— É o melhor que posso fazer, oficialmente. — Que garantias me dá?
— Nenhuma, infelizmente, da parte do sr. Crosse e da minha. Parece que precisa haver confiança dos dois lados.
"Filhos da mãe!", pensou Dunross, furioso, "sabem que estou encurralado."
— Obrigado, pensarei no que disse. Meio-dia de amanhã? Vou participar da subida do morro, se não for cancelada... das dez ao meio-dia. Irei ao quartel-general da polícia tão logo possa, depois que a subida acabar.
— Não precisa se preocupar, sr. Dunross. Se ela não for cancelada, também estarei presente. Meio-dia pode ser o prazo limite tanto Iá quanto aqui. Certo?
— Certo. Boa noite. — Dunross desligou, sombriamente. — É um talvez, Phillip. Talvez, até o entardecer de segunda-feira.
Phillip Chen sentou-se, horrorizado. Sua palidez aumentara.
— Será tarde demais.
— Vamos descobrir. — Pegou o telefone e discou de novo. — Alô, boa noite! O governador pode atender, por favor? É Ian Dunross. — Sorveu o seu conhaque. — Lamento incomodá-lo, senhor, mas o sr. Sinders acaba de ligar, e o que ele disse foi: talvez. Talvez ao entardecer de segunda-feira. Pergunto-lhe se pode garantir isso.
— Não, Ian, não posso. Não tenho jurisdição sobre esse assunto. Lamento. Terá que tomar as providências diretamente. Contudo, Sinders me pareceu um homem razoável. Não achou?
— Não me pareceu nada razoável — disse Dunross, com um sorriso duro. — Obrigado. Não faz mal. Desculpe o incômodo, senhor. Ah, a propósito, se isso puder ser resolvido, Tiptop disse que o seu carimbo seria exigido, juntamente com o meu e o do banco. O senhor estaria disponível amanhã, se houver necessidade?
— Naturalmente. E, Ian, boa sorte.
Dunross repôs o fone no gancho. Depois de um momento, disse:
— Será que eles concordariam com o dinheiro amanhã em troca do sujeito ao entardecer de segunda-feira?
— Não creio — disse Phillip Chen, desalentado. — Tiptop foi claro: "Quando os procedimentos corretos forem cumpridos". A troca tem de ser simultânea.
Dunross recostou-se na cadeira alta, bebericou o seu conhaque e deixou a mente vagar.
Às nove em ponto, ligou para Tiptop e bateu papo, informalmente, até chegar o momento.
— Ouvi dizer que o subalterno da polícia será sem dúvida despedido por ter cometido um tal erro, e que a pessoa prejudicada poderá estar em Lo Wu ao meio-dia de terça-feira.
Fez-se um grande silêncio. A voz ficou mais fria do que nunca.
— Não acho que isso seja imediatamente.
— Concordo. Talvez eu consiga persuadi-los a antecipar para segunda. Talvez seus amigos possam ser um pouco pacientes. Eu o consideraria um favor muito grande.
Usou a palavra "favor" deliberadamente, e deixou-a no ar.
— Passarei adiante o seu recado. Obrigado, tai-pan. Por favor, ligue para mim às sete horas da noite de amanhã. Boa noite.
— Boa noite.
Phillip Chen rompeu o silêncio, muito preocupado.
— Esta é uma palavra cara, tai-pan.
— Eu sei. Mas não tenho opção — falou, a voz dura. — Sem dúvida haverá a exigência de um favor em troca, algum dia. — Dunross afastou os cabelos dos olhos e acrescentou: — Talvez seja com o Joseph Yu, quem sabe? Mas eu tinha que pedir.
— É. Você é muito sensato. Sensato como um homem mais velho, muito mais sensato do que Alastair e seu pai, mas não tão sensato quanto a Bruxa. — Um pequeno arrepio o percorreu. — Foi sensato em negociar o tempo, em não tocar no dinheiro, no dinheiro do banco, muito sensato. Ele é esperto demais para não saber que precisamos disso amanhã, no máximo até a noite.
— Daremos um jeito de consegui-lo. Isso tirará a pressão do Victoria de cima de nós. O Paul vai ter que convocar uma reunião de diretoria logo — acrescentou Dunross, de cara fechada. — Com Richard na diretoria, bem, o Richard nos deve muitos favores. A nova junta diretora votará pelo aumento do nosso fundo, assim não precisaremos do Bartlett, do First Central ou do amaldiçoado Mata.
