— Sei. Imagino que o erro será corrigido imediatamente.
— Imagino que muito em breve, se a pessoa em questão pedir demissão e aproveitar a permissão para viajar para o exterior.
— E quando seria o muito em breve, tai-pan? Dunross escolhia as palavras com cuidado, deliberadamente vago, embora formal, agora.
— Existem certas formalidades, mas é possível que possam ser cumpridas rapidamente. Infelizmente, é preciso consultar os vips em outros lugares. Tenho certeza de que me compreende.
— Certamente. Mas o poderoso dragão não é páreo para a serpente nativa, heya? Ao que me consta, um dos seus "su-per-vips" já está aqui em Hong Kong. Um tal sr. Sinders.
Dunross ficou surpreso com a extensão dos conhecimentos de Tiptop.
— Já conto com algumas aprovações — falou, inquieto.
— Pensei que muito poucas aprovações fossem necessárias. O verdadeiro ouro não teme o fogo.
— É. Existe algum lugar para onde possa ligar-lhe hoje à noite... para contar-lhe os progressos?
— O senhor me encontrará neste número. Por favor, ligue para mim às vinte e uma horas. — A voz de Tiptop ficou ainda mais seca. — Parece possível que sua última sugestão sobre os bancos seja atendida. Claro que qualquer banco precisaria da documentação adequada para conseguir imediatamente meio bilhão de dólares de Hong Kong em espécie, mas, ao que me consta, o carimbo do Victoria, o carimbo do governador e o seu seriam as únicas coisas necessárias para garantir o empréstimo por trinta dias. Essa... quantia secundária estará disponível por um tempo limitado, quando se cumprirem os procedimentos corretos. Até Iá esse assunto é confidencial, estritamente confidencial.
— Naturalmente.
— Obrigado pelo telefonema.
Dunross desligou o telefone e enxugou as palmas das mãos. "Por um tempo limitado" estava marcado no seu cérebro. Ele sabia, e sabia que Tiptop sabia que ele compreendia, que os dois "procedimentos" estavam absolutamente interligados, mas não necessariamente. "Santo Deus, eu amo a Ásia", pensou, satisfeito, enquanto se retirava.
Os corredores estavam cheios, muita gente já lotando os elevadores para ir para casa. Deu uma espiada na sua tribuna, e chamou a atenção de Gavallan.
— Andrew, desça até a tribuna dos sócios e fale com Roger Crosse... está Iá com um sujeito chamado Sinders.
Pergunte-lhes se têm um momento para vir até aqui falar comigo! Depressa!
Gavallan se foi. Dunross cruzou apressado o corredor, passando pelos guichês de apostas.
— Tai-pan! — chamou Casey. — Lamento quanto a Noble Star! Você...
— Volto daqui a um minuto, Casey. Desculpe, não posso parar! — foi gritando Dunross, enquanto corria. Notou que Gornt estava no guichê dos vencedores, mas aquilo não lhe tirou a felicidade. "As primeiras coisas em primeiro lugar", pensou. — Como quer os dez mil? A nossa aposta?
— Em espécie estará ótimo, obrigado — disse Gornt.
— Eu mando mais tarde.
— Na segunda-feira estará bem.
— Logo mais. Na segunda-feira vou estar ocupado. Dunross afastou-se com um cumprimento polido de cabeça. No reservado lotado do Victoria, a confusão era a mesma que nos outros lugares. Bebidas, risadas, entusiasmo, alguns palavrões para Pilot Fish, mas já estavam sendo feitas apostas para a corrida do sábado seguinte. Quando Dunross entrou, houve mais vivas, condolências, e outra saraivada de perguntas. Ele se desviou delas com naturalidade, uma delas de Martin Haply, que estava ao lado da porta, com Adryon.
— Ah, papai, que azar danado da Noble Star! Perdi a camisa e toda a minha mesada!
— Mocinhas não deviam apostar — riu Dunross. — Alô, Haply!
— Posso lhe perguntar sobre...
— Mais tarde. Adryon querida, não esqueça os coquetéis. Você é a anfitriã.
— Oh, sim, estaremos Iá. Papai, pode me adiantar a mesada do...
— Sem dúvida — disse Dunross, para espanto dela. Deu-lhe um abraço e foi abrindo caminho até Havergill, próximo de Richard Kwang.
