— Nada, nada, Andrew — falou. — Nada com você. Fale-me dela. Que tal é?
— Boa de cálculo, ligeira e confiante, mas impaciente. E é a garota mais bonita que vejo há anos, aparentemente com o melhor par de mamas na cidade. — Gavallan contou-lhe das apostas. — Acho que Linbar está correndo por dentro.
— Vou despedir Foster e mandar Linbar para Sydney durante seis meses, para dar um jeito nas coisas por lá.
— Ótima idéia. — Gavallan riu. — Isso vai fazer com que pare de arrotar grandeza... embora digam que as moças da Austrália são muito "dadivosas".
— Acha que esse negócio vai ser fechado?
— Acho. Phillip estava eufórico com a proposta. Mas é uma merda negociar com uma mulher, juro. Acha que poderíamos chutá-la para escanteio e lidar diretamente com Bartlett?
— Não. Ele deixou bem claro na sua correspondência que K. C, Tcholok era quem faria as negociações.
— Ora bolas... então vamos em frente! O que não fazemos pela Casa Nobre!
— Já encontrou o ponto fraco dela?
— Impaciência. Ela quer "se enturmar"... ser um dos rapazes. Diria que o calcanhar-de-aquiles dela é que deseja desesperadamente ser aceita no mundo masculino.
— Não há mal em desejar isso... como o Santo Graal.
A reunião com Dawson foi marcada para amanhã às onze?
— Foi.
— Mande Dawson cancelá-la, mas não antes das nove de amanhã. Diga-lhe que dê uma desculpa qualquer e marque nova reunião para quarta-feira ao meio-dia.
— Boa idéia, deixá-la meio no ar, hem?
— Diga ao Jacques que eu mesmo vou à reunião.
— Sim, tai-pan. E quanto a John Chen? Vai querer que ele vá?
Depois de uma pausa, Dunross falou:
— Vou. Já o viu?
— Não. É esperado para o almoço... quer que vá caçá-lo?
— Não. Onde está Phillip?
— Foi para casa. Voltará às duas e meia.
Ótimo, pensou Dunross. Não se preocuparia mais com John Chen até aquela hora.
— Ouça... — O intercomunicador soou. — Um minutinho, Andrew. — Apertou o botão de espera. — Sim, Claudia?
— Desculpe a interrupção, tai-pan, mas sua ligação para o Sr. Jen, em Taipé, está na linha 2, e o Sr. Bartlett acaba de chegar lá embaixo.
— Faça-o entrar tão logo eu acabe de falar com Jen. — Apertou de novo a linha 4. — Andrew, talvez eu me atrase alguns minutos. Sirva drinques e banque o anfitrião por mim. Eu mesmo levarei Bartlett lá para cima.
— Certo.
Dunross apertou a linha 2.
— Tsaw an? — disse, em dialeto mandarim. — Como vai? Feliz por falar com o tio de Wei-wei, general Jen Tang-wa, subchefe da polícia secreta ilegal do Kuomintang em Hong Kong.
— Shey-shey — depois, em inglês: — O que há, tai-pan?
— Achei que devia saber... — Dunross contou-lhe rapidamente sobre as armas e Bartlett, e que a polícia estava envolvida, mas não sobre Tsu-yan ou John Chen.
— Ayeeyah! Muito curioso.
— Foi o que também achei. Muito curioso.
— Está convencido de que não é coisa do Bartlett?
— Estou. Parece não haver motivo para tal. Motivo algum. Seria uma estupidez usar o próprio avião. Bartlett não é estúpido — falou Dunross. — Quem precisaria desses armamentos aqui?
Fez-se uma pausa.
— Elementos criminosos.
— Tríades?
— Nem todas as tríades são criminosas.
— Não — disse Dunross.
— Verei o que posso descobrir. Tenho certeza de que não tem nada a ver conosco, Ian. Ainda vem para cá no domingo?
— Vou.
— Ótimo. Verei o que posso descobrir. Drinques às dezoito horas?
— Não poderia ser às vinte? Já se encontrou com Tsu-yan?
— Pensei que ele só viria no fim de semana. Não vai fazer o nosso quarteto na segunda-feira, com o americano?
— Vai. Ouvi dizer que tomou um avião hoje cedo para aí — disse Dunross, tentando falar com naturalidade.
