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Esperaram durante meia hora. Ele não conseguia ler os lábios deles.

— Ela deve ser a Gresserhoff — disse Sinders. Crosse concordou.

— Vamos indo, então? Não há motivo para esperar. Vamos ao nosso peixe com batatas fritas.

Saíram. Os agentes chinês e britânico do sei ficaram esperando pacientemente, sem conseguir ouvir o que estava sendo dito, invejando Dunross, como muitos na sala... porque ele era o tai-pan, e por causa dela.

— Gehen Sie? — ela perguntou em alemão. (Você vai?)

— Para o Japão, Riko-jtf#? Vou, sim — respondeu, no mesmo idioma —, daqui a duas semanas. Receberemos um novo cargueiro gigante das Indústrias de Navegação Toda. Conversou com Hiro Toda ontem?

— Ah, sim, tive essa honra. A família Toda é famosa no Japão. Antes da Restauração, quando a classe dos samurais foi abolida, minha família serviu aos Todas.

— Sua família era samurai?

— Sim, mas de um grau inferior. Não mencionei minha família para ele. Aquela era uma época antiga. Não gostaria que ele soubesse.

— Como quiser — disse, a curiosidade aguçada. — Hiro Toda é um homem interessante — falou, dando-lhe corda.

— Toda-sama é muito sábio, muito forte, muito famoso. — O garçom trouxe a salada deles, e, quando ele se foi, ela continuou: — A Struan também é famosa no Japão.

— Não é bem assim.

— Ah, é. Lembramo-nos do príncipe Yoshi.

— Ah, não sabia que você sabia.

Em 1854, quando Perry forçara o xógum Yoshimitsu To-ranaga a abrir o Japão para o comércio, a Bruxa zarpara para o norte, saindo de Hong Kong, com o pai e inimigo, Tyler Brock, atrás. Graças a ela, a Struan foi a primeira empresa a entrar no Japão, a primeira a comprar terras para um posto comercial, e a primeira de fora a comerciar. Ao longo dos anos e de muitas viagens, ela fez do Japão uma pedra angular da política da Struan.

Durante os primeiros anos, ela conheceu um jovem príncipe, príncipe Yoshi, parente do imperador e primo do xógum... sem cuja permissão nada acontecia no Japão. Seguindo a sugestão dela, e com a sua ajuda, esse príncipe foi para a Inglaterra num veleiro da Struan para conhecer o poderio do Império Britânico. Voltou para casa, alguns anos depois, em outro navio da Struan, e naquele ano alguns dos barões feudais — os daimios —, odiando a incursão dos estrangeiros, revoltaram-se contra o xógum, cuja família, Toranaga, governara o Japão exclusivamente por dois séculos e meio, numa linhagem sem interrupção, remontando ao grande general Yoshi Toranaga. A revolta dos daimios obteve êxito, e o poder foi devolvido ao imperador, mas o país estava fendido.

— Sem o príncipe Yoshi, que se tornou um dos principais ministros do imperador — disse ela, inconscientemente falando em inglês —, o Japão ainda estaria tremendo e dividido pela guerra civil.

— E por quê? — perguntou ele, querendo que ela continuasse a falar com aquele sotaque encantador.

— Sem a ajuda dele, o imperador não teria êxito, não teria conseguido abolir os xóguns, abolir a lei feudal, os daimios, toda a classe dos samurais, forçando-os a aceitar uma Constituição moderna. Foi o príncipe Yoshi que negociou a paz entre os daimios, depois convidou peritos ingleses para o Japão, para construir a nossa marinha, nossos bancos e nosso funcionalismo público, e nos ajudar a entrar no mundo moderno. — Uma ligeira sombra cobriu seu rosto. — Meu pai me falou muito dessa época, tai-pan, e ainda não faz cem anos que tudo aconteceu. A transição do domínio dos samurais para a democracia foi freqüentemente sangrenta. Mas o imperador decretara um término, então houve um término, e todos os daimios e samurais arrastaram-se dolorosamente para o começo de uma nova vida. — Ela brincou com a taça, olhando as borbulhas. — A família Toda era senhora de Izu e Sagami, onde fica Yokohama. Durante séculos eles tiveram estaleiros. Para eles e seus aliados, a família Kasigi, foi fácil entrar na era moderna. Para nós... — Ela se interrompeu. — Ah, mas você já sabe de tudo isso, desculpe.

