O banqueiro ofereceu o seu cartão comercial. Ela o pegou, abriu a sua bolsa de seda e ofereceu o seu com igual presteza, tendo vindo preparada para a troca de cartões imediata que é de bom-tom e obrigatória na Ásia. O banqueiro chinês olhou para o cartão, depois seus olhos se estreitaram.
— Desculpe ainda não tê-lo traduzido para caracteres chineses — disse ela. — Nossos banqueiros nos Estados Unidos são o First Central New York Bank e o Califórnia Merchant Bank and Trust Company. — Casey citou-os orgulhosamente, certa de que o ativo combinado desses gigantes bancários superava seis bilhões. — Terei pr... — Interrompeu-se, espantada com a súbita frieza que a cercava. — Algo errado?
— Sim e não — disse Gornt, após um momento. — É só que o First Central New York Bank não é nada popular por aqui.
— Por quê?
Havergill explicou, desdenhosamente:
— Mostraram-se desprezíveis, srta.... senhorita. O First Central New York fez alguns negócios aqui antes da guerra, depois se expandiu, em meados dos anos 40, enquanto nós, do Victoria e de outras instituições britânicas, ainda estávamos nos erguendo do chão. Em 49, quando o presidente Mao jogou Chang Kai-chek para fora do continente, para Formosa, as tropas de Mao estavam em massa na nossa fronteira, a poucos quilômetros para o norte, nos Novos Territórios. A invasão e destruição da colônia pelas hordas estavam por um fio. Um bocado de gente se apavorou e arrepiou carreira. Nenhum de nós, é claro. Mas todos os chineses que puderam saíram. Sem nenhum aviso, o First Central New York rescindiu todos os seus empréstimos, pagou a seus depositantes, cerrou suas portas e fugiu... tudo no espaço de uma semana.
— Eu não sabia — disse Casey, consternada.
— Foram um bando de covardes sujos, minha cara, se me desculpa a expressão — falou Lady Joanna, com desprezo evidente. — Claro que foi o único banco que se mandou... que fugiu. Mas, afinal, eram... bem, o que se podia esperar, minha cara?
— Provavelmente que se comportassem melhor, Lady Joanna — disse Casey, furiosa com o vice-presidente encarregado da sua conta, por não os ter advertido. — Talvez haja atenuantes, Sr. Havergill. Os empréstimos eram substanciais?
— Infelizmente sim, e muito, naquela época. É. Aquele banco arruinou muita gente e muitas empresas importadoras. Causou muita dor e desprestígio. Apesar disso — continuou, com um sorriso —, todos nos beneficiamos com a partida dele. Há uns dois anos, tiveram a desfaçatez de pedir ao secretário de Finanças uma nova licença para operar!
Richard Kwang acrescentou, jovialmente:
— Essa é uma licença que jamais será renovada! Sabe, srta. Tchelek, todos os bancos estrangeiros operam com uma licença renovável anualmente. Podemos passar muito bem sem eles, ou outro banco americano qualquer, diga-se de passagem. São tão... bem, verá que o Victoria, o Blacs ou o Ho-Pak, quem sabe os três, srta. K. C, atenderão perfeitamente a todas as necessidades da Par-Con. Se a senhorita e o Sr. Bartlett quiserem ter uma conversinha...
— Terei prazer em conversar com o senhor, Sr. Kwang. Digamos, amanhã? Inicialmente, sou eu que trato da maioria das nossas necessidades bancárias. Quem sabe pela manhã?
— Mas claro. Verá que somos competitivos — falou Richard Kwang, sem vacilar. — Às dez?
— Ótimo. Estamos no Victoria, em Kowloon. Se dez horas não lhe convier, basta me avisar — falou. — Gostei de conhecê-lo pessoalmente, também, Sr. Havergill. Suponho que nosso compromisso para amanhã ainda esteja de pé.
— Naturalmente. Às quatro, não é? Espero ansioso a oportunidade de conversar com calma com o Sr. Bartlett... e com você também, é claro, minha cara.
Era um homem alto e esbelto, e ela notou que seus olhos haviam estado fitos no decote dela. Pôs de lado a antipatia imediata que sentiu. "Posso precisar dele", pensou, "e do seu banco."