— Com certeza vai me ligar... quer que ele telefone para você?
— Quero. A qualquer hora. Mas não é nada importante. Até domingo, às oito.
— Até, e obrigado pela informação. Se souber de alguma coisa, telefono imediatamente. Adeus.
Dunross desligou o aparelho. Estivera prestando muita atenção ao tom de voz de Jen, mas não percebeu nada de diferente. Onde diabo se metera Tsu-yan?
Uma batida à porta.
— Entre. — Levantou-se e foi receber Bartlett. — Alô.
— Sorriu e estendeu a mão. — Sou Ian Dunross.
— Linc Bartlett. — Apertaram-se as mãos com firmeza.
— Cheguei cedo demais?
— Está bem na hora. Deve saber que gosto de pontualidade. — Dunross riu. — Ouvi dizer que a reunião correu muito bem.
— Ótimo — replicou Bartlett, perguntando-se se Dunross estava se referindo à reunião com Gornt. — Casey conhece os fatos e os números.
— Meus companheiros ficaram muito impressionados. Ela disse que tinha poderes para concluir as negociações. Tem, Sr. Bartlett?
— Pode negociar e confirmar até vinte milhões. Por quê?
— Por nada. Só queria conhecer seu modo de trabalhar. Por favor, queira sentar-se. Ainda temos alguns minutos. O almoço só começa às doze e quarenta. Parece que temos um empreendimento lucrativo à nossa frente.
— Espero que sim. Tão logo eu fale com Casey. Quem sabe o senhor e eu possamos conversar?
Dunross verificou sua agenda.
— Amanhã às dez. Aqui?
— Combinado.
— Fuma?
— Não, obrigado. Parei faz alguns anos.
— Eu também... mas ainda sinto falta de um cigarro. — Dunross recostou-se na cadeira. — Antes de irmos almoçar, Sr. Bartlett, temos algumas coisinhas a conversar. Vou para Taipé no domingo à tarde, devo voltar na terça até a hora do jantar, e gostaria que o senhor fosse comigo. Gostaria que conhecesse umas pessoas, teremos um jogo de golfe de que poderá participar. Poderíamos conversar com bastante calma, e o senhor poderia ver os prováveis locais das fábricas. Poderia ser importante. Já tomei todas as providências, mas não será possível levar a srta. Tcholok.
Bartlett franziu o cenho, perguntando-se se a escolha de terça-feira seria apenas uma coincidência.
— Segundo o superintendente Armstrong, não posso sair de Hong Kong.
— Estou certo de que daremos um jeito nisso.
— Então também já sabe das armas? — perguntou Bartlett, e depois se xingou pelo deslize. Conseguiu manter o olhar firme.
— Sei, sim. Há mais alguém incomodando-o por causa delas? — perguntou Dunross, observando-o.
— A polícia até interrogou Casey! Meu Deus! Meu avião está retido, somos todos suspeitos, e não sei coisíssima alguma sobre arma nenhuma.
— Bem, não há por que se preocupar, Sr. Bartlett. A nossa polícia é muito boa.
— Não estou preocupado, só chateado.
— É compreensível — falou Dunross, satisfeito porque o encontro com Armstrong fora confidencial. Muito satisfeito.
"Santo Deus", pensou, inquieto, "se John Chen e Tsu-yan estiveram envolvidos de alguma forma, Bartlett vai ficar chateado de verdade, e perderemos o negócio. Ele vai se unir ao Gornt e então..."
— Como soube das armas?
— Fomos informados pelo nosso escritório em Kai Tak, hoje de manhã.
— Uma coisa dessas já aconteceu antes?
— Já. — Dunross acrescentou, despreocupadamente: — Mas não há mal algum num contrabandozinho, mesmo de armas. Na verdade é uma profissão muito honrada, mas é claro que o fazemos em outras bandas.
— Onde?
— Onde o governo de Sua Majestade o desejar. — Dunross riu. — Somos todos piratas aqui, Sr. Bartlett, pelo menos para o pessoal de fora. — Fez uma pausa. — Caso eu possa ajeitar as coisas com a polícia, irá a Taipé?
Bartlett disse:
— Casey sabe ficar de boca fechada.
— Não estou sugerindo que não seja digna de confiança.
— Só que não está sendo convidada?