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— Vou oferecer cinco, pra começo de conversa. Talvez ele aceite seis e meio por cento! Excelente! E também vou usar o Ching Sorridente, que agora é um pobretão. Perdeu tudo... Juntando os dois... volto a encontrá-la na tribuna. — Com ar importante, afastou-se e foi até junto do seu treinador, e acertou-lhe um pontapé na canela. — Ah, desculpe — falou, para os ouvidos de quem estivesse por perto e tivesse visto o seu gesto, depois sibilou: — Não me interrompa quando eu estiver ocupado, seu monte de bosta de cachorro trapaceiro! E se me trapacear como trapaceou o Tok Barrigudo, eu...

— Mas já lhe contei isso, senhor — disse o homem, com azedume. — Ele também sabia da coisa. Então não foi idéia dele? Vocês dois não ganharam uma fortuna?

— Oh ko, se meu cavalo não vencer esta corrida, vou pedir ao meu Tio Quatro Dedos para mandar os combatentes de rua dele esmagarem seus Globos Celestiais!

Uma chuvinha fina varreu o paddock, e todos olharam ansiosos para o céu. Nas tribunas, e nos balcões acima delas, todos estavam igualmente ansiosos. A chuva virou garoa, e no balcão dos sócios Orlanda estremeceu, tensa de emoção.

— Ah, Linc, agora vou apostar.

— Tem certeza? — perguntou com uma risada, pois a tarde toda ela se roera de indecisão, primeiro Pilot Fish, depois Noble Star, depois uma "barbada", o azarão Winning Billy, depois novamente Butterscotch Lass. As proporções entre as apostas eram iguais para Butterscotch Lass, Pilot Fish e Noble Star: 3 por 1 (no momento em que o nome de Travkin foi anunciado, o dinheiro começou a entrar firme), e 6 por 1 para Golden Lady. Os demais tinham recebido poucas apostas. A quantia total apostada, até o momento, era impressionante: quatro milhões e setecentos mil HK. — Quanto vai apostar?

Ela fechou os olhos e disse atropeladamente:

— Tudo o que já ganhei, e mais... mais cem! Não demoro, Linc.

— Boa sorte. Vejo-a depois da corrida.

— Ah, sim, desculpe, esqueci-me, com toda a confusão. Divirta-se!

Lançou-lhe um sorriso glorioso e saiu às pressas, antes que ele pudesse perguntar em qual ia apostar. Ele já apostara. Aquele páreo era uma loteria, além de ser a segunda parte da loteria dupla: dez mil HK em qualquer combinação de Pilot Fish e Butterscotch Lass. "Não pode dar outra", pensou ele, seu próprio entusiasmo aumentando.

Saiu do balcão e foi "costurando" por entre as mesas na direção dos elevadores que o levariam até Iá em cima. Muitas pessoas o observaram, algumas o cumprimentaram, a maioria com inveja dos pequenos distintivos que tremulavam na sua lapela.

— Oi, Linc!

— Oh, alô — falou para Biltzmann, que o havia interceptado. — Como vão indo as coisas?

— Ouviu falar do golpe sujo? Mas claro, você estava Iá! — falou Biltzmann. — Escute, Linc, posso lhe falar um momentinho?

— Claro — disse Bartlett, acompanhando-o corredor abaixo, consciente dos olhares curiosos dos que cruzavam com eles.

— Olhe — disse Biltzmann, quando haviam chegado a um canto discreto —, é melhor se cuidar com esses filhos da mãe ingleses. Nós tínhamos um negócio fechado com a General Stores.

— Vai fazer uma nova proposta? — perguntou Bartlett.

— Isso quem decide é a matriz, mas quanto a mim, porra, eu deixaria esta maldita ilha se afogar.

Bartlett não lhe deu resposta, consciente dos olhares dirigidos a eles.

— Diga-me uma coisa, Linc! — Biltzmann baixou a voz e se acercou mais, com um sorriso retorcido. — Está tendo alguma coisa especial com aquela garota?

— Do que está falando?

— Daquela boa. Da eurasiana. Orlanda, aquela com que você estava falando.

Bartlett sentiu o sangue subir-lhe ao rosto, mas Biltzmann continuou:

— Incomoda-se se eu meter a minha colher enferrujada? — Piscou o olho. —- Se marcar um encontro com ela?

— Bem... aja como quiser — disse Bartlett, sentindo por ele um ódio repentino.

— Obrigado. Ela tem uma bunda e tanto. — Biltzmann abriu um amplo sorriso e aproximou-se ainda mais. — Quanto ela cobra?

Bartlett soltou uma exclamação abafada, totalmente despreparado para aquilo.

— Porra, mas ela não é uma prostituta!

— Não sabia? Ei, a cidade toda sabe. Mas o Dickie falou que ela é uma merda na cama. É verdade? — Biltzmann entendeu mal a expressão no rosto de Bartlett. — Ah, ainda não chegou Iá? Pombas, Linc, só o que tem que fazer é mostrar umas notinhas...

