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"— Porque seu avô, o velho Demônio dos Olhos Verdes, certa vez salvou o prestígio do meu avô e ajudou-o a se tornar o primeiro Rei dos Mendigos de Hong Kong."

— Acredita nisso, Peter? — perguntou Casey, com um suspiro.

— Claro que sim. — Olhou para o Happy Valley. — Houve época em que tudo isso era um pântano cheio de malária. Dirk também saneou isso. — Soltou uma baforada do seu cigarro. — Algum dia escreverei sobre Hong Kong.

— Se continuar a fumar, jamais escreverá coisa alguma.

— Deu o seu recado. Está bem, vou parar. Agora. Por hoje. Porque você é bonita. — Apagou o cigarro. Outro sorriso, diferente. — Eeee, eu podia contar algumas histórias sobre um bocado das pessoas que você conheceu hoje. Não vou contar, não é justo, não é direito. Nunca posso contar as histórias reais, embora saiba muitas!

Ela riu junto com ele, deixando os olhos vagarem do estranho casal idoso até as outras tribunas. Involuntariamente, soltou uma exclamação abafada. Sentada no balcão dos sócios, ao abrigo da chuva, viu Orlanda. Linc estava com ela. Muito juntinho. Os dois estavam muito felizes juntos. Notava-se até daquela distância.

— O que... — começou Peter Marlowe. Depois os viu também. — Ah, não se preocupe.

Depois de uma pausa, ela desviou os olhos.

— Peter, aquele favor. Posso lhe pedir agora aquele favor?

— O que quer como favor?

— Quero saber a respeito de Orlanda.

— Para destruí-la?

— Para proteção. Proteção para o Linc contra ela.

— Pode ser que ele não queira ser protegido, Casey.

— Juro que jamais usarei nada contra ela, a não ser que sinta que é realmente necessário.

O homem alto suspirou.

— Desculpe — falou, com grande compaixão —, mas nada que eu possa lhe dizer sobre ela daria a você ou ao Linc alguma proteção. Nada que pudesse destruí-la ou desmoralizá-la. Mesmo que pudesse, não o faria, Casey. Não seria correto, não é?

— Não, mas mesmo assim estou lhe pedindo. — Ela o fitou, forçando a barra. — Você me prometeu um favor. Eu estava Iá quando você precisava de uma mão. Preciso de uma mão agora. Por favor.

Ele a fitou durante longo tempo.

— O que sabe sobre ela?

Contou-lhe o que soubera; sobre Gornt sustentar Orlanda, Macau, a criança.

— Então você sabe tudo o que sei, exceto, talvez, que deva sentir pena dela.

— Por quê?

— Porque é eurasiana, sozinha. Gornt é seu único apoio, o que é a coisa mas precária do mundo. Ela está vivendo equilibrada num fio de navalha. É jovem, bela, e merece um futuro. Aqui, não há nenhum para ela.

— Exceto Linc?

— Exceto Linc, ou alguém como ele. — Os olhos de Peter Marlowe estavam cor de ardósia. — Talvez isso não fosse tão ruim, do ponto de vista dele.

— Porque ela é asiática, e eu não sou? Novamente o sorriso curioso.

— Porque ela é mulher, e você também, mas você detém todas as cartas, e a única coisa verdadeira que tem que decidir é se realmente deseja a guerra.

— Seja sincero comigo, Peter, por favor. Estou perguntando. Qual o seu conselho? Estou com medo... pronto, já admiti para você. Por favor?

— Está bem, mas este não é o favor que estou lhe devendo. Correm boatos de que você e Linc não são amantes, embora seja óbvio que você o ame. Os boatos dizem que vocês estão juntos há seis ou sete anos, em grande proximidade, mas sem... contato formal. Ele é um sujeito fantástico, você é uma moça fantástica, e vocês formariam um excelente casal. A palavra-chave é "casal", Casey. Pode ser que você queira dinheiro e poder, e a Par-Con, mais do que quer a ele. O problema é seu. Não creio que possa ter ambos.

— Por que não?

