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Entrou num dos cubículos, com o chão molhado e escorregadio, e depois que acabou, puxou a descarga. Nada aconteceu. Tentou de novo, e mais uma vez, e nada. Praguejou e levantou a tampa do reservatório de água. Estava seco e enferrujado. Irritada, destrancou a porta, foi até a pia, abriu a torneira, mas não saiu água.

"Mas o que há com este lugar? Aposto que aqueles filhos da mãe me mandaram para cá deliberadamente."

Havia toalhas de mão limpas, portanto jogou um balde de água na pia, desajeitadamente, derrubando um pouco, lavou as mãos, enxugou-as, furiosa porque havia molhado os sapatos. Intempestivamente, pegou outro balde e jogou a água dentro da privada, depois usou mais outro balde para lavar de novo as mãos. Quando saiu do banheiro, sentia-se muito suja.

"Imagino que o raio do cano quebrou e o encanador só virá amanhã. Malditos sejam todos os sistemas de encanamento!

"Acalme-se", disse a si mesma. "Vai começar a cometer erros."

O corredor era coberto por um fino tapete de seda chinesa, e as paredes ostentavam quadros a óleo de veleiros e paisagens chinesas. Ao se aproximar da sala de reuniões, pôde ouvir as vozes abafadas e uma risada... do tipo que se dá ao ouvir uma piada pesada ou um comentário sujo. Sabia que, no momento em que abrisse a porta, o bom humor e a camaradagem desapareceriam e o silêncio constrangedor retornaria.

Abriu a porta, e todos se levantaram.

— Estão tendo problemas com os encanamentos? — perguntou, controlando a raiva.

— Não, acho que não — respondeu Gavallan, sobres-saltado.

— Bem, não há água. Não sabiam?

— Claro que não há... Oh! — Deteve-se. — Está hospedada no Victoria, portanto... Ninguém lhe contou da falta d'água?

Começaram todos a falar a uma só voz, mas a de Gavallan sobrepujou as outras.

— O Victoria tem sua própria caixa d'água, assim como mais um ou dois hotéis. O resto da cidade tem direito apenas a quatro horas diárias de quatro em quatro dias. Portanto, é preciso usar um balde. Não me ocorreu que a senhorita não soubesse. Desculpe.

— E como se ajeitam? De quatro em quatro dias?

— É. Durante quatro horas, das seis às oito, depois das dezessete às dezenove. É uma caceteação, claro, porque temos que juntar água para quatro dias. Baldes, banheiras, o que for possível encher. Já estamos com poucos baldes... o nosso dia de água é amanhã. Ah, meu Deus, havia água bastante para a senhorita, não?

— Havia, mas... Quer dizer que o fornecimento de água é cortado? Por toda parte?

— É — explicou Gavallan, pacientemente. — Exceto durante quatro horas a cada quatro dias. Mas no Victoria não há problemas. Como estão bem à beira-mar, podem encher a sua caixa d'água diariamente das barcaças... Claro que têm que comprar a água.

— Não podem tomar banho nem se lavar? Linbar Struan riu.

— Todo mundo fica meio gosmento, depois de três dias neste calor, mas pelo menos estamos todos no mesmo esgoto. Mas faz parte do treinamento de sobrevivência certificar-se de que há um balde cheio antes de ir ao banheiro.

— Eu não tinha a menor idéia — disse ela, consternada por ter usado três baldes.

— Nossos reservatórios estão vazios — explicou Gavallan. — Este ano quase não choveu, e o ano passado também houve seca. É uma chateação, mas o que se vai fazer? Coisas da vida. Azar.

— Então, de onde vem a água de vocês? Eles a fitaram, desconcertados.

— Da China, é claro. Por meio de canos, cruzando a fronteira nos Novos Territórios, ou por navio-tanque, do rio Pearl. O governo acaba de contratar uma frota de dez navios-tanques que sobem o rio Pearl, num acordo com Pequim. Eles nos trazem cerca de dez milhões de galões por dia. O governo vai gastar mais de vinte e cinco milhões de frete este ano. O jornal de sábado disse que o nosso consumo caiu para trinta milhões de galões por dia, para a nossa população de três milhões e meio... e isso inclui as indústrias. Dizem que no seu país uma pessoa usa cento e cinqüenta galões por dia.