— Escute, seu filho da puta — sibilou Bartlett, quase cego de ódio —, ela não é nenhuma prostituta, e se você falar com ela, ou chegar perto dela, enfio um murro pela sua garganta abaixo. Sacou?

— Puxa, calma — ofegou o outro homem. — Eu não...

— Sacou o que eu quis dizer?

— Claro, claro, não é preciso... — Biltzmann recuou. — Vá com calma. Eu perguntei, não foi? O Dickie... — Interrompeu-se, assustado, quando Bartlett se aproximou. — Pela madrugada, não foi minha culpa... calma, tá?

— Cale a boca! — Baltlett conteve com esforço o seu ódio, sabendo que não era a hora ou local para meter a mão em Biltzmann. Lançou um olhar ao seu redor, mas Orlanda já havia sumido. — Suma daqui, seu filho da puta — falou com voz áspera —, e não se aproxime dela, senão...

— Claro, claro, vá com calma, tá legal? — disse Biltzmann, recuando mais um passo, depois virando-se e dando no pé, aliviado. Bartlett hesitou, depois foi até o banheiro e molhou o rosto, para se acalmar. A água da bica, especialmente ligada para a corrida, não parecia limpa. Dali a um momento foi para o elevador e dirigiu-se para o reservado de Dunross. Era a hora do chá. Canapés, bolos, queijo e grandes bules de chá indiano com leite e açúcar estavam sendo servidos aos convidados, mas ele não notou nada daquilo, entorpecido.

Donald McBride, que ia passando apressado, deu uma paradinha antes de voltar para o seu próprio reservado.

— Ah, Bartlett, quero lhe dizer o quanto estamos felizes com seus futuros negócios aqui. Foi uma pena o que aconteceu com o sr. Biltzmann, mas tudo é justo no mundo dos negócios. A sua Casey é uma pessoa encantadora. Desculpe, tenho que voar.

Afastou-se, apressadamente. Bartlett hesitou à entrada do aposento.

— Ei, Linc — chamou Casey alegremente, do balcão. —

Quer tomar chá? — Quando se encontraram, vindo um na direção do outro, o sorriso dela sumiu. — O que foi?

— Nada, nada, Casey. — Bartlett forçou um sorriso. — Já estão na linha de largada?

— Ainda não, mas estarão a qualquer momento. Tem certeza de que está bem?

— Claro. Em qual apostou?

— Noble Star, é claro. Peter deu o palpite do azarão do dr. Tooley, Winning Billy, para o placê, então apostei cinqüenta nele. Não está com boa cara, Linc. Não é o seu estômago, é?

Sacudiu a cabeça, emocionado pelo carinho dela.

— Não, estou bem. E você?

— Claro. Estou me divertindo à beça. Peter está em grande forma, e o velho Tooley é uma bola. — Casey hesitou. — Ainda bem que não é o seu estômago. O dr. Tooley falou que devemos estar a salvo dos malditos germes de Aberdeen, já que ainda não ficamos desarranjados. Claro que só saberemos com certeza daqui a vinte dias.

— Puxa — murmurou Bartlett, tentando afastar o pensamento do que Biltzmann dissera. — Quase tinha me esquecido de Aberdeen, do incêndio e de toda aquela confusão. O incêndio parece que aconteceu há um milhão de anos.

— Para mim, também. O que houve com o tempo? Gavallan estava próximo.

— É Hong Kong — falou, distraidamente.

— Como assim?

— É uma característica de Hong Kong. Quando se vive aqui, nunca há tempo que chegue, seja Iá qual for o seu ramo de trabalho. Há sempre muito o que fazer. Há sempre gente chegando, partindo, amigos, relações comerciais. Há sempre uma crise: inundação, incêndio, deslizamento de lama, altas, escândalos, oportunidades comerciais, enterros, banquetes ou coquetéis para deputados visitantes... ou algum desastre. — Gavallan tentou esquecer suas ansiedades. — Este é um lugar pequeno, e logo ficamos conhecendo a maioria das pessoas do nosso círculo. Além disso, somos a encruzilhada da Ásia, e mesmo que você não seja da Struan, está sempre em movimento, planejando, ganhando dinheiro, arriscando dinheiro para ganhar mais, ou está de partida para Formosa, Bangkok, Cingapura, Sydney, Tóquio, Londres, ou seja Iá onde for. É a magia da Ásia. Olhe o que aconteceu a vocês dois desde que aqui chegaram: o pobre John Chen foi seqüestrado e morto, foram en contradas armas no seu avião, depois houve o incêndio, a confusão na Bolsa, a corrida às nossas ações, Gornt atrás de nós, e nós atrás dele. E agora os bancos podem fechar na segunda, ou, se o Ian estiver certo, a segunda será o dia da alta. E estamos fazendo negócios juntos... — Deu um sorriso cansado. — O que achou da nossa proposta?