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"Será que a subida do morro vai ser realizada? Ontem à noite ele disse que seria cancelada, mas que alguns deles poderiam fazê-la, de qualquer jeito."

Então, seus olhos depararam com a lancha a motor que se aproximava. Era grande, cara, as linhas esguias, uma insígnia vermelha na popa, uma flâmula colorida no mastro. Ela enxergou Gornt ao leme. Vestia-se informalmente, as mangas da camisa enroladas, calças de lona, o cabelo negro despen-teado pela brisa do mar. Ele acenou, e ela retribuiu o aceno. Havia outros na ponte do convés principaclass="underline" Jason Plumm, que conhecera nas corridas, Sir Dunstan Barre, que conhecera na casa do tai-pan... usava um elegante blazer azul e calças brancas, e Pugmire estava igualmente vestido de acordo.

Gornt encostou a embarcação pesada com habilidade, as defensas para fora, dois marinheiros de convés segurando as varas com gancho. Ela se dirigiu ao longo do embarcadouro na direção dos degraus molhados e escorregadios. Cinco moças chinesas já esperavam no cais, vestidas alegremente em roupas esportivas, rindo, tagarelando e acenando. Enquanto Casey observava, saltaram desajeitadamente para dentro do barco, ajudadas por um marinheiro, e chutaram para longe seus sapatos de salto alto. Uma se dirigiu para Barre, outra para Pugmire e a outra para Plumm, como velhas amigas; as outras duas foram alegremente para baixo.

"Puta que o pariu!", pensou ela, enojada. "É uma dessas festinhas." Começou a virar-se para ir embora quando viu Gornt debruçado sobre a amurada, observando-a.

— Alô, Casey, lamento quanto à chuva, suba a bordo!

A embarcação mergulhava e rodopiava no mar revolto, as ondas batendo nos degraus e no casco.

— Pode subir, é seguro — chamou ele. Reagindo imediatamente ao que considerou um desafio, ela desceu os degraus rapidamente, recusou a ajuda do marinheiro, esperou pelo momento correto e saltou. — Você agiu como se já tivesse estado a bordo de um iate antes — disse Gornt com admiração, vindo recebê-la. — Bem-vinda a bordo do Sea Witch.

— Eu gosto de velejar, Quillan, mas acho que talvez esteja meio deslocada aqui.

— É? — Gornt franziu o cenho, e ela não percebeu nenhum desafio ou implicância na expressão dele. — Está se referindo às garotas?

— Estou.

— São apenas convidadas dos meus convidados. — Os olhos dele a fitaram, penetrantes. — Pensei que quisesse ser tratada com igualdade.

— Como?

— Pensei que quisesse ser tratada como igual num mundo masculino, nos negócios e no prazer. Ser aceita, não é?

— E quero — disse ela, com frieza. A simpatia dele não se altetou.

— Está chateada porque eles são casados e você conheceu algumas das suas mulheres?

— É, acho que sim.

— Isso não é injusto?

— Não, acho que não — retrucou ela, constrangida.

— Você é minha convidada, minha convidada, as outras são convidadas dos meus convidados. Se você quer igualdade, então deve estar preparada para aceitar a igualdade.

— Isso não é igualdade.

— Estou colocando-a numa posição de confiança. Como igual. Devo dizer-lhe que os outros não a consideraram tão digna de confiança quanto eu considero. — O sorriso dele tornou-se mais duro. — Disse-lhes que podiam ficar ou ir embora. Faço o que quero no meu barco, e garanti sua discrição e bons modos. Estamos em Hong Kong, nossos costumes são diferentes. Não estamos numa sociedade puritana, embora tenhamos regras muito sérias. Você é sozinha. Solteira. Muito atraente e muito bem-vinda. Como igual. Se fosse casada com o Linc, não teria sido convidada, sozinha ou junto com ele, embora ele talvez tivesse sido, e o que lhe contasse ao voltar seria problema dele.

— Está dizendo que este é um costume regular de Hong Kong... as saidinhas dos rapazes com as garotas no domingo à tarde?

— Não, de maneira alguma. Estou dizendo que meus convidados perguntaram se podiam trazer convidadas para alegrar o que talvez fosse um almoço chato para eles.

Os olhos de Gornt estavam firmes.

