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Atrás dela, na cabine do Yankee 2, Jannelli acionou o primeiro motor a jato, que deu sinal de vida, ruidosamente.

— É o bastante para você ir levando? — perguntou. Ela mexeu a boca, sem emitir som. Depois disse:

— Um quarto de milhão?

— É. Na verdade, chega a um milhão... os dois cheques juntos. A propósito, não se esqueça de que agora é a tai-pan da Par-Con. Esse foi o verdadeiro presente do Linc para você. Tai-pan. O dinheiro não é importante. — Deu-lhe um amplo sorriso e um súbito abraço brusco. — Boa sorte, Casey. Até daqui a trinta dias. Certo?

O segundo motor começou a funcionar, ruidosamente.

— Um milhão de dólares americanos?

— É. Mandarei que Dawson lhe envie alguns conselhos fiscais. Como o seu lucro é dinheiro de Hong Kong, estou certo de que haverá meios legítimos de evitar, não sonegar, os impostos.

Mais outro motor acordou uivando. Ela o fitava, sem poder falar. A porta da sala vip se abriu, e um homem alto entrou animadamente.

— Alô, Ian! Disseram-me que poderia encontrá-lo aqui.

— Alô, David! Casey, este é David MacStruan, meu primo.

Atordoada, Casey olhou para ele, deu um meio sorriso, mas na verdade não o notou.

— Alô. Mas, Ian, falou... falou a sério?

— Naturalmente. — O último motor começou a funcionar. — É melhor subir a bordo. Até o mês que vem.

— Como? Oh, oh, mas eu... é, até.

Tonta, enfiou o envelope na bolsa, virou-se e foi embora. Eles ficaram olhando enquanto ela subia a escada.

— Quer dizer que essa é a famosa Casey — comentou David MacStruan, pensativo. Era tão alto quanto Dunross, porém alguns anos mais moço, ruivo, de olhos curiosamente amendoados, quase asiáticos, embora verdes, o rosto muito cansado, a maior parte dos três dedos menores da mão esquerda faltando, esmagados pelas cordas do seu pára-quedas.

— É. Essa é Kamalian Ciranoush Tcholok.

— Espetacular!

— Mais do que isso. Pense nela como a Bruxa. MacStruan soltou um assobio.

— É tão boa assim?

— Poderia ser, com o treinamento apropriado.

A bordo do avião, Svensen fechou a porta da cabine e trancou-a.

— Quer alguma coisa, Casey? — perguntou bondosamente, muito preocupado com ela.

— Não — retrucou, desalentada. — Só quero ficar sozinha, Sven. Eu... eu chamo se precisar de alguma coisa, está bem?

— Certo — disse ele, saindo e fechando a porta. Agora, estava sozinha. Entorpecida, amarrou o cinto e olhou pela janelinha. Em meio às lágrimas, viu Dunross e o outro homem de cujo nome não se lembrava acenando. Acenou também, mas eles não viram.

As nuvens cobriram a lua. Os motores aceleraram, o avião foi taxiando, tomou posição e alçou vôo ruidosamente para o céu negro, subindo bem inclinado. Casey não notou nada, as palavras de Dunross ainda martelando no seu cérebro, sem parar, destroçando-a e recompondo-a de novo.

"Tai-pan. Esse foi o verdadeiro presente do Linc para você", dissera ela. "Tai-pan, o dinheiro não é importante."

Era verdade, mas...

Mas...

O que foi que o Linc dissera naquela primeira vez, naquele primeiro dia na Bolsa? Fora:

"Se o Gornt ganhar, ganharemos. Se o Dunross ganhar, ganharemos. De um jeito ou de outro, tornamo-nos a Casa Nobre... e é para isso que estamos aqui".

A escuridão abandonou-a. Sua mente se desanuviou. As lágrimas pararam.

"Era isso o que ele queria, realmente queria", pensou, sua excitação aumentando. "Queria que fôssemos a Casa Nobre. Claro. Quem sabe é isso o que posso fazer por ele, fazer deste o seu epitáfio... a Casa Nobre.

— Oh, Linc! — exclamou, alegremente. — Vale a pena tentar. Não vale?

O avião a jato furou as nuvens altas, continuando sua decolagem impecável. A noite estava quente e muito escura, a lua crescente, o vento suave.

Lá embaixo estava a ilha.

Dunross entrou velozmente na Peak Road, dirigindo-se para casa, o tráfego calmo e o motor roncando gostoso. Obedecendo a um súbito impulso, mudou de direção, parou no mirante do Pico e ficou parado junto à grade, sozinho.

