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— Espero que não seja demais!

— Oh, não! Como vai a Glenna, e como vai você?

— Muito bem. Teve notícias do Duncan?

— Tive... chega amanhã. Mandarei que lhe telefone tão logo chegue. Acho que é só, Penn, eu a amo!

— Eu também o amo, e gostaria que estivesse aqui. Ah, e como vai a Adryon?

— Na mesma. Ela e aquele tal de Haply parecem inseparáveis.

— Lembre-se de que ela não é mais criança, querido, e não se preocupe com ela. Tente deixar de ser criança também.

Terminou de se enxugar, e olhou-se no espelho, perguntando-se se seria velho para a sua idade, ou moço, sem sentir-se diferente de quando tinha dezenove anos... na universidade ou na guerra. Depois de um momento, falou:

— Tem sorte de estar vivo, meu chapa. Puxa, quanta sorte!

Seu sono fora pesado, e sonhara com o Tiptop; quase ao acordar, alguém perguntara, no seu sonho: "O que vai fazer?" "Não sei", pensou. "Até onde posso confiar naquele sacana do Sinders? Não muito. Mas ele ficou abalado com a minha ameaça... não, a minha promessa de publicar os onze pedaços de papel. E juro por Deus que o farei!

"É melhor eu ligar para o Tiptop antes de sair para a casa de Plumm. É melhor..."

Escutou a porta do quarto abrir-se de novo, e Ah Tat voltou a atravessar o quarto, parando à porta do banheiro.

— Ah, meu filho, esqueci de lhe dizer que há um bárbaro esperando por você Iá embaixo.

— É? Quem?

— Um bárbaro — falou ela, dando de ombros. — Não tão alto quanto você. Tem um nome estranho, e é mais feio do que a maioria, com cabelos de palha! — Remexeu no bolso e pegou o cartão. — Tome.

No cartão estava escrito: "Dave Murtagh III, Royal Belgium and Far East Bank". O estômago de Dunross se con-torceu.

— Há quanto tempo ele está esperando?

— Uma hora, talvez mais.

— O quê? Fodam-se todos os deuses. Por que não me acordou?

— Hem? Por que não o acordei? — perguntou ela, caus-ticamente. — Por quê? O que é que acha? Sou alguma idiota? Um demônio estrangeiro? Ayeeyah, o que é mais importante, ele esperar ou você descansar? Ayeeyah! — acrescentou desdenhosamente, e se afastou, resmungando: — Como se eu não soubesse o que era melhor para você!

Dunross vestiu-se rapidamente e desceu correndo. Murtagh estava largado numa espreguiçadeira. Acordou sobressaltado quando a porta se abriu.

— Ah, oi!

— Lamento muitíssimo. Estava tirando uma soneca e não sabia que estava aqui.

— Tudo bem, tai-pan. — Dave Murtagh estava abatidíssimo. — A velhota me ameaçou com o diabo se eu soltasse um murmúrio. Mas não faz mal, eu peguei no sono. — Estirou-se, abafando um bocejo, e sacudiu a cabeça para desanuviá-la.

— Meu Deus, desculpe ter vindo sem ser convidado, mas é melhor do que falar por telefone.

Dunross não deixou transparecer na fisionomia o desapontamento doloroso. "Deve ser uma recusa", pensou.

— Uísque?

— Sim, com soda. Obrigado. Puxa, como estou cansado! Dunross foi até a garrafa de cristal e serviu-o, depois preparou um conhaque com soda para si mesmo.

— Saúde! — brindou, resistindo à ânsia de perguntar.

— Saúde! E o senhor conseguiu o seu negócio! — O rosto do rapaz se abriu num enorme sorriso. — Conseguimos! — quase berrou. — Eles gritaram e reclamaram, mas faz uma hora concordaram. Conseguimos tudo! Cento e vinte por cento dos navios e um fundo de cinqüenta milhões de dólares americanos. A grana chega na quarta, mas o senhor pode fazer uso dela, sob palavra, na segunda às dez horas. A oferta dos petroleiros foi o toque decisivo. Puta que o pariu, conseguimos!

Dunross precisou lançar mão de todo o seu treinamento para conter o urro de triunfo, não demonstrar no rosto a alegria, e dizer calmamente:

— Puxa, que ótimo! — Tomou mais um gole do seu conhaque. — O que foi? — perguntou, vendo a expressão chocada no rosto do homem mais moço.

