— Santo Deus, espero que não. — Havergill estava horrorizado. — Aqueles dois críticos, Grey e Broadhurst, no poder, entre todo o resto da cambada socialista? Se a entrevista coletiva deles significou alguma coisa, é melhor irmos para casa.
— Estamos em casa, e tudo vem afetar a casa, no fim das contas — disse Sir Geoffrey, com tristeza. — De qualquer forma, Ian tomou a decisão correta de não montar. — Lançou um olhar para Havergill, mais cortante. — Como disse, Paul, é importante tomar a decisão correta. Seria de muito mau gosto se os depositantes do Ho-Pak fossem aniquilados, talvez somente por causa de um erro de julgamento por parte de Richard Kwang, e a falta de uma decisão benevolente por parte daqueles que podiam evitar um tal desastre, se o quisessem... talvez com grande lucro. Não?
— Sim, senhor.
Sir Geoffrey fez um gesto de cabeça e se retirou.
— A troco de quê esse comentário? — indagou Dunross.
— O governador acha que devemos salvar o Ho-Pak — falou Havergill, informalmente.
— E por que não o fazem?
— Vamos falar da compra do controle da General Stores.
— Primeiro, vamos terminar o assunto Ho-Pak. O governador tem razão, isso nos beneficiaria a todos, Hong Kong... e o banco.
— Você seria a favor?
— Sim, claro.
— Vocês aprovarão, você e seu bloco aprovarão a compra de controle?
— Não tenho um bloco, mas sem dúvida apoiarei uma compra de controle razoável.
Paul Havergill deu um débil sorriso.
— Eu estava pensando em vinte cents por dólar dos bens do Richard.
— Isso não é muito — falou Dunross, soltando um assobio.
— Até segunda à noite ele não terá absolutamente nada. Provavelmente aceitará a proposta... seus bens darão o controle ao banco. Poderíamos facilmente afiançar cem por cento dos seus depositantes.
— Ele possui tal quantidade de garantias?
— Não, mas com a normalização do mercado e a nossa administração criteriosa, daqui a um ou dois anos a aquisição do Ho-Pak poderia realmente nos beneficiar. Ah, sim. E há uma necessidade desesperada de restaurar a confiança. Uma compra de controle dessas ajudaria incrivelmente.
— Esta tarde seria a hora perfeita para um comunicado.
— Concordo. Alguma novidade sobre o Tiptop? Dunross olhou-o fixamente.
— Por que a súbita mudança, Paul? E por que discuti-la comigo?
— Não houve mudança. Considerei o Ho-Pak com muito cuidado. A aquisição seria boa política bancária. — Havergill observava-o. — Nós o prestigiaremos e lhe daremos um lugar na nossa junta diretora.
— Com que então os boatos sobre o Grande Banco são verdadeiros?
— Não ao que eu saiba — disse o banqueiro, friamente. — E quanto ao fato de discuti-la com você: é um dos diretores do banco, atualmente o mais importante, com influência substancial na junta diretora. É uma coisa sensata a fazer, não é?
— É, mas...
Os olhos de Havergill ficaram mais frios.
— Os interesses do banco não têm nada a ver com a minha antipatia por você, ou por seus métodos. Mas você estava certo quanto à Superfoods. Fez uma boa oferta numa hora perfeita, e fez uma onda de confiança se alastrar sobre todo o pessoal daqui. Ela deve se espalhar por toda a Hong Kong. Foi uma jogada brilhante, e se agora nós lhe dermos seguimento anunciando que assumimos todas as responsabilidades do Ho-Pak para com seus clientes, será outro imenso voto de confiança. Só o que estamos precisando é de recuperar a confiança. Se o Tiptop vier em nosso auxílio com o seu dinheiro, segunda-feira será um dia de alto astral para Hong Kong. Portanto, Ian, logo de manhãzinha, na segunda, compraremos ações da Struan maciçamente. Até segunda à noite teremos assumido o controle. Contudo, vou lhe propor um acordo imediatamente: nós lhe daremos os dois milhões da General Stores em troca de metade das suas ações do banco.
— Não, obrigado.
