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— Bem-vindo — disse suavemente, em russo. — Fez boa viagem?

— Sim, camarada comandante, muito boa — replicou Koronski, também falando baixo, por hábito.

— Venha sentar-se.

Suslev indicou uma mesa onde havia café e duas xícaras. A sala era desleixada, com poucos móveis. As janelas, cobertas por persianas sujas.

— O café é bom — falou Koronski, educadamente, achando que era pavoroso, nada que se comparasse ao café à moda francesa das exóticas Bangkok, Saigon e Phnom Penh.

— É o uísque — disse Suslev, a fisionomia dura.

— O Centro ordenou que eu fique à sua disposição, camarada comandante. O que quer que eu faça?

— Há um homem aqui que tem uma memória fotográfica. Precisamos saber o que há nela.

— Onde o cliente deve ser interrogado? Aqui? Suslev sacudiu a cabeça.

— A bordo do meu navio.

— Quanto tempo temos?

— Todo o tempo de que você precisar. Nós o levaremos conosco para Vladivostok.

— É muito importante obter informações de qualidade?

— Muitíssimo.

— Nesse caso, preferiria fazer a investigação em Vladivostok... posso dar-lhe sedativos e instruções especiais que manterão o cliente dócil durante a viagem para Iá, e que começarão o processo de amaciamento.

Suslev repensou o problema. Precisava da informação de Dunross antes de chegar a Vladivostok.

— Não pode vir comigo no meu navio? Zarpamos com a maré, à meia-noite.

Koronski hesitou.

— Recebi ordens do Centro para prestar-lhe assistência, contanto que não arrisque o meu disfarce. Se fosse para o seu navio, isso sem dúvida aconteceria... o navio certamente estará sob vigilância. Se eu sumir do hotel, hem?

Suslev balançou a cabeça, concordando. "Não faz mal", pensou. "Sou um interrogador tão bem treinado quanto Koronski, embora nunca tenha feito um interrogatório em profundidade com substâncias químicas."

— Como se faz um interrogatório com a ajuda de substâncias químicas?

— É muito simples. Injeções intravenosas de um agente químico que chamamos de Pentothal-V6, duas vezes ao dia, durante dez dias, com intervalos de doze horas... depois que o cliente estiver num estado mental adequado, assustado e desorientado, graças ao método costumeiro de dormir-acordar, seguido por quatro dias de ausência de sono.

— Temos um médico a bordo. Será que ele pode aplicar as injeções?

— Sim, claro. Posso sugerir-lhe que eu escreva o modo de agir e lhe forneça todas as substâncias químicas necessárias? Você fará o interrogatório?

— Sim.

— Se seguir o procedimento estabelecido, não terá problemas. A única coisa séria a lembrar é que, uma vez que o Pentothal-V6 seja administrado, a mente do cliente fica como uma esponja molhada. É preciso muito carinho e um cuidado ainda maior para extrair a quantidade exata de água, a informação, no ritmo exato, ou então a mente ficará permanentemente danificada, e todas as outras informações perdidas para sempre. — Koronski soltou baforadas do seu cigarro. — É fácil perder um cliente.

— É sempre fácil perder um cliente — falou Suslev. — Qual a eficácia desse Pentothal-V6?

— Tivemos grandes sucessos e alguns fracassos, camarada comandante — replicou Koronski, cautelosamente. — Se o cliente for bem preparado e saudável, estou certo de que terá êxito.

Suslev não respondeu, apenas deixou a mente reexaminar o plano apresentado tão entusiasticamente por Plumm no fim da noite anterior, plano com o qual Crosse concordara relutantemente.

— É uma barbada, Grigóri, tudo está se encaixando. Agora que o Dunross não vai para Taipé, virá à minha festa. Dar-lhe-ei uma bebida drogada, que o fará enjoar pra burro... será fácil fazer com que vá se deitar num dos quartos... a mesma droga o fará dormir. Logo que os outros tiverem ido embora (e a festa vai ser curtinha, das seis às oito), eu o colocarei num baú e o levarei até o carro pela entrada lateral. Quando derem por falta dele, direi que o deixei dormindo no quarto e que não tenho idéia da hora em que ele saiu. Bem, como vamos colocar o baú a bordo?

