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20h30m
— Alô, Brian — cumprimentou Dunross. — Seja bem-vindo.
— Boa noite, tai-pan... parabéns... bela noite para uma festa — respondeu Brian Kwok. Um garçom de libre apareceu vindo do nada e ele aceitou uma taça de champanha, servido num cristal finíssimo. — Obrigado pelo convite.
— É sempre bem-vindo.
Dunross estava ao lado da porta do salão de baile da Casa Grande, alto e garboso. Penelope estava a poucos passos de distância, recebendo outros convidados. O salão de baile meio cheio dava para terraços e jardins superlotados e iluminados por holofotes, onde a maioria das senhoras vistosamente trajadas e cavalheiros de dinner jacket conversavam em grupos, ou sentavam-se a mesas redondas. Uma brisa fresca chegara junto com a noite.
— Penelope querida — chamou Dunross —, lembra-se do superintendente Brian Kwok?
— Mas é claro — disse ela, abrindo caminho na direção deles, ostentando um sorriso feliz, sem absolutamente lembrar-se dele. — Como vai?
— Muito bem, obrigado... parabéns!
— Obrigada... fique à vontade. O jantar vai ser servido às nove e quinze. Claudia tem a lista dos lugares às mesas, caso tenha perdido o seu cartão. Ah, com licença, um momentinho...
Virou-se para interceptar outros convidados, tentando olhar para toda parte para ver se tudo corria bem e se ninguém estava isolado... sabendo, no íntimo, que, se houvesse um desastre, ela não teria nada a fazer, pois outros dariam um jeito de consertar de novo as coisas.
— Tem muita sorte, Ian — disse Brian Kwok. — Ela fica mais moça a cada ano que passa.
— É.
— É isso aí. Brindemos a mais vinte anos. Saúde! Fizeram tintim com as taças. Eram amigos desde o início da década de 50, quando se haviam encontrado na primeira corrida realizada nos morros, e desde então tinham-se tornado rivais amistosos... e membros fundadores do Clube de Rally e Carros Esporte de Hong Kong.
— Mas e você, Brian, nenhuma garota especial? Veio sozinho?
— Estou curtindo as garotas, sem compromisso. — Brian Kwok baixou o tom de voz. — Na verdade, vou ficar solteiro permanentemente.
— Que idéia! Este é o seu ano... você é o partidão de Hong Kong. Até Claudia está de olho em você. Está ferrado, amigão.
— Oh, Deus! — Brian parou de brincar, por um momento. — Escute, tai-pan, posso falar-lhe uns dois minutos em particular, ainda hoje?
— John Chen? — perguntou Dunross, prontamente.
— Não. Todos os nossos homens estão procurando, mas até agora, nada. É outra coisa.
— Negócios?
— Sim.
— Muito em particular?
— Em particular.
— Está certo — retrucou Dunross. — Procuro você logo após o jantar. Que...
Uma explosão de risadas fez com que ambos olhassem à sua volta. Casey estava no centro de um grupo de admiradores — Linbar Struan, Andrew Gavallan e Jacques de Ville entre eles —, junto a uma das grandes portas envidraçadas que davam para o terraço, do lado de fora.
— Eeee — murmurou Brian Kwok.
— É isso aí — falou Dunross, sorrindo.
Ela usava um vestido justo e longo de seda verde-esmeralda, ajustado na conta certa e transparente na conta certa.
— Pombas, ela está ou não está?
— O quê?
— Usando roupa de baixo?
— Procurai e achareis.
— Gostaria. Ela é deslumbrante.
— Também acho — concordou Dunross, amavelmente —, embora imagine que cem por cento das outras senhoras não achem.
— Os seios dela são perfeitos, dá para se ver.
— Na verdade, não dá. Quase que dá. Está tudo na sua cabeça.
— Aposto que não há um par em Hong Kong que se compare a eles.
— Aposto cinqüenta dólares contra uma moeda de cobre que você está errado... desde que incluamos as eurasianas.
— Como vamos provar quem ganhou?
— Não podemos. Para falar a verdade, sou mais ligado em tornozelos.
— Como?
