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"Sr. Phillip Chen, informo-lhe que estou precisando desesperadamente de quinhentos mil em moeda de Hong Kong e venho consultá-lo a esse respeito. O senhor é tão rico que é como arrancar um fio de cabelo de nove bois. Temendo que recuse, não tenho outra alternativa senão usar seu filho como refém. Agindo assim, não temerei sua recusa. Espero que pense seriamente no caso, três vezes, e leve-o em consideração. Depende do senhor chamar a polícia ou não. Estou enviando junto alguns artigos que seu filho usa diariamente como prova da situação em que se encontra. Envio também uma parte da orelha de seu filho. Deve se dar conta da inclemência e da crueldade das minhas ações. Se pagar o dinheiro sem problemas, a segurança de seu filho estará garantida. Escrito pelo Lobisomem."

Dunross indicou a caixa.

— Desculpe, mas reconhece a... bem... aquilo? Phillip Chen deu uma risada nervosa, e sua mulher também.

— Você reconhece, Ian? Conheceu John a sua vida inteira... Como se reconhece uma coisa dessas, heya?

— Mais alguém sabe do seqüestro?

— Não, exceto os criados, é claro, Shitee T'Chung e alguns amigos que estavam almoçando aqui comigo. Eles... estavam aqui quando o embrulho chegou. É, estavam aqui. Saíram pouco antes de você chegar.

Dianne Chen mudou de posição na cadeira e disse o que Dunross estava pensando.

— Então é claro que toda Hong Kong saberá do caso até o anoitecer!

— É. E haverá manchetes escandalosas ao alvorecer. —

Dunross tentou pôr em ordem a infinidade de perguntas e respostas que inundavam a sua mente. — A imprensa vai saber da... orelha e do Lobisomem e vai deitar e rolar.

— É, se vai.

Phillip Chen lembrou-se do que Shitee T'Chung havia dito no momento em que todos liam a carta.

"Não pague o resgate pelo menos durante uma semana, Phillip, velho amigo, e será famoso no mundo inteiro! Ayeeyah, imagine, um pedaço da orelha dele e Lobisomem! Eeee, será famoso no mundo inteiro!"

— Talvez não seja a orelha dele, talvez seja só um truque — disse Phillip Chen, esperançoso.

— É. — "Se for mesmo a orelha de John", pensou Dunross, muito perturbado, "e se já a mandaram no primeiro dia, sem tentar negociar nem nada, aposto que o pobre infeliz já está morto." — Não há motivo para feri-lo desse jeito — falou. — Claro que você vai pagar.

— Mas é claro. Que sorte não estarmos em Cingapura, não é?

— É. — Àquela época, em Cingapura, por lei, no momento em que alguém era seqüestrado, as contas bancárias de toda a família eram congeladas para impedir o pagamento aos seqüestradores. Lá os raptos tinham se tornado endêmicos, quase sem prisões dos envolvidos, pois os chineses preferiam pagar rápida e discretamente, sem nada comunicar à polícia. — Mas que filho da mãe! Pobre do John!

Phillip perguntou:

— Aceita um pouco de chá... ou uma bebida? Está com fome?

— Não, obrigado. Vou esperar até Brian Kwok chegar, depois vou embora. — Dunross olhou para a caixa e para as chaves. Vira aquele chaveiro muitas vezes. — Está faltando a chave da caixa de depósito do banco — falou.

— Que chave? — perguntou Dianne Chen.

— John sempre tinha uma chave da caixa de depósito no chaveiro.

Ela não se mexeu da cadeira.

— E agora não está aí?

— Não.

— Talvez você esteja enganado. Sobre o fato de ele sempre a trazer no chaveiro.

Dunross olhou para ela e depois para Phillip Chen. Ambos devolveram o seu olhar. "Bem", pensou, "se os bandidos não a pegaram, agora está com Phillip ou Dianne, e se eu fosse eles, faria o mesmo. Sabe lá Deus o que pode haver naquela caixa."

— Talvez você esteja enganado — falou, tranqüilamente.

— Chá, tai-pan? — perguntou Dianne, e ele viu a sombra de um sorriso no fundo dos olhos dela.

— Sim, acho que aceito — falou, sabendo que eles haviam ficado com a chave.

Ela se levantou e pediu o chá em voz alta, depois voltou a sentar-se.

— Eeeee, gostaria que andassem depressa... os policiais.

Phillip olhava pela janela para o jardim estorricado.

— Gostaria que chovesse.

— Imagino quanto vai custar para termos o John de volta — resmungou ela.

Depois de uma pausa, Dunross perguntou:

— E isso importa?

— Mas claro que importa — falou Dianne, prontamente. — Francamente, tai-pan!

