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Casey engoliu o comentário imediato que ia fazer, e observou Bartlett.

— Ótima — disse Bartlett, pensando em Orlanda. — Acha que o Ian vai conseguir virar as coisas?

— Se há alguém capaz disso, é ele. — Gavallan soltou um grande suspiro. — Bem, vamos torcer, é só o que podemos fazer. Já apostou no ganhador?

Bartlett sorriu, e Casey sentiu-se mais tranqüila.

— Qual o seu favorito, Andrew?

— Noble Star e Winning Billy para a loteria. Até logo — falou, indo embora.

— É curioso o que ele dizia sobre Hong Kong. Ele tem razão. Faz os Estados Unidos parecerem estar a um milhão de quilômetros de distância.

— É, mas não estão, não de verdade.

— Quer ficar aqui, Casey?

Ela olhou para ele, imaginando o que a pergunta ocultaria, o que ele realmente lhe estava perguntando.

— Você é quem sabe, Linc.

— Acho que vou pegar um pouco de chá — disse ele, balançando a cabeça devagar.

— Ora, pode deixar que eu pego — falou. Depois viu Murtagh de pé, nervosamente, junto da porta, e seu coração falhou uma batida. — Ainda não conhece o nosso banqueiro, Linc. Deixe-me trazê-lo até aqui.

Ela cruzou a multidão.

— Oi, Dave.

— Oi, Casey, viu o tai-pan?

— Está ocupado até o fim do páreo. É sim ou não? — murmurou com urgência, dando as costas a Bartlett.

— Talvez. — Nervosamente, Murtagh enxugou a testa e tirou a capa de chuva molhada, os olhos vermelhos. — Levei uma hora para pegar um danado dum táxi. Puxa vida!

— Talvez o quê?

— Talvez, ora essa. Expus o plano a eles, e disseram que eu me mandasse de volta para casa, porque estava claro que eu tinha ficado maluco. Então, depois que se acalmaram, disseram que voltariam a entrar em contato comigo. Os imbecis me chamaram às quatro da madrugada, mandaram que eu repetisse todo o plano, depois o S. J. em pessoa veio ao aparelho. — Revirou os olhos. — S. J. falou que eu tinha merda... que eu estava louco, e desligou na minha cara.

— Mas você falou "talvez". O que aconteceu a seguir?

— Liguei para eles de novo e passei cinco horas, das últimas dez, ao telefone, tentando explicar-lhes o meu brilhantismo, desde que o seu plano maluco fundiu a minha cuca. — Murtagh abriu um sorriso, de repente. — Ei, uma coisa eu lhe digo, Casey. Pode apostar que o S. J. sabe quem é Dave Murtagh III!

— Escute, não toque no assunto com ninguém aqui — falou ela, rindo. — Com ninguém. Exceto o tai-pan, certo?

Olhou para ela, com cara magoada.

— Acha que vou contar a todo mundo quanto esporro levei?

Ouviu-se uma explosão de vivas, e alguém falou, do balcão:

— Estão se aproximando do portão!

— Rápido — falou Casey —, vá apostar a sua grana na loteria. Números 1 e 7. Rápido, enquanto tem tempo.

— Quais são eles?

— Não interessa. Você não tem tempo.

Deu-lhe um empurrãozinho, e Iá se foi ele. Ela se controlou, pegou uma xícara de chá e se reuniu a Bartlett e aos outros que lotavam o balcão.

— Tome o seu chá, Linc.

— Obrigado. Em quem mandou ele apostar?

— Números 1 e 7.

— Eu apostei no 1 e no 8.

Outro alarido imenso chamou a atenção deles. Os cavalos passavam a meio galope por eles, e começavam a se amontoar perto do portão. Viram Pilot Fish saracoteando, com o jóquei bem levantado, os joelhos apertados, segurando firme, condu-zindo-o para a sua posição de largada. Mas o garanhão ainda não estava pronto, sacudia a cabeça e relinchava. Imediatamente a égua e as duas potrancas, Golden Lady e Noble Star, estremeceram, as narinas arfando, e relincharam também. Pilot Fish zurrou estridentemente, empinou e escarvou o ar, e todos soltaram exclamações abafadas. O jóquei dele, Bluey White, praguejou baixinho, enfiou as mãos fortes como aço na crina dele, agüentando-se firme.