— Obrigada — falou, com a dose exata de deferência, e passou a agradar Lady Joanna. — Mas que lindo vestido, Lady Joanna — falou, detestando-o, e ao fio de pequenas pérolas que rodeava o pescoço esquálido da mulher.
— Oh, obrigada, querida. O seu também é de Paris?
— Indiretamente. É um Balmain, mas foi comprado em Nova York. — Sorriu para a mulher de Richard Kwang, uma senhora cantonense baixa, sólida e bem-conservada, com o penteado rebuscado, pele muito pálida e olhos apertados. Usava um imenso pingente de jade imperial e um anel de brilhantes de sete quilates. — Pra2er em conhecê-la, sra. Kwang — disse, atônita com a fortuna que aquelas jóias representavam. — Estávamos procurando Linc Bartlett. Vocês o viram?
— Faz algum tempo que não o vemos — adiantou Haver-gill. — Acho que foi para a ala leste. Acredito que há um bar por lá. Estava com Adryon... filha de Dunross.
— Adryon virou uma mocinha tão linda! — falou Lady Joanna. — Fazem um casal muito bonito. Um homem encantador, o Sr. Bartlett. Não é casado, é, querida?
— Não — disse Casey, de modo igualmente agradável, acrescentando Lady Joanna Temple-Smith à sua lista particular de pessoas detestáveis. — Linc não é casado.
— Vai ser encaçapado muito em breve, escute o que eu digo. Acredito que Adryon está verdadeiramente fascinada. Quem sabe gostaria de vir tomar chá comigo na quinta-feira, minha cara? Gostaria muito que conhecesse algumas das moças. Quinta é o dia do nosso Clube das Maiores de Trinta.
— Obrigada — Casey falou. — Não me enquadro na categoria, mas adoraria ir assim mesmo.
— Ah, desculpe, querida! Imaginei que... mandarei um carro ir buscá-la. Quillan, vai ficar para o jantar?
— Não posso. Tenho um compromisso urgente.
— Que pena.
Lady Joanna sorriu, deixando à mostra os dentes estragados.
— Se nos derem licença... preciso achar Bartlett, depois vou embora. Até sábado.
Gornt segurou Casey pelo braço, e foi se afastando. Eles ficaram olhando enquanto os dois se distanciavam.
— Ela é bem atraente, de uma maneira vulgar, não é? — comentou Lady Joanna. — Chuluk. É da Europa central, não é?
— Possivelmente. Podia ser do centro-leste, Joanna, turca, ou coisa assim, possivelmente dos Bálcãs... — Havergill se deteve. — Ah, estou entendendo. Não, não acho. Ela certamente não tem cara de judia.
— Hoje em dia nunca se pode saber ao certo, não é? Podia ter feito plástica no nariz... hoje em dia fazem-se maravilhas, não é?
— Nunca me ocorreu prestar atenção. Hum! Acha mesmo?
Richard Kwang passou o cartão de Casey para a mulher, que o leu instantaneamente, e entendeu, instantaneamente.
— Paul, o cartão dela diz: "tesoureira e vice-presidente-executiva da companhia holding"... muito impressionante, não? A Par-Con é uma grande companhia.
— Ora, meu caro, mas eles são americanos. Fazem coisas extraordinárias por lá. Claro que é só um título... nada mais.
— Dando cartaz para a amante? — indagou Joanna.
12
21h
O taco de bilhar acertou na bola branca, ela voou pela mesa verde, enfiou a vermelha numa caçapa oposta e parou perfeitamente atrás da outra vermelha.
Adryon bateu palmas, alegremente.
— Oba, Linc, que legal! Pensei que você só estava contando vantagem. Faça de novo!
Linc Bartlett abriu um sorriso.
— Por um dólar, a vermelha correndo a mesa e entrando naquela caçapa, e a branca aqui.
Marcou o local com a ponta do giz.
— Fechado!
Ele se debruçou sobre a mesa, mirou, e a branca parou a um milímetro da marca, a vermelha encaçapada com inevitabilidade maravilhosa.
— Ayeeyah! Não tenho um dólar aqui. Droga! Posso ficar devendo?
— Uma dama... não importa o quanto seja bela... tem que pagar suas dívidas de jogo imediatamente.