— Ah, sim — ecoou Phillip Chen. — Quinhentos mil! Ayeeyah, quinhentos mil, uma fortuna. Malditas tríades! Bem, se pediram quinhentos mil, posso chegar a cento e cinqüenta mil... Graças a Deus não pediram um milhão! — As sobrancelhas dele se alçaram, e o rosto ficou mais cinzento ainda. — Dew neh loh moh para todos os seqüestradores. Deviam ser mortos... todos eles.

— É — confirmou Dianne. — Tríades nojentas. A polícia devia ser mais esperta! Mais viva e mais esperta, e nos proteger melhor.

— Isso não é justo — falou Dunross, vivamente. — Há anos que não há um seqüestro de importância em Hong Kong, e acontece todos os meses em Cingapura! O índice de crimes aqui é fantasticamente baixo... nossa polícia faz um excelente trabalho... excelente.

— Hum — debochou Dianne. — São todos corruptos. Por que outro motivo ser policial, senão para enriquecer? Não confio em nenhum deles... Sabemos, ora se sabemos! Quanto a seqüestros, o último foi há seis anos. A vítima foi meu primo em terceiro grau, Fun San Sung... a família teve que pagar seiscentos mil dólares para recebê-lo de volta... Quase a levou à falência.

— Ah! — ironizou Phillip Chen. — Levar à falência o Colibri Sung? Impossível!

Colibri Sung era um armador xangaiense riquíssimo, na casa dos cinqüenta anos, com um nariz afilado, comprido para um chinês. Seu apelido era Colibri Sung porque estava sempre dardejando de cabaré em cabaré, de flor em flor, em Cingapura, Bangkok, Taipé e Hong Kong, mergulhando o membro numa infinidade de "potes de mel" femininos, embora corresse o boato de que não era o membro, pois apreciava o sexo oral mútuo.

— Se bem me lembro, a polícia recuperou a maior parte do dinheiro, e mandou os criminosos para a cadeia por vinte anos.

— Foi isso mesmo, tai-pan. Mas levaram meses e meses. E não me admiraria se um ou dois policiais soubessem mais do que admitiam.

— Mas quanta bobagem! — exclamou Dunross. — Não tem nenhum motivo para acreditar numa coisa dessas! Nenhum.

— Isso mesmo! — concordou Phillip Chen, irritado. — Eles os prenderam, Dianne. — Ela olhou para ele, que imediatamente mudou o tom de voz. — Claro, minha querida, que alguns policiais podem ser corruptos, mas temos muita sorte aqui, muita sorte. Acho que não me incomodaria tanto, sobre John... é só uma questão de resgate, e temos tido sorte como família, até agora... não me incomodaria se não fosse por... por aquilo. — Fez um sinal para a caixa, enojado. — Terrível! E totalmente incivilizado.

— É — concordou Dunross, e ficou imaginando, se não fosse a orelha de John Chen, de quem seria... onde se arranja uma orelha? Quase riu do ridículo da sua pergunta. Depois, ficou matutando se o rapto teria alguma ligação com Tsu-yan, as armas e Bartlett. Não fazia o gênero dos chineses mutilar uma vítima. Não, e certamente não tão cedo. O seqüestro era uma antiga arte chinesa, e as regras sempre foram claras: "Pague e fique calado, e não haverá problema; protele e fale e haverá muitos problemas".

Ficou olhando pela janela para os jardins e para o imenso panorama setentrional da cidade e do mar, lá embaixo. Navios, juncos e sampanas pontilhavam o mar azul. O céu estava limpo, sem promessas de chuva, a monção de verão firme vinda do sudoeste. Dunross ficou imaginando distraidamente como seriam os veleiros antigos ao acompanhar o vento ou enfrentar os vendavais, na época dos seus ancestrais. Dirk Struan sempre tivera um vigia secreto no topo da montanha acima. De lá, o homem podia enxergar o sul, o leste e o oeste, e o grande canal Sheung Sz Mun, que vinha do sul para Hong Kong... o único caminho interno para os navios vindos de casa, da Inglaterra. Do Mirante de Struan, o vigia podia ver secretamente o navio-correio que chegava, e dar um sinal de aviso secreto lá para baixo. Então, o tai-pan despacharia um barco a vela rápido para pegar a correspondência primeiro, para ter algumas horas de vantagem sobre os seus rivais, essas poucas horas podendo significar a diferença comercial entre a fortuna e a falência... tão vasto era o tempo que os separava de casa. Não como agora, com comunicações instantâneas, pensou Dunross. "Temos sorte... não temos que esperar quase dois anos por uma resposta, como o Dirk. Jesus, mas que homem deve ter sido!