Murtagh sacudiu a cabeça e se largou na espreguíçadeira, exausto.

— Vocês, ingleses, são fora de série! Jamais os compreenderei. Acabo de lhe dar uma liberdade condicional de cem por cento, com o melhor dos acordos que Deus já permitiu a um homem, e só o que me diz é "Puxa, que ótimo!"

Dunross riu. Riu com gosto, extravasando toda a sua alegria. Apertou com força a mão de Murtagh e agradeceu-lhe.

— Como é, melhorou? — perguntou, rindo de orelha a orelha.

— Melhorou! — Ele agarrou a pasta e abriu-a, tirando um maço de contratos e papéis. — Aqui estão, conforme combinamos. Passei a noite inteira acordado, fazendo a minuta. Este é o contrato do empréstimo principal, este é a sua garantia pessoal, estes são para o carimbo da companhia, dez cópias de tudo.

— Vou rubricar uma série, que ficará com você. Você rubricará uma, que ficará comigo, e depois assinaremos formalmente amanhã de manhã. Pode se encontrar comigo no meu escritório, digamos, às sete e meia da manhã? Carimbaremos todos os documentos e...

O rapaz soltou um gemido involuntário.

— Não pode ser às oito, ou oito e meia, tai-pan? Preciso pôr o sono em dia.

— Sete e meia. Pode dormir o resto do dia. — Dunross teve uma idéia repentina, e acrescentou: — Deixe a noite de amanhã reservada.

— Porque?

— É. Descanse o máximo que puder, à noite vai estar muito ocupado.

— Fazendo o quê?

— Você não é casado, nem comprometido. Portanto, uma noite divertida não será má idéia, não é?

— Puxa! — Murtagh animou-se visivelmente. — Seria fantástico.

— Ótimo. Mandarei você para um amigo meu em Aberdeen. Wu Dente de Ouro.

— Quem?

— Um velho amigo da família. Perfeitamente seguro. Por falar nisso, que tal almoçar comigo nas corridas, na semana que vem?

— Puxa vida, obrigado. Ontem a Casey me deu uma "barbada" e ganhei uma nota preta. Estão dizendo que o senhor vai montar Noble Star no sábado. Vai?

— Talvez. — Dunross fixou os olhos nele. — O negócio está realmente fechado? Não há chance de dar para trás?

— Juro por tudo o que há de mais sagrado! Ah, tome, tinha me esquecido. — Entregou-lhe o telex de confirmação. — Conforme combinamos. — Murtagh lançou um olhar ao relógio. — São seis horas em Nova York, agora, mas o senhor deve ligar para S. J. Beverly, o presidente da nossa junta diretora, daqui a uma hora... ele está esperando o telefonema. Tome o número. — O rapaz abriu um amplo sorriso. — Nomearam-me vice-presidente encarregado de toda a Ásia.

— Parabéns. — Dunross viu que horas eram. Teria que sair logo, ou chegaria atrasado, e não queria deixar Riko esperando. O coração dele bateu mais depressa um pouco. — Vamos rubricar agora?

Murtagh já estava separando os papéis.

— Só uma coisinha, tai-pan, S. J. falou que temos que manter isso em segredo.

— Vai ser difícil. Quem datilografou a papelada?

— Minha secretária... mas é americana, e não abre a boca.

Dunross concordou com a cabeça, mas intimamente não estava convencido. O operador do telex — Phillip Chen já não havia dito que tinha algumas cópias do telex? —, ou as faxineiras, ou telefonistas, seria impossível descobrir quem, mas logo a novidade estaria se espalhando, não importa o que ele ou Murtagh fizessem. Bem, e como tirar o melhor proveito de tudo, enquanto ainda era segredo?, perguntava-se, controlando-se para não dançar de alegria, o negócio sem precedentes, em que era quase impossível acreditar. Começou a rubricar a sua série de papéis, Murtagh, a dele. Parou quando ouviu a porta da frente abrir-se e fechar-se com estrondo. Adryon gritou com voz estridente:

— Ah Tat! — e continuou numa torrente de cantonense de amah, encerrando com: — ...e passou a minha blusa nova, por todos os deuses?

— Blusa? Que blusa, mocinha da voz estridente e sem paciência? A vermelha? A vermelha que pertence à Esposa Principal, que lhe disse...