— Não. Existem negociações em andamento, Sr. Gornt?
— Eu diria que sim. Gornt sorriu.
— Então veremos, não é mesmo? — falou Dunross. — Veremos quem fará a melhor proposta. Obrigado por contar-me pessoalmente, embora não houvesse necessidade. Eu sabia, naturalmente, que você estaria interessado. Não há necessidade de repisar o assunto.
— Na verdade, há um bom motivo para isso — retrucou Gornt, vivamente. — Nem o Sr. Bartlett nem esta moça podem se dar conta de como a Par-Con é vital para você. Senti-me obrigado a vir pessoalmente para apontar a eles esse fato. E a você. E, naturalmente, para dar os meus parabéns.
— "Vital" por quê, Sr. Gornt? — indagou Casey, agora interessada.
— Sem a transação com a Par-Con e o fluxo de caixa que ela vai gerar, a Struan vai soçobrar. Poderia soçobrar facilmente dentro de alguns meses.
Dunross soltou uma risada, e aqueles poucos que escutavam disfarçadamente estremeceram e elevaram o nível de sua conversa um decibel, estupefatos com a idéia do fracasso da Struan, e pensando ao mesmo tempo: "Que transação? Par-Con? Devemos vender ou comprar? Ações da Struan ou da Rothwell-Gornt?"
— Não há a menor chance disso — falou Dunross. — Mas nem por sombra!
— Acho que há uma chance muito boa. — O tom de voz de Gornt mudou. — De qualquer modo, como você diz, veremos.
— É, veremos... nesse meio tempo... — Dunross se interrompeu ao ver Claudia se aproximando, constrangida.
— Desculpe, tai-pan — falou —, seu telefonema pessoal para Londres está na linha.
— Oh, obrigado. — Dunross virou-se e fez sinal para Penelope, que se aproximou imediatamente. — Penelope, quer entreter Quillan e a srta. Tcholok por um momento? Tenho que atender a um telefonema. Quillan não vai ficar para jantar, tem um compromisso urgente.
Acenou alegremente e deixou-os. Casey notou a graça animal do seu andar.
— Não vai ficar para o jantar? — dizia Penelope, com um alívio evidente que procurava disfarçar.
— Não. Lamento ter-lhe dado trabalho... chegando tão abruptamente, depois de ter recusado seu gentil convite. Infelizmente, não posso ficar.
— Ah! Então... queiram me dar licença um momento. Volto já.
— Não precisa se preocupar conosco — disse Gornt, gentilmente. — Podemos cuidar de nós mesmos. Mais uma vez, desculpe ter sido um transtorno... está com uma aparência maravilhosa, Penelope. Nunca muda.
Ela agradeceu, e ele esperou que ela se fosse. Agradecida, Penelope dirigiu-se para junto de Claudia Chen, que esperava a curta distância.
— Você é um homem curioso — falou Casey. — Num momento, guerra; no seguinte, um grande charme.
— Temos regras, nós, ingleses, na paz e na guerra. Só porque se odeia alguém, não é motivo para xingá-lo, cuspir-lhe na cara ou ser grosseiro com a sua mulher. — Gornt sorriu para ela. — Vamos procurar o seu Sr. Bartlett? Depois, preciso mesmo sair.
— Por que agiu assim? Com o tai-pan? O desafio para a batalha... aquela "vital" que mencionou. Foi um desafio formal, não? Em público.
— A vida é um jogo — disse ele. — Toda a vida é um jogo, e nós, ingleses, obedecemos a regras diferentes das de vocês, americanos. É. E a vida é para ser curtida. Ciranoush... que lindo nome o seu. Posso chamá-la assim?
— Pode — replicou ela, depois de uma pausa. — Mas, por que o desafio, agora?
— A hora era agora. Não exagerei sobre a importância de vocês para a Struan. Vamos sair em busca do seu Sr. Bartlett?
"É a terceira vez que ele diz seu Sr. Bartlett", pensou ela. "Será para sondar, ou para irritar?"
— Claro, por que não? — Virou-se na direção dos jardins, consciente dos olhares, francos ou discretos, dos outros convivas, sentindo o perigo de modo agradável. — Sempre faz entradas dramáticas como a de hoje?
Gornt achou graça.
— Não. Perdoe se fui abrupto, Ciranoush... se a perturbei.
— Está se referindo ao seu encontro particular com Linc? Não me perturbou. Foi muito astuto da parte de Linc se acercar da oposição sem que eu soubesse. Isso me deu uma liberdade de ação que, de outro modo, eu não teria tido hoje de manhã.
