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— Acho que nos entendemos. Ótimo. Nunca trabalhei antes para um indivíduo, só para o governo. Esta será uma nova experiência para mim. Espero satisfazê-lo. — Grant fez uma pausa e pensou por um momento. — Como Suez em 56? — Formaram-se ruguinhas fundas ao redor dos olhos do homenzinho. — Muito bem, faça planos para a perda do Canal do Panamá pelos americanos.

— Isso é ridículo!

— Ora, não fique tão chocado, Sr. Dunross! É fácil demais. Bastam dez ou quinze anos de trabalho constante do inimigo e muito papo liberal nos Estados Unidos, muito bem auxiliados pelos inocentes úteis que acreditam na benevolência da natureza humana, acrescente a tudo isso uma quantidade modesta de agitação panamenha calculada, estudantes e coisa e tal (de preferência, ah, sempre estudantes), hábil e secretamente assistidos por alguns agitadores profissionais pacientes e altamente treinados, e a técnica pericial, o financiamento e um plano a longo prazo, oh, tão secretos, do KGB — pronto, no devido tempo o canal passaria das mãos dos Estados Unidos para as do inimigo.

— Eles jamais aceitariam isso.

— Certo, Sr. Dunross. Mas terão outra alternativa? Que garrote melhor contra seu principal inimigo capitalista declarado, em tempo de hostilidades, ou até de crise, do que ser capaz de impedir o Canal do Panamá, ou mesmo bloqueá-lo? Um navio afundado em qualquer um de uma centena de locais, ou uma tranca destruída, poderia deixar o canal obstruído durante anos.

Dunross lembrou-se de que servira mais dois drinques antes de responder:

— Está sugerindo seriamente que façamos planos para essa eventual conjuntura?

— Estou — disse o homenzinho, com sua extraordinária inocência. — Levo meu trabalho muito a sério, Sr. Dunross.

Meu trabalho, aquele que escolhi, é o de procurar, pôr a descoberto e avaliar as jogadas inimigas. Não sou anti-russo, antichinês, antigermânico oriental ou contra qualquer um do bloco... pelo contrário, desejo desesperadamente ajudá-los. Estou convencido de que estamos num estado de guerra, de que o inimigo de todo o povo são os membros do Partido Comunista, seja ele britânico, soviético, chinês, húngaro, americano, irlandês... até marciano... e que todos eles estão ligados, de um jeito ou de outro. E que o KGB, quer a gente goste ou não, está no centro da teia deles. — Tomou um gole da nova dose de uísque que Dunross acabara de servir-lhe. — Que uísque maravilhoso, Sr. Dunross.

— Loch Vey... fabricado numa pequena destilaria perto da nossa terra natal, em Ayr. É uma companhia da Struan.

— Maravilhoso!

Mais um gole apreciador, e Dunross lembrou-se de mandar uma caixa do uísque para Alan Medford Grant, pelo Natal... se os relatórios iniciais fossem interessantes.

— Não sou fanático, Sr. Dunross, nem agitador. Apenas uma espécie de repórter e de prognosticador. Há quem colecione selos. Eu coleciono segredos...

As luzes de um carro que dobrava a curva semi-escondida da estrada, lá embaixo, distraíram Dunross momentaneamente. Caminhou até a janela e ficou olhando o carro até ele sumir, apreciando o barulho do motor bem regulado. Depois, sentou-se numa cadeira de espaldar alto e deixou de novo o pensamento vagar. "É, Sr. Grant, o senhor realmente coleciona segredos", pensou, abalado como sempre pelo raio de alcance dos conhecimentos do homenzinho.

"Sevrin. Deus todo-poderoso! Se isso for verdade...

"Até que ponto você está sendo exato, dessa vez? Até onde confiarei em você, dessa vez... até onde me arriscarei?"

Em relatórios anteriores, Grant fizera duas previsões que, até então, haviam sido confirmadas. Com um ano de antecedência, Grant predissera que De Gaulle vetaria os esforços da Grã-Bretanha para ingressar no Mercado Comum Europeu, que a posição do general francês seria cada vez mais antibritânica, antiamericana e pró-soviética, e que De Gaulle, instado por influências externas e encorajado por um dos seus assessores mais chegados (um espião secretíssimo, dissimulado, do KGB), desfecharia um ataque a longo prazo na economia americana, especulando com ouro. Dunross achara que isso era excesso de imaginação, e perdera uma fortuna potencial.

