Выбрать главу

Um pequeno conjunto tocava sobre uma plataforma, e Brian Kwok notou algumas fardas em meio aos dinner jackets, americanas e inglesas, exército, marinha e força aérea. Não surpreendia que o número de europeus fosse dominante. Aquela festa era estritamente para o círculo interno britânico que mandava no distrito central e era o bloco de poder da colônia, para os seus amigos caucasianos e uns poucos eurasianos, chineses e indianos escolhidos. Brian Kwok reconheceu a maioria dos convidados: Paul Havergill, do Victoria Bank de Hong Kong, o velho Sir Samuels, multimilionário, tai-pan de vinte companhias imobiliárias, bancárias, de transporte por barcas e de valores mobiliários; Christian Toxe, editor do China Guardian, conversando com Richard Kwang, presidente da junta diretora do Ho-Pak Bank; o armador multimilionário V. K. Lam, conversando com Phillip e Dianne Chen, cujo filho, Kevin, estava com eles; o americano Zeb Cooper, herdeiro da mais antiga firma mercantil americana, Cooper-Tillman, de conversa com Sir Dunstan Barre, tai-pan das Fazendas de Hong Kong e Lan Tao. Notou Ed Langan, o homem do FBI, entre os convidados, e isso o surpreendeu. Não sabia que Langan, ou o homem com quem estava conversando, Stanley Rosemont, um subdiretor do contingente da CIA de vigia à China, eram amigos de Dunross. Deixou os olhos correrem pelos grupos de homens que tagarelavam, e pelos grupos das suas mulheres, a maioria separadamente.

"Estão todos aqui", pensou, "todos os tai-pans, exceto Gornt e Plumm, todos os piratas, todos aqui, com ódio incestuoso, rendendo homenagens a o tai-pan.

"Qual deles é o espião, o traidor, o controlador da Sevrin, Arthur?

"Tem que ser europeu.

"Aposto que está aqui. E eu vou pegá-lo. É, vou pegá-lo em breve, agora que sei a seu respeito. Vamos pegá-lo, e pegar todos", pensou, sombriamente. "E vamos pegar estes ladrões com a boca na botija, vamos acabar de vez com as suas piratarias, para o bem comum."

— Champanha, Honrado Senhor — ofereceu o garçom, em cantonense, com um sorriso cheio de dentes.

Brian aceitou uma taça cheia.

— Obrigado.

O garçom se curvou, para ocultar os lábios.

— O tai-pan trouxe uma pasta de capa azul entre os seus papéis, quando chegou hoje — murmurou, rapidamente.

— Aqui existe um esconderijo seguro e secreto? — Brian perguntou, igualmente cauteloso, e no mesmo dialeto.

— Os criados dizem que fica no escritório dele, no outro andar — replicou o homem. Chamava-se Feng Garçom de Vinhos e fazia parte da rede sigilosa de agentes do sei. Seu disfarce como garçom do bufê responsável por todas as melhores e mais exclusivas festas de Hong Kong dava-lhe um grande valor. — Pode ser que fique atrás do quadro, foi o que ouvi... — Deteve-se, repentinamente, e começou a falar em inglês ar-revesado com sotaque chinês: — Champigni, senholita? — perguntou, com os dentes à mostra, oferecendo a bandeja à minúscula velhinha eurasiana que se aproximava: — Muito, muito plimeila classe.

— Não me venha com "senholita", seu fedelho impertinente — ela replicou altivamente, em cantonense.

— Sim, Honrada Tia-Avó, desculpe, Honrada Tia-Avó. Sorriu de orelha a orelha, e sumiu.

— E então, jovem Brian Kwok — falou a velhinha, erguendo para ele os olhos apertados. Sarah Chen, tia de Phillip Chen, tinha oitenta e oito anos e era uma pessoa miudinha de pele branca e pálida e olhos asiáticos que se moviam incessantemente. E embora aparentasse ser frágil, mantinha as costas bem retas e o espírito forte. — Que bom vê-lo. Onde está John Chen? Onde está meu pobre sobrinho-neto?

— Não sei, Grande Senhora — respondeu ele, polidamente.

— Quando vai trazer de volta o meu Sobrinho-Neto Número Um?

— Logo. Estamos fazendo tudo o que podemos.

— Ótimo. E não atrapalhem o jovem Phillip, se ele quiser pagar o resgate particularmente. Cuide disso, ouviu?

— Sim, farei o que puder. A mulher de John está aqui?

