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"Há alguma coisa errada", pensou. "Posso senti-lo, fortemente. Há alguma coisa errada com Dunross.

"O quê?"

— Conheci Casey há uns sete anos, em Los Angeles, Califórnia — começara Bartlett. — Recebera uma carta de um tal Casey Tcholok, presidente da Hed-Opticals de Providence, que queria discutir uma fusão. Naquela época, eu estava metido em construções por toda a Los Angeles, áreas residenciais, supermercados, dois grandes prédios de escritórios, zona industrial, centros comerciais. Era só falar comigo, que eu construía. Tínhamos um capital de giro de três milhões e duzentos mil, e eu acabara de virar empresa de capital aberto... mas ainda estava a milhões de quilômetros do Big Board. Eu...

— Está se referindo à Bolsa de Valores de Nova York?

— Estou. Bem, chega Casey, toda animada, e diz que quer que eu me una à Hed-Opticals, que, segundo ela, teve uma renda bruta de duzentos e setenta e sete mil e seiscentos dólares no ano anterior, e depois, juntos, iríamos em busca da Randolf Opticals, uma empresa das grandes, cinqüenta e três milhões em vendas, citada no Big Board, uma fatia imensa do mercado de lentes e muito dinheiro no banco. E eu disse: "Você é maluca, por que a Randolf?" Ela respondeu que, primeiro, porque era acionista da Bartlett Construction, comprara dez ações de um dólar. Eu capitalizara com um milhão de ações e vendera quinhentas mil ao valor nominal, e ela achava que seria ótimo para a Bartlett Construction ser dona da Randolf, e segundo, "porque aquele filho da puta do George Toffer, que dirige a Randolf Opticals, é um mentiroso, um vigarista, um ladrão, e está tentando liquidar o meu negócio".

Bartlett abriu um sorriso e parou para respirar, e Dunross o interrompeu com uma risada.

— Isso é verdade, Casey?

Casey voltou ao presente rapidamente.

— Ah, é, eu disse que George Toffer era um mentiroso, um vigarista, um ladrão e um filho da puta. Ainda é. — Casey sorriu, sem achar graça. — E sem dúvida estava tentando liquidar o meu negócio.

— Por quê?

— Porque eu dissera para ele ir... para ele não encher.

— E por que agiu assim?

— Eu acabara de assumir a direção da Hed-Opticals. Meu avô falecera no ano anterior, e meu tio Bghos e eu tiráramos cara ou coroa para ver quem ficava com qual negócio... eu ganhei a Hed-Opticals. Tivéramos uma oferta da Randolf para nos comprar, há cerca de um ano, mas recusáramos... tínhamos um negócio pequeno, gostoso, bons operários, bons técnicos, vários armênios, uma pequena fatia do mercado. Não tínhamos capital nem espaço para expandir, mas nos virávamos direitinho, e a qualidade da Hed-Opticals era excelente. Logo depois que assumi a direção, George Toffer "deu uma passadinha por lá". Ele se achava o máximo, meu Deus, como se achava. Alegava ser herói de guerra do exército americano, mas descobri que não era... era o tipo do sujeito... Bem, ele me fez outra oferta ridícula para tirar a Hed-Opticals das minhas mãos... o papo da pobre garotinha que devia estar numa cozinha, junto com "Vamos jantar juntos na minha suíte, e por que não nos divertimos um pouco, já que estou aqui sozinho por uns dias..." Eu disse "Não, obrigada", e ele ficou muito chateado. Muito. Mas disse "Tudo bem", voltou a falar de negócios e sugeriu que, ao invés de comprar minha firma, ele me passaria alguns dos contratos dele. Fez-me uma boa oferta, e depois de barganhar um pouco, concordamos com os termos. Se eu me saísse bem, ele dobraria o negócio. Durante o mês seguinte, fizemos um trabalho melhor e mais barato do que ele seria capaz de fazer, entreguei as encomendas segundo o contrato, e ele teve um lucro fabuloso. E então ele "roeu a corda" numa cláusula verbal e deduziu, roubou, vinte mil trezentos e setenta e oito dólares, e no dia seguinte cinco dos meus melhores clientes nos trocaram pela Randolf, e na semana seguinte outros sete... ele oferecera a todos negócios abaixo do custo. Ele me deixou "em banho-maria" por uma ou duas semanas, depois me ligou. "Oi, neguinha", falou, feliz como um sapo num balde de lama, "estou passando o fim de semana sozinho em Martha's Vineyard." É uma ilhazinha no litoral leste. Depois, acrescentou: "Por que não vem para cá para nos divertirmos um bocado e discutirmos o futuro e a duplicação dos pedidos?" Eu pedi o meu dinheiro, e ele riu de mim e disse para eu crescer, e sugeriu que era melhor eu reconsiderar a oferta dele, porque do jeito que as coisas iam, logo não haveria mais nenhuma Hed-Opticals.

