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A porta do elevador se abriu. Eles entraram, lotando a pequena área. P. B. White apertou o primeiro dos três botões.

— Deus mora no andar mais alto — deu uma risadinha.

— Quando está na cidade.

— Quando deve voltar? — perguntou Dunross.

— Daqui a três semanas, Ian. Ainda bem que ele não está em contato com Hong Kong... tomaria o primeiro avião de volta. Casey, nosso diretor-chefe é um sujeito maravilhoso. Infelizmente, há quase um ano que tem estado doente, e vai se aposentar daqui a três meses. Persuadi-o a tirar uma licença e ir para Caxemira, para um lugarzinho que conheço às margens do rio Jehlum, ao norte de Srinagar. O fundo do vale fica a uns mil e oitocentos metros, e Iá em cima, entre as grandes montanhas do mundo, é o paraíso. Há casas flutuantes nos rios e nos lagos, e você fica à deriva, sem telefones, sem correspondência, só você e o infinito, gente maravilhosa, ar maravilhoso, comida maravilhosa, montanhas estupendas. — Os olhos dele brilharam maliciosamente. — É preciso ir para Iá muito doente, ou com alguém a quem se ame muito. Eles acharam graça.

— Foi isso o que você fez, P. B.? — perguntou Gavallan.

— Naturalmente, meu caro. Foi em 1915 a primeira vez que estive Iá. Tinha vinte e sete anos, estava de licença do Terceiro Regimento de Lanceiros de Bengala. — Soltou um suspiro, parodiando um jovem enamorado. — Ela era da Geórgia, uma princesa.

Todos riram baixinho junto com ele.

— Qual foi o seu verdadeiro motivo para ir para Caxemira? — indagou Dunross.

— Eu tinha sido destacado por dois anos para o estado-maior indiano. Toda aquela área, o Hindu Kush, o Afeganistão e o que é agora chamado de Paquistão, nas fronteiras da Rússia e da China, sempre foi perigosa e sempre será. Depois, fui mandado para Moscou... no final de 17. — O rosto dele ficou um pouco mais tenso. — Eu estava Iá durante o Putsch, quando o verdadeiro governo de Kerenski foi derrubado por Lênin, Trótski e seus bolchevistas...

O elevador parou. Eles saltaram. A porta da frente do seu apartamento estava aberta, seu Criado Número Um Shu à espera.

— Entrem e fiquem à vontade — disse P. B. jovialmente. — O banheiro das senhoras fica à esquerda, o dos cavalheiros à direita, champanha na ante-sala... mostro a casa a vocês daqui a pouco. Ah, Ian, queria usar o telefone?

— Sim.

— Vamos, pode usar o meu gabinete. — Desceu um corredor ladeado por belos quadros e uma rara coleção de ícones. O apartamento era espaçoso, quatro dormitórios, três ante-salas, uma sala de jantar que acomodava vinte pessoas sentadas. O gabinete dele ficava no extremo oposto do corredor. Três paredes eram cobertas de livros. Couro velho, cheiro de bons charutos, uma lareira. Conhaque, uísque e vodca em garrafas de cristal. E porto. Logo que a porta se fechou, a preocupação dele aumentou. — Quanto tempo vai demorar? — perguntou.

— O mínimo que puder.

— Não se preocupe... eu farei sala para eles. Se você não voltar a tempo, apresentarei suas desculpas. Posso fazer mais alguma coisa?

— Faça pressão sobre o Tiptop.

Dunross lhe contara anteriormente sobre a possível transacão envolvendo a troca de Brian Kwok, embora nada sobre os papéis de Alan ou seus problemas com Sinders.

— Amanhã falarei com alguns amigos em Pequim, outros em Xangai. Talvez eles percebam a importância de nos ajudar.

Há muitos anos Dunross conhecia P. B. White, embora, como todos os demais, soubesse pouquíssimo do seu passado verdadeiro, de sua família, se tinha sido casado e tinha filhos, de onde vinha o seu dinheiro ou qual era o seu envolvimento real com o Victoria.

— Sou apenas uma espécie de conselheiro legal, embora já esteja aposentado há anos — dizia ele, vagamente, e mudava de assunto. Mas Dunross sabia que ele era um homem de muito charme, e com muitas namoradas igualmente discretas.

