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"Joss o que houve com o Linc", disse a si mesma pela décima milésima vez. "Joss. Agora tudo está como era antes. Tudo tem que recomeçar. Os deuses riram de mim de novo. Talvez haja uma nova chance... claro que vai haver uma nova chance. Há outros homens... Ah, Deus! Não se preocupe, tudo vai continuar como era. Quillan disse para eu não me preocupar, que a minha mesada vai continuar..."

O telefone tocou, sobressaltando-a.

— Pronto?

— Orlanda? É Casey. — Orlanda sentou-se ereta, de cho-fre, atônita. — Vou partir hoje à noite, mas queria vê-la antes de ir embora. Seria possível? Estou aqui embaixo.

Sua inimiga lhe telefonando? Por quê? Para se vangloriar? Mas as duas tinham perdido.

— Está bem, Casey — disse, hesitante. — Quer subir? Aqui ficaremos mais à vontade. 363.

— Certo, 363.

Orlanda acendeu a luz e correu para o banheiro para dar uma olhada no rosto. Viu tristeza e lágrimas recentes... mas não viu sinais de velhice. Ainda não. Mas a velhice vinha vindo, pensou, sentindo um arrepio de apreensão. Passou um pente nos cabelos e pintou um pouco os olhos. Não precisava de mais nada. Por enquanto.

"Pare com isso! A velhice é inevitável. Seja asiática! Mantenha-se consciente."

Calçou os sapatos. A espera parecia longa. Seu coração doía dentro do peito. A campainha tocou. A porta se abriu. Cada uma percebeu na outra a própria desolação.

— Entre, Casey.

— Obrigada.

O quarto era pequeno. Casey notou duas pequenas valises encostadinhas junto à cama.

— Também vai partir? — perguntou, a própria voz lhe soando tão distante.

— Vou. Vou me hospedar na casa de amigos dos meus pais. O hotel é... bem... é um pouco caro. Meus amigos disseram que posso ficar com eles até achar outro apartamento. Sente-se, por favor.

— Mas está coberta pelo seguro? Orlanda piscou.

— Seguro? Não, não, acho que não. Nunca... não, acho que não.

— Quer dizer que perdeu tudo? — indagou Casey, com um suspiro.

— Joss. — Orlanda alçou ligeiramente os ombros. — Não faz mal. Tenho um dinheirinho no banco e... estou bem. — Viu o sofrimento no rosto de Casey, e sentiu compaixão. — Casey — falou rapidamente —, sobre o Linc. Não estava tentando prendê-lo numa armadilha, não para nada de ruim. É verdade que o amava, e é verdade que teria feito qualquer coisa para casar com ele, mas isso é apenas justo, e acredito sinceramente que teria sido uma mulher maravilhosa para ele, teria me esforçado muito para ser a melhor, sinceramente. Eu o amava mesmo e... — Novamente o ligeiro alçar de ombros.

— Você sabe. Sinto muito.

— É, eu sei. Não há necessidade de se desculpar.

— A primeira vez que a vi, em Aberdeen, na noite do incêndio — Orlanda continuou, rapidamente —, pensei que o Linc era tolo, que talvez você fosse tola por não... — Soltou um suspiro. — Talvez você tenha razão, Casey, não há nada para conversarmos. Principalmente agora.

As lágrimas recomeçaram. E as lágrimas dela, a sua realidade, trouxeram lágrimas aos olhos de Casey.

Por um momento ficaram ali sentadas, as duas mulheres. Depois Casey pegou um lenço de papel, secou os olhos, sentindo-se péssima, sem ter resolvido nada, desejando agora terminar rapidamente o que havia começado. Pegou um envelope.

— Aqui tem um cheque no valor de dez mil dólares americanos. Acho...

Orlanda soltou uma exclamação abafada.

— Não quero o seu dinheiro! Não quero nada de...

— Não é da minha parte, é do Linc. Ouça um momento.

— Casey contou-lhe o que Dunross dissera sobre Bartlett. Tudo. Repeti-lo a destroçava novamente. — Foi o que o Linc disse. Acho que era com você que queria se casar. Pode ser que eu esteja errada. Não sei. Mesmo assim, ele gostaria que você tivesse algum dinheiro do dane-se... alguma proteção.

Orlanda sentiu que seu coração ia estourar ante a ironia daquilo tudo.

