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Dunross deu um leve sorriso.

— Tem muita confiança em si mesmo, Choy Lucrativo.

— Só tento me manter à frente do jogo, senhor.

Casey saiu do Edifício Struan e foi até o Rolls que a esperava. Prontamente, Lim abriu a porta para ela. Recostou-se nas almofadas, sem sentir nada, sem saber de nada, exceto que sua angústia a estava consumindo, e que a qualquer momento ia desmoronar, nem mesmo notando que o Lim metera o carro no tráfego denso para se dirigir para a balsa.

As lágrimas estavam muito perto. "Tanto tempo ainda antes de partirmos!", pensou. "Todas as malas já feitas e enviadas para o avião. Já saí do hotel, paguei todas as contas, mas ainda resta tanto tempo!"

Por um momento, chegou a pensar em mandar parar o carro e sair andando a esmo, mas aquilo seria pior, nenhuma privacidade, nenhuma proteção, e ela se sentia tão arrasada! "No entanto, preciso sair, ficar sozinha. Preciso. Oh, Deus, Linc, pobre Linc!"

— Lim — disse, obedecendo a um impulso —, vá até o Pico.

— Senhorita?

— Siga até o topo do Pico, até o mirante. Por favor — pediu, tentando desesperadamente manter o tom de voz normal. — Eu, eu ainda não estive Iá. Quero ir antes de partir. Por favor.

— Sim, senhorita.

Casey recostou-se e fechou os olhos contra as lágrimas que jorravam, silenciosas.

90

18h45m

O sol estava quase se pondo.

Lá em Lo Wu, a aldeia na fronteira entre a colônia e a China, os bandos costumeiros de chineses cruzavam a ponte nas duas direções. A ponte mal tinha cinqüenta metros de comprimento, e ficava sobre um riachinho lamacento, e no entanto, para alguns, aqueles cinqüenta metros eqüivaliam a um milhão de quilômetros. Nas duas extremidades havia casas de guarda e postos de controle da Imigração e da alfândega, e, no meio, uma pequena barricada removível. Dois policiais de Hong Kong e dois soldados da RPC montavam guarda ali. Dois trilhos de trem cruzavam a ponte.

Antigamente, os trens vinham de Cantão para Hong Kong, e vice-versa, sem parar. Mas agora os trens de passageiros paravam de cada lado, e os passageiros atravessavam a pé. E os trens voltavam por onde tinham vindo. Os trens de carga vindos da China passavam sem problemas. Na maior parte dos dias.

Cada dia, centenas de habitantes locais cruzavam a fronteira como cruzariam qualquer estrada. Seus campos de trabalho ficavam dos dois lados da fronteira, havia gerações. Essa gente da fronteira era vigorosa, desconfiada, odiando mudanças, odiando interferência, odiando fardas, odiando especialmente a polícia e qualquer tipo de estrangeiros. Para eles, como para a maioria dos chineses, um estrangeiro era qualquer um que não pertencesse à sua aldeia. Para eles não havia fronteira, jamais poderia haver fronteira.

A ponte de Lo Wu era um dos locais isolados mais sensíveis em toda a China... ela e mais dois outros locais de cruzamento. Um deles ficava em Mau Kam Toh, onde gado e legumes entravam diariamente por uma ponte desconjuntada sobre aquele mesmo riacho, que marcava a maior parte da fronteira. O último, na extremidade oeste da fronteira, ficava na aldeia pesqueira de Tau Kok. Ali, a fronteira não era demarcada, mas, por acordo comum, acompanhava o curso da única rua da aldeia.

Esses eram os únicos pontos de contato da China com o Ocidente. Tudo era meticulosamente controlado e vistoriado... pelos dois lados. A tensão e as atitudes dos guardas eram um barômetro.

Naquele dia, os guardas do lado comunista de Lo Wu estavam nervosos. Por causa disso, o lado de Hong Kong também estava nervoso, sem saber o que esperar... talvez um fechamento repentino, talvez uma invasão repentina, como a do ano anterior, já que a colônia existia por capricho da China.