— A Casey é uma mulher e tanto, P. B. — falou, com um sorriso. — Acho que você ficou gamado!

— Também acho. Ah, se eu fosse uns trinta anos mais moço! E quanto a Riko! — As sobrancelhas de P. B. subiram Iá no alto. — Encantadora! Tem certeza de que é viúva?

— Absoluta.

— Gostaria de três dessas, por favor, tai-pan.

Soltou uma risadinha, dirigiu-se à estante de livros e apertou um botão. Parte da estante se abriu. Uma escada levava aos andares superiores. Dunross já se utilizara dela antes para conversas particulares com o diretor-chefe. Ao que soubesse, era o único estranho que tinha conhecimento do acesso secreto... outros dos muitos segredos que apenas poderia revelar ao tai-pan que o sucedesse.

— Foi a Bruxa que o mandou fazer — Alastair Struan lhe contara na noite em que assumira o cargo. — Juntamente com isso. — Entregara-lhe a chave-mestra dos cofres individuais nas caixas-fortes. — É política bancária que os Serralheiros Ch'ung Lien Loh Ltda. troquem as fechaduras. Apenas os nossos tai-pans sabem que somos donos daquela companhia.

Dunross devolveu o sorriso a P. B., rezando para que pudesse ser tão jovem quando tivesse a idade dele.

— Obrigado.

— Não se apresse, Ian — disse P. B. White, entregando-lhe uma chave.

Dunross subiu as escadas, correndo suavemente para o patamar do diretor-chefe. Destrancou uma porta que dava para um elevador. A mesma chave destrancava o elevador. Havia apenas um botão. Trancou a porta externa e apertou o botão. O elevador tinha sido bem lubrificado, e era silencioso. Finalmente parou, e a porta interna se abriu. Ele empurrou a externa. Estava no gabinete do diretor-chefe. Johnjohn levantou-se, cansado.

— Mas de que diabo se trata, Ian?

Dunross fechou a porta falsa, que se encaixava perfeitamente na estante de livros.

— O P. B. não lhe contou? — perguntou, a voz mansa, sem demonstrar nada da tensão que sentia.

— Disse que era para eu levá-lo até as caixas-fortes logo mais para apanhar alguns papéis, para por favor deixá-lo entrar, e que não havia necessidade de incomodar Havergill. Mas por que toda essa encenação de capa-e-espada? Por que não usar a porta da frente?

— Deixe disso, Bruce. Ambos sabemos que você tem a autoridade necessária para abrir a caixa-forte para mim.

Johnjohn começou a dizer qualquer coisa, mas mudou de idéia. O diretor-chefe dissera, antes de viajar:

— Faça o favor de reagir favoravelmente a qualquer sugestão de P. B., certo?

P. B. chamava pelo primeiro nome o governador, a maioria dos "super-vips" visitantes, e compartilhava da linha direta do diretor-chefe para o pessoal deles que ainda operava em Xangai e Pequim, secretamente.

— Está certo — disse.

Os passos deles ecoaram no vasto andar principal do banco parcialmente iluminado. Johnjohn cumprimentou um dos guardas-noturnos que fazia a sua ronda, depois apertou o botão do elevador que levava às caixas-fortes, abafando um bocejo nervoso.

— Santo Deus, estou estourado.

— Foi você que arquitetou a compra de controle do Ho-Pak, não foi?

— Foi, sim, mas se não fosse pelo seu golpe fantástico com a General Stores, não creio que o Paul... bem, aquilo ajudou muito. Um golpe fantástico, Ian, se conseguir mesmo realizá-lo.

— Já está no papo.

— Qual o banco japonês que está lhe financiando os dois milhões?

— Por que forçaram o pedido de demissão antecipado de Richard Kwang?

— Hem? — Johnjohn fitou-o sem entender. O elevador chegou. Entraram nele. — O quê?

Dunross explicou o que Phillip Chen lhe contara.

— Isso não é correto. Um diretor do Victoria tendo que assinar um pedido de demissão sem data, como uma operação de dois cents? Não é?

Johnjohn sacudiu a cabeça devagar.

— Não, isso não fazia parte do meu plano. — O cansaço dele sumira. — Posso entender por que está preocupado.

— "Puto da vida" seria a expressão mais apropriada.