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Suslev controlava com força o seu gênio. Sinders estava sentado diante dele, atrás da mesa na sala de interrogatório do quartel-general da polícia. Suslev esperara encontrar Roger Crosse ali, para ajudá-lo. Mas não o vira desde que chegara.

"Tome cuidado", advertira a si mesmo, "está por sua própria conta. Não vai obter ajuda do Roger. E com razão. O espião tem que ser protegido. E quanto a Boradinov, também não é de nenhuma ajuda." Lançou um olhar ao seu imediato, sentado ao seu lado, duro, rígido na cadeira, e muitíssimo constrangido.

— E ainda insiste em que o nome desse espião Dmítri Metkin não era Leonov, Nikolai Leonov, também major do KGB?

— É bobagem, tudo bobagem. Relatarei ao meu governo todo este incidente, eu...

— Seus reparos já estão terminados?

— Sim, ou pelo menos estarão até a meia-noite. Trazemos bom dinheiro para Hong Kong, e pagamos nossas contas...

— E não criam outra coisa senão problemas curiosos. Como o major Leonov, como Bakian?

— Está se referindo ao Metkin? — Suslev olhou feio para Boradinov, para aliviar um pouco a pressão. — Conhecia algum Leonov?

— Não, camarada comandante — gaguejou Boradinov. — Não sabíamos de nada.

— Que bando de falsários! — suspirou Sinders. — Felizmente Leonov nos contou um bocado de coisas sobre vocês e o Ivánov antes de vocês o assassinarem. É, seu major Leonov cooperou muito. — Subitamente, sua voz ficou cortante como um chicote. — Imediato Boradinov, queira esperar Iá fora!

O homem mais moço se pôs de pé sem sentir, muito pálido. Abriu a porta. Do lado de fora, um hostil agente chinês do sei indicou-lhe uma cadeira, fechando a porta mais uma vez.

Sinders deixou o cachimbo de lado, pegou um maço de cigarros e acendeu um tranqüilamente. A chuva fustigava as janelas. Suslev esperou, o coração doendo dentro do peito. Observava o inimigo por sob as sobrancelhas espessas, imaginando o que Roger Crosse teria para ele de tão urgente. Naquela manhã, quando o telefone secreto tocara, era Arthur perguntando se Suslev poderia encontrar-se com Roger Crosse por volta das oito da noite, no Sinclair Towers.

— O que há de tão urgente? Eu deveria estar no meu navio, preparando-me...

— Não sei. Roger disse que era urgente. Não havia tempo de discutir nada. Já se encontrou com Koronski?

— Já. Está tudo acertado. Pode fazer a entrega?

— Ah, sim. Muito antes da meia-noite.

— Não falhe, o Centro agora está contando com você. — E acrescentara, mentindo: — Diga ao Nosso Amigo que são ordens.

— Excelente. Não falharemos.

Suslev notara o entusiasmo. Parte do seu medo o abandonara. Agora, estava voltando. Não gostava de estar ali, tão perto de ficar permanentemente. A reputação de Sinders era bem conhecida no KGB: dedicado, inteligente, dado a grandes intuições.

— Estou muito cansado dessas perguntas, sr. Sinders — disse, espantadíssimo ao ver que o chefe da MI-6 em pessoa viera a Hong Kong, e podia parecer tão sem importância. Levantou-se, testando-o. — Vou-me embora.

— Fale-me da Sevrin.

— Severin? O que é Severin? Não tenho que ficar e responder às suas perguntas, não tenho...

— Concordo, camarada comandante. Normalmente. Mas um dos seus homens foi pego espionando, e nossos amigos americanos realmente desejam pôr as mãos no senhor.

— Hem?

— É, sim, e temo que não sejam tão pacientes quanto nós. O medo de Suslev voltou com força total.

— Mais ameaças! Por que me ameaçam? — falou nervosamente. — Respeitamos a lei. Não sou responsável pelos problemas! Exijo que me deixem voltar para o meu navio! Agora!

Sinders simplesmente olhou para ele.

— Está certo. Por favor, retire-se — falou, serenamente.

— Posso ir?

— Sim, claro. Bom dia.

Atônito, Suslev fitou-o por um momento, depois virou-se e dirigiu-se à porta.

— Naturalmente, "vazaremos" para os seus superiores que o senhor nos entregou Leonov.

Suslev deteve-se, sem cor.