— Vamos Iá, boneco — falou, com um palavrão, acal-mando-o. — Deixe as garotas darem uma olhada no seu pi-rulito!

Travkin estava perto, montado em Noble Star. A potranca sentira o cheiro do garanhão, e aquilo a perturbara. Antes que Travkin pudesse impedir, ela se torcera, recuara e encostara a anca descuidadamente em Pilot Fish, que guinou, espantado, e bateu no azarão Winning Billy, um baio capão, que se dirigia para o seu lugar na linha de largada. O capão irritou-se, sacudiu a cabeça com raiva e afastou-se alguns passos, rodopiando, quase pisoteando Lochinvar, outro capão castanho.

— Faça essa sacana se controlar, Aleksei, pela madrugada!

— Fique fora do meu caminho, ubliudok — murmurou Travkin, os joelhos sentindo os tremores incomuns que percorriam Noble Star. Sentava-se muito ereto, parte da montaria, estribos curtos, e perguntou-se, praguejando, se o treinador de Pilot Fish havia espalhado um pouco do almíscar do garanhão no seu peito e flancos, para agitar a égua e as potrancas. "É um velho truque", pensou, "muito velho."

— Vamos! — gritou o homem que dava a partida, a voz estentórea. — Cavalheiros, ponham as montarias nas suas baias!

Várias delas já estavam Iá, Butterscotch Lass, a égua castanha, ainda a favorita, escarvando o chão, as narinas fremen-tes, a emoção da corrida vindoura e a proximidade do garanhão fazendo com que um arrepio atrás do outro a percorressem. Estava na baia 8, a contar da cerca. Pilot Fish agora entrava na baia 1. Winning Billy estava na baia 3, entre Street Vendor e Golden Lady, e o cheiro delas e o desafio impudente do garanhão deixou doido o capão. Antes que o portão se fechasse às suas costas, recuou, e, uma vez livre, lutou contra o freio e as rédeas, sacudindo a cabeça violentamente de um lado para o outro, rodopiando como um bailarino na grama escorregadia, quase colidindo com Noble Star, que se desviou habilmente do caminho.

— Venha, Aleksei — chamou o homem que dava a partida. — Ande depressa!

— Sim, claro — respondeu Travkin, mas não estava com pressa. Conhecia Noble Star, e foi levando a potranca grande e castanha, toda trêmula, para bem longe do garanhão, deixando que saltitasse à vontade. — Devagarinho, minha querida — sussurrou carinhosamente, em russo, querendo protelar, querendo deixar os outros nervosos, agora o único que não estava no portão. Um raio iluminou o céu, a leste, mas ele não prestou atenção, nem à trovoada agourenta. O chuvisco começou a apertar.

Todo o seu ser estava concentrado. Pouco depois da pesa-gem, um dos outros jóqueis aproximara-se sorrateiramente dele.

— Sr. Travkin — dissera baixinho —, não é para o senhor ganhar.

— É? Quem falou? — O jóquei deu de ombros. — Quem vai ganhar? — O jóquei deu de ombros de novo. — Se os jóqueis e os treinadores já estão com a corrida arranjada, diga para eles que não entro nessa. Nunca entrei, não em Hong Kong.

— O senhor e o tai-pan ganharam com Buccaneer, deviam estar satisfeitos.

— Estou satisfeito, mas neste páreo vou me esforçar.

— É justo, meu chapa. Vou dizer a eles.

— Eles quem?

O jóquei se afastara, atravessando o vestiário lotado ruidoso e suarento. Travkin sabia bem qual era o grupo que arranjava as corridas de vez em quando, mas nunca fora um participante. Sabia que não era por ser mais honesto do que os outros. Ou menos desonesto. Era só que suas necessidades eram poucas, uma coisa certa não o entusiasmava, e o toque do dinheiro não lhe dava prazer.