— Parece-me que ou você escolhe a Par-Con e o poder e as riquezas, e nada de Bartlett, exceto como amigo... ou se torna a sra. Linc Bartlett e se comporta e ama e age como o tipo de mulher que, sem dúvida alguma, Orlanda seria. De um modo ou de outro, teria que ser cem por cento... você e o Linc são fortes demais, e provavelmente já se testaram mutuamente inúmeras vezes para se enganarem. Ele já se divorciou uma vez, portanto está com um pé atrás. Você já passou da idade de uma cegueira de Julieta, portanto está igualmente com um pé atrás.

— Você também é psiquiatra?

— Não — riu-se ele —, nem padre confessor, embora goste de saber das pessoas e goste de escutar, mas não de fazer sermão, e jamais de dar conselhos... é a coisa mais ingrata do mundo.

— Então, não há como conciliar?

— Acho que não, mas não sou você. Você tem o seu próprio carma. Independentemente de Orlanda... se não for ela, será outra, melhor ou pior, mas bonita, embora talvez não, porque, ganhe, perca ou empate, Orlanda tem classe, tem o necessário para tornar um homem satisfeito, feliz, fazê-lo sentir-se vivo como homem. Desculpe, não quis ser chauvinista, mas, já que perguntou, aconselharia você a se decidir depressa.

Gavallan entrou apressado na tribuna de Shitee TChung e reuniu-se ao tai-pan.

— Boa tarde — cumprimentou educadamente o casal idoso. — Desculpe, tai-pan, mas Crosse e o outro sujeito que você queria já tinham ido embora.

— Raios! — Dunross pensou por um momento, depois pediu licença e se afastou com Gavallan. — Você vem ao coquetel?

— Sim, se você quiser que eu vá... infelizmente não estou sendo muito boa companhia.

— Vamos entrar ali um minutinho — falou Dunross, e entraram na sala particular. O chá estava servido, além de uma garrafa de Dom Pérignon num balde de gelo.

— Comemoração? — perguntou Gavallan.

— É. Três coisas: a compra de controle da General Stores, a recuperação do Ho-Pak e o nascimento de uma nova era.

— É?

— É — Dunross começou a abrir a garrafa. — Você, por exemplo. Quero que vá para Londres segunda à noite, com as crianças. — Os olhos de Gavallan se arregalaram, mas ele ficou calado. — Quero que vá ver Kathy, visitar o especialista dela, depois levá-la, e às crianças, para o Castelo Avisyard. Quero que ocupe Avisyard por seis meses, talvez um ano ou dois. Seis meses, com certeza; ocupem toda a ala leste. — Gavallan soltou uma exclamação abafada. — Vai dirigir uma nova divisão, muito secreta, secreta para Alastair, para meu pai, para todos os membros da família, inclusive o David. Secreta para todos, exceto para mim.

— Que divisão? — perguntou Gavallan, demonstrando o seu entusiasmo e felicidade.

— Esta noite quero que você se aproxime de um sujeito, Andrew. Jamie Kirk. A mulher dele é meio chata, mas convide-os para Avisyard. Quero que você se infiltre na Escócia, especialmente em Aberdeen. Quero que adquira propriedades, mas muito discretamente: fábricas, desembarcadouros, pistas de pouso em potencial, heliportos perto das docas. Existem docas ali?

— Pombas, tai-pan, e eu Iá sei! Nunca estive Iá.

— Nem eu.

— Como?

Dunross riu ante a expressão no rosto de Gavallan.

— Não se preocupe. Seu orçamento inicial é de um milhão de libras esterlinas.

— Porra, mas de onde vai sair um milhão de...

— Não importa! — Dunross girou a rolha e segurou-a, abafando a explosão jeitosamente. Serviu o vinho claro e muito seco. — Tem um milhão de libras esterlinas para empregar nos próximos seis meses. Outros cinco milhões durante os próximos dois anos.

Gavallan fitava-o, boquiaberto.

— Ao fim desse tempo, quero que a Casa Nobre, muito discretamente, se torne uma potência em Aberdeen, com as melhores terras, a maior influência nos conselhos administrativos. Quero que você seja o senhor de Aberdeen... estendendo-se até Inverness, a leste, e Dundee, ao sul. Em dois anos, certo?

— Sim, mas... — Gavallan se deteve, sem saber o que dizer. Toda a sua vida desejara sair da Ásia. Kathy e as crianças também, mas nunca fora possível sequer levar isso em consideração. Agora, Dunross lhe entregava a Utopia, e ele nem conseguia aceitar direito a idéia. — Mas por quê?