— Alô, Ian! — disse Havergill. — Foi azar, mas estava evidente que Pilot Fish levou vantagem.
— É, foi, sim. Alô, Richard! — Dunross deu-lhe uma cópia da foto batida na hora da chegada. — Um azar danado pra nós dois.
Outras pessoas se aproximaram para ver.
— Santo Deus, por um fio de cabelo...
— Pensei que Noble Star...
Aproveitando-se da distração, Dunross aproximou-se mais de Havergill.
— Já está tudo assinado?
— Já. Vinte cents por dólar. Concordou e assinou os documentos provisórios. Os documentos formais até o fim da semana. Claro que o sacana ainda tentou choramingar, mas está tudo assinado.
— Maravilhoso. Fez um excelente negócio. Havergill concordou.
— É, eu sei.
Richard Kwang voltou-se.
— Ah, tai-pan! — Baixou a voz e murmurou: — O Paul lhe falou da fusão?
— Naturalmente. Posso lhe dar os parabéns?
— Parabéns? — ecoou Southerby, aproximando-se deles.
— Um azar desgraçado, na minha opinião! Apostei uma bolada em Butterscotch Lass.
A sala ficou ainda mais animada quando o governador entrou. Havergill foi recebê-lo, seguido por Dunross.
— Ah, Paul, Ian! Um azar danado, mas numa excelente decisão! As duas. — O rosto dele endureceu Simpaticamente.
— Sábado que vem será sem dúvida o tira-teima.
— Sim, senhor.
— Paul, queria fazer um comunicado formal?
— Sim, senhor. — Havergill ergueu a voz. — A sua atenção, por favor... — Ninguém ligou até que Dunross pegou uma colher e bateu com ela no bule de chá. Aos poucos, fez-se silêncio. — Sua Excelência, senhoras e senhores, tenho a honra de anunciar, em nome dos diretores do Victoria Bank, que acaba de ser concluída uma fusão imediata com o grande Ho-Pak Bank... — Martin Haply deixou cair o copo — e que o Victoria garante totalmente cem por cento de todos os clientes do Ho-Pak...
O resto foi abafado por um grande viva. Os convidados das tribunas próximas debruçaram-se nos balcões para ver o que estava acontecendo. A notícia foi gritada de um lado para outro, enquanto outras pessoas entravam, vindas dos corredores, e logo houve mais vivas.
Havergill foi assediado por perguntas e levantou a mão, encantado com o efeito do seu comunicado. No silêncio que se seguiu, Sir Geoffrey disse, rapidamente:
— Devo dizer, em nome do governo de Sua Majestade, que esta é uma notícia maravilhosa, Paul, boa para Hong Kong, boa para o banco, boa para você, Richard, e para o Ho-Pak!
— Ah, sim, Sir Geoffrey — falou Richard Kwang, jovialmente, em voz alta, certo de que agora tinha dado um gigantesco passo em direção a seu sonho de ser sagrado cavaleiro. — Decidi, claro que junto com nossos diretores, decidi que seria bom para o Victoria ter uma participação maior na comunidade chinesa e...
Havergill apressou-se a interrompê-lo.
— Richard, talvez seja melhor eu terminar o comunicado formal e deixar os detalhes para a nossa entrevista coletiva. — Lançou um olhar para Martin Haply. — Marcamos uma entrevista coletiva formal para segunda-feira ao meio-dia, mas todos os detalhes da... fusão já foram acertados. Não é, Richard?
Richard Kwang começou a fazer outra variação, mas mudou depressa de idéia, vendo o olhar de Havergill e de Dunross.
— É, claro, claro. — Mas não pôde resistir e acrescentou:
— Estou encantado de ser sócio do Victoria.
Haply se manifestou rapidamente:
— Com licença, sr. Havergill, posso lhe fazer uma pergunta?
— Claro — respondeu amavelmente, com plena consciência do que lhe seria perguntado. "Esse filho da mãe do Haply tem que sumir daqui", pensou, "de um jeito ou de outro."
— Posso lhe perguntar, sr. Havergill, como o senhor se propõe a pagar todos os clientes do Ho-Pak e os seus, os do Blacs e de todos os outros bancos, quando existe uma corrida a todos eles, e não há dinheiro suficiente em caixa?