— E esse é um fato da vida — resmungou o inspetor-chefe Smyth. Naquele dia fora destacado para Lo Wu, serviço especial, e estava de pé, inquieto, perto da delegacia de polícia, que se situava discretamente a uns cem metros da fronteira real, para não ofender ou criar caso. "Porra", pensou, "criar caso? Um traque em Londres poderia dar início a uma marcha de milhões de refugiados para cá... se os poderosos do outro lado da fronteira decidissem que aquele punzinho era uma afronta à dignidade da China." — Vamos logo, puta que o pariu! — exclamou com impaciência, a camisa caqui grudada às costas, os olhos voltados para a estrada que levava a Hong Kong. Estava empoçada, e se enroscava a perder de vista. Então, na distância, viu o carro da polícia se aproximando. Muito aliviado, foi recebê-lo. Armstrong saltou. Depois Brian Kwok. Smyth saudou Armstrong com o seu bastão para disfarçar o choque. Brian Kwok estava à paisana. Tinha um olhar curioso, vago, apavorado. — Alô, Robert! — disse Smyth.

— Alô! Desculpe o atraso — disse Armstrong.

— São só uns minutinhos. Na verdade, disseram-me ao pôr-do-sol.

Smyth apertou os olhos na direção do oeste. O sol ainda não se pusera. Voltou a atenção para Brian Kwok. Era difícil não demonstrar o seu desprezo.

O chinês alto e bonitão pegou um maço de cigarros. Seus dedos tremiam ao oferecê-lo a Smyth.

— Não, obrigado — disse Smyth friamente. Armstrong aceitou um. — Pensei que tinha parado de fumar.

— Parei. Recomecei.

Brian Kwok soltou uma risada nervosa.

— Temo que seja por minha culpa. Robert vem tentando manter... manter o Crosse e os anjos dele longe do meu pé.

Nenhum dos homens achou graça.

— Vem mais alguém? — perguntou Smyth.

— Acho que não. Não oficialmente. — Armstrong olhou ao seu redor. Havia os habituais espectadores interessados, mas pareciam casuais. — Mas estão aqui. Em algum lugar. — Os dois homens sentiram os pêlos da nuca se arrepiarem. — Pode prosseguir.

Smyth pegou um documento formal.

— Wu Chu-toy, aliás Brian Kar-shun Kwok, você é formalmente acusado de espionagem contra o governo de Sua Majestade, em favor de uma potência estrangeira. Com a autoridade da Ordem de Deportação de Hong Kong, ordena-se formalmente que seja expulso da colônia da Coroa. Se voltar, está formalmente avisado de que o fará por sua conta e risco, e que é passível de detenção e prisão, segundo a vontade de Sua Majestade.

Com ar sombrio, Smyth entregou-lhe o papel. Brian Kwok segurou-o. Parecia levar muito tempo para ver e ouvir, seus sentidos embotados.

— Agora... o que vai acontecer? Smyth falou:

— Você atravessa aquela maldita ponte e volta para os seus cupinchas.

— Hem? Acha que sou um idiota? Acha que acredito que estão, estão me soltando? — Brian Kwok virou-se bruscamente para Armstrong. — Robert, estou lhe dizendo que eles estão brincando comigo, com você, jamais me soltarão! Você sabe disso!

— Você está livre, Brian.

— Não... não, sei o que está acontecendo. No momento em que eu estiver... estiver quase Iá, eles me trarão de volta. É a tortura da esperança, não é? — Sua voz estava ficando estridente, um pouco de espuma se formando no canto dos lábios. — Mas, é claro! A tortura da esperança.

— Puta que o pariu, já lhe disse que está livre! Está livre para partir — disse Armstrong, a voz dura, querendo terminar tudo. — Vá, puta que o pariu! Não me pergunte por quê, mas eles o estão soltando. Vá!

Cheio de descrença, Brian Kwok limpou a boca, começou a falar, interrompeu-se.

— Vocês... é uma... é uma mentira, tem que ser!

— Va!

— Está bem, eu... — Brian Kwok deu um passo, depois parou. Eles não se tinham movido. — Estão... estão falando sério?

— Estamos.

Brian Kwok estendeu a mão trêmula para Smyth, que olhou para ela, depois para o rosto dele.

— Se dependesse de mim, você seria fuzilado. Um lampejo de ódio passou pelo rosto de Kwok.

— E quanto a você e à sua corrupção? E quanto à venda de proteção...