— Linc falou "padrinho de casamento"? De verdade?

— Foi.

— E para sermos amigas? Queria que fôssemos amigas?

— Queria — disse Casey, sem saber se estava fazendo a coisa certa, o que Linc teria querido. Mas, sentada ali, vendo a beleza juvenil e terna, os olhos grandes, a pele exótica que não precisava de maquilagem, o corpo perfeito, novamente não pôde culpá-la. Nem ao Linc. "A culpa foi minha. Não dele e nem dela. E sei que o Linc não a teria deixado abandonada. Sendo assim, também não posso. Por ele. Queria que fôssemos amigas. Talvez possamos ser." — Por que não tentamos? — perguntou. — Escute, Hong Kong não é lugar para você. Por que não tenta outro lugar?

— Não posso. Estou presa aqui, Casey. Não sei fazer nada. Não sou nada. Meu diploma não vale nada. — As lágrimas voltaram. — Sou... ficaria louca marcando relógio de ponto.

Seguindo um impulso repentino, Casey disse:

— Por que não tenta os Estados Unidos? Talvez eu possa ajudá-la a arrumar um emprego.

— Como?

— É. Quem sabe no mundo da moda... não sei exatamente o quê, mas posso tentar.

Orlanda a fitava, incrédula.

— Você me ajudaria, de verdade?

— Sim. — Casey colocou o envelope e seu cartão em cima da mesa, e levantou-se, o corpo todo doído. — Vou tentar.

Orlanda dirigiu-se para ela e abraçou-a.

— Oh, obrigada, Casey, obrigada.

Casey devolveu o abraço, as lágrimas das duas se misturando.

A noite agora estava escura, com pouca luz vindo da lua pequena, que aparecia de vez em quando por entre as nuvens altas. Roger Crosse caminhou em silêncio até o portão meio oculto nos muros altos que cercavam o Palácio do Governo, e usou a sua chave. Trancou o portão atrás de si, caminhou rapidamente pela trilha, mantendo-se nas sombras. Perto da casa, fez um desvio e foi para o lado leste, desceu alguns degraus até a soleira de uma porta e usou outra chave.

A porta se abriu, também silenciosamente. O sentinela armado, um gurkha, mantinha o rifle em posição.

— A senha, senhor!

Crosse deu a senha. A sentinela bateu continência e se afastou para o lado. No fundo do corredor, Crosse bateu à porta, que foi aberta pelo ajudante-de-ordens do governador.

— Boa noite, superintendente.

— Espero não tê-lo feito esperar.

— Não, de modo algum.

O homem foi na frente, seguindo, por porões que se comunicavam, até uma porta espessa de ferro instalada numa caixa de concreto toscamente construída no meio do porão principal, uma adega, com prateleiras de vinhos próximas. Pegou a chave única e destrancou-a. A porta era muito pesada. Crosse entrou sozinho e fechou a porta atrás de si. Depois de entrar e trancar a porta, relaxou. Agora estava totalmente protegido de ouvidos e olhares indiscretos. Ali era o Santuário dos Santuários, uma sala de conferência para conversas muito particulares, a sala de concreto e centro de comunicações construídos laboriosamente por oficiais de confiança do sei, britânicos apenas, para assegurar que não houvesse dispositivos de escuta inimigos inseridos nas paredes (a estrutura inteira era testada semanalmente por peritos da Divisão Especial), para o caso de haver elementos infiltrados.

Num dos cantos ficava o complicado transmissor, altamente sofisticado, que fornecia os sinais para o aparelho, que os misturava num código indecifrável para os inimigos, daí para o complexo de antenas no topo do Palácio do Governo, daí para a estratosfera, daí para Whitehall.

Crosse ligou-o. Ouviu um zumbido reconfortante.

— O ministro, por favor. Aqui fala Asiático Um. Sentia grande prazer em usar seu codinome interno.

— Sim, Asiático Um?

— Tsu-yan era uma das pessoas que foi receber o espião, Brian Kwok.

— Ah, então podemos cortá-lo da nossa lista.

— Os dois, senhor. Agora estão isolados. No sábado, o desertor Joseph Yu foi visto atravessando a fronteira.

— Diabo! É melhor designar uma equipe para vigiá-lo. Temos pessoal no centro atômico deles em Siankiang?