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Dirigiram-se para a porta. Bartlett chegou primeiro. Mas não a abriu imediatamente.

— Sei que não é o costume de vocês, mas já que vamos juntos para Taipé, não podia me chamar de Linc, e eu chamá-lo de Ian, e começarmos desde já a calcular quanto vamos apostar na partida de golfe? Estou certo de que o meu hanà-icap é 13, oficialmente, e sei que o seu é 10, oficialmente, o que provavelmente quer dizer pelo menos uma tacada extra de cada um, por medida de segurança.

— Por que não? — concordou Dunross imediatamente. — Mas aqui não costumamos apostar dinheiro, só bolas.

— Pois sim que vou apostar as do meu saco numa partida de golfe!

Dunross achou graça.

— Pode ser que aposte, algum dia. Normalmente apostamos meia dúzia de bolas de golfe aqui... mais ou menos isso.

— É um mau costume britânico apostar dinheiro, Ian?

— Não. Que tal quinhentos cada lado, e o vencedor leva tudo?

— Americanos ou de Hong Kong?

— Hong Kong. Entre amigos, devem ser os de Hong Kong. Inicialmente.

O almoço foi servido na sala de jantar particular dos diretores, no décimo nono andar. Era uma sala de canto em forma de L, com teto alto e cortinas azuis, tapetes chineses azuis mosqueados, e janelas amplas de onde se podia ver Kowloon e os aviões pousando e decolando em Kai Tak, a ilha Stonecutters e a ilha Tsing Yi a oeste, e, mais além, parte dos Novos Territórios. A mesa de carvalho antiga e grande, que comportava facilmente vinte pessoas, estava posta com um jogo americano, talheres de prata e o melhor cristal Waterford. Para os seis comensais havia quatro garçons silenciosos e bem-treinados, de calças pretas e túnicas brancas bordadas com o emblema da Struan.

Os coquetéis já haviam começado a ser servidos quando Bartlett e Dunross chegaram. Casey tomava um martíni seco junto com os outros... excetuando Gavallan, que tomava um gim cor-de-rosa duplo. Sem precisar fazer o pedido, Bartlett recebeu uma lata supergelada de cerveja Anweiser numa salva de prata georgiana.

— Quem lhe contou? — perguntou Bartlett, encantado.

— Com os cumprimentos de Struan e Companhia — disse Dunross. — Soubemos que é assim que gosta. — Apresentou-o a Gavallan, De Ville e Linbar Struan, e aceitou uma taça de chablis gelado, depois sorriu para Casey: — Como vai?

— Bem, obrigada.

— Com licença — disse Bartlett aos outros —, mas tenho que dar um recado a Casey, antes que me esqueça. Casey, quer ligar para o Johnston em Washington, amanhã?... descubra quem seria o nosso melhor contato no consulado aqui.

— Claro. Se não conseguir falar com ele, perguntarei a Tim Diller.

Qualquer referência a Johnston queria dizer, em código: que tal vai indo o negócio? Na resposta: Diller queria dizer bem; Tim Diller, muito bem; Jones, mal; George Jones, muito mal.

— Boa idéia — respondeu Bartlett, sorrindo, depois voltou-se para Dunross. — Que belo aposento!

— É adequado — replicou Dunross.

Casey riu, percebendo a desvalorização propositada do ambiente.

— A reunião correu muito bem, Sr. Dunross — disse. — Chegamos a uma proposta para ser submetida à sua apreciação.

"Bem típico de um americano. Que falta de finesse! Será que ela não sabe que os negócios devem ser discutidos depois do almoço, não antes?"

— É, Andrew me falou por alto — retrucou Dunross. — Quer mais uma bebida?

— Não, obrigada. Acho que a proposta cobre todos os tópicos, senhor. Há algum ponto que deseja que eu esclareça?

— Tenho certeza de que haverá, futuramente — disse Dunross, intimamente divertido, como sempre, pelo senhor que muitas mulheres americanas usavam em conversa, e com freqüência, incongruentemente, ao se dirigirem aos garçons. — Tão logo eu a estude, conversarei com a senhorita. Uma cerveja para o Sr. Bartlett — acrescentou, tentando mais uma vez transferir os negócios para depois. Em seguida, dirigiu-se a Jacques: — Ça va?

— Oui, merci. À rien. Nada ainda.