— O velho tio Chen-Chen costumava dizer: "Olhe primeiro para os tornozelos dela, meu filho, então ficará sabendo a sua raça, como se comportará, como cavalgará, como... igual a qualquer égua. Mas não se esqueça de que todas as gralhas sob os céus são negras!"
Brian Kwok sorriu junto com ele, depois acenou amistosamente para alguém. Do outro lado da sala, um homem alto, de rosto marcado, acenava também. Ao lado dele estava uma mulher extremamente bela, alta, loura, de olhos cinzentos. Também ela acenou alegremente.
— Aquilo sim é que é uma beldade inglesa!
— Quem? Ah, Fleur Marlowe? É, é mesmo. Não sabia que conhecia os Marlowes, tai-pan.
— A recíproca é verdadeira! Conheci-o hoje à tarde, Brian. Conhece-o há muito tempo?
— Uns dois meses e pouco. Ele é persona grata para nós.
— É?
— É. Estamos lhe mostrando como funcionam as coisas.
— É? Por quê?
— Faz alguns meses ele escreveu ao comissário, disse que vinha a Hong Kong fazer pesquisas para escrever um romance, e pediu a nossa colaboração. Parece que o Velho leu o primeiro romance dele e viu alguns dos seus filmes. Claro que fizemos uma verificação e ele nos pareceu legal. — Os olhos de Brian Kwok voltaram para Casey. — O Velho achou que uma imagem melhorada só nos podia fazer bem, então mandou avisar que, dentro de limites, Peter fora aprovado, e que lhe mostrássemos as coisas. — Lançou um olhar para Dunross e deu um breve sorriso. — Não nos cabe discutir por quê!
— Qual é o livro dele?
— Chama-se Changi, e é sobre seus dias como prisioneiro de guerra. O irmão do Velho morreu lá, portanto creio que isso o tocou fundo.
— Já o leu?
— Quem sou eu... tenho muitas montanhas para subir!
Folheei-o, apenas. Peter diz que é ficção, mas não acredito. — Brian deu uma risada. — Mas ele sabe entornar uma cerveja. Robert levou-o a dois dos seus Festivais de Cerveja, e ele se saiu muito bem.
Os Festivais eram festas dadas pelos policiais, só para homens, para as quais os oficiais contribuíam com um barril de cinqüenta litros de cerveja. A festa acabava quando a cerveja acabava.
Os olhos de Brian Kwok banqueteavam-se em Casey, e Dunross se perguntou pela milionésima vez por que os asiáticos preferiam os anglo-saxões, e os anglo-saxões preferiam os asiáticos.
— Por que o sorriso, tai-pan?
— Por nada. Mas Casey não é nada má, hem?
— Aposto cinqüenta dólares que é bat jam gai, heya?
Dunross pensou um momento, sopesando a aposta cuidadosamente. "Bat jam gai" queria dizer, literalmente, "carne branca de galinha". Era assim que os cantonenses se referiam às mulheres que raspavam os pêlos púbicos.
— Tá valendo! Está errado, Brian, ela é see yau gai — que significava "galinha com molho de soja" —, ou, no caso dela, vermelha, macia, e com tempero gostoso. Opinião das mais abalizadas!
Brian achou graça.
— Apresente-me.
— Vá você mesmo se apresentar. Já tem mais de vinte e um anos.
— Deixarei que você ganhe a subida do morro, no domingo.
— Essa é boa! Pode ir, e aposto mil que não consegue.
— Quanto me dá de vantagem?
— Deve estar brincando!
— Perguntar não ofende. Puxa, mas gostaria de faturar aquela. Onde está o sortudo Sr. Bartlett?
— Acho que está no jardim... mandei Adryon fazer-lhe sala. Com licença...
Dunross virou-se para receber um convidado que Brian Kwok não reconheceu.
Mais de cento e cinqüenta convivas já haviam chegado, sendo recebidos pessoalmente. O jantar era para duzentas e dezessete pessoas, todas cuidadosamente sentadas de acordo com a posição e o costume, em mesas redondas que já estavam postas, e com luz de velas, nos gramados. Velas e candelabros nos corredores, garçons de libre servindo champanha em finas taças de cristal, ou salmão defumado e caviar em travessas e salvas de prata.