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Afastou-se. Armstrong acompanhou-o com os olhos, odiando-o.

"O sacana tem razão", pensou. "Sempre haverá mais. E se você aceitou o primeiro, por que não o segundo? E embora você não dê nada, não admita nada, não garanta nada, chegará um dia... tão certo como Deus criou os peixinhos do mar, sempre haverá uma retribuição.

"Mary. Ela precisa de umas férias, precisa muito, e há a conta do corretor a pagar, e todas as outras contas, e oh, Deus, com esse mercado que endoidou estou quase a zero. Maldito seja o dinheiro... ou a falta dele.

"Os quarenta numa loteria vencedora resolveriam tudo. Ou jogo tudo em Pilot Fish? Tudo, a metade ou nada. Se for tudo, há tempo de sobra para fazer apostas nos outros guichês."

Seus pés o conduziram para uma das filas de apostas. Muitos o reconheceram, e aqueles que o fizeram, sentindo seu instantâneo medo interno, desejaram que a polícia tivesse a sua própria tribuna e seus próprios guichês, e não se misturasse aos cidadãos honestos. Wu Quatro Dedos era uma dessas pessoas. Apressadamente, apostou cinqüenta mil nos números de Pilot Fish e Butterscotch Lass, e voltou rapidinho para a sala dos sócios, para bebericar o seu conhaque com soda, agradecido. "Polícia carne de cachorro nojenta, assustando cidadãos honestos", pensou, esperando pela volta de Vênus Poon. "Eeeee", casquinou ele, "a Ravina Dourada dela vale cada quilate do diamante que lhe prometi ontem à noite. Duas Nuvens e Chuva antes do alvorecer e uma promessa de novo encontro no domingo, quando o yang recobrar o seu..."

Um urro súbito da multidão Iá fora desviou seu pensamento. Prontamente, foi abrindo caminho aos empurrões pelo povo que lotava o balcão. Os nomes dos cavalos e jóqueis do quinto páreo apareciam no painel, um por um. Pilot Fish, número 1, recebeu vivas entusiásticos; depois Street Vendor, um azarão, 2; Golden Lady, 3, e uma onda de emoção varreu os seus muitos torcedores. Quando Noble Star, 7, apareceu no painel, ouviu-se uma enorme zoeira, e quando apareceu o último nome, número 8, a favorita Butterscotch Lass, a zoeira ainda foi maior.

Junto à cerca, Dunross e Travkin inspecionavam sombriamente a grama. Estava danificada e escorregadia. Quanto mais perto da cerca, pior. Acima, o céu ficava mais escuro e pesado. Começou a chuviscar, e um gemido nervoso escapou de cinqüenta mil gargantas.

— Está uma droga, tai-pan — disse Travkin —, a pista está uma droga.

— Está igual para todos.

Dunross reavaliou as probabilidades pela última vez. "Se eu montar e ganhar, o bom augúrio será imenso. Se eu montar e perder, será um péssimo augúrio. Ser derrotado por Pilot

Fish será ainda pior. Eu poderia me ferir facilmente. Não posso me permitir... a Casa Nobre não se pode permitir ficar acéfala hoje, amanhã ou segunda-feira. Se Travkin montar e perder, ou acabar a corrida depois de Pilot Fish, será ruim, mas não tão ruim. Será joss.

"Mas não vou me ferir. Vou ganhar. Quero vencer esse páreo mais do que qualquer coisa no mundo. Não vou falhar. Não tenho certeza quanto ao Aleksei. Posso ganhar... se os deuses estiverem comigo. É, mas o quanto você está preparado para arriscar nos deuses?"

— Eeee, jovem Ian — dissera-lhe o velho Chen-chen muitas vezes —, não se fie muito na ajuda dos deuses, não importa o quanto você lhes ofereça em ouro e promessas. Os deuses são os deuses, e os deuses vão almoçar ou dormir, ficam chateados e desviam os olhos. Os deuses são iguais às pessoas: bons e maus, preguiçosos e fortes, doces e amargos, burros e sábios! Por que outro motivo são deuses, heya?

Dunross podia sentir seu coração batendo forte, e sentir o cheiro quente, acre, doce e azedo do suor dos cavalos, a movimentação que cegava a mente e agitava o espírito, as mãos agarrando o chicote, encolhido no canto, agora na reta anterior, agora a curva final, o terror fantástico, doído, doce da velocidade, usando o chicote, enfiando os calcanhares, todo estirado agora, cuidadosamente encostando Pilot Fish na cerca, desequilibrando-o, e agora na reta final, à toda na final, Pilot Fish vindo atrás, a linha de chegada adiante... chegando... chegando... vencendo...

