— Acho que sim.
— Posso perguntar-lhe como soube de mim?
— Temos amigos em altas esferas, Sr. Grant. Em certos círculos o seu nome é muito famoso. Talvez até mesmo um secretário do exterior o recomendasse — acrescentara, delicadamente.
— Ah, sei.
— Nosso arranjo é satisfatório?
— Sim... um ano, inicialmente, podendo ser prorrogado para cinco, se tudo correr bem. Após os cinco?
— Mais cinco — disse Dunross. — Se obtivermos os resultados que quero, seu pagamento antecipado será dobrado.
— Ah, quanta generosidade! Mas posso perguntar-lhe por que está sendo tão generoso, talvez "extravagante" fosse a palavra certa, comigo e com esse comitê em projeto?
— Sun Tse disse: "O que permite a um sábio soberano ou a um bom general atacar, conquistar e obter coisas fora do alcance dos homens normais é o conhecimento antecipado. O conhecimento antecipado vem somente através dos espiões. Nada é mais importante para o Estado do que a qualidade dos seus espiões. É dez mil vezes mais barato pagar regiamente aos melhores espiões do que até mesmo a um pequeno exército pobremente".
Alan Medford Grant riu de orelha a orelha.
— Certíssimo! As minhas oito mil e quinhentas libras por ano são um régio pagamento, Sr. Dunross. Ah, sim, sem dúvida.
— Consegue pensar num melhor investimento para mim?
— Não, se eu atuar corretamente, se eu e os que escolher formos os melhores existentes. Mesmo assim, trinta e tantas mil libras em salários por ano... um fundo de até cem mil libras para... para informantes e informações, tudo dinheiro sigiloso... bem, espero que fique satisfeito com o seu investimento.
— Se você for o melhor, recuperarei dez mil vezes o meu investimento. Espero recuperá-lo dez mil vezes — disse, falando sério.
— Farei tudo o que estiver ao meu alcance, é claro. Agora, especificamente, que tipo de informação quer?
— Toda e qualquer informação, comercial, política, que ajude a Struan a fazer planos antecipados, especialmente no tocante à costa do Pacífico, ao modo de pensar russo, americano e japonês. Nós próprios provavelmente saberemos mais sobre as atitudes chinesas. Por favor, dê-me sempre mais do que menos. Na verdade, qualquer coisa seria mais valiosa, porque estou querendo tirar a Struan do comércio da China... mais especificamente, quero que a companhia seja internacional, e quero diversificar, sair da nossa dependência atual do comércio com a China.
— Muito bem. Primeiro: não gostaria de confiar os nossos relatórios aos correios.
— Providenciarei um mensageiro.
— Obrigado. Segundo: preciso ter carta branca para escolher, nomear e demitir os outros membros do comitê... e gastar o dinheiro como achar apropriado.
— De acordo.
— Cinco membros serão suficientes.
— Quanto quer lhes pagar?
— Cinco mil libras por ano, pagamento antecipado, sem exclusividade, para cada um, seria excelente. Por esse preço posso conseguir os melhores homens. É. Nomearei membros associados para estudos especiais, à medida que for precisando. Como a maioria dos nossos contatos serão no exterior, muitos na Suíça, será que poderia haver fundos à disposição lá?
— Digamos que eu deposite a quantia total combinada trimestralmente numa conta suíça numerada. Pode sacar os fundos à medida que for precisando... somente a sua assinatura, ou a minha. Preste contas a mim, exclusivamente, trimestralmente. Se quiser estabelecer um código, tudo bem para mim.
— Excelente. Não poderei dar o nome de ninguém... não posso prestar contas das pessoas a quem vou dar o dinheiro.
Depois de uma pausa, Dunross disse:
— Está bem.
— Obrigado. Acho que nos entendemos. Pode me dar um exemplo do que deseja?
— Por exemplo, não quero ser pego de surpresa, como aconteceu com meu predecessor, no caso de Suez.