Recentemente, com seis meses de antecedência, Grant previra a crise dos mísseis em Cuba, e que Kennedy bancaria o durão, imporia o bloqueio a Cuba, exerceria a pressão necessária e não se curvaria sob a tensão da proximidade, e que Khruchov recuaria sob pressão. Apostando que Grant estava certo, desta vez — embora, na época prevista, uma crise de mísseis cubana fosse altamente improvável —, Dunross ganhara meio milhão de libras para a Struan, comprando a termo títulos de açúcar havaiano, mais seiscentas mil na Bolsa, mais seiscentas mil para o fundo secreto do tai-pan... e cimentara um plano de longo alcance para investir em canaviais havaianos logo que pudesse obter o instrumento financeiro. "E agora obtive", disse a si mesmo, radiante, "a Par-Con."

— Quase obtive — resmungou, corrigindo-se.

"Até onde posso confiar neste relatório? Até o momento, o comitê de Alan Medford Grant foi um investimento gigantesco, a despeito de todos os seus meandros", pensou. "É. Mas é quase como ter meu próprio astrólogo. Alguns prognósticos exatos não significam que todos eles o serão. Hitler tinha o seu prognosticador. Júlio César também. Seja sensato, seja cauteloso", lembrou a si mesmo.

"O que fazer? É agora ou nunca."

Sevrin. Alan Medford Grant escrevera: "Documentos trazidos a nós, consubstanciados pela espiã francesa Marie d'Orléans, presa pela Süreté no dia 16 de junho, indicam que o Departamento V do KGB (Desinformação — extremo oriente) tem bem colocada uma rede de espionagem secretíssima, até agora desconhecida, espalhada por todo o Extremo Oriente, codinome 'Sevrin'. O propósito da Sevrin está claramente definido no principal documento roubado:

"Objetivo: Desmantelar a China revisionista — formalmente reconhecida pelo Comitê Central da URSS como o principal inimigo, perdendo apenas para os Estados Unidos capitalista.

"Norma: A eliminação permanente de Hong Kong como o bastião do capitalismo no Extremo Oriente e fonte preeminente para a China de todas as moedas estrangeiras, assistência estrangeira e toda assistência técnica e manufatureira, de qualquer tipo.

"Método: Infiltração a longo prazo na imprensa e meios de comunicação, governo, polícia, empresariado e educação por estrangeiros amistosos controlados pelo Centro... mas somente segundo normas especialíssimas, em toda a Ásia.

"Data de início: Imediata.

"Duração da operação: Provisoriamente, trinta anos.

“Data-alvo: 1980-83.

"Classificação: Vermelho Um.

"Fundos: O máximo.

"Aprovação: L. B., 14 de março de 1950.

"É interessante notar", continuara Grant, "que o documento foi assinado em 1950 por L. B. Supõe-se que seja La-vrenti Béria, quando a Rússia soviética era abertamente aliada da China comunista, e que, já naquele tempo, a China fosse secretamente considerada o seu inimigo número 2 (reportar-se ao nosso relatório anterior, 3/1962, Rússia versus China).

"A China, historicamente, é o grande prêmio que sempre foi (e sempre será) cobiçado pela Rússia imperialista e hegemônica. A posse da China, ou sua mutilação em Estados súditos balcanizados, é a tônica perpétua da política externa russa. Primeiramente, é claro, virá a eliminação da Europa Ocidental, pois então, segundo acredita a Rússia, a China será engolida sem problemas.

"Os documentos revelam que a célula de Hong Kong da Sevrin consiste em um superintendente residente, de codinome Arthur, e seis agentes. Nada sabemos sobre Arthur, exceto que é agente do KGB desde que foi recrutado na Inglaterra, nos anos 30 (não se sabe se nasceu na Inglaterra, ou se seus pais são ingleses, mas deve ter quarenta e tantos ou cinqüenta e poucos anos). Sua missão, naturalmente, é uma operação ultra-secreta, a longo prazo.

"Documentos de apoio altamente secretos do serviço de informações, roubados da STB (Segurança Secreta do Estado) da Tchecoslováquia, datados de 6 de abril de 1959, dizem, em parte: '...entre 1946 e 1959, seis agentes-chaves, ultra-secretos, foram recrutados através de informação fornecida pelo superintendente, Arthur, um em cada um dos seguintes lugares: Ministério Colonial de Hong Kong (codinome Charles), Tesouro (Mason), Base Naval (John), Banco de Londres, Cantão e Xangai (Vincent), Companhia Telefônica de Hong Kong (William) e Struan e Companhia (Frederick). Segundo as normas costumeiras, só o superintendente conhece a verdadeira identidade dos demais. Sete endereços seguros foram estabelecidos, entre eles o Sinclar Towers, na ilha de Hong Kong, e o Hotel Nove Dragões, em Kowloon. O contato da Sevrin em Nova York tem o codinome Guillio. É muito importante para nós por causa das suas ligações com a Máfia e a CIA'."