"Xinguei-o. Sei xingar bem à beça quando fico com raiva, e disse a ele o que podia fazer em três línguas. Dentro de mais quatro semanas, não me sobrava nenhum cliente. Mais outro mês, os funcionários tiveram que procurar outro emprego. Mais ou menos àquela época, resolvi ir para a Califórnia. Não queria ficar no leste." Casey deu um sorriso amargo. "Era uma questão de prestígio... como se eu entendesse àquela altura o que isso quer dizer. Resolvi tirar duas semanas de folga para decidir o que fazer. Então, certo dia, andava sem destino por uma feira estadual em Sacramento, e lá estava Linc. Vendia ações da Bartlett Construction num balcão, e eu comprei..."

— Ele o quê? — perguntou Dunross.

— Claro — disse Bartlett. — Vendi mais de vinte mil ações desse jeito. Vendi em feiras estaduais, por via postal, em supermercados, centros comerciais, através de corretores... e também em bancos de investimentos. Claro. Continue, Casey!

— Então li os prospectos dele e fiquei a observá-lo por algum tempo, e achei que tinha muita garra e ambição. Os números, o balanço geral e a taxa de expansão dele eram excepcionais, e achei que uma pessoa que vendia pessoalmente as suas ações tinha que ter futuro. Assim, comprei dez ações, escrevi para ele e fui procurá-lo. Fim da história.

— Fim uma ova, Casey — disse Gavallan.

— Conte você, Linc — disse ela.

— Está bem. Então...

— Um pouco de porto, Sr.... desculpe, Linc?

— Obrigado, Andrew, mas será que posso tomar outra cerveja? — Ela chegou instantaneamente. — E assim Casey veio me ver. Depois que me contou a história, praticamente como a contou agora, eu disse:

"— Uma coisa, Casey. A Hed-Opticals rendeu menos de trezentos mil no ano passado. Quanto vai render este ano?

"— Zero — falou ela, com aquele seu sorriso. — Sou o único bem da Hed-Opticals, eu e nada mais.

"— Então, qual a vantagem de uma fusão minha com zero? Já tenho problemas bastantes.

"— Sei como aniquilar a Randolf Opticals.

"— Como?

"— Vinte e dois por cento da Randolf estão nas mãos de três homens, e todos abominam Toffer. Com vinte e dois por cento, você obteria o controle. Sei como pode conseguir as procurações deles. E mais ainda: conheço os pontos fracos de Toffer.

"— E quais são?

"— Vaidade, e é um megalomaníaco; e mais ainda, é burro.

"— Não pode ser burro e dirigir aquela companhia.

"— Talvez não fosse burro no passado, mas agora é. Está no ponto para ser derrubado.

"— E o que vai querer ganhar com isso, Casey?

"— A cabeça de Toffer... quero ser eu a despedi-lo.

"— O que mais?

"— Se eu tiver êxito no que me proponho... se conseguirmos o controle da Randolf Opticals em, digamos, seis meses, quero... quero um contrato de um ano com você, podendo ser aumentado para sete, com um salário que você ache compatível com a minha capacidade, como sua vice-presidenta-executiva encarregada de aquisições. Mas quero-o como pessoa, não como mulher, como uma pessoa em grau de igualdade com você. Claro que o patrão é você, mas serei igual ao que um homem seria, como um indivíduo... se fizer bem o meu trabalho."

Bartlett abriu um sorriso e tomou um gole de cerveja.