— O que foi, o que foi que disse?

— Leonov nos contou, entre outras coisas, que o senhor o encorajou a fazer a intercepção. Que deixou "vazar" a troca.

— Mentiras... mentiras — falou, repentinamente apavorado com a possibilidade de Roger Crosse ter sido apanhado, como Metkin o fora.

— Também não deixou "vazar" sobre o Bakian para os agentes norte-coreanos?

— Não, claro que não — gaguejou Suslev, imensamente aliviado ao descobrir que Sinders estava jogando verde, provavelmente sem nenhuma informação verdadeira. Um pouco da sua confiança voltou. — Mais bobagem. Não conheço nenhum norte-coreano.

— Acredito no senhor, mas estou certo de que o Primeiro Diretório não acreditará. Bom dia.

— O que quer dizer com isso?

— Fale-me do cabograma.

— Não sei nada a respeito. Seu superintendente se enganou, não o deixei cair.

— Ah, deixou, sim. Que americano?

— Não sei nada de americano nenhum.

— Fale-me da Sevrin.

— Nem sei o que é essa Severin. O que é, quem é?

— Estou certo de que sabe que seus superiores no KGB são muito impacientes com "vazamentos", e muito desconfiados. Se conseguirem zarpar, sugiro que o senhor, seu imediato, seu navio e toda a sua tripulação não voltem novamente para estas águas...

— Está me ameaçando de novo? Isso se tornará um incidente internacional. Informarei ao meu governo e ao seu, e...

— É, e nós também, oficial e particularmente. Muito particularmente.

Os olhos de Sinders estavam gelados, embora seus lábios ostentassem um sorriso.

— Posso... posso ir, agora?

— Sim. Em troca de informação.

— Como?

— Quem é o americano, e quem é Arthur?

— Não conheço nenhum Arthur. Arthur do quê?

— Vou esperar até meia-noite. Se o senhor zarpar sem me contar, quando voltar a Londres providenciarei para que chegue aos ouvidos do seu adido naval em Londres a informação de que o senhor entregou Leonov, a quem chama de Metkin, assim como Bakian, a quem chama de Voranski, em troca de favores do sei.

— Mentira, tudo mentira, sabe que é mentira.

— Quinhentas pessoas o viram no hipódromo com o superintendente Crosse. Foi quando lhe entregou o Metkin.

— Tudo mentira — repetiu Suslev, tentando ocultar o seu terror.

Sinders deu uma risadinha.

— Veremos, não é? Seu novo adido naval em Londres se agarrará a qualquer oportunidade de cair nas boas graças dos superiores,

— Não entendo — disse Suslev, entendendo muito bem. Estava encurralado.

Sinders inclinou-se para a frente para esvaziar o fumo do cachimbo.

— Ouça-me claramente — falou, com um tom de decisão na voz. — Trocarei sua vida pelo americano e por Arthur.

— Não conheço nenhum Arthur.

— Será um segredo apenas entre nós dois. Não contarei a ninguém. Dou-lhe a minha palavra.

— Não conheço nenhum Arthur.

— Indique-o, e estará seguro. O senhor e eu somos profissionais, compreendemos permutas... e segurança... e um acordo particular ocasional e muito sigiloso. Desta feita foi apanhado, tem que negociar. Se zarpar sem me dizer quem é Arthur, assim como Deus fez os peixinhos do mar e o KGB existe, vou denunciá-lo. — Os olhos penetrantes o fitaram. — Bom dia, camarada comandante.

Suslev levantou-se e saiu. Quando ele e Boradinov estavam novamente ao ar livre, na realidade de Hong Kong, começaram a respirar. Em silêncio, Suslev levou o outro até o bar mais próximo, do outro lado da rua. Pediu duas vodcas duplas.

A mente de Suslev estava embaralhada. "Khristos", queria gritar, "estou morto se o fizer, e estou morto se não o fizer. Aquele cabograma amaldiçoado! Se eu entregar Banastasio e Arthur, admitirei que estou a par da Sevrin, e estarei nas mãos deles para sempre. Se não o fizer, minha vida estará terminada, sem dúvida. De uma maneira ou de outra, será perigoso ir para casa agora, e igualmente perigoso voltar. De uma maneira ou de outra, agora preciso das pastas de Alan ou de Dunross, ou de ambos, para proteção. De uma maneira ou de...