— Hem? Quem? Fale alto, rapaz!

— Barbara Chen está aqui?

— Não. Ela veio, mas logo que aquela mulher chegou, "ficou com dor de cabeça" e foi embora. Não a culpo nem um pouquinho! — Seus velhos olhos lacrimejantes fitavam Dianne Chen, do outro lado da sala. — Ah, aquela mulher! Viu a entrada que fez?

— Não, Grande Senhora.

— Ah, como se fosse a Dama Nellie Melba em pessoa. Entrou sala adentro, de lenço aos olhos, trazendo a tiracolo o filho mais velho, Kevin (não gosto desse rapaz), e o meu pobre sobrinho Phillip os seguia, como um ajudante de cozinha de segunda classe. Ah! A única vez que Dianne Chen chorou foi em 1956, na queda da Bolsa, quando suas ações baixaram e ela perdeu uma fortuna e molhou a roupa de baixo. Ah! Olhe só para ela, pavoneando-se! Fingindo estar perturbada, quando todo mundo sabe que já está agindo como se fosse a imperatriz mãe! Tenho vontade de beliscar-lhe as bochechas! Revoltante! — Voltou a olhar para Brian Kwok. — Encontre o meu sobrinho-neto John... não quero aquela mulher ou o seu moleque lok-pan na nossa casa.

— Mas ele pode ser tai-pan?

Os dois riram juntos. Pouquíssimos europeus sabiam que, embora "tai-pan" significasse "grande líder", na China antiga era o título coloquial dado ao encarregado de um bordel ou de um banheiro público. Assim, chinês algum se denominaria "tai-pan", apenas "loh-pan", que também significava "grande líder" ou "líder supremo". Os chineses e os eurasianos achavam divertidíssimo que os europeus gostassem de se denominar "tai-pan", deixando de lado, estupidamente, o título correto.

— Pode. Se for o pan certo — falou a velha, e os dois deram uma risada abafada. — Trate de achar o meu John Chen, jovem Brian Kwok!

— Sim, vamos achá-lo.

— Ótimo. Bem, o que me diz das chances de Golden Lady, no sábado?

— Boas, se a pista estiver seca. A três contra um ela está valendo uma nota. Fique de olho em Noble Star... também tem chances.

— Ótimo. Venha me ver depois do jantar. Quero falar com você.

— Sim, Grande Senhora.

Sorriu, e ficou vendo a mulher se afastar, sabendo que só o que ela queria era bancar a casamenteira para alguma sobrinha-neta. "Ayeeyah, vou ter que tomar alguma providência nesse sentido logo", pensou.

Os olhos dele voltaram-se para Casey. Ficou encantado com os olhares de reprovação de todas as mulheres... e com a admiração cautelosa e disfarçada de todos os seus acompanhantes. Então Casey ergueu os olhos e notou que ele a observava, do lado oposto da sala. Ela devolveu o olhar avaliador, com igual franqueza, por um breve instante.

"Dew neh loh moh", pensou, contrafeito, sentindo-se despido. "Gostaria de possuir aquela mulher." Foi então que notou Roger Crosse, com Armstrong ao lado. Pôs as idéias em ordem e foi juntar-se a eles.

— Boa noite, senhor.

— Boa noite, Brian. Está com um ar muito distinto.

— Obrigado, senhor. — Não era bobo de replicar com uma palavra amável. — Vou falar com o tai-pan depois do jantar.

— Ótimo. Logo depois de falar com ele, venha me procurar.

— Sim, senhor.

— Quer dizer que acha a moça americana deslumbrante?

— Sim, senhor.

Brian suspirou, intimamente. Esquecera-se de que Crosse sabia fazer leitura labial em inglês, francês e um pouco de árabe (não falava nenhum dialeto chinês) e que a sua visão era excepcional.

— Na verdade, é um pouco escandalosa — falou Crosse.

— Sim, senhor.

Notou que Crosse estava se concentrando nos lábios dela, e soube que estava prestando atenção à conversa dela, no outro lado da sala, e ficou furioso consigo mesmo, por não ter desenvolvido esse talento.

— Ela parece ter paixão por computadores. — Crosse voltou a olhar para eles. — Curioso, não?

— Sim, senhor.

— O que foi que o Feng Garçom de Vinhos disse? Brian contou.

— Ótimo. Providenciarei para que Feng ganhe uma gratificação. Não esperava ver Langan e Rosemont aqui.