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— Eeee, isso é bom para os negócios! Teremos que consertar os navios deles. E entreter os seus homens! Bom. Ótimo para nós.

— É. Ótimo. Mas uma burrice para eles. O Honorável Chu En-lai já os vem advertindo, há meses, educadamente, de que a China não os quer lá! Por que não escutam? O Vietnam é a nossa esfera externa bárbara! É uma burrice escolher aquela selva horrorosa e aqueles bárbaros detestáveis para fazer uma guerra. Se a China não conseguiu subjugar aqueles bárbaros estrangeiros durante séculos, como poderão eles fazê-lo? — Tang-po riu e acendeu outro cigarro. — Para onde foi Pok Um Olho Só?

— A raposa velha conseguiu o visto permanente e se mandou para San Francisco no primeiro avião. Ele, a mulher e oito filhos.

Tang-po virou-se para o contador.

— Ele nos devia algum dinheiro?

— Ah, não, Honrado Senhor. Estava com os pagamentos integralmente atualizados. O sargento Lee cuidou disso.

— Quanto custou àquele fornicador velho? Para obter o visto?

— Sua saída foi facilitada por um presente de três mil HK para o cabo Sek Pun So, da Imigração, segundo nossas recomendações. Nossa porcentagem foi paga, e também o ajudamos a encontrar o mercador de diamantes certo para converter sua fortuna nas melhores pedras branco-azuladas disponíveis. — Ho consultou os seus livros. — Nossa comissão de dois por cento foi de oito mil novecentos e sessenta HK.

— O velho e bom Um Olho Só! — exclamou Tang-po, contente por ele. — Saiu-se muito bem. Com que emprego "especializado" conseguiu o visto?

O sargento Lee explicou:

— O de cozinheiro num restaurante do Bairro Chinês, chamado O Lugar de Comer Bem. Oh ko, já provei a comida feita por ele, e o velho Um Olho Só é ruim pra cachorro.

— Vai contratar outro para tomar o seu lugar, e vai se meter no ramo imobiliário, ou com jogo e cabarés — disse alguém. — Eeee, que sorte!

— Mas quanto lhe custou o visto americano?

— Ah, o dom dourado para o Paraíso! — Ho suspirou. — Ouvi dizer que pagou cinco mil dólares americanos para encabeçar a lista.

— Ayeeyah, é mais do que o costumeiro. Por quê?

— Parece que há também a promessa de um passaporte americano, logo que acabe o prazo de cinco anos, e de ignorarem o fato de o velho Um Olho Só não falar inglês...

— Aqueles sacanas do País Dourado... extorquem, mas não são organizados. Não têm classe nenhuma — falou Tang-po, desdenhosamente. — Um ou dois vistos, aqui e ali... quando todos aqui sabem que se pode comprar um, na hora certa e com a propina certa. Então por que não agem direito, de modo civilizado? Vinte vistos por semana... até mesmo quarenta... são todos doidos, esses demônios estrangeiros!

— Dew neh loh moh, mas como está certo! — falou o sargento Lee, tonto com a quantidade potencial das propinas que poderia ganhar, se fosse vice-cônsul do consulado dos Estados Unidos em Hong Kong, no Departamento de Vistos. — Eeee!

— Deveríamos ter uma pessoa civilizada nesse cargo, logo estaríamos estabelecidos como mandarins e policiando San Francisco! — disse Tang-po, e todos riram junto com ele. A seguir, acrescentou, enojado: — Pelo menos deviam ter um homem no cargo, não um que goste de uma Haste Ardente na sua Cloaca Medonha, ou da sua na de outro homem!

Riram ainda mais.

— Ei — exclamou um deles —, ouvi dizer que o parceiro dele é o Jovem Demônio Estrangeiro Fedorento Barriga de Porco, das Obras Públicas... sabe, aquele que está vendendo licenças para construções que não deviam ser feitas!

— Isso são águas passadas, Chan, há muito tempo. Ambos já estão de cacho novo. O último boato é que o nosso demônio vice-cônsul está ligado a um jovem... — Tang-po acrescentou, delicadamente: — filho de um contador de destaque, que também é um comunista de destaque.

— Eeee, isso não é bom — disse o sargento Lee, identificando o homem imediatamente.