— Ah, então não está irritada porque ele não confiou em você, nesse caso?
— Não tem nada a ver com confiança. Eu, com freqüência, oculto informações de Linc, até a hora adequada, para protegê-lo. É óbvio que ele estava fazendo o mesmo por mim. Linc e eu nos entendemos. Pelo menos, acho que o entendo.
— Então, diga-me como concluir uma transação.
— Primeiro, preciso saber o que você quer. Além da cabeça de Dunross.
— Não quero a cabeça dele, a sua morte, nada disso... só uma breve transferência da sua Casa Nobre. Tão logo a Struan seja destruída, nós nos tornaremos a Casa Nobre. — O rosto dele ficou duro. — Então, todos os fantasmas poderão descansar.
— Fale-me deles.
— A hora não é apropriada, Ciranoush, não mesmo. Ouvidos hostis em demasia. É algo só para os seus ouvidos.
Estavam agora no jardim, tocado por uma brisa suave, encimado por um lindo céu estrelado. Linc Bartlett não estava nesse terraço, portanto desceram os largos degraus de pedra em direção ao terraço inferior, passando por entre outros convivas, dirigindo-se para as trilhas que cortavam o relvado. Então, foram interceptados.
— Alô, Quillan, que surpresa agradável.
— Alô, Paul. Srta. Tcholok, deixe-me apresentá-la a Paul Havergill, atualmente diretor do Victoria Bank.
— Temo que seja uma posição temporária, srta. Tcholok, e somente porque nosso gerente-geral está licenciado por motivo de saúde. Vou me aposentar daqui a alguns meses.
— O que muito lamentamos — falou Gornt. Depois, apresentou Casey ao resto do grupo: Lady Joanna Temple-Smith, uma mulher alta, de rosto esticado, na casa dos cinqüenta, e Richard Kwang e a mulher, Mai-ling. — Richard Kwang é o presidente da junta diretora do Ho-Pak, um dos nossos melhores bancos chineses.
— No ramo bancário, somos todos competidores cordiais, srta.... senhorita, com exceção, naturalmente, do Blacs — disse Havergill.
— Como? — indagou Casey.
— Blacs? Ah, é o apelido do Banco de Londres, Cantão e Xangai. Podem ser maiores do que nós, cerca de um mês mais antigos, mas somos o melhor banco daqui, srta....
— O Blacs é o meu banco — disse Gornt para Casey. — Servem-me muito bem. São banqueiros de primeira classe.
— Segunda classe, Quillan. Gornt voltou-se para Casey.
— Temos um ditado aqui que diz que o Blacs é constituído de cavalheiros tentando ser banqueiros, e o Victoria, de banqueiros tentando ser cavalheiros.
Casey riu. Os outros sorriram educadamente.
— São todos apenas competidores amistosos, Sr. Kwang? — perguntou.
— Oh, sim. Não ousaríamos nos opor ao Blacs ou ao Victoria — disse Richard Kwang, afavelmente. Era baixo, atarracado, de meia-idade, com cabelos pretos salpicados de fios grisalhos, e um sorriso fácil, falando um inglês perfeito. — Ouvi dizer que a Par-Con vai investir em Hong Kong, srta. Tchelek.
— Estamos apenas estudando o assunto, Sr. Kwang. Não há nada decidido, ainda.
Ignorou a pronúncia errada do seu nome. Gornt baixou o tom de voz.
— Cá entre nós, já disse formalmente ao Sr. Bartlett e à srta. Tcholok que cobrirei qualquer oferta que a Struan possa fazer. O Blacs me dá apoio de cem por cento. E tenho amigos banqueiros em outros lugares. Estou torcendo para que a Par-Con considere todas as possibilidades antes de assumir qualquer compromisso.
— Imagino que isso seria muito sensato — falou Havergill. — Naturalmente, a Struan está correndo por dentro.
— O Blacs e a maioria de Hong Kong não concordariam com você — disse Gornt.
— Espero que não chegue a haver um choque, Quillan — disse Havergill. — A Struan é nosso principal cliente.
Richard Kwang falou.
— De qualquer forma, srta. Tchelek, seria muito bom ter uma grande companhia como a Par-Con aqui. Bom para vocês, bom para nós. Esperamos que seja encontrado um acordo que agrade à Par-Con. Se o Sr. Bartlett precisar de qualquer assistência...