— Temos que decidir, tai-pan. É a hora.

Dunross voltou devagar ao presente, um gosto amargo na boca.

— É. Você monta — falou, colocando a Casa Nobre antes dele mesmo.

E agora que tinha falado, pôs o resto de lado e bateu calorosamente nos ombros de Travkin.

— Vença, Aleksei. Vença, por Deus.

O homem mais velho, curtido e castigado pelo tempo, ergueu os olhos para ele. Fez um sinal de cabeça, depois foi se trocar. Enquanto se afastava, notou Suslev na tribuna, es-piando-o pelo binóculo. Um tremor o percorreu. Suslev prometera que, no Natal, Nestorova viria para Hong Kong, permitiriam que ela se unisse a ele em Hong Kong... e ficasse em Hong Kong... no Natal. Se ele cooperasse. Se cooperasse e fizesse o que lhe pedissem.

"Você acredita nisso? Não, não, de jeito nenhum, aqueles matieriebiets são mentirosos e traidores. Mas quem sabe desta vez... Santo Deus, por que mandaram que fosse me encontrar com Dunross no Sinclair Towers à noite, tarde da noite? Por quê? Santo Deus, que devo fazer? Não pense, velho. Você está velho e logo vai morrer, mas seu primeiro dever é vencer. Se vencer, o tai-pan fará o que você pedir. Se perder? Se vencer ou perder, como poderá viver com a vergonha de ter traído o homem que foi seu amigo e confiou em você?"

Entrou na sala dos jóqueis.

Atrás dele, Dunross olhou para o totalizador. As probabilidades já tinham diminuído. A quantia total apostada já chegava aos dois milhões e meio. Butterscotch Lass pagava 3 por 1, Noble Star, 7 por 1, ainda sem jóquei anunciado. Pilot Fish, 5 por 1, Golden Lady, 7 por 1. "Ainda é cedo", pensou, "há muito tempo para se apostar." Travkin diminuíra a proporção entre as apostas. Sentiu uma pontada gelada a percorrê-lo. "Será que existe algum acordo em andamento neste momento, um acordo entre treinadores e jóqueis? Pombas, é melhor vigiarmos esse páreo com muito, muito cuidado."

— Ah, Ian!

— Oh, alô, senhor. — Dunross sorriu para Sir Geoffrey, que se aproximou dele, depois olhou para Havergill, que estava com o governador. — Uma pena a derrota de Winwell Stag, Paul. Fez uma bela corrida.

— Joss — disse Havergill, polidamente. — Quem vai montar Noble Star?

— Travkin.

O rosto do governador se iluminou.

— Ah, excelente escolha. É, fará uma bela corrida. Por um momento, Ian, pensei que você fosse ficar tentado.

— Fiquei, senhor. Ainda estou. — Dunross deu um leve sorriso. — Se o Aleksei for atropelado por um ônibus até Iá, sou eu que vou montar.

— Bem, pelo bem de todos nós e da Casa Nobre, vamos torcer para que isso não ocorra. Não podemos nos dar ao luxo de tê-lo ferido. A pista está com uma cara horrível. — Outra rajada de chuva veio e passou. — Até agora temos tido muita sorte. Nenhum acidente sério. Se a chuva começar pra valer, talvez se deva considerar uma suspensão.

— Já discutimos isso, senhor. Estamos um pouco atrasados. O páreo será adiado por dez minutos. Contanto que o tempo permita este páreo, a maioria do povo ficará satisfeita.

Sir Geoffrey observava o.

— A propósito, Ian, tentei falar com o ministro há alguns minutos, mas infelizmente já estava em reunião. Deixei recado, e ele ligará para mim logo que puder. Parece que as ramificações desse maldito escândalo Profumo estão novamente afetando as raízes do governo conservador. A imprensa está gritando, e com razão, com receio de ter havido quebra de segurança. Até que o resultado da comissão de inquérito saia, no mês que vem, acertando definitivamente os aspectos da segurança e os boatos de que outros no governo estão implicados, não haverá paz.

— É — concordou Havergill. — Mas, sem dúvida, o pior já passou, senhor. Quanto ao relatório, certamente não será desfavorável.

— Desfavorável ou não, esse escândalo vai arruinar os conservadores — disse Dunross, gravemente, lembrando-se da previsão do Alan no seu último relatório.