— Não — concordou Tang-po. — Especialmente porque ouvi dizer, ontem, que o jovem tem um apartamento secreto dobrando a esquina. No meu distrito! E o meu distrito é o que tem menos crimes.

— Isso mesmo — concordaram todos, com orgulho.

— Devemos falar com ele, Irmão Mais Velho? — perguntou Lee.

— Não, apenas mantê-lo sob vigilância especial. Quero saber tudo sobre esses dois. Tudo. Até mesmo se arrotam. — Tang-po soltou um suspiro. Deu ao sargento Lee o endereço e distribuiu as missões a cada um. — Já que estão todos aqui, decidi antecipar o pagamento de amanhã.

Abriu a sacola grande, que continha dinheiro em notas. Cada homem recebeu o equivalente ao seu pagamento na polícia, mais despesas autorizadas.

Trezentos HK por mês, sem custas, não era um salário suficiente para um guarda alimentar uma família, mesmo pequena, e ter um pequeno apartamento, nem mesmo de duas peças, com uma pia e sem sanitários, e para mandar um filho para a escola; ou o suficiente para conseguir mandar um pouco para a sua aldeia natal, em Kwantung, para pais, avós, mães, tios e avôs necessitados, muitos dos quais, há tantos anos, haviam dado as economias de toda uma vida para ajudá-lo a se pôr a caminho, na estrada irregular para Hong Kong.

Tang-po fora um desses. Sentia muito orgulho por ter sobrevivido à viagem, aos seis anos de idade, sozinho, por ter encontrado os parentes, e depois, aos dezoito anos, ter entrado para a polícia... há trinta e seis anos. Servira bem à rainha, impecavelmente à força policial, não servira aos inimigos japoneses durante a ocupação, e agora chefiava uma divisão-chave na colônia de Hong Kong. Respeitado, rico, com um filho cursando a universidade em San Francisco, outro dono de metade de um restaurante em Vancouver, no Canadá, sua família em Kwantung sustentada... e, o que era mais importante, seu distrito de Tsim Sha Tsui com menos roubos sem solução, menos ferimentos, mutilações e guerras entre tríades sem solução do que qualquer outro distrito... e apenas três assassinatos em quatro anos, todos resolvidos e os culpados presos e condenados, e um deles um demônio estrangeiro marujo que matara outro por causa de uma dançarina de cabaré. E quase nenhum furto de pouca monta, e nunca um demônio estrangeiro turista incomodado por mendigos ou pivetes, e era a maior área turística, com mais de trezentas mil pessoas civilizadas para policiar e proteger dos bandidos e delas mesmas.

"Ayeeyah, é", Tang-po disse para si mesmo. "Se não fosse por nós, aqueles camponeses fornicadores de cabeça dura estariam se engalfinhando uns com os outros, brigando, pilhando, matando, e depois o grito inevitável da turba se ergueria: 'Matem os demônios estrangeiros!' E eles tentariam, e depois voltariam os levantes outra vez. Fodam-se todos os malfeitores e as pessoas arruaceiras!"

— Agora — disse ele amavelmente —, vamos nos reunir daqui a três dias. Encomendei um jantar de dez pratos do Chang Boa Comida. Até lá, que todos encostem o olho no orifício dos deuses, e me arranjem as respostas. Quero os Lobisomens... e quero John Chen de volta. Sargento Lee, fique mais um momento. Cabo Ho, escreva a ata e me entregue as contas amanhã às cinco.

— Sim, Honrado Senhor.

Saíram todos. Tang-po acendeu outro cigarro. O sargento Lee fez o mesmo. Tang-po tossiu.

— Devia parar de fumar, Irmão Mais Velho.

— Você também! — Tang-po deu de ombros. — Joss! Quando eu tiver que ir, eu vou. Joss! Mesmo assim, para ter paz, disse à minha Mulher Principal que parei. Ela fica reclamando o tempo todo.

— Mostre-me uma que não reclame, e vai ver que ela é um ele com a Cloaca Medonha.

Riram juntos.

— É verdade. Heya, na semana passada ela insistiu em que eu fosse consultar um médico, e sabe o que o sacana sem mãe me disse? Disse: "É melhor parar de fumar, velho amigo, ou não passará de cinzas num vaso funerário antes de ficar vinte luas mais velho, e aposto que a sua Mulher Principal vai gastar todo o seu dinheiro com rapazes de vida livre, e a sua concubina vai provar os frutos de outro!"