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A multidão soltou uma exclamação abafada, a corrida momentaneamente esquecida. Outro relâmpago ofuscante. O pandemônio instalou-se, a chuva aumentou, misturando-se à trovoada.

— Pilot Fish por um focinho...

— Porra, foi Noble Star por um fio de cabelo...

— Está errado, meu velho, foi Pilot Fish...

— Dew neh loh moh...

— Meu Deus, que corrida...

— Pombas, olhe Iá, a bandeira de objeção dos administradores...

— Onde? Oh, meu Deus, quem sujou a barra?

— Não vi nada, e você?

— Não. É difícil, com esta chuva, mesmo com binóculo...

— Porra, e agora? Aqueles malditos administradores, se tirarem a vitória do meu ganhador, juro que...

Dunross correra para o elevador no momento em que vira Noble Star cair e derrubar Travkin. Não vira a causa. Travkin fora espero demais.

Outros lotavam os corredores, excitadíssimos, à espera do elevador, todos falando, ninguém escutando.

— Ganhamos por uma narina...

— Puta que o pariu, qual é a objeção? Noble Star...

— Qual é a objeção, tai-pan?

— Cabe aos administradores anunciarem.

Em meio à zoeira, Dunross apertou de novo o botão do elevador.

Gornt aproximou-se rapidamente, enquanto as portas se abriam, todos lotando o elevador, Dunross com vontade de berrar de raiva por causa da lentidão.

— Foi Pilot Fish por um focinho, Ian — gritou Gornt, acima da zoeira, o rosto afogueado.

— Que páreo! — berrou uma voz. — Alguém sabe qual é a objeção?

— Você sabe, Ian? — perguntou Gornt.

— Sei — retrucou.

— É contra o meu Pilot Fish?

— Conhece o procedimento. Primeiro os administradores investigam, depois fazem o comunicado.

Notou os olhos castanhos inexpressivos de Gornt, e soube que seu inimigo estava cego de ódio por não ser administrador. "E jamais será, seu filho da mãe!", pensou Dunross, cheio de raiva. "Darei bola preta para você até eu morrer."

— É contra o Pilot Fish, tai-pan? — perguntou alguém.

— Santo Deus — replicou. — Conhecem o procedimento. O elevador parava em todos os andares. Mais proprietários e amigos se acotovelavam para entrar. Mais gritos de "Que grande páreo! Mas que diabo, qual a objeção?" Finalmente chegaram ao térreo. Dunross saiu correndo para a pista, onde um grupo de ma-foo e funcionários cercavam Travkin, que jazia ali, largado, inerte. Noble Star se pusera de pé, incólume, e agora estava na outra extremidade, galopando sem cavaleiro na pista, os cavalariços espalhados e esperando para interceptá-la. Mais acima, na última curva, o veterinário estava ajoelhado junto do capão ruão em agonia, Kingplay, a pata traseira quebrada, com o osso espetado para fora. O som do tiro não penetrou os urros e contra-urros dos assistentes impacientes, seus olhos fitos no painel, esperando pelo julgamento dos administradores.

Dunross ajoelhou-se ao lado de Travkin, um dos ma-foo segurando um guarda-chuva sobre o homem inconsciente.

— Como vai ele, doutor?

— Não entrou na cerca por milagre. Não está morto, pelo menos ainda não, tai-pan — disse o dr. Meng, o patologista da polícia, nervoso, acostumado a cadáveres, não a pacientes vivos. — Não posso dizer direito, só quando ele voltar a si. Externamente, não parece haver hemorragia. O pescoço... e as costas dele parecem estar bem... ainda não posso dizer...

Dois enfermeiros da ambulância do St. John's apareceram trazendo uma maca.

— Para onde elevemos levá-lo, senhor? Dunross olhou ao seu redor.

— Sammy — disse a um dos seus cavalariços —, vá buscar o dr. Tooley. Ele deve estar na nossa tribuna. — Para os enfermeiros, falou: — Mantenham o sr. Travkin na ambulância até que o dr. Tooley chegue aqui. E quanto aos outros três jóqueis?

— Dois deles só levaram um susto, senhor. Outro, o capitão Pettikin, quebrou a perna, mas já a entalou.

Os homens colocaram Travkin muito cuidadosamente na maca. McBride reuniu-se a eles, depois Gornt, e os outros.

— Como vai ele, Ian?