— Nós o teremos todo até o fim da semana que vem. Garantiremos esses dois milhões, de qualquer forma, para cobrir a compra de controle e garantir a oferta global que fez ao Pug... se você não conseguir evitar a sua própria compra de controle.
— Isso não acontecerá.
— Claro. Mas não se importa que eu fale nisso com ele e com aquele cretinozinho abelhudo do Haply?
— Você é um filho da mãe, não?
Os lábios finos de Havergill retorceram-se num sorriso.
— Negócios... quero o seu bloco de ações do banco. Seus antepassados compraram-nas por uma ninharia, praticamente roubaram-nas dos Brocks, depois de destruí-los. Quero fazer o mesmo. E quero o controle da Casa Nobre. Naturalmente. Como diversos outros. Provavelmente até o seu amigo americano Bartlett, se a verdade fosse revelada. De onde estão saindo os dois milhões?
— Estão caindo do céu.
— Descobriremos, mais cedo ou mais tarde. Somos os seus banqueiros, e vocês nos devem um bocado de dinheiro! Será que Tiptop vai salvar a nossa pele?
— Não tenho certeza, mas falei com ele ontem à noite. Foi encorajador. Concordou em vir até aqui depois do almoço, mas ainda não chegou. E isso é um mau presságio.
— É. — Havergill enxugou um pouco do chuvisco que lhe molhava o nariz. — Obtivemos uma resposta positiva do Banco Mercantil de Moscou.
— Até mesmo você não pode ser tão idiota!
— Em último caso, Ian. Apenas em último caso.
— Vai convocar uma reunião de diretoria imediata para discutir a compra de controle do Ho-Pak?
— Santo Deus, não. — Havergill tornou-se sarcástico. — Acha que sou assim tão idiota? Se eu o fizesse, você poderia influenciar os outros diretores para obter uma extensão do seu empréstimo. Não, Ian, resolvi consultá-los individualmente, como você. Com a sua concordância, já tenho maioria, e os outros naturalmente aceitarão. Tenho a sua concordância?
— A vinte cents por dólar, e pagamento integral dos investidores, tem.
— Posso precisar de uma margem de ação para ir até trinta cents. Concorda?
— Sim.
— A sua palavra?
— Ah, sim, tem a minha palavra.
— Obrigado.
— Mas convocará uma reunião de diretoria antes da abertura de segunda-feira?
— Concordei em pensar no assunto. Apenas. Já pensei, e a resposta agora é não. Hong Kong é uma sociedade pirata, onde os fracos fracassam e os fortes conservam os frutos do seu trabalho. — Havergill sorriu e lançou um olhar para o painel. A proporção entre as apostas diminuíra. Butterscotch Lass, famosa por gostar do molhado, estava pagando 2 por 1. Pilot Fish, agora 3 por 1. Enquanto olhavam, o nome de Travkin apareceu ao lado de Noble Star, e um enorme alarido acompanhou-o. — Acho que o governador estava errado, Ian. Você devia ter montado. Teria feito a minha modesta aposta em você. É. Você teria sido coroado de glória. É, teria vencido. Não tenho certeza quando ao Travkin. Boa tarde. — Levantou o chapéu e se dirigiu para Richard Kwang, que estava com a mulher e o treinador, um pouco afastado. — Ah, Richard! Posso lhe dar uma palavri...
O resto do que disse foi abafado pelo urro imenso da multidão quando o primeiro dos oito concorrentes do quinto páreo começou a surgir de sob as tribunas. Pilot Fish vinha na frente, a garoa fazendo brilhar o seu pêlo negro.
— Sim, Paul? — perguntou Richard Kwang, acompa-nhando-o até um espaço vazio. — Queria falar com você, mas não quis interrompê-lo com o governador e o tai-pan. Bem — falou com jovialidade forçada —, tenho um plano. Vamos reunir todos os títulos do Ho-Pak, e você me empresta cinqüenta milhões...
— Não, obrigado, Richard — falou Havergill, vivamente. — Mas temos uma proposta, válida até as cinco horas de hoje. Socorremos o Ho-Pak e garantimos todos os seus clientes. Em troca, compramos os seus bens pessoais ao valor nominal e...
— Valor nominal? Isso é um qüinquagésimo do valor deles! — guinchou Richard Kwang. — É um qüinquagésimo do quanto valem...