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"Será que o Gornt agiu deliberadamente? Talvez a garota tenha subido por conta própria. Desceu quase imediatamente. Talvez até não devesse ter subido. Quem sabe?

"Merda! Há coisas demais acontecendo que não consigo equacionar: como a General Stores e a recuperação do Ho-Pak... coisas demais combinadas por dois sujeitos num sábado... dois uísques aqui e um telefonema ali. É tudo dinamite, se você faz parte do clube, mas, puta que o pariu, cuidado se não faz! Aqui, a gente tem que ser britânico ou chinês para estar enturmado.

"Eu sou 'estrangeiro', igualzinho a Orlanda.

"Contudo, eu podia ser feliz aqui, por algum tempo. E podia dar um jeito de aceitarem a Orlanda, em visitas curtas. Podia cuidar da costa do Pacífico e de ter a Par-Con como a Casa Nobre, mas para ela ser aceita como a Casa Nobre pelos britânicos e chineses, ainda teria que ser Struan-Par-Con, com o nosso nome em letrinhas miúdas, ou Rothwell-Gornt-Par-Con, nas mesmas condições.

"Casey?

"Com a Casey a Par-Con poderia ser uma Casa Nobre facilmente. Mas será que a Casey ainda é digna de confiança? Por que ela não me contou? Foi envolvida por Hong Kong e está começando a fazer o seu joguinho para ser a Número Um?

"É melhor você escolher, meu velho, enquanto ainda é tai-pan."

— Sim, Phillip?

Estavam no gabinete, sob o retrato de Dirk Struan, e Dunross escolhera o lugar deliberadamente. Phillip Chen estava sentado à sua frente. Muito formal, muito correto e muito cansado.

— Como vai o Aleksei?

— Ainda inconsciente.

— O dr. Tooley falou que ficará bom se sair do estado de coma dentro de duas horas.

— Tiptop?

— Fiquei de ligar para ele às vinte e uma horas.

— Ainda nenhuma aprovação da sua oferta... por parte das autoridades?

— Conhece a proposta que ele fez? — perguntou Dunross, estreitando os olhos.

— Ah, sim, tai-pan. Eu... perguntaram-me. Ainda acho difícil acreditar... Brian Kwok? Deus nos ajude, mas, sim... perguntaram qual a minha opinião antes de lhe apresentarem a sugestão.

— Que diabo, por que não me contou? — perguntou Dunross, bruscamente.

— Com razão você não me considera mais o representante nativo da Casa Nobre e nem me favorece com a sua confiança.

— Considera-se digno de confiança?

— Sim. Já o provei no passado muitas vezes, o meu pai também... e o dele. Apesar disso, se eu fosse você e estivesse sentado no seu lugar, não estaria tendo este encontro. Não o receberia na minha casa, e já teria decidido as maneiras e meios de sua destruição.

— Talvez eu já tenha.

— Você, não. — Phillip Chen apontou para o retrato. — Ele o teria feito, mas não você, Ian Struan Dunross.

— Não aposte nisso.

— Aposto.

Dunross ficou calado, esperando.

— Primeiro a moeda: espere até lhe pedirem o favor. Tentarei descobrir o que é, antecipadamente. Se for demais...

— Será demais.

— O que ele irá pedir?

— Alguma coisa relacionada com narcóticos. Correm fortes boatos de que Quatro Dedos, Yuen Contrabandista e Lee Pó Branco estão de sociedade, contrabandeando heroína.

— Ainda estão pensando no assunto. Não são sócios, na realidade — falou Phillip Chen.

— Outra vez lhe pergunto: por que não me contou? É seu dever como meu representante manter-me informado, e não anotar detalhes íntimos dos nossos segredos e depois perdê-los para os inimigos.

— Outra vez, peço perdão. Mas, agora, chegou a hora de falar.

— Porque você está acabado?

— Porque eu posso estar acabado... se não puder provar mais uma vez o meu valor.

O velho olhou para Dunross, desanimado, enxergando o rosto de muitos tai-pans no rosto do homem à sua frente, sem gostar do rosto, ou do rosto do homem que encimava a lareira, cujos olhos pareciam penetrar nele... o demônio estrangeiro pirata que havia desamparado seu bisavô por causa do sangue mestiço, metade do qual era dele próprio.