Phillip Chen hesitou, depois falou, atropeladamente:
— Detesto ser o portador de outras más notícias, mas ouvi dizer que parte do acordo de Richard Kwang com Havergill incluiu o seu pedido de demissão assinado e não datado da junta diretora do Victoria, e uma promessa de votar exatamente como Havergill desejar.
Dunross soltou um suspiro. Tudo se encaixava. Se Richard Kwang votasse com a oposição, aquilo neutralizaria a sua posição dominante.
— Agora, só o que nos falta é perder mais um que nos apoie, e Paul e a sua oposição nos esmagarão. — Ergueu os olhos para Phillip Chen. — É melhor tentar aliciar o Richard.
— Vou tentar, mas ele já foi aliciado. E quanto ao P. B. White? Acha que ajudaria?
— Não contra o Havergill, ou o banco. Poderia, com o Tiptop — disse Dunross, pesadamente. — Ele é o próximo, e o último, da lista.
70
22h55m
As seis pessoas saíram dos dois táxis na entrada particular do prédio do Victoria Bank, na rua lateral. Casey, Riko Gresserhoff, Gavallan, Peter Marlowe, Dunross e P. B. White, um inglês magro e miúdo de setenta e cinco anos. A chuva tinha parado, embora a rua parcamente iluminada estivesse cheia de poças.
— Tem certeza de que não quer tomar mais uma bebidi-nha conosco, Peter? — perguntou P. B. White.
— Não, obrigado, P. B., está na hora de eu ir para casa. Boa noite e obrigado pela ceia, tai-pan!
Ele se afastou noite adentro, dirigindo-se para o terminal das barcas, que ficava do outro lado da praça. Nem ele nem os outros notaram o carro que parou logo mais abaixo, na rua. Dentro dele estavam Malcolm Sun, o agente do sei, e Povitz, o agente da CIA. Sun era quem dirigia.
— Esta é a única entrada e saída? — perguntou Povitz.
— É.
Ficaram vendo P. B. White apertar o botão da campainha.
— Que filhos da mãe de sorte! Aquelas duas donas são as melhores que já vi.
— A Casey é jóia, mas a outra... Há garotas mais bonitas em qualquer cabaré... — Sun se interrompeu. Um táxi passou por eles.
— Outro "cola"?
— Não, acho que não, mas se estamos vigiando o tai-pan, pode apostar que outros também estão.
— É.
Viram P. B. White apertar a campainha de novo. A porta se abriu, e o sonolento guarda-noturno sikh os cumprimentou:
— Boa noite, sahs, memsahs.
A seguir, dirigiu-se ao elevador, apertou o botão e fechou a porta da frente.
— O elevador é meio vagaroso. Antiquado, como eu. Desculpe — disse P. B. White.
— Há quanto tempo mora aqui, P. B.? — perguntou Casey, sabendo, pela leveza do seu passo e o brilho malicioso dos seus olhos, que não havia nada de antiquado nele.
— Há uns cinco anos, minha cara — falou, tomando-lhe o braço. — Tenho muita sorte.
"Claro", pensou ela, "e também deve ser muito importante para o banco. E poderoso. Tem que ser, para ocupar um dos únicos três apartamentos em todo o imenso prédio." Ele lhes contara que um dos outros pertencia ao diretor-chefe, que estava atualmente de licença para tratamento de saúde. O último deles estava mobiliado, mas ficava vazio.
— É para membros da realeza visitantes, o chefe do Banco da Inglaterra, primeiros-ministros, esse tipo de personalidades — dissera P. B. White com imponência, durante o jantar leve mas condimentado de comida de Szechuan. — Eu sou uma espécie de zelador que não recebe salário. Deixam que eu more Iá para cuidar do lugar.
— É, estou acreditando!
— Mas é verdade! Felizmente não há ligação entre esta parte do prédio e o banco em si, senão eu estaria afanando alguma grana!
Casey estava se sentindo muito feliz, efeito da boa comida, bons vinhos, conversa inteligente e muita atenção por parte dos quatro homens, especialmente Dunross — e muito contente por não ter sido suplantada por Riko —, tudo na sua vida aparentemente nos lugares de novo, Linc novamente o seu antigo Linc, embora estivesse na companhia do inimigo. Como vou lidar com ela?, perguntou-se pela bilionésima vez.