— Ah! Está se referindo ao fiasco de 1956, quando Eisenhower nos traiu de novo e causou o fracasso do ataque britânico-franco-israelense ao Egito... porque Násser nacionalizara o canal?
— É. Aquilo nos custou uma fortuna... acabou com os nossos interesses no Oriente Médio, quase nos arruinou. Se o tai-pan anterior tivesse sabido sobre um provável fechamento de Suez, teríamos ganho uma fortuna reservando espaço para carga, aumentando nossa frota... ou se tivéssemos conhecimento, antecipadamente, do modo de pensar americano, especialmente de que Eisenhower ficaria novamente do lado da Rússia, contra nós, poderíamos ter diminuído em muito as nossas perdas.
O homenzinho comentou, com tristeza:
— Sabe que ele ameaçou congelar todos os bens britânicos, franceses e israelenses nos Estados Unidos, instantaneamente, se não nos retirássemos de pronto do Egito, quando estávamos a poucas horas da vitória? Acredito que todos os nossos problemas atuais no Oriente Médio derivam daquela decisão americana. É. Inadvertidamente, os Estados Unidos aprovaram a pirataria internacional pela primeira vez, e estabeleceram um precedente para piratarias futuras. Nacionalização. Que piada! "Roubo" é uma palavra melhor... ou "pirataria". É. Eisenhower foi mal assessorado. E muito mais mal assessorado ao prosseguir com o insensato acordo político de Yalta, de um Roosevelt doente, do incompetente Attlee, permitindo que Stálin engolisse a maior parte da Europa, quando era militar-mente claro até para o político mais burro ou para o general mais turrão que era contrário aos nossos absolutos interesses nacionais, nossos e dos Estados Unidos, nos determos. Acho que Roosevelt realmente nos detestava, a nós e ao nosso Império Britânico.
O homenzinho formou um triângulo com os dedos e abriu um sorriso.
— Temo que haja uma grande desvantagem em me contratar, Sr. Dunross. Sou inteiramente pró-britânico, anticomunista e, especialmente, contra o KGB, que é o principal instrumento da política externa soviética, que é aberta e eternamente dedicada à nossa destruição, portanto o senhor pode dar o desconto em algumas das minhas previsões mais apimentadas, se quiser. Sou completamente contra um Partido Trabalhista dominado pela ala esquerdista, e constantemente lembro a quem queira ouvir que o hino do Partido Trabalhista é A bandeira vermelha. — Alan Medford Grant deu aquele seu sorriso de elfo. — É melhor que conheça a minha posição desde o início. Sou monarquista, legalista, e acredito no sistema parlamentar britânico. Jamais, conscientemente, lhe darei informações falsas, embora minhas avaliações sejam parciais. Posso perguntar-lhe qual é a situação política de vocês?
— Não temos política em Hong Kong, Sr. Grant. Não votamos, não temos eleições... somos uma colônia, especificamente uma colônia de porto livre, não uma democracia. A coroa governa... na verdade o governador o faz, despoticamente, em nome da coroa. Ele tem um conselho legislativo, mas é um conselho "vaca de presépio", e a orientação política histórica é o laissez-faire. Sabiamente, ele deixa as coisas como estão. Ouve a comunidade empresarial, faz mudanças sociais, muito cautelosamente, e deixa todos em paz para ganhar ou não ganhar dinheiro, criar, expandir-se, arruinar-se, ir ou vir, sonhar ou ficar acordado, viver ou morrer como puder. E o imposto máximo é de quinze por cento, mas só sobre dinheiro ganho em Hong Kong. Não temos política aqui, não queremos política aqui... nem a China quer que a tenhamos. Eles também são a favor do status quo. Minha posição política pessoal? Sou monarquista, a favor da liberdade, da pirataria e do livre comércio. Sou escocês, sou a favor da Struan, do laissez-faire em Hong Kong e da liberdade em todo o mundo.