhar para o outro lado da tribuna barulhenta, fez um sinal de cabeça para Bartlett e Casey, depois afastou-se.
Bartlett tomou Casey pelo braço, e conduziu-a até o balcão.
— O que achou? — perguntou ele, baixinho.
— Do Gornt?
— Do Dunross.
— Fantástico! Ele é fantástico. "Banco japonês"... uma pista falsa espetacular — disse ela, entusiasmada. — Pôs o grupo todo louco, dava para se ver, e se pôs esse grupo, porá Hong Kong inteira. Ouviu o que disse Southerby?
— Claro. Parece que vamos todos ficar numa boa... se ele conseguir escapar da armadilha de Gornt.
— Tomara que sim. — Foi então que ela notou o sorriso dele. — O que foi?
— Sabe o que acabamos de fazer, Casey? Acabamos de comprar a Casa Nobre com a promessa de dois milhões de dólares.
— Como?
— O Ian está fazendo o jogo confiando nos meus dois milhões.
— Não é um jogo, Linc. Foi um trato.
— Claro. Mas, digamos que eu não entre com a grana. Todo o seu castelo de cartas desaba. Se não conseguir aqueles dois milhões, está acabado. Ontem, disse ao Gornt que eu podia puxar o tapete na segunda de manhã. Digamos que eu retire os dois milhões do Ian antes de o mercado abrir. O Ian entra pelo cano.
Ela o fitou, abismada.
— Você não faria isso!
— Viemos para cá para fazer uma incursão e nos tornarmos a Casa Nobre. Olhe o que o Ian fez com o Biltzmann, o que todos eles fizeram com ele. O pobre coitado nem soube direito o que o atingiu. Pugmire fez um acordo, mas voltou atrás para aceitar a proposta melhor do Ian. Certo?
— Isso é diferente. — Olhou fundo nos olhos dele. — Vai voltar atrás, depois de ter feito um acordo?
Bartlett deu um sorriso estranho, olhou Iá para baixo, para a multidão espremida, e para o totalizador.
— Pode ser. Pode ser que isso dependa de quem faça o quê para quem durante o fim de semana. Gornt ou Dunross, pra mim dá no mesmo.
— Não concordo.
— Claro, Casey, eu sei — disse ele, calmamente. — Mas são os meus dois milhões e o meu jogo.
— É, e a sua palavra e o seu prestígio! Você selou o acordo com um aperto de mãos.
— Casey, essa turma aqui comeria a gente no café da manhã, se tivesse uma chance. Acha que Dunross não nos passaria a perna, se tivesse que escolher entre ele e nós? Depois de uma pausa, ela falou:
— Está querendo dizer que um acordo nunca é um acordo, não importa o quê?
— Quer quatro milhões livres de impostos?
— Já sabe a resposta.
— Digamos que você vá receber quarenta e nove por cento da nova companhia Par-Con-Gornt, limpinhos. Deve valer isso.
— Mais — retrucou, temendo o rumo que a conversa tomava, e pela primeira vez na vida repentinamente insegura quanto a Bartlett.
— Quer esses quarenta e nove por cento?
— Em troca do quê, Linc?
— Em troca do apoio integral, cem por cento, à Gornt-Par-Con.
Sentiu uma fraqueza no estômago e olhou para ele, insistentemente, tentando ler seus pensamentos. Normalmente podia fazê-lo, mas não mais, desde Orlanda.
— É o que você está me oferecendo?
Ele sacudiu a cabeça, com o mesmo sorriso, a mesma voz.
— Não. Ainda não.
Ela estremeceu, temendo aceitar o negócio, se a oferta fosse pra valer.
— Que bom, Incursor. É, que bom, acho.
— A questão é direta e simples, Casey: Dunross e Gornt jogam para vencer, mas com objetivos diferentes. Ora, esta tribuna particular significaria mais para eles dois do que dois ou quatro milhões. Nós viemos para cá, eu e você, para obter lucro e vencer.
Os dois olharam para o céu, ao sentirem algumas gotas de chuva. Mas elas caíam do toldo, não voltara a chover. Ela começou a dizer qualquer coisa, depois parou.
— O que é, Casey?
— Nada.
— Vou circular por aí, ver qual é a reação. Encontro-a no nosso reservado.
— E quanto ao quinto? — perguntou ela.
— Espere pelas probabilidades. Volto antes da largada.
— Divirta-se!
Acompanhou-o com os olhos enquanto ele se retirava. Depois virou-se e debruçou-se no balcão para se esconder dele e de todos. Quase fizera a pergunta: "Vai puxar o tapete e voltar atrás?"
"Meu Deus, antes de Orlanda... antes de Hong Kong... eu jamais precisaria fazer a pergunta. Linc jamais voltaria atrás num acordo, antes. Mas agora, agora não tenho certeza."