— Não se preocupe — disse Dunross. Na véspera, a filha adorada de Jacques e o marido, que estavam de férias na França, haviam sofrido um feio acidente de carro. Ele ainda não conhecia direito as proporções do acidente. — Não se preocupe.

— Não.

Novamente o dar de ombros gaulês, ocultando a enormidade da sua preocupação.

Jacques era primo-irmão de Dunross, e entrara para a Struan em 45. A guerra dele fora tétrica. Em 1940, mandara a mulher e os dois filhos pequenos para a Inglaterra e permanecera na França. Até o fim da guerra. Maquis, prisão, condenação, fuga e maquis de novo. Estava com cinqüenta e quatro anos, era um homem forte e quieto, mas perigoso quando provocado, com um peito largo, olhos castanhos, mãos rudes e muitas cicatrizes.

— Em princípio o negócio lhe parece bom? — perguntou Casey.

Dunross soltou um suspiro, intimamente, e concentrou-se integralmente nela.

— Posso apresentar uma contraproposta em um ou dois pontos de menor importância. Entrementes — acrescentou, com decisão —, pode estar certa de que, em termos gerais, a proposta parece aceitável.

— Ah, que bom! — exclamou Casey, feliz.

— Ótimo — disse Bartlett, igualmente satisfeito, e ergueu sua lata de cerveja. — Bebamos a uma conclusão bem-sucedida, e a grandes lucros... para vocês e para nós.

Brindaram, os outros percebendo os sinais de perigo em Dunross, imaginando qual seria a contraproposta do tai-pan.

— Vai levar muito tempo para concluir, Ian? — perguntou Bartlett, e todos eles ouviram o Ian. Linbar Struan não ocultou uma careta.

Para espanto geral, Dunross apenas respondeu:

— Não. — Era como se o tratamento familiar fosse muito comum. Acrescentou: — Duvido que os advogados levantem algum obstáculo intransponível.

— Vamos nos encontrar com eles amanhã às onze — disse Casey. — O Sr. De Ville, John Chen e eu. Já tivemos a aprovação prévia deles... sem problemas, por esse lado.

— Dawson é muito bom, especialmente em leis de taxação americanas.

— Casey, quem sabe devemos trazer nosso especialista em impostos de Nova York — falou Bartlett.

— Claro, Linc, logo que estivermos de acordo. E o Forrester. — Para Dunross, explicou: — É o chefe da nossa divisão de espumas.

— Ótimo. E, agora, chega de falar de negócios antes do almoço — disse Dunross. — Regras da casa, srta. Casey: nada de papo comercial durante as refeições, faz mal para a digestão.

— Fez sinal para Lim. — Não vamos esperar pelo Patrão John.

Instantaneamente os garçons se materializaram e as cadeiras foram puxadas; havia nomes datilografados nos marcadores de lugar de prata, e a sopa foi servida.

O menu previa xerez com a sopa, chablis com o peixe — ou clarete com a carne assada e o pudim Yorkshire, se preferissem —, vagens, batatas e cenouras cozidas. Trifle de xerez, doce típico inglês, como sobremesa. Vinho do Porto com os queijos.

— Quanto tempo vai ficar por aqui, Sr. Bartlett? — perguntou Gavallan.

— O tempo que for necessário. Mas, Sr. Gavallan, já que parece que vamos nos dar comercialmente por muito tempo, que tal deixar de lado o Sr. Bartlett e a srta. Casey e nos chamar de Linc e Casey?

Gavallan manteve os olhos fitos em Bartlett. Gostaria de ter dito: "Bem, Sr. Bartlett, gostamos de ir com calma nessas coisas, por aqui... é um dos poucos modos de se diferenciar os amigos dos conhecidos. Para nós, os nomes de batismo são uma coisa particular. Mas, como o tai-pan não fez objeções ao espantoso Ian, não há nada que eu possa fazer".

— Por que não, Sr. Bartlett? — falou, serenamente. — Não é necessário fazer cerimônia. É?

Jacques de Ville, Struan e Dunross riram-se intimamente do Sr. Bartlett e do modo hábil com que Gavallan transformara a aceitação indesejável num fora e num desprestígio que nenhum dos americanos jamais compreenderia.

— Obrigado, Andrew — disse Bartlett. A seguir, acrescentou: — Ian, posso alterar as regras e fazer mais uma pergunta antes do almoço? Seria possível você concluir o acordo até a terça que vem, de uma maneira ou de outra?