— É igual para todos? Quatro horas a cada quatro dias?

— Até mesmo na Casa Grande usam-se baldes. — Gavallan deu de ombros de novo. — Mas o tai-pan tem uma casa em Shek-0 que tem poço próprio. Todos nós nos mandamos para lá quando somos convidados, para tirar o limo do corpo.

Ela pensou de novo nos três baldes que usara. "Meu Deus", pensou, "será que acabei com tudo? Não me lembro se sobrou alguma água."

— Acho que tenho muito o que aprender — falou. "É", pensaram todos. "É, porra, e como tem."

— Tai-pan?

— Sim, Claudia? — disse Dunross pelo intercomunicador.

— A reunião com Casey acaba de ser interrompida para o almoço. O Patrão Andrew está na linha 4. O Patrão Linbar está subindo.

— Adie tudo isso para depois do almoço. Teve alguma notícia de Tsu-yan?

— Não, senhor. O avião pousou na hora, às oito e quarenta. Ele não está no escritório em Taipé. Nem no apartamento. Vou continuar tentando, é claro. Mais uma coisa. Recebi um telefonema interessante, tai-pan. Parece que o Sr. Bartlett esteve na Rothwell-Gornt hoje de manhã, e teve uma entrevista particular com o Sr. Gornt.

— Tem certeza? — perguntou, uma sensação gelada no estômago.

— Ah, sim, tenho.

"Filho da mãe", pensou Dunross. "Será que Bartlett estava querendo que eu descobrisse?"

— Obrigado — disse, deixando o assunto de lado momentaneamente, mas muito contente por ter sabido. — Pode apostar mil dólares por minha conta em qualquer cavalo, no sábado.

— Ah, obrigada, tai-pan.

— Vamos voltar ao trabalho, Claudia. — Apertou o botão número 4. — Sim, Andrew? Qual a proposta?

Gavallan contou-lhe a parte importante.

— Vinte milhões em dinheiro? — perguntou, incrédulo.

— Em dinheiro americano, lindo, maravilhoso! — Dunross podia sentir a alegria do outro através do telefone. — E quando perguntei quando Bartlett confirmaria a transação, a safadinha teve o topete de dizer: "Ah, já está confirmada... tenho poderes para investir até vinte milhões nessa transação sem consultá-lo, ou a qualquer outra pessoa". Acha possível?

— Não sei. — Os joelhos de Dunross estavam um pouco bambos. — Bartlett está para chegar a qualquer momento. Perguntarei a ele.

— Ei, tai-pan, se isso se concretizar...

Mas Dunross mal escutava enquanto Gavallan continuava a falar, entusiasmadíssimo. "É uma oferta inacreditável", dizia a si mesmo.

"É boa demais. Onde está a falha?

"Onde está a falha?"

Desde que se tornara tai-pan tivera que se virar, mentir, bajular e até ameaçar — como a Havergill, do banco — muito mais do que imaginara, para superar os desastres que herdara, e os desastres naturais e políticos que pareciam assolar o mundo. Mesmo a transformação da Struan em companhia de capital aberto não lhe dera o capital e o tempo que esperara ter, porque uma baixa mundial fizera o mercado em pedaços. E em agosto do ano anterior o tufão Wanda viera com força total, deixando a desgraça no seu rastro, centenas de mortos, centenas de milhares de desabrigados, meio milhar de barcos de pesca e vinte navios afundados, um dos seus navios de três toneladas lançado à terra, o seu gigantesco e inacabado cais destroçado e todo o seu programa de construção interrompido totalmente por seis meses. No outono, a crise cubana, e outra queda do mercado. Na primavera, De Gaulle vetara a entrada da Grã-Bretanha no Mercado Comum Europeu, e nova queda. China e Rússia às turras, nova baixa do mercado...

"E agora tenho quase vinte milhões de dólares americanos, mas acho que estamos envolvidos, de alguma maneira, em contrabando de armas. Tsu-yan aparentemente pôs-se em fuga, e John Chen está sabe lá Deus onde!"

— Puta que o pariu! — resmungou, com raiva.

— O quê? — Gavallan parou de falar, aparvalhado. — O que foi?