"Ayeeyah", pensou, controlando a sua raiva. "Esses bárbaros e a sua intolerância! Servimos cinco gerações de tai-pans, e agora este aí ameaça modificar o legado de Dirk por causa de um erro?"

— Sobre o pedido: mesmo que esteja ligado à heroína ou aos narcóticos, estará relacionado a alguma ação ou atitude futura. Concorde com ele, tai-pan, e prometo que cuidarei de Quatro Dedos muito antes que o pedido tenha que ser concedido.

— Como?

— Estamos na China. Cuidarei da coisa à moda chinesa. Juro pelo sangue dos meus ancestrais. — Phillip Chen apontou para o retrato. — Continuarei a proteger a Casa Nobre como jurei fazer.

— Que outras safadezas você tinha no cofre? Já examinei todos os documentos e balanços gerais que entregou ao Andrew. Com aquelas informações nas mãos erradas, estamos expostos.

— É, mas apenas diante do Bartlett e da Par-Con, desde que ele as guarde para si mesmo e não as passe adiante para o Gornt ou outro inimigo aqui. Tai-pan, o Bartlett não me parece uma pessoa maliciosa. Talvez possamos fazer um acordo com ele para recuperar o que possui, e pedir-lhe que mantenha em segredo as informações.

— Para fazer isso, teríamos que permutar com um segredo que ele não queira que seja revelado. Conhece algum?

— Ainda não. Como nosso sócio, deveria proteger-nos.

— É. Mas ele já está negociando com o Gornt, e adiantou dois milhões de dólares americanos para o Gornt poder vender as nossas ações a descoberto.

Phillip Chen ficou branco.

— Eeee, não sabia disso. — Pensou por um momento. —

Quer dizer que na segunda-feira Bartlett nos deixará e passará para o lado do inimigo?

— Não sei. No momento, acho que ele está em cima do muro. É o que eu faria, se fosse ele.

Phillip Chen mudou de posição na cadeira.

— Ele gosta muito de Orlanda, tai-pan.

— É, ela poderia ser a chave. Gornt deve ter providenciado isso, ou talvez a tenha empurrado para cima do Bartlett.

— Vai contar-lhe isso?

— Não, a não ser que haja motivo para tanto. Ele é maior de idade. — Dunross ficou ainda mais duro. — O que você propõe?

— Vai concordar com as novas concessões que o First Central está querendo?

— Quer dizer que também está sabendo disso?

— Deve ter querido que todo mundo soubesse que está buscando o apoio deles, tai-pan. Por que outro motivo convidar Murtagh para a sua tribuna nas corridas, por que outro motivo convidá-lo para vir aqui? Foi fácil ligar os fatos, mesmo não tendo cópias dos telex deles...

— Você tem?

— De alguns. — Phillip Chen pegou um lenço e enxugou as mãos. — Vai fazer as concessões?

— Não. Disse a ele que pensaria no assunto... ele está Iá embaixo esperando pela minha resposta, mas tem que ser negativa. Não posso garantir-lhe a primeira opção para todos os futuros empréstimos. Não posso, porque o Victoria tem tanto poder aqui, e tantos dos nossos títulos, que nos espremeria até a morte. De qualquer modo, não posso substituí-los por um banco americano que já provou ser politicamente indigno de confiança. São excelentes como apoio, e será fantástico se conseguirem nos tirar desta confusão, mas não estou certo quanto a eles a longo prazo.

— Também devem estar prontos a ceder em alguma coisa. Afinal, ter-nos dado dois milhões para firmar a compra de controle da General Stores revela um grande voto de confiança, heya?

Dunross deixou essa passar.

— O que você tinha em mente?

— Posso sugerir que você faça uma contraproposta específica: todos os empréstimos canadenses, americanos, australianos e sul-americanos por cinco anos, isso cobre a nossa expansão nesses territórios, mais o empréstimo imediato para dois petroleiros gigantes a serem adquiridos através da Toda, no esquema de venda e arrendamento, e, para um associado, pedidos da firma para mais sete anos.

— Pela madrugada! Quem tem este tipo de operação? — explodiu Dunross.

— Vee Cee Ng.

— Ng Fotógrafo? Impossível.