O Sea Witch adernou sob outra onda, e Barre e a garota dele tropeçaram e quase caíram. Ela deixou cair a taça de champanha. Gornt não se mexera. Nem Casey. Ela nem sequer precisou se agarrar a coisa alguma.

— Já andou muito de barco? — disse ele, com admiração.

— Tenho um classe Olímpica de dezoito pés, de fibra de vidro, de um só mastro, num reboque. Costumo sair nos fins de semana, às vezes.

— Sozinha?

— Na maioria das vezes. Às vezes, Linc vem junto.

— Ele está na subida do morro?

— Não. Ouvi dizer que foi cancelada.

— Ele vai para Taipé hoje à tarde?

— Não. A viagem também foi cancelada. Gornt balançou a cabeça.

— Foi sensato. Há muita coisa para ser feita amanhã. — Os olhos dele eram bondosos. — Lamento se a ofendi. Pensei que você fosse diferente. Agora lamento que as outras tenham vindo.

Casey notou a estranha suavidade.

— E, eu também lamento.

— Ainda quer ficar? Espero que sim, embora conte com sua discrição... dei garantia dela aos outros.

— Ficarei — disse ela, simplesmente. — Obrigada por confiar em mim.

— Venha para a ponte. Temos champanha, e creio que o almoço lhe agradará.

Tendo feito sua escolha, Casey deixou de lado suas reservas e resolveu aproveitar o dia.

— Para onde estamos indo?

— Para perto de Sha Tin. Lá o mar estará mais calmo.

— Puxa, Quillan, que barco maravilhoso!

— Daqui a pouco mostro-o todo a você.

Caiu um pouco de chuva, e eles foram se proteger sob o toldo do convés. Gornt olhou para o relógio de bordo. Marcava dez e dez. Já ia ordenar a largada quando Peter Marlowe desceu rapidamente e subiu a bordo. Arregalou os olhos ao ver Casey.

— Desculpe o atraso, sr. Gornt.

— Tudo bem, sr. Marlowe. Ia dar-lhe uns dois minutos... sei como é quando se têm filhos pequenos. Dêem-me licença um segundo, acredito que já se conheçam. Ah, Casey é minha convidada... respondo pela discrição dela. — Sorriu para ela. — Não é?

— Naturalmente.

Virou-se e afastou-se, dirigindo-se à ponte para assumir o leme. Ficaram olhando para ele por um momento, ambos encabulados, a brisa marinha refrescando a chuva que caía.

— Não esperava vê-lo, Peter — disse ela.

— Nem eu a você.

Ela olhou atentamente para ele, os olhos cor de avelã firmes.

— Uma das... das outras é sua? Diga a verdade. O sorriso dele foi curioso.

— Mesmo que fosse, eu diria que não era da sua conta. Discrição, e coisa e tal. A propósito, você é namorada do Gornt?

— Não, claro que não!

— Então, por que motivo está aqui?

— Não sei. Ele... ele falou que fui convidada como igual.

— Ah, entendo. — Peter Marlowe estava igualmente aliviado. — Ele tem um estranho senso de humor. Bem, eu a avisei. Para responder à sua pergunta: pelo menos oito delas fazem parte do harém de Marlowe! — Ela riu junto com ele, que acrescentou, com mais seriedade: — Não precisa se preocupar com a Fleur. Ela é muito sensata.

— Eu gostaria de ser, Peter. Tudo isso é um tanto novo para mim. Desculpe a... é, desculpe.

— Para mim também é novidade. Nunca estive num passeio de barco de domingo antes. Por que você...

O sorriso dele desapareceu. Ela acompanhou o seu olhar. Robin Grey acabava de vir Iá de baixo, e se servia de uma taça de champanha, com uma das garotas estendendo a sua taça para ser servida também. Casey virou-se e fitou Gornt, observando enquanto ele olhava de um homem para o outro, depois para ela.

— Venham para cá — chamou Gornt. — Há vinho, champanha, bloody marys, ou, se você preferirem, café.

Mantinha a fisionomia inexpressiva, mas intimamente divertia-se à grande,

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11h15m

— Repito, sr. Sinders, não sei coisa alguma sobre nenhum cabograma, nenhum Arthur, nenhuma pasta, nenhum americano, e não conheço nenhum major Iúri Bakian... o homem era ígor Voranski, marinheiro de primeira classe.