— Só sei do príncipe Yoshi. O que aconteceu com sua família?

— Meu bisavô tornou-se um membro de pouca importância da equipe do príncipe Yoshi, como funcionário público. Foi mandado para Nagasáqui, onde minha família viveu desde então. Teve dificuldades em não usar as duas espadas. Meu avô também foi funcionário público, como meu pai, mas muito insignificante. — Ergueu os olhos e sorriu para ele. — O vinho é gostoso demais. Solta a minha língua.

— Não, de maneira alguma — disse ele; depois, cônscio dos olhos que o observavam, acrescentou em japonês: — Conversemos um pouquinho em japonês.

— A honra é minha, tai-pan-san.

Mais tarde, enquanto tomavam café, ele falou:

— Onde devo depositar o dinheiro que lhe devo, Riko-san?

— Se pudesse me dar um cheque administrativo ou uma letra de câmbio — ela usou as palavras em inglês, pois não havia equivalente em japonês —, antes que eu me vá, seria perfeito.

— Na segunda de manhã mandarei entregá-lo a você. São dez mil seiscentas e vinte e cinco libras, e mais oito mil e quinhentas a serem pagas em janeiro, e o mesmo no ano que vem — disse-lhe ele, sabendo que a boa educação dela não lhe permitiria perguntar abertamente. Notou o lampejo de alívio, e ficou contente por ter decidido dar-lhe dois anos extras de salário. — Apenas as informações de Alan sobre o petróleo já valem mais do que isso. Onze da manhã seria conveniente para a "letra de câmbio à vista"?

Novamente Dunross usou as palavras em inglês.

— O que for melhor para você. Não desejo causar-lhe nenhum incômodo.

Dunross notou que ela falava vagarosa e nitidamente para ajudá-lo.

— Quais são seus planos de viagem?

— Na segunda-feira, acho que irei para o Japão. Depois... não sei. Talvez volte à Suíça, embora não tenha motivos reais para voltar. Não tenho parentes Iá. A casa era alugada, e o jardim não era meu. Minha vida como Gresserhoff terminou com a morte dele. Agora acho que devo voltar a ser Riko Anjin. Carma é carma.

— É — disse-lhe ele. — Carma é carma.

Tirou do bolso um pacote embrulhado para presente.

— Este é um presente da Casa Nobre, em agradecimento por você ter-se dado a tanto trabalho e feito uma viagem tão cansativa por nós.

— Oh! Ora, obrigada, mas foi uma honra e um prazer para mim. — Ela fez uma curvatura. — Obrigada. Posso abri-lo agora?

— Talvez mais tarde. É apenas um simples pingente de jade, mas a caixa também contém um envelope confidencial que seu marido queria que lhe fosse entregue. Apenas para os seus olhos, e não para os olhos que nos cercam.

— Ah, claro, compreendo. — Curvou-se de novo. — Sinto muito... queira desculpar a minha estupidez.

Dunross sorriu para ela.

— Nada de estupidez, nunca... apenas beleza. Ela enrubesceu, e tomou café para disfarçar.

— O envelope está lacrado, tai-pan-sun?

— Está, conforme as instruções dele. Sabe o que há nele?

— Não. Só que... só que o sr. Gresserhoff disse que você me daria um envelope lacrado.

— Ele falou por quê? Ou o que você devia fazer com ele?

— Algum dia viria alguém reclamá-lo.

— Por nome?

— Sim, mas meu marido me disse que jamais devia divulgar o nome, nem mesmo a você. Nunca. Tudo o mais eu poderia contar-lhe, exceto o... o nome. Sinto muito, por favor, desculpe-me.

Dunross franziu o cenho.

— Terá apenas que entregá-lo a ele?

— Ou a ela — falou a moça, amavelmente. — Sim, e quando vierem me pedir, não antes. Depois que ele tiver sido utilizado, o sr. Gresserhoff disse que a pessoa pagaria uma dívida. Obrigada pelo presente, tai-pan-sa». Eu o guardarei com carinho.

O garçom veio e serviu o restinho do champanha para ele, e depois se afastou de novo.

— Como poderei entrar em contato com você no futuro, Kiko-s an?

— Dar-lhe-ei três endereços e números de telefone onde posso ser encontrada. Um na Suíça, dois no Japão.