— Não sabemos. Ainda. Parece estar bem. — Suavemente, Dunross ergueu uma das mãos de Travkin, examinando-a. Pensara ter visto um golpe na curva da outra extremidade, e Travkin hesitar. Um vergão vermelho e pesado desfigurava as costas da mão direita dele. E da outra. — O que poderia ter causado isso, dr. Meng?

— Ah! — Mais Confiantemente, o homenzinho falou: — Quem sabe as rédeas. Quem sabe um chicote, pode ter sido uma chicotada... quem sabe na queda.

Gornt ficou calado, só olhou, furioso intimamente por Bluey White ter sido tão inepto, quando tudo fora acertado anteriormente direitinho, com uma palavrinha aqui, uma promessa ali. Metade do maldito hipódromo devia tê-lo visto, pensou.

Dunross examinou o rosto sem cor de Travkin. Nenhuma outra marca, salvo as pisaduras inevitáveis. Um pouco de sangue escorria do nariz dele.

— Já está coagulando. É um bom sinal — disse o dr. Meng.

O governador aproximou-se, às pressas.

— Como vai ele?

Dunross repetiu o que o médico dissera.

— Mas que azar danado, Noble Star passarinhar daquele jeito.

— É.

— Qual a objeção dos administradores, Ian?

— íamos discuti-la agora, senhor. Quer se reunir a nós?

— Ah, não, obrigado. Vou apenas esperar e ser paciente. Queria me certificar de que o Travkin estava bem. — O governador sentia a chuva escorrer pelas suas costas. Ergueu os olhos para o céu. — Diabo de tempo ruim... e parece que vai durar. Vão continuar o programa?

— Vou recomendar que seja cancelado, ou adiado.

— Boa idéia.

— É — disse McBride. — Concordo. Não podemos nos dar ao luxo de ter outro acidente.

— Quando tiver um momentinho, Ian — disse Sir Geoffrey —, estarei na minha tribuna.

A atenção de Dunross concentrou-se nele.

— Falou com o ministro, senhor? — perguntou, tentando parecer natural.

— Falei — replicou Sir Geoffrey, igualmente natural. — É, ele ligou para mim na linha particular.

Abruptamente, o tai-pan tomou consciência de Gornt e dos outros.

— Eu o acompanharei, senhor. — Para McBride, disse: — Logo irei ter com você.

Depois, virou-se, e os dois foram andando para o elevador. Quando estavam sozinhos, Sir Geoffrey murmurou:

— Não é bem o lugar para uma conversa particular, não é?

— Poderíamos examinar a pista, senhor. — Dunross foi mostrando o caminho para a grade, rezando. — A grama está terrível, não é? — falou, apontando.

— Se está! — Sir Geoffrey também dava as costas aos olhares. — O ministro ficou muito perturbado. Deixou a decisão sobre o Brian nas minhas mãos, desde que o sr. Sinders e o sr. Crosse concordem com a libertação, desde...

— Mas concordarão com o senhor? — disse Dunross, inquieto, relembrando a conversa que tivera com eles na véspera.

— Posso apenas aconselhá-los. Eu os aconselharei que é necessário, desde que você, pessoalmente, me assegure que é.

— Claro — disse Dunross, devagar. — Mas, sem dúvida, Havergill, Southerby ou os outros banqueiros teriam maior influência.

— Em assuntos bancários, sim, Ian. Mas acho que também vou precisar da sua garantia e cooperação pessoais.

— Como, senhor?

— Esse assunto terá que ser tratado com muita delicadeza, por você, não por eles. Além disso, há o problema das pastas. Das pastas de Alan.

— O que é que têm as pastas, senhor?

— Cabe a você responder. O sr. Sinders me contou da conversa que teve com você ontem à noite. — Sir Geoffrey acendeu o cachimbo, as mãos abafando a chama, protegendo-a da chuva. Depois do telefonema do tai-pan para ele, naquela manhã, mandara imediatamente buscar Sinders e Crosse para discutir a questão da troca, antes de falar com o ministro. Sinders reiterara a sua preocupação de que as pastas pudessem ter sido adulteradas. Falou que poderia concordar em libertar Kwok, se tivesse certeza a respeito das pastas. Crosse sugerira trocar Kwok por Fong-fong e os outros. Agora, Sir Geoffrey olhava interrogativamente para Dunross. — E então, Ian?