— Isso não é problema — disse ele. — Mande entregá-lo no barracão 7 do estaleiro de Kowloon. Estamos recebendo todo tipo de suprimentos a granel e mercadorias, já que nossa partida foi antecipada, e mal se examina o que sai de Hong Kong. — Suslev acrescentara, com divertimento sombrio: — Existe até mesmo um caixão, se precisarmos dele. O corpo de Voranski vem do necrotério as vinte e três horas, uma entrega especial. Filhos da mãe! Por que Nosso Amigo não apanhou os filhos da mãe que o assassinaram?

— Está fazendo o que pode, Grigóri. Está, sim, juro. Logo os apanhará... mas, o que é mais importante, este plano vai funcionar!

Suslev balançou a cabeça, concordando com seus botões. "É, é exeqüível. E se o tai-pan foi interceptado e descoberto? Não sei de nada, Boradinov não sabe de nada, embora seja o responsável, e eu simplesmente zarparei deixando Boradinov levar a culpa, se for necessário. Roger dará cobertura a tudo. Ah, sim", pensou, sombriamente, "dessa vez será o pescoço do Roger no cepo britânico, se eu não tiver cobertura. Plumm tem razão. O seqüestro do tai-pan pelos Lobisomens ajudará a criar o caos completo por algum tempo, sem dúvida com quase nenhum risco... tempo bastante para cobrir o desastre do Metkin e a intercepção das armas."

Ligara para Banastasio naquela noite, para se certificar de que o projeto da Par-Con estava em andamento, e ficou chocado ao saber da reação de Bartlett.

— Mas, sr. Banastasio, o senhor nos garantiu que teria tudo sob controle. O que pretende fazer?

— Pressão, sr. Marshall — disse Banastasio apaziguado-ramente, usando o pseudônimo pelo qual o conhecia. — Pressão até o fim. Farei a minha parte, o senhor faça a sua.

— Ótimo. Então prossiga com seu encontro em Macau.

Garanto que um carregamento substituto estará em Saigon dentro de uma semana.

— Mas esses palhaços aqui já disseram que não negociarão sem carregamento nas mãos.

— Ele será entregue diretamente aos nossos amigos viet-congues em Saigon. Pode fazer os arranjos que achar necessários para o pagamento.

— Claro, claro, sr. Marshall. Onde vai ficar em Macau? Onde posso entrar em contato com o senhor?

— Estarei no mesmo hotel — dissera-lhe, sem ter intenção de fazer contato. Em Macau, outro controlador com o mesmo pseudônimo cuidaria daquela parte da operação.

Sorriu consigo mesmo. Pouco antes de deixar Vladivostok, o Centro lhe ordenara que fosse o controlador daquela operação independente, codinome King Kong, que fora montada por um dos aparelhos do KGB em Washington. Só o que ele sabia do plano é que iam mandar armas avançadas, altamente secretas, para os vietcongues em Saigon, através da mala diplomática. Em troca, e em pagamento pela informação, ópio seria entregue a bordo em Hong Kong... a quantidade dependendo do número de armas contrabandeadas.

— Quem bolou isso merece uma promoção imediata — dissera ele ao Centro, encantado, e escolhera o pseudônimo de Marshall por causa do general Marshall e seu plano, que todos sabiam havia arruinado a tomada imediata e total da Europa pelos soviéticos, no final dos anos 40. "Esta é a nossa vingança, o nosso Plano Marshall ao contrário", pensou.

Abruptamente, riu em voz alta. Koronski esperou, atentamente, calejado demais para perguntar o que havia de tão divertido. Mas, sem pensar, analisara a risada. Havia medo nela. O medo era contagioso. Gente com medo comete erros. Erros prendem inocentes em armadilhas.

"É", pensou, inquieto, "esse homem cheira a covardia. Mencionarei o fato no meu próximo relatório, mas delicadamente, para o caso de ele ser importante."

Ergueu os olhos e viu que Suslev o observava, e perguntou-se, nauseado, se o homem lera os seus pensamentos.