Hong Kong era um mar de luzes. Lá em Kowloon, outro jato decolou da pista iluminada. Algumas estrelas apareciam, por entre as nuvens altas.

— Meu Deus, como é bom estar vivo! — falou.

Linha do Tempo das Obras de James Clavell

CASA NOBRE é o quarto romance da saga asiática, que até agora se compõe de:

1600 d. C.................................... Shogum

1841 d. C.................................... Tai-pan

1945 d. C.....................................Changi

1963 d. C.....................................Casa Nobre

O AUTOR E SUA OBRA

Como os heróis de seus romances, o australiano James Clavell é um vencedor. Seus três primeiros livros — "Changi", obra de estréia de 1961, mas só lançada no Brasil vinte anos depois, "Tai-pan" e "Shogun" — venderam cerca de doze milhões de exemplares, foram traduzidos para uma dúzia de línguas e o transformaram num homem rico, graças também aos direitos de adaptação para a televisão e o cinema.

Na forma de uma minissérie de cinco capítulos, produzida pelo próprio Clavell, "Shogun" foi visto por cento e vinte e cinco milhões de telespectadores e conquistou a segunda maior audiência nos Estados Unidos, atrás apenas de "Raízes", a saga dos negros americanos.

No centro dessas cifras astronômicas, está um autor que poderia encaixar-se perfeitamente nos papéis de suas personagens. E ele, na verdade, já o fez pelo menos duas vezes, na pele de Peter Marlowe, que em "Changi" é um prisioneiro de guerra num campo controlado pelos japoneses, e em "Casa Nobre" reaparece como um ex-roteirista de Hollywood que se torna escritor e vai a Hong Kong em busca de dados para escrever um romance sobre os fundadores da colônia.

"Alto, de cabelos loiros, com sotaque aristocrático e uma estranha intensidade nos olhos azul-acinzentados", como o descreveu o autor, Marlowe repete a trilha de Clavell, que, durante a II Guerra Mundial também passou três anos e meio na mesma Changi, a "obscena prisão" de Cingapura onde apenas um em cada quinze prisioneiros conseguiu sobreviver. O ódio aos japoneses de que foi tomado só foi superado quinze anos depois, quando começou a escrever "Shogun", converten-do-se em admiração e inspiração constantes.

Nascido em Sydney, Austrália, em 1924, e educado na Inglaterra, Clavell seguiu a tradição militar da família, ingressando na Real Artilharia inglesa com apenas dezesseis anos. A serviço, passou quatro anos no Oriente (Birmânia, índia, Malásia, Indonésia) e depois na África.

Terminada a guerra, deixou o exército com a patente de capitão e retomou os estudos na Universidade de Birmingham (1946-47). Trabalhou como vendedor em Londres e depois ingressou na BBC como produtor de programas radiofônicos.

Sua mudança para os Estados Unidos, em 1953, marca o início de seu período criativo. A literatura e o cinema tornaram-se suas duas grandes paixões. Escreveu diversos roteiros, como "A mosca da cabeça branca" ("The fly", 1958), "Fugindo do inferno" ("The great escape", 1963), "Inferno nos céus" ("633 Squadron", 1964) e "O mundo marcha para o fim" ("Satan Bug", 1964).

Além disso, seu romance "Changi" ("King rat") foi filmado pela Columbia em 1962, sob a direção de Brian Forbes, e teve no Brasil o título de "O rei de um inferno". Com sólida reputação no meio cinematográfico, James Clavell escreveu, produziu e dirigiu cinco filmes, sendo o mais conhecido "Ao mestre com carinho" ("To sir, with love"), estrelado por Sidney Poitier.

Confirmação retumbante de seu talento, "Casa Nobre" foi lançado em 1981 nos Estados Unidos e logo disparou para o primeiro lugar na lista dos mais vendidos. Com este livro, Clavell escreve seu melhor trabalho, segundo a opinião da crítica, e promete que sua "saga asiática", iniciada no Japão de 1600, está longe do desfecho. Anda fazendo pesquisas para um quinto romance, que tratará provavelmente do Japão contemporâneo, e planeja um sexto sobre o maior tema orientaclass="underline" a China. Enquanto isso, encontra tempo para escrever uma breve parábola, "The children's story", e preparar uma nova edição, com introdução sua, do clássico